Notícias de Medina Carreira ( Sic)

Ontem à noite dei atenção a uma prestação televisiva , na SIC-Notícias, num programa de entrevistas, com o apresentador Gomes Ferreira ( será filho do José Gomes Ferreira escritor, ou do médico- locutor?) .

O entrevistado foi Medina Carreira, o ilustre advogado, também fiscalista ( mas que nunca se atreveu a professorar para agregações, penso eu de que) que em tempos escreveu aqui mesmo neste blog.

Aquilo que ouvi, foi um massacre, uma chuva de impropérios civilizados e uma caterva de anátemas sobre a política geral deste governo e de outros que o antecederam.

Todas as áreas foram rastreadas e em todas elas, o advogado topou as maiores asneiras concebíveis pela mente organizativa portuguesa, para dar cabo deste pobre presente que nos toca e de um futuro radioso que nos devia esperar.
A Saúde? Um sorvedouro de dinheiro, gerido por alguém que mira a alguns meses de distância. Os medicamentos mais caros, os tratamentos mais caros e o envelhecimento gradual e progressivo da população, encarregar-se-ão de lhe dar razão.

A Educação? O pior sistema que andamos a estruturar há dezenas de anos, já não se aguenta nas premissas básicas a um qualquer sistema de ensino: ensinar algo a alunos que devem aprender, para formação de elites. Os professores não ensinam porque os manuais não prestam e os programas idem. Idem aspas, para os alunos que preferem a facilidade de passar sempre, porque os pais assim o exigem e as estatísticas também. Aprender alguma coisa? Um pormenor sem importância. Saber algo mais do que aquilo que se aprende na tv? Uma inutilidade.

A Justiça? Um desaforo. Anos e anos a penar para conseguir uma decisão, não é justiça: é simulacro puro e simples.

As obras públicas e o desenvolvimento do país? Uma asneira grossa, exemplificada com os casos práticos da OTA que sendo a opção mais cara, é a preferida pelo Governo, exactamente por isso. O TGV, é um projecto de ambição faraónica, destinado a ganhar meia hora de viagem de Lisboa ao Porto. Num país em que ninguém se preocupa em cumprir horários, uma extravagância, portanto e outro sorvedouro de dinheiro, apenas concebível por loucos.

Loucos, foi, aliás, a expressão usada, várias vezes, para classificar esta gente que em nós manda, faz orçamentos e distribui verbas e dinheiros. Por falar em dinheiro, vem aí o QREN! Medina Carreira, ontem, já lhe fez o epitáfio: vai ser outra desgraça maior.

Este discurso catastrofista, de Cassandra, normalmente é desvalorizado pelos bem-pensantes. No entanto, parece bem realista. Basta pensar duas vezes no que foi dito e analisar o tempo que corre e as políticas que se aprovam e aplicam.

Publicado por josé 15:35:00 3 comentários  



sobre os pastéis amargos e Belém


José Sócrates, o seu Governo, e a sua 'maioria', colocaram-se nos últimos meses - tão só e apenas - no mesmo e patamar e nível formal que a célebre licenciatura 'independente' do Primeiro-Ministro. Limitam-se a arrastar-se, e a arrastar o país num delírio e numa deriva colectiva, sem paralelo no pós PREC, perante a passividade e indiferença da maioria, que vai vendo ou lendo, certas coisas só acontecerem aos 'outros'. O despacho hoje conhecido de Correia de Campos não é um qualquer epifenómeno - é antes mais um sintoma de um mal maior, que só não vê quem não quer.

Publicado por Manuel 20:07:00 6 comentários  



a voz aos leitores... (ou porque é que as coisas são o que são)

Venerável Manuel

Por acaso, lembra-se de há uns anos existirem em todos os hospitais autocolantes colocados das paredes, com a frase «Beleza não é Saúde» ?

Não me consta que ninguém tivesse sido demitido!...

Na era socrática, é o que se vê,

Saúde e Fraternidade


2007/06/28 | 18:08
Directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho já foi exonerada

http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=826619&div_id=291

A directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, foi exonerada pelo ministro da Saúde por não ter retirado um cartaz das instalações do centro contendo declarações de Correia de Campos «em termos jocosos».

O despacho de exoneração da licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso foi publicado quinta-feira em Diário da República, cuja cópia foi fornecida à agência Lusa por deputados socialistas que se manifestaram «incomodados com a situação».

No despacho do Diário da República pode ler-se o seguinte:

«Pelo despacho (...) do Ministro da Saúde, de 05 de Janeiro, foi exonerada do cargo de directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho a licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso, com efeitos à data do despacho, por não ter tomado medidas relativas à afixação, nas instalações daquele Centro de Saúde, de um cartaz que utilizava declarações do Ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo», refere-se.

Perante este caso, considera-se demonstrado a situação de Maria Celeste Cardoso «não reunir as condições para garantir a observação das orientações superiormente fixadas para a prossecução e implementação das políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde».

O despacho está datado de 01 de Junho.

Publicado por Manuel 18:56:00 23 comentários  



opção de classe

O postal de Vital Moreira, hoje no causa nossa, é uma pérola de oportunidade.

Há quem esqueça...
...que a blogoesfera não está fora do alcance do Código Penal . Os crimes de injúria, difamação, calúnia, devassa da vida privada, etc., não são menos puníveis quando praticados em blogues do que praticados por qualquer outro meio. A liberdade de expressão e de opinião não cobre a ofensa do direito à honra e à integridade moral das pessoas.
[Publicado por vital moreira]
28.6.07

Que a blogoesfera não está fora das previsões do Código Penal, já toda a gente o sabe e não esquecerá.
Como também não esquecerá que “ a liberdade de expressão e de opinião não cobre a ofensa do direito à honra e à integridade moral das pessoas”.

Nestas afirmações tautológicas, de uma evidência suspeita no timing e no modo, perpassa todo um sentido e visão do mundo actual e do panorama da vivência em sociedade, no Portugal de 2007, com um governo que se reclama de esquerda e até socialista. Perpassa o sentido do aviso e do recado: cuidado! Não brinquem demais porque podemos zangar-nos...

No entanto, tudo está em saber distinguir uma afronta à honra e à integridade moral “das pessoas”, de um exercício condigno da liberdade de expressão, em países de democracia avançada e tolerante. Para distinguir um pouco mais do que Vital Moreira o faz, bastaria ler as recentes decisões do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, aliás citadas por Vital Moreira, sempre que lhe convém, para denegrir os tribunais portugueses e os juízes em particular.

Vital Moreira, já escolheu o seu posto de observação e arbitragem, há muito tempo: do lado do poder. Sempre, sempre ao lado do poder ( mesmo de oposição), é o lema de quem quer mandar ou influenciar. Nada menos do que isso.
Em termos de luta de classes, teoria em que provavelmente ainda credita piamente, tal posição de princípio, coloca-o ao lado dos opressores. Tal e qual.

Nota: Pacheco Pereira, virá um dia destes confirmar a sua velha teoria de que nos blogs, entende-se a luta política, como uma luta de classes. É só esperar uns dias...

Publicado por josé 15:33:00 20 comentários  



acerca de um resumo demasiado 'querido'

Paulo Querido, no seu 'webzine', fez uma espécie de 'alegado' resumo sobre os últimos desenvolvimentos do 'caso' Sócrates onde mete ao barulho um post que eu publiquei hoje de manhã a zurzir no Pacheco Pereira. Insinua 'en passant' aliás que há - pasme-se - uma deriva chavista (!) na blogosfera, e - logo - também aqui. Um refinado insulto.

Não percebeu nada, rigorosamente nada. Vamos pois pôr método na coisa e decompor o problema...

  • a) Não está em causa o direito formal do cidadão Sócrates processar quem quer que seja.
  • b) de a) resulta que Sócrates pode processar quem muito bem entender, se e quando, se sentir difamado e atingido na sua honra.
  • c) de a) e b) resulta que Sócrates pode pois processar Balbino Caldeira. Processou, recorreu aos tribunais, e está no seu direito.
  • d) Tudo o que Balbino Caldeira foi de uma forma ou outra validado, quanto mais não seja enquanto dúvida legitima, pela comunicação social mainstream.
  • e) Foi amplamente noticiado que o gabinete de José Sócrates tentou a todo o custo evitar que dos blogues o caso chegasse à comunicação social mainstream. Tão noticiado que ocorreram audições na AACS.
  • f) de d) resulta que - antes de mais - temos um problema político que passou a ser também judicial quando a PGR decidiu também ela própria averiguar o que se passava, logo reforçando a legitimade das dúvidas.
  • g) se as dúvidas são afinal são legítimas (por d) ), se o problema passou a ser político e judicial (por f) ) política e juridicamente o recurso aos tribunais por parte do cidadão José Sócrates tem corolários. E um desses corolários é que (por e)) dado que a comunicação social mainstream só pegou no caso, a custo e a reboque dos blogues, que juntos tem audiências (já) consideráveis e impossíveis de ignorar, um desses corolários, dizia, é que há de facto uma tentativa de 'avisar' vozes incómodas usando como proxy o recurso aos tribunais. É este parece-me a base do contra Processo de Balbino a Sócrates, e não uma qualquer deriva 'chavista'.

Simples e evidente ? Parece que não.

Dito isto eu confesso que estou curioso por saber qual o verdadeiro teor do processo intentado pelo Eng. (faxeado) Sócrates. É que, ocorreu-me, o processo poderá não ser contra o que Balbino Caldeira escreveu, em si, mas, porventura, numa habilidade útil contra o que 'deixou' publicar na sua caixa de comentários. Se tal vier a ser o facto (o que , até por causa de algumas amizades, explicaria a lógica e a oportunidade inerentes ao textinho de Pacheco Pereira) isso significa tão somente que José Sócrates - cidadão, político e primeiro-ministro - defende, e deseja, ver criada jurisprudência, que consagre o modelo chinês de censura prévia onde tudo o que é conteúdo electrónico é filtrado previamente, e onde todos os elementos da cadeia, do anónimo internauta que leu, ao que comentou, ao possuir do blog, ao alojador, ao ISP, são imputáveis. Todos, tudo, mesmo tudo. Balbino seria tão só e apenas o pretexto útil.

Com todos os excessos que os há, eu que até vejo utilidades no cartão único, não vou perder tempo a explicar aonde é que essa deriva - absolutamente orwelliana - pode levar. Sugiro apenas aos Sócrates, Pachecos e Queridos deste mundo que parem um bocadinho por aqui. Devia chegar.

Publicado por Manuel 18:06:00 11 comentários  



'- Investiga-os Mizé! e já!'

A prova de agregação (académica) de Saldanha Sanches, na FDUL, foi chumbada, hoje, (6 votos contra 3).

Publicado por Manuel 15:42:00 16 comentários  



um umbigo demasiado abrupto

A maneira que Pacherco Pereira arranjou de 'comentar' o processo judicial que Sócrates intentou contra o autor do 'do Portugal Profundo' Pacheco Pereira foi - no mínimo - intelectualmente desonesta ao confundir perversamente planos que não são, não podem, nem devem, ser confundíveis. Ninguém contesta, em abstracto, a possibilidade de recurso aos tribunais, por quem quer que seja, para defender ou lavar a honra, e, não é isso, como Pacheco muito bem sabe - que está em causa. O que está em causa é algo de infinitamente mais grave, e que (in)convenientemente Pacheco branqueia, ao considerar o 'processo' de Sócrates a Balbino 'normal', e ao citá-lo no contexto do lixo blogosférico. Se o 'caso' da licenciatura 'faxeada' de Sócrates não tivesse sido levantado na blogolândia, e no do Portugal Profundo, nada se saberia, nada se escreveria, ponto. Tudo o que Balbino Caldeira escreveu foi, de uma forma ou de outra, validado e extrapolado, ,na imprensa 'tradicional', e - em entrevista - o próprio Sócrates reconheceu as 'dúvidas' levantadas como legítimas e pertinentes. Sócrates não processou a imprensa - que enquanto pode não se debruçou sobre o caso - Sócrates processou quem quixotescamente ousou, pura e simplemente, como na fábula do Rei nú, fazer perguntas. Perguntas com tanto de simples e pertinentes como de incómodas.


Há dias o João Paulo Henriques, numa prosa inspirada, escreveu isto a propósito de Sócrates. Em cheio. O pior, é que o retrato a que aludia, que Pacheco pintou de Sócrates é também - e demasiadas vezes - o próprio retrato do mais célebre habitante da Marmeleira. Também Pacheco, quando lhe convém, como agora, manifesta "uma indiferença face à honestidade e à verdade, uma opinião feita de trapalhices e trapacices intelectuais, um vale tudo para manter o seu espaçozinho mediático, ganhar uns pontinhos, esmagar ou humilhar um adversário, aqui e ali,um autoritarismo, uma arrogância para com os fracos, todos os que não tem o seu espaço, o seu status, e uma co-habitação subserviente e piedosa para com os (mediaticamente) fortes, um parecer mais que ser. Numa palavra - calculismo absoluto. Isto demonstra-se aliás, na própria prosa de Pacheco, ao misturar alhos com bugalhos.

Pacheco intimamente identifica-se com o drama de Sócrates - também a ele, Pacheco, um dos do 'Olimpo', como a Sócrates faltam sistematicamente ao 'respeito' na blogosfera. E isso se pode não deveria acontecer. Num país onde se é perseguido por delito de opinião (e nem falo da DRENagem, falo do que escreveu Vicente Jorge Silva), José Pacheco Pereira não consegue fazer mais do que olhar para o seu próprio umbigo. É pena, mas não é, de todo, surpreendente.

Adenda...
Transposto, para meditação, da nossa caixa de comentários, e assinado por Pedro...

José Pacheco Pereira declara-se hoje favorável à abertura da última porta que separava o Estado da censura na blogosfera. JPP quer que os bloguers sejam responsáveis por aquilo que os comentadores escrevem nos blogs de porta aberta. Para JPP a liberdade à americana, onde os políticos são trucidados por comentadores anónimos ou conhecidos e só têm como defesa os factos e os argumentos acaba onde começa as caixas de comentários dos blogs.

Mas o que foi que se passou de novo que não se tinha passado antes que fez com que JPP se mexe-se incomodado na cadeira ou no sofá? Desde há anos que na Internet anónimos ou conhecidos, achhicalham Pátrias, presidentes nacionais e estrangeiros, Deus, a Monarquia, a República, Fátima, e nunca isso tinha feito JPP lembrar-se de um lápis azul digital, de responsabilizar quem achicanlhou ou deixou achincalhar.

Só que desta vez os anónimos, que afinal são o Povo usando a internet, achincalhou o poder político com tal violência e asco que JPP percebeu, e bem, que é todo o sistema político corrupto português que está posto em causa. E eis que o político intelectualmente correcto se vai aliar ao mais arrogante e prepotente primeiro ministro desde há uma geração que se agora se lança raivoso e vingativo sobre quem lhe apontou imposturices.

Relembro agora a JPP um episódio da nossa históra, porque ao contrário do que se diz a história repete-se e também ensina o futuro. Nos anos que antecederam a expulsão dos espanhóis de Portugal, a única forma que o Povo teve para contestar o domínio estrangeiro foi o panfleto anónimo. Atribuiu-se até a um tal Manuelinho, um louco, a autoria desses panfletos. Bem se retorceram os esbirros do Felipe, bem que perseguiram e amarfanharam os portugueses, mas ainda assim acabaram expulsos e vencidos.

Publicado por Manuel 12:07:00 9 comentários  



A liberdade abrupta

Pacheco Pereira continua preocupado com a liberdade nos blogs.

Sobre os últimos acontecimentos de queixas apresentados por políticos, contra simples bloggers incómodos, nada disso o incomoda e pelo silêncio cúmplice, vai tomando a posição certa e correcta.


O incómodo, desta vez, é com as caixas de comentários, em que descortina comichões várias e libertinagens perigosas, em egos alheios, sentindo-se atingido por procuração virtual.

Desde há alguns meses que andava sossegado, parecendo que aprendera algo de novo sobre a liberdade de expressão. Não aprendeu. Aliás, não esqueceu nada. É pena.

Aditamento oportuno, em 27.6.2007:

Há quem se entrefolhe todo por causa de comentários anónimos, largados nas caixas que os admitem sem discriminação. Admito perfeitamente que é um incómodo sério, ler algo que nos ofende os sentidos ou a inteligência, ou até a honra, em forma de comentário anónimo. Mas daí a defender a censura indignadamente hipócrita ou o corte cirúrgico, vai um passo que poucos sabem transpor.
Um exemplo perfeito do que quero dizer, ocorre no blog do Dragão, um dos melhores que se podem ler na blogosfera lusa, sem qualquer favor ou concessão.
Um comentarista anónimo e corajoso como só assim conseguirá ser, lembrou-se de insultar soezmente a honra de uma outra pessoa e chamou-lhe um nome feio e acintoso.
Que fez o Dragão? Nem apagou o comentário, embora a remoção do dito fosse contemplada. Comentou antes, assim:
O que define o insulto é a proveniência. Ora, quando o emissor é um filho da puta contumaz, o receptor só se pode sentir homenageado. Por conseguinte, elogie-me para aí à vontade.
Consegue distinguir o estilo, Pacheco Pereira?

Publicado por josé 21:31:00 36 comentários  



sobre o Deserto

Outlier: O resto é paisagem

"Antes, o roteiro da arte contemporânea terminava em Madrid. A partir de hoje, começa aqui, em Lisboa". José Sócrates, ontem, na inauguração do Museu Colecção Berardo.

Não quero ser chato nem "polícia da linguagem". Mas isto deve querer dizer que o Museu de Arte Contemporânea de Serralves fica algures entre Barcelona, Valência e Madrid. E nem falo disto.

Pedro Magalhães, sem margens de erro

Publicado por Manuel 14:09:00 3 comentários  



As molduras

O senhor Berardo, cavalheiro de indústria de outros lugares, vindo para este pobre país, acaba de reunir a atenção geral dos media, com o apoio sólido do governo deste primeiro-ministro que vamos tendo.
A linguagem utilizada por Berardo para explicar coisas simples, como a demissão de um responsável pelo CCB, é digna dos melhores momentos de um Luís Filipe Vieira ou mesmo de um Pinto da Costa, com um bónus: nem o português corrente e simples consegue falar.

Para figura de mecenas cultural, embora com o apoio sólido do Estado, como é apanágio dos mecenas em Portugal, não está nada mal. Parece o ícone perfeito da cultura deste governo: a pinderiquice emoldurada como quadro numa exposição.

Publicado por josé 13:02:00 2 comentários  



Rolling Stones

Anuncia-se a presença, em Portugal, dos Rolling Stones, para mais um concerto em grande auditório. Segundo se conta, os bilhetes desta vez, até sobram.
Mas… que têm os Rolling Stones para oferecer, musicalmente, ao pessoal que gosta de música e concertos ao vivo?
Pouca música que valha a pena ouvir e espectáculo cénico sempre renovado, mas em tonalidade minimamente repetitiva.
Os Stones, enquanto músicos, deixaram de ter interesse especial, em meados da década de setenta, senão mesmo antes disso. O último disco que ainda se ouve, de algum modo, é de finais dos setenta, por causa de Some girls e de um número country, de ironia respeitável, chamado Far Away eyes.
E então, nestes últimos 30 anos que produziram os Stones para sobreviverem ao punk, ao disco e à normalização geral da música popular que entrou em vigor, como lei do marketing musical?

Produziram algo intangível e inaudível e que tem acompanhado todos os seus espectáculos regulares, ao vivo e os discos que os justificam. Inovam com imagens renovadas do mesmo símbolo de sempre: a língua de fora, estilizada em 1971, por John Pasche.
A música é apenas um pano de fundo, sonoro, para a imagem iconoclasta habitual e por cada riff repetido, uma nova imagem se apresenta.
Em 1970, os Stones afixavam-se como concorrentes directos dos Beatles, na competição sobre a música popular mais em voga. Nessa altura, o catálogo musical dos Stones não se comparava com o dos Beatles. Para cada Honky tonky woman dos Stones, os Beatles apresentavam Strawberry fields forever. Mas quem dançava, fazia-o ao som de Jumpin jack Flash, mais depressa do que sob a influência de Lucy in the Sky with diamonds.
Mesmo assim, os Beatles eram os certinhos do rock, os bem comportados da imagem pública e em 1971 já tinham acabado como grupo, enquanto os Stones lançavam um dos seus melhores discos: Sticky Fingers.
A capa era um escândalo de época: o disco original, reproduzia a parte da frente de umas calças de ganga Levi´s, com alguém dentro delas e com fecho éclair verdadeiro que se integrava na capa. O conceito artístico, provinha de Andy Warhol, um ser híbrido que invadira a cena artística de Nova Iorque.
As músicas, no entanto, eram do melhor que então se ouvia: Brown Sugar, falava em açúcar castanho, numa alusão eufemística a produtos proibidos e então ainda desconhecidos por cá, apesar de Vilar de Mouros, nesse mesmo ano, em Agosto. Wild Horses, como balada de Gram Parsons, resultava em xaropada certa, mas audível, por mor das guitarras, tal como se ouvia bem Dead Flowers ou Sister morphine. O hit, no entanto, era Brown sugar que passava vezes sem conta, nas juke boxes de café, enquanto se jogava uma partidita de bilhar, antes das aulas…

Logo em 1971, o que se tornava inovador com os Stones, era um certo culto estético e uma imagem de marca que passava pela inovação conceptual, nas fotos, no grafismo e na apresentação dos concertos. Os posters de apresentação, são uma beleza de catálogo das tendências das épocas.
Em 1971, os Stones apareciam fotografados em poses dúbias e de provocação aos costumes e isso pega a qualquer jovem, a curiosidade do escândalo, pelo que os Stones começavam a década, na tendência da língua de fora.
No ano seguinte, saiu uma obra prima, provavelmente o melhor disco dos Stones: Exile on Main St”, encapado num duplo LP, a preto e branco, com fotos em quadrículas a condizer e uma largada de peso, com Rocks off, engrena nas seguintes como bólide em dia de corrida: sem parar e num boogie infernal que obrigava à compra do disco, nesse ano de graça de 1972, sem falta de boa música de outros lados. No lado dois, aliás, Sweet Virginia, segue acusticamente o clássico Tumbling Dice, como aperitivo para um lado todo calmo e reconfortante, antes da retoma vigorosa de Happy e All down the line. No disco, ouve-se Ry Cooder, na guitarra slide, sem crédito confirmado na capa, mas seguro na execução técnica.
O aspecto gráfico, desta vez, ficou a cargo de Norman Seeff e Robert Frank.
Depois de um ano de audição atenta, surge a surpresa de um single atípico, mas marcante. Angie, é um hit de luxo, na discografia dos Stones que desafia a aprender a tocar guitarra acústica, por causa dos acordes iniciais e da beleza da musiquinha. A capa do single, evitava a compra do LP, Goat´s head soup, anódino na discografia do grupo. A capa do single, comportava uma imagem estilizada de loira oxigenada, em trompe l´oeil, e olhos azuis muito bem localizados, e que ajudavam a consolidar a imagem de marca que vende bilhetes de concerto.
Nesse ano, todo de Angie consumido, desenvolvia-se a tendência, vinda do ano anterior, em dar uma atenção gráfica, cuidada, às vestimentas dos concertos e posters de apresentação.
A imagem dos Stones nos décadas seguintes, irá depender disso, em larga medida estética.
O disco do ano seguinte, era um mini Exile, com destaque para o título tema: It´s only rock n´roll ( but i like it) , com um riff de entrada, mortalmente aditivo. A balada costumeira que é Time waits for no one, assegurou o sucesso do disco, a par de If you really want to be my friend.
A capa é outro luxo estético, da autoria de um artista então em voga e que publicou nesse ano de 1973, Rock Dreams, uma antologia de pinturas a aerógrafo e outras técnicas sonre os mitos do rock, livro agora reeditado e à venda por aí. Guy Peellaert é um artista belga que representa bem a atenção particular que os Stones sempre deram às tendências artísticas do momento, com reflexos imediatos nas capas dos discos, posters e demais publicidade artística.
É esse o legado dos Stones, para além dos clichés musicais que são imagem de marca: a divulgação de certas tendências artísticas, algumas tidas como de avant garde, mesmo sem qualquer guarda avançada.
Os posters de anúncio de concertos, durante estes três decénios, chegariam bem para um estudo de doutoramento.
No ano de 1976, para reafirmar a tendência, saiu um disco- Black and Blue- que vale pela foto da capa, do fotógrafo japonês Hiro.
A pela publicidade ao disco, ( imagem acima, já retocada após protestos) alcançou foros de escândalo, ao convocar a ira feminista, contra o anúncio putativamente ofensivo da condição feminina.
Em 1977, saiu um duplo LP ao vivo, Love you Live, ilustrado visualmente por Andy Warhol, já então um artista considerado, nos meios intelectuais da Village Voice e da Interview.
No ano seguinte, saiu então o disco que termina a carreira musical dos Stones em produção com o mínimo de interesse auditivo. Some Girls, contém ainda Beast of burden e Far way eyes e até Miss you, com o ritmo hipnótico e com a sonoridade disco do momento. Graficamente, graficamente provoca novo escândalo. Ao reproduzir a imagem real de fotos de artistas do show bizz, recortadas da capa interior, visível pelas janelinhas alinhadas na capa exterior, provocou os protestos e exigências de reparação das visadas Raquel Welsh e outras Farrah Fawcet e Sofia Loren e os Stones rapidamente apagaram as figurinhas do disco.
A seguir a este disco, os Stones repetiram tudo outra vez, voltando aos ensaios repetitivos anteriores. Há quem assegure que o disco de 1981, Tatto You é o melhorzinho que já produziram. Gostos não se discutem, mas tirando a imagem da capa, é igual a outros, incluindo Emotional Rescue de 1980 e aos demais que se seguiram, mesmo o The Bigger bang, o último, de 2005.


O que vai mudando, ao longo dos anos, com os Stones, é a moda. A imagem deste ano, com o poster de A Bigger Bang, não é excepção, porque é uma delícia visual, tal como o foram as anteriores, sempre surpresas e sempre interessantes. Imagens, claro está. Poucos grupos lograram cuidar de uma imagem com tão elevado sentido do sucesso. Time waits for no one, cantavam em 1974. And it won´t wait for me...canto eu agora.

Entre a imagem promocional de 1975 ( a minha preferida de sempre) e a imagem deste ano, só a moda é que varia, vai a lua e vem o sol.





Imagens: Rolling Stone de 1.7.1976 e revista Best de Agosto de 1975

Publicado por josé 19:53:00 1 comentários  



As prioridades de política criminal

Sejamos claros e directos: qual é mais importante? A investigação de casos de corrupção desportiva na arbitragem portuguesa do futebol, ou a investigação dos casos de corrupção activa e passiva, nos meandros e no próprio seio do poder político da situação?

Dito de outro modo: o que causa mais dano à sociedade democrática portuguesa? A alteração de uma verdade desportiva, num campeonato de futebol, ou a eventual subtracção de meios avultados ao erário público e a subversão das regras democráticas e dos princípios básicos defendidos em todas as leis, a começar pela Constituição?

A resposta é óbvia e não há aqui nenhum sofisma.

Então, por que razão, de há alguns meses para cá, se deu tanta importância em meios, notoriedade, visibilidade mediática, à corrupção desportiva e pura e simplesmente se olvidou a relevância oficialmente devida, aos casos que surgem em forma de suspeita e até de prova indiciária traduzida em acusações públicas, pelo Ministério Público?

Como é que se pode compreender que se tenha constituído uma task force para reaveriguar ( após despachos de arquivamento já proferidos por magistrados do MP) os indícios de prática de crimes de corrupção desportiva, no Apito Dourado, depois de se saber das muitas dificuldades de prova que se apresentam, em termos substantivos ( a própria lei de corrupção desportiva pode muito bem ser inconstitucional- Gomes Canotilho dixit) e processuais (a validade das escutas telefónicas como prova, é muito falível e questionável)?

Que acontecerá à credibilidade das instituições que têm por finalidade a investigação criminal em Portugal, quando, daqui a algum tempo, se verificar o vazio indiciário, insuficiente para uma condenação prognosticada a Pinto da Costa e outros?
Alguém, nessa altura, vai regressar ao ponto de partida para averiguar como é que foi possível apostar agora, em investigadores especiais para um caso que deveria ter sido investigado desde o início com todos os meios e a apontar ao coração das trevas, em vez de se centrar no epifenómeno da corrupção desportiva?
Talvez nessa altura se fale que o magistrado do MP encarregado da investigação, quando pediu meios de transporte, deram-lhe…um passe de comboio para se desolocar de Gondomar para a capital! Sério. Agora, parece que há carros disponíveis, gasolina e ajudas de custo…o que não deixa de ser irónico, quando se prenuncia algo de discutível, incerto e talvez improvável.

Por outro lado, como se compreende que tenha ficado no olvido investigatório, durante oito anos, uma investigação que contendia com figuras públicas de relevo notório e perante denúncias concretas de corrupção que se confirmaram em termos indiciários suficientes para levar a uma acusação?
Que prioridades são estas? Quem as define em concreto e que critérios conduzem à sua definição?
Mais: se aquilo que o Público tem vindo a escrever sobre os negócios de empresas particulares com o Estado, no caso GEPI-António Morais- Conegil, envolvendo pessoas que se conhecem, são amigos e familiares e ainda por cima, suscitam sérias reservas quanto à transparência e correcção, de modo a terem sido alvo de acusação de corrupção, for de alguma forma verdadeiro, que pode a sociedade portuguesa esperar dos poderes públicos que investigam?

Que meios e que interesse são atribuídos a estas prioridades, em comparação com as do Apito?

As perguntas poderiam continuar, sendo certo que a pergunta mais directa e concreta já foi colocada: que se pode esperar da PGR, da PJ e do MP em geral, nestes casos concretos que abalam as estruturas do Estado português, porque denotam a podridão de princípios que o consome?

Nota final: Sinceramente, este assunto já me incomoda de tal forma que vou escrever sobre...os Rolling Stones. Já lá diz o ditado: quem canta, seus males espanta.

Publicado por josé 15:02:00 32 comentários  



(Un)Rule Britannia.


Sobre o caso António Morais, de corrupção passiva e branqueamento de capitais, envolvendo pessoas conhecidas dos meios políticos, e numa dimensão que deixa a anos-luz, toda a corrupção desportiva dos Apitos Dourados, os jornais de hoje dão-lhe uma exposição de geometria variável. O SOL não tem luz para o assunto. O Expresso, tem uma luz interior. O Público, uma luz fluorescente e o Correio da Manhã a luz do dia, na primeira página.
Um excerto:

O CM sabe que nesta investigação falhou por completo a cooperação judiciária internacional o que tornou impossível investigar a responsabilidade de outras pessoas no caso. As autoridades inglesas não responderam sequer às cartas enviadas pelo Ministério Público a pedir informação sobre contas abertas em bancos ingleses e, em particular, de transferências de grandes somas de dinheiro feitas para contas tituladas por pessoas envolvidas nos factos.O inquérito foi aberto em 1999 na sequência de uma denúncia anónima e a investigação esteve a cargo do Departamento Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira /DCICCEF) de onde saiu em 2005 com proposta de acusação. O rasto do dinheiro transferido para empresas ‘off-shore’ em Inglaterra perdeu-se, apesar do Ministério Público ter pedido diligências adicionais, que não chegaram a qualquer resultado por falta de cooperação internacional. O procurador, João Guerra, responsável pela 9.ª secção do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) e que ficou célebre no processo Casa Pia, tutelou grande parte das investigações.Face à necessidade de evitar a prescrição do processo e confrontado com a impossibilidade de recolher mais indícios que pudessem envolver responsáveis governamentais, o Ministério Público optou por acusar com base nas provas que tinha conseguido reunir até então.Nos últimos meses o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP), liderado por Maria José Morgado e, em particular, a 9.ª secção, agora dirigida pela magistrada Teresa Almeida e que tem a competência de investigar os crimes de corrupção, acelerou o processo, finalizando a acusação que agora é conhecida contra António Morais, a sua ex-mulher e o empresário da HCL, empresa que foi favorecida no concurso de 1998.

Se, de facto, a colaboração das autoridades inglesas foi assim como escreve o jornal - e não custa nada aceitar que o foi- então chegou a altura de os media portugueses questionarem abertamente as autoridades inglesas sobre estes procedimentos e falta de colaboração. Nada que os mesmos não estejam habituados a fazer connosco...como se viu no caso Maddie.

Publicado por josé 22:31:00 3 comentários  



Observatório 2008: o que se passa com John McCain?



A pergunta domina várias peças sobre as presidenciais de 2008, nos media americanos.

O senador pelo Arizona perdeu — falta saber se em definitivo — o estatuto de front-runner do campo republicano, do qual gozou até há cerca de meio ano — e parece, nas últimas semanas, ter mesmo perdido o segundo posto para Fred Thompson, a candidatura da ala dos conservadores tradicionais.

Os números da sondagem deste sábado da Newsweek Poll não deixam margem para grandes dúvidas: pelo menos para já, o duelo no GOP será entre Rudy e Fred...

— Rudi Giuliani 27
— Fred Thompson 19
— John McCain 15
-- Mitt Romney 12
-- Mike Huckabee 4
-- Tommy Thompson 2
-- Sam Brownback 2
-- Michael Bloomberg 2
-- Ron Paul 2
-- Tom Tancredo 1
-- Jim Gilmore 0
-- Duncan Hunter 0
-- Outros+indecisos 14

Publicado por André 21:47:00 0 comentários  



A informação televisiva

As 3 televisões nacionais, abriram os respectivos jornais da noite, com notícias sobre acusações criminais de...corrupção.

Vejamos os casos, com nomes à vista: Pinto da Costa e a corrupção desportiva, já leva três acusações, todas dos últimos dias. Talvez por isso, tambén todas as tv´s decidiram abrir os notíciários, com a notícia da terceira acusação de corrupção desportiva que impende sobre Pinto da Costa.

Em seguida, aparece um outro acusado de corrupção, desta vez, corrupção mesmo, sem ser por coisas de desporto e amendoins a árbitros: António José Morais, antigo professor de José Sócrates, na UnI, de quatro das cinco cadeiras que lhe faltariam para acabar o curso e também responsável pelas equivalências anteriores para se chegar ao número certo. Morais, segundo as tv´s, é acusado de corrupção e branqueamento de capitais. Coisa pesada. Mas nada de preocupante, para o arguido, que já fez saber estar até satisfeito com esta oportunidade de provar a sua inocência. Espera-se que sim. Presumido, aliás, já é.

A RTP, achou por bem noticiar o assunto, logo a seguir ao problema desportivo de Pinto da Costa. A TVI, entendeu que um outro caso, também ligado ao futebol mereceia o destaque do segundo lugar e noticiou que Vale e Azevedo foi novamente acusado, de ter ficado com dinheiro que não lhe pertencia. Só na terceira notícia, deu destaque ao caso de Morais e ouviu o advogado de defesa do arguido, a dizer que onze anos depois dos factos, é tempo demais. Um, ainda se aceitaria; dois, já seria preocupante; três, uma eternidade; quatro uma inadmissibilidade e mais do que isso, um escândalo. Exactamente. O advogado deve saber muito bem que recolher provas de dinheiros que são depositados no estrangeiro, leva tempo. Muito tempo. Mas quando as provas aparecem, ninguém costuma perder pela demora.
A SIC, terá achado que o assunto, por ter demorado tanto tempo, já nem sequer lhe interessava- e nem o noticiou...

Publicado por josé 20:03:00 5 comentários  



e-mail recebido

COMO SE CHAMAM OS APOIANTES DE JOSÉ SÓCRATES?
...SOCRETINOS...

Publicado por contra-baixo 21:38:00 7 comentários  



problemas congénitos

Separados à nascença

Haverá uma imensidão de coisas a dizer sobre o processo que José Sócrates moveu contra António Balbino Caldeira. Por exemplo, que José Pacheco Pereira tem absoluta razão quando diz, no Abrupto, que há no primeiro-ministro, "uma indiferença face à honestidade e à verdade, uma política feita de trapalhices e trapacices, um vale tudo para manter o poder, ganhar uns pontinhos, esmagar um adversário, um autoritarismo com os fracos e subserviência para com os fortes, um parecer mais que ser".

Este "autoritarismo com os fortes e subserviência para com os fortes" prova-se, aliás, no facto de de Sócrates ter processado Balbino Caldeira e não ter processado o próprio Pacheco, que considerou Sócrates a atreito a "trapacices" e "indiferente face à honestidade", coisa que nunca vi escrita no Portugal Profundo.

Haverá, volto ao princípio, uma imensidão de coisas a dizer. Uma delas, para já, é que se prova, no fim de contas, que Sócrates e a srª drª DREN Margarida Moreira são personagens feitos da mesma massa: gente burra a quem alguém não deu chá em criancinha.

João Pedro Henriques

Publicado por Manuel 17:53:00 3 comentários  



sobre o 'processo' socrático



Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado;
O ribeirinho não morre,
Vai correr por outro lado.

António Aleixo




O que foi publicado no “Do Portugal Profundo” foi reproduzido na generalidade dos jornais, que não se limitaram aos factos ali divulgados, acrescentando muitos outros. Mais afirmação, menos afirmação o que aquele blogue fez foi questionar a legitimidade do diploma e Sócrates e se não se provou que Sócrates não cumpriu com as suas obrigações enquanto estudante, ficou evidente que o seu diploma tinha tanta trapalhada administrativa que se fosse uma criança teria nascido com as orelhas nos sovacos.

É evidente que este processo não vai chegar a uma condenação, duvido mesmo que chegue a julgamento, o blogger poderá ter exagerado, mas se não fosse a sua enuncia ainda hoje José Sócrates estaria a usar abusivamente um título para o qual não está habilitado.

Mas até que o processo chegue ao seu termo o blogger terá que enfrentar o Ministério Público (que desta vez não tarou) e os assessores jurídicos de José Sócrates, como seu parco vencimento de professor terá que suportar as deslocações, as perdas de tempo e os honorários de um advogado. Antes e julgado o blogger é intimidado e prejudicado financeiramente.

É evidente que o primeiro-ministro se está nas tintas para o autor deste ou daquele blogger, o que o preocupa é a liberdade que grassa pelos bloggers, é liberdade a mais para o gosto de qualquer governante. O mundo era mais certinho quando só haviam jornais, jornalistas, governantes e assessores e imprensa. Os jornais têm donos e estes têm muitos negócios. Os jornalistas têm patrão e um emprego de que dependem para viver, sem notícias perdem o emprego e a maior fonte de notícias são os governantes e os “gargantas fundas” da justiça, sem estes os jornais seriam todos cor-de-rosa. Para intermediar entre os governantes e os jornalistas existem os assessores de empresa que, em regra, são jornalistas amigos os ministros ou amigos os ministros que têm amizades entre os jornalistas.

Ora, os bloggers não dependem os visitantes para comer, têm a mania e dizerem o que pensam e não o que os assessores de imprensa sugerem, são aos milhares e no seu conjunto são mais lidos o que a imprensa, em suma, são uma praga, uma autêntica filoxera política que urge combater, o mundo a política funciona melhor sem eles. Há que intimidá-los, escolher um para exemplo assustando todos os outros.

Foi para isso que Sócrates apresentou uma queixa-crime contra um blogger, foi o “Do Portugal Profundo”, mas poderia ter sido qualquer outro, o que importa é meter essa gente na linha porque andam a pensar e a falar demais para o gosto de qualquer político, são vozes indisciplinadas, que não podem ser compradas com cargos e mordomias, que não precisam do blogue para viver, que não têm director de redacção, que dizem o que pensam e como se tudo isto não bastasse às vezes até sabem do que falam.

É uma ilusão, nem Sócrates nem nenhum Ministério Público vai conseguir disciplinar, calar ou condicionar a realidade que a Web2 já é, o melhor será aprenderem a conviver com ela porque o tempo em que eram proibidos ajuntamentos de quatro pessoas já lá não volta.

n' O Jumento

Publicado por Manuel 13:57:00 3 comentários  



era uma vez um País...

A revolução silenciosa

Ao ouvir hoje, pela rádio, a ministra da Educação, que falava em “revolução tranquila e silenciosa” a propósito do que se vai passando no universo escolar português, eu pensava cá para mim: “Eia! Aqui está a definição que faltava. Revolução tranquila e silenciosa! Sobretudo silenciosa”. E acudiam-me à lembrança tristes conotações desse adjectivo “silenciosa”, sobretudo quando associado às maiorias – “maiorias silenciosas”, aquelas que dão corpo às grandes revoluções que os chefes iluminados interpretam tão bem, na sua ligação carnal aos sentimentos profundos das massas. E também me ocorria que do “silencioso” ao “silenciamento” vai um passo, ou tão só um pequeno deslize de sentido. Por exemplo, esse tão bem ilustrado pelo caso da Associação dos Professores de Matemática. Estes ousaram uma crítica à ministra e logo foram considerados auto-excluídos da comissão de acompanhamento da disciplina, isto é, foram obrigados a passar à “revolução silenciosa”.
Também o caso Charrua se revela como um exemplo dessa passagem ao silenciamento. Na sua mal esclarecida evolução (de graçola a injúria grosseira), o que dele principalmente ressalta é a fomentação da denúncia como forma de calar os opositores e premiar os que denunciam, sobretudo quando está em causa a imagem do chefe. E aqui denúncia refere-se à pior e mais abominável forma de denúncia – aquela que alimentou um regime que um certo “25 de Abril” teve a pretensão de abolir. Será então isto a tal “revolução silenciosa”?

Artur Costa, aqui
A propósito da prosa acima, que entre outras coisas prova que ainda há alguma vida no STJ, também hoje se ficou (eu pelo menos fiquei) a saber que Daniel Proença de Carvalho, uma das plurifacetadas 'referências' do regime, de quem se falou para PGR (!), e que até é o Advogado do Eng. faxeado José Sócrates, vai ser - dizia - o novo 'chairman' da PTMultimédia, agora que esta está prestes a emancipar-se da PT...

Publicado por Manuel 17:19:00 0 comentários  



O poder de um sistema

Talvez seja útil ler esta prosa no blog Do Portugal Profundo, Desta vez, para perceber o que é o poder judicial em Portugal e o poder do Ministério Público. Ia escrever, de um certo Ministério Público, mas não. Fica mesmo assim, porque é preciso esclarecer que poder é este que se exerce implacavelmente sobre os fracos e se aligeira sobre os fortes. É. É mesmo assim, infelizmente.

Já lá vão quase três anos, mas alguém, algures num blog intitulado Direitos, escreveu isto:

Saturday, October 30, 2004
Ilegalidade
A busca seguida de apreensão dos computadores do
António são condutas ilegais das autoridades judiciais. Quer seja entendido que há apreensão de correspondência, ainda que electrónica, nos termos do artigo 179º, nº 1, do Código de Processo Penal, quer se entenda que ao caso pode ser aplicado o disposto no artigo 190º do mesmo Código, o despacho que autorizou aquelas é nulo e passível de recurso. A devassa que neste momento já deve ter sido feita ao conteúdo do que foi apreendido pode implicar responsabilidade criminal para os seus autores.
Posted by:
at / 7:41 PM

Parece que não houve jurisprudência pacífica sobre o assunto, então. Mas haverá daqui para a frente, estou mais que certo.

Publicado por josé 12:05:00 19 comentários  



sardinhas e caviar

Rui Ramos escreve hoje no Público que a esquerda, actualmente, se resume a duas ideias: antes de as apresentar, e em primeiro lugar, deve perguntar-se “ o que resta da esquerda”, em vez de se perguntar “o que é a esquerda”.
Depois, a exposição do que resta da esquerda, resume-se às tais duas ideias: a do Estado social e o a do antiamericanismo.

O principal erro da esquerda, segundo o mesmo e desde sempre, enuncia-se deste modo:

Hoje em dia, à esquerda estão as forças políticas que acreditam na mentira que Nietzsche disse ter sido contada pelo Estado ( “o mais frio de todos os monstros”): “Eu, o Estado, sou o povo”. Ora o Estado nunca é o povo, como em tempos as esquerdas souberam.”

Aconselha depois, aos indefectíveis, as leituras de Stuart Mill e Nick Cohen, em vez de Chomsky e Marx.

Publicado por josé 10:13:00 0 comentários  



Vital Moreira e a supremacia do executivo

Outra sobre matérias jurídio-políticas:

Vital Moreira, no seu espaço Público de hoje, terça-feira, escreve sobre a separação de poderes, referindo-se ao executivo e judicial.
Como habitualmente, toma partido a favor do poder executivo e de mando directo, mostrando-se indignado com as recentes decisões jurisdicionais de tribunais administrativos que têm desautorizado o Governo em matérias tão sensíveis como as relativas a encerramento de serviços públicos, maternidades, urgências e centros de saúdo em diversas localidades.

Vital Moreira, entende que essas matérias deveriam estar subtraídas ao poder sindicante dos tribunais administrativos, porque no seu entender, “ não infringem nenhuma lei e são mesmo conformes a lei expressa, caindo na manifestamente na esfera da liberdade de decisão política ou administrativa.”
A única excepção adviria daquelas decisões administrativas e governativas que violassem preceitos constitucionais directamente operativos e vinculativos e que não careçam de legislação avulsa.

Já se deveria saber que tudo o que possa contender com o sagrado poder executivo, retirando-lhe a validade operativa imediata, para Vital Moreira, é despautério, bizarria ou pior ainda: ignorância da Constituição. O mestre falou, os tribunais passam.

Publicado por josé 23:52:00 3 comentários  



Rangel rima com reaccionário?

Rui Rangel, um indivíduo que profissionalmente exerce como juiz desembargador num Tribunal da Relação, expende no jornal O Diabo desta terça-feira, mais umas tantas considerações sobre assuntos de Justiça.
Sobre o Ministério Público que temos, Rangel já afinou um discurso de ranger os dentes. O Ministério Público português, para Rui Rangel, é uma aliteração da magistratura que o desembargador reserva aos juízes. Magistrados, só os juízes, para Rui Rangel. E mainada!

Se formos a ler a razão de fundo para tal expulsão do domínio dos deuses, lemos uma: "O cidadão é levado a dizer: são magistrados, logo são juízes. Aliás, ainda hoje a comunicação social continua a confundir o poder judicial com o MP” . Voilà!
Mas.., nada melhor do que ler a entrevista nessa parte e que se respiga deste local:

Quais são os grandes problemas e necessidades de reestruturação por que actualmente passa o MP?
Temos que perceber de uma vez por todas que houve um engano histórico neste País que foi conferir o estatuto de magistrado ao MP.
Porquê
?
O MP devia ser um alto funcionário de quadro da Administração Pública, dotado de completa autonomia funcional. O MP é uma estrutura hierarquizada e, não é, por exemplo, imparcial. Tem um dever de parcialidade no modelo de investigação, é quase como o advogado do Estado. E é uma parte interessada no desenvolvimento da investigação criminal. E isto tem até provocado algumas confusões, sendo que os juízes têm pago um pouco a factura também de muita coisa que, às vezes, não é feita correctamente.
Em que domínio
?
No domínio das investigações, por exemplo. O cidadão é levado a dizer: são magistrados, logo são juízes. Aliás, ainda hoje a comunicação social continua a confundir o poder judicial com o MP. E continua a dizer que quem representa o poder judicial é o PGR. O PGR não faz parte do poder judicial. Quem representa externamente o poder judicial é o presidente do STJ. Mas esta situação não põe em causa a honestidade e honorabilidade das pessoas. Eu critico é o sistema e não as pessoas. Até porque a maior parte dos magistrados do MI› desenvolvem o seu trabalho arduamente, procurando, dentro do seu saber, fazer o melhor para melhorar os interesses da Justiça.
Quem é o responsável por este sistema
?
Os responsáveis por este sistema não são o MP, nem os juízes nem os cidadãos, é quem tinha o poder legislativo e criou este modelo. A maior parte dos problemas que hoje se passam na Justiça também estão muito focalizados nas questões criminais. Por exemplo é impensável em qualquer parte do mundo que, na fase de inquérito, o MP possa arquivar os processos que entender. Não há controle jurisdicional. Quando eu entrei para esta casa havia controle jurisdicional…

Só mais um comentário avulso: Rangel diz que o MP tem um dever de parcialidade no modelo de investigação, porque é quase um advogado do Estado.
Será mesmo assim, sr. Desembargador?
A imparcialidade e independência são princípios que quadram melhor com a magistratura judicial. O MP encontra-se sujeito a uma hierarquia, o que lhe retira a indepenedência total de que os juízes gozam, e bem, para garantia de todos.
Porém, segundo pode ler aqui, na investigação criminal, é como detentor da acção penal que o Ministério Público age como órgão de justiça. E é enquanto promotor dessa acção penal, que mais importa conferir ao agente do Ministério Público o estatuto de magistrado. A imparcialidade e objectividade a que atrás nos referimos cobram aqui especial expressão prática, através do respeito por um principio de legalidade, na promoção de todo o processo penal.
Logo, a parcialidade que Rui Rangel refere, é um sofisma.
Como o é a outra observação que vem logo a seguir, ao dizer que os despachos de arquivamento do MP precisam de controlo jurisdicional dos…juízes. Assim fora, até 1.1.1988. Depois disso, o paradigma mudou e o responsável é a Comissão presidida por Figueiredo Dias. Segundo alguns dos mais relevantes professores e teórico-práticos destas matérias, o sistema está bem como está. Aliás, parece que a companhia habitual de Rui Rangel nestas andanças em sentido contrário e reaccionário, é...Proença de Carvalho. Que lhe faça boa companhia teórico-prática, porque nunca li nada de relevante que dali saísse e fosse digno de nota.
Mas, já agora, Rui Rangel quer o controlo jurisdicional em nome de quê e de quem?

Em nome da independência dos juízes? E como é que se conjuga tal coisa, com o sistema que temos, depois de abandonarmos o sistema de juízes de instrução?

Publicado por josé 22:43:00 4 comentários  



adenda



... ao postal anterior, e ao postal do JPP - Um destes dias, na litânia diária da TVI, que - nestes tempos modernos - substitui a antiga catequese, e que dá pelo nome de 'Morangos com Açúcar' um aluno, 'teenager' exemplar, 'bacano' q.b., dava aulas a uma 'setôra' de... técnicas avançadas de 'copianço', sim que a 'setôra' - outra 'bacana' - ia ter um qualquer exame e estava atrapalhada.
Naquele pequeno episódio está um todo um programa, toda uma mentalidade, todo o porreirimo das últimas gerações. Espantam-se pois de quê ? De haver profs de matemática que não sabem a tabuada, e contam pelos dedos ? Profs de português que nem o abcedário sabem ? A sério ? Quantos paizinhos é que preferem que os filhos chumbem a passarem administrativamente para embelezar as estatísticas ? É, pois é... Obviamente, isto tudo vai acabar mal.

Publicado por Manuel 13:38:00 3 comentários  



A doença prolongada da democracia

A ler, o último postal assinalado a mastim, no Abrupto de JPP. Diz assim:

Sabem o que cada vez mais isto me parece, a sensação com que já fiquei depois da história do "diploma"? É que é tudo muito parecido com o estilo das "jotas", uma indiferença face à honestidade e à verdade, uma política feita de trapalhices e trapacices, um vale tudo para manter o poder, ganhar uns pontinhos, esmagar um adversário, um autoritarismo com os fracos e subserviência para com os fortes, um parecer mais que ser. A todo o custo.

Residirá nesta explicação prosaica a causa da anomia geral que nos consome?
É bem possível. Qual o remédio para esta maleita ainda não diagnosticada devidamente, mas pressentida pelos sintomas específicos?

Eleições? Com os mesmos de sempre, a usar os truques de sempre e as manipulações discursivas do costume?

A Verdade desta gente educada em jotas, já de percurso corrompido, é sempre uma verdade pequenina, instrumental e particular. Ao serviço dessa verdadinha, está porém, um batalhão de apaniguados do sistema que nos consome os recursos e nos mina a democracia real.
Será este o cancro da democracia?

Publicado por josé 13:06:00 7 comentários  



Os funcionários papistas

Lê-se hoje no Público algo extraordinário e que nos põe a matutar sobre os princípios básicos e constitucionais da democracia que temos, mormente o da igualdade de todos perante a lei. O artigo assinado por Ricardo Dias Felner, é suficientemente elucidativo acerca dos poderes de facto da democracia que somos e do modo como na realidade se entendem os preceitos democráticos e a lei da República.

O caso, mais uma vez, é o das habilitações académicas de José Sócrates e a propósito dos documentos existentes nos serviços administrativos da Câmara da Covilhã.
Segundo o jornal, o autarca sente-se “perseguido”. Por quem? Precisamente pela Administração Central, particularmente a IGAT, dependente do ministro tutelar e em último caso, do primeiro-ministro.

Num caso em que há suspeitas de irregularidades já de âmbito criminal ( por isso é que há o Inquérito no DCIAP), envolvendo as habilitações académicas de José Sócrates, actual primeiro-ministro, pessoa com um poder político e de facto, assinalável e nada despiciendo pelo que se vai conhecendo, mandaria o bom senso que as instituições se revestissem das cautelas e cuidados necessários para assegurar duas coisas: a presunção de inocência, juntamente com o extremo rigor das investigações e ainda a independência prática de quem investiga em relação a quem é investigado. Só assim, se logrará alcançar a verdade material, objectivo de todo o processo, seja ele administrativo ou penal. As verdades formais, neste caso singular, nunca poderão surtir na opinião pública um sentimento de aplicação da Justiça. Antes pelo contrário, consolidarão uma vez mais, a noção de que há duas velocidades e dois pesos nessa Justiça que é para todos: a dos influentes e poderosos e a do cidadão comum.
Este perigo de deslizamento da Verdade, fica visível com a notícia do Público:
O autarca da Covilhã diz-se com medo e abertamente perseguido pela Administração Central, por causa de elementos de prova documental que podem existir naquela autarquia e que envolvem directamente o actual primeiro-ministro.
Por outro lado, refere que a entidade oficial que se encontra a investigar criminalmente os factos atinentes a essa licenciatura controversa, de José Sócrates, ou seja o DCIAP de Cândida de Almeida, “ já requereu elementos à autarquia, no âmbito dessa investigação, e que estes já foram disponibilizados.” Como o autarca não referiu que documentos foram esses, ficará na dúvida do leitor, o modo como esta investigação está a decorrer e principalmente o modus operandi, neste tipo de casos em que se suspeita de falsificação de documentos.
A pergunta directa, sem rodeios que se impõe a quem investiga, num caso como este que é já do domínio público, é esta: é assim que se investiga uma situação destas? A pedir por ofício, a quem guarda documentos suspeitos que os entregue, a pedido? E como é que se sabe que documentos são? Será apenas o que foi mostrado em público e mencionado pelos jornais? E chega? Já agora, porque é que noutros casos similares se fazem buscas? Como é que há a certeza de se terem obtido realmente os documentos relevantes?

O que o autarca, sem grandes rodeios veio agora dizer sobre o assunto, é muito simples de entender para quem souber ler: pode haver elementos documentais nos “dossiers de funcionários da Câmara, designadamente no que tem a ver com pessoas altamente colocadas” que poderiam ser lesivos dos seus interesses. Para quem? Obviamente, para pessoas “altamente colocadas”. Em que medida? Não disse, para além de dizer que “há elementos discrepantes”.
Assim, a obrigação estrita de quem investiga é exactamente o de saber isso e em que consiste essa discrepância.
Obviamente, obtendo os elementos e ouvindo o edil, como testemunha que jura dizer a verdade e só a verdade. Isso apesar de o autarca que dá pelo nome de Carlos Pinto, dizer que “fala correntemente com José Sócrates” e “ não acreditar que este esteja por detrás do relatório da IGAT que compromete o seu executivo” , Carlos Pinto, acha que não acredita que seja ele, mas acredita que “há funcionários que são mais papistas que o papa”…

Publicado por josé 15:21:00 3 comentários  



os abusadores


Nos primeiros meses de 1970, o presidente Nixon, decidiu enviar tropas para o Cambodja, no âmbito da guerra no Vietname.
O anúncio da decisão provocou largos protestos entre os estudantes universitários e no dia 4 de Maio de 1970, no campus da universidade de Kent State, a manifestação de estudantes, espontânea, redundou em violência. A polícia, a Guarda Nacional, interveio e eventualmente em pânico, disparou, matando quatro estudantes.
O acontecimento provocou a indignação de milhares, entre os quais, o músico Neil Young que escreveu logo uma canção a propósito da tragédia e o fotógrafo John Filo ganhou o prémio Pulitzer com a foto supra.
Neil Young, músico canadiano e que integrava o grupo Crosby Stills, Nash & Young, compôs imediatamente, Ohio, logo gravada pelo grupo , então em alta musical.
A canção de protesto, saída poucos dias depois do acontecimento, começou a passar na rádio e tornou-se um êxito imediato.
Nessa altura, o poema da canção citava o nome do presidente Nixon, explicitamente, como um responsável pela chacina. Uma infâmia! Pensaram e disseram os políticos do momento de então. E do pensamento à acção, nessa altura, mediava apenas a distância de um disparo. O disco foi imediatamente proibido de passar nas rádios do Estado de Ohio, pelo governador, com o pretexto louvável de evitar mais violência.
Há sempre um pretexto recomendável, para estas filantropias.
Apesar da recomendação censória, o disco vendeu mais do que seria de esperar e os compradores do single original ficaram ainda com uma cópia do artigo Primeiro do Bill of Rights: aquele que garantia a liberdade de expressão. Não consta que Neil Young ou os CSNY tenham sido alvo de acções cíveis ou criminais, pela ousadia, no entanto.

Dois anos depois, aparecia o caso Watergate, já por aqui glosado algumas vezes e que tem a ver com o mesmo tema: a liberdade de expressão, neste caso, na imprensa.
Também nessa altura, os jornalistas foram tidos como caluniadores, reles mentirosos e abusadores da liberdade de expressão. Nixon, aliás, tinha ganho substancialmente as eleições, em Novembro de 1973, com uma maioria absolutamente confortável que apenas durou até 8 de Agosto de 1974. Nesse dia, confessou-se como mentiroso e abandonou o cargo…

Publicado por josé 19:27:00 0 comentários  



As campanhas

José Sócrates, na entrevista à RTP1, em que tentou explicar o seu percurso académico, por mor das dúvidas que durante semanas alimentaram alguns órgãos de informação, tentou ainda dar o seu contributo explicativo para o modo como se montam e edificam aquilo que o mesmo apelidou de “campanhas”.

O termo sugere acções guerreiras, de logística preparada e planeamento centralizado, algo de que José Sócrates parece entender, ou não tivesse um número certo de fiéis assessores de imprensa e um outro incerto de spinners dedicados, mesmo em blogs.

Logo, “campanhas”, para José Sócrates, parecer ser tudo aquilo que aparece noticiado, como publicidade negativa para a sua excelsa pessoa. O que resta no sentido contrário, necessariamente e nesta lógica, não serão campanhas em sentido estrito e pejorativo, mas sim, mera propaganda. Campanhas positivas, portanto e que em nada se desmerecem, na apreciação do político que agora governa.

O que será vil e desprezível, são precisamente as campanhas que atingem e denigrem a imagem tão laboriosamente criada. Esta, singela e pura, apenas pretende mostrar à poba, o quanto é difícil governar e o quantum de esforço e sacrifício pessoal, representa a dedicação à causa que a eles pertence.

A ingratidão das “campanhas”, é por isso, base de sustentação da sua repressão que passa agora por acções judiciais, em processos crime e cíveis, para apuramento de responsabilidades dos campaigners mais ousados. Alguns, coitados, transidos de medo, assinam estudos em anonimato e conspiram em blogs anónimos, numa clandestinidade recuperada dos tempos do fassismo salazarento. Vem hoje escrito no semanário Sol e já glosado por Vasco Pulido Valente , ( no Público de hoje) o medo de retaliações do Governo de José Sócrates, em relação a dissidentes ou que se oponham à estratégia sagrada da governação do momento, de maioria absoluta. É este o problema, aliás. O poder de mandar, sem entraves de maior...

Porém, tal como na aldeia isolada de Astérix, há por aí, uns guerrilheiros do verbo, acoitados em blogs que só denigem a imagem de pureza, desta gente de qualidade extraordinária que nos saiu em rifa, nas últimas eleições. Os bloggers, são a fonte de todo o mal, para o primeiro-ministro, certamente com o apoio activo de outros ministros, secretários de Estado, núncios diversos, acólitos e demais sabujos do tacho e do emprego refastelado no Estado das empresas públicas e assessorias diversas que olham para os críticos, nesta democracia, como inimigos de classe.

Disse José Sócrates, na entrevista à RTP:

Tudo isto nasce como nasceram outras campanhas. Em primeiro lugar nas blogsofera. Depois vai passando para o rumor, para o boato, até chegar aos jornalistas da…repare…há muita gente que utiliza a seguinte…eu se perdesse o meu tempo a processar todos os insultos que eu vejo na blogosfera que me são dirigidos, eu não teria tempo para fazer mais nada.

Aconselho-os a não procurarem muito na blogosfera porque aí poderão ver os mesmos ataques pessoais, os mesmos insultos, as mesmas difamações. E eu tenho-me portado quanto a essas campanhas na blogosfera, porque já não é a primeira vez que passo por isso, com a superioridade e indiferença que um homem público tem que ter. Temos que ter uma couraça perante isso.

Mas isso não quer dizer que quando achar que o devo fazer que recorra aos tribunais.

Tudo isto tem a mesma natureza e a mesma origem que tiveram outras: blogosfera, rumor, boato, jornalistas. E depois, digamos, sou obrigado a explicar- e cá estou a fazê-lo.”

Ver, aqui, via Apdeites.

Foi isto que José Sócrates disse na tv. Quanto à explicação que ali estava a dar, só apetece lembrar um facto: apresentou na altura uma folha, pretensamente um documento de certidão de licenciatura, em que pretendeu provar que fizera a licenciatura num certo dia do mês de Agosto de 1996. Esse documento que José Sócrates apresentou publicamente como prova da sua licenciatura, e prova suprema de que afinal, ao contrário do que escreveram os arautos da campanha, não concluíra a usa licenciatura a um Domingo, veio a descobrir-se dias depois, ser apócrifo, eventualmente falsificado ( a informação nesse sentido partiu dos serviços da Câmara, segundo os jornais) e dera entrada na Câmara Municipal da Covilhã, para sustentar a documentação de José Sócrates, também funcionário ( quadro técnico) nessa Câmara.

O simples facto de José Sócrates, também agora primeiro-ministro, ter apresentado em público um documento apontado e revelado como falso, para demonstração de algo que já em si era duvidoso ( o percurso académico e o modo de realização das cadeiras do curso), seria bastante para a vergonha cair sobre o mesmo e pura e simplesmente demitir-se do cargo que ocupa, em nome do povo que representa e em nome do juramento solene de lealdade no cumprimento das suas funções.

Nada disso, aconteceu, perante a passividade e complacência dos demais poderes públicos e políticos que têm a estrita obrigação de zelar pelo cumprimento desses deveres e fiscalização dessas incumbências e que foram incapazes de lho lembrar, sendo cúmplices desta anomia. A anomia, aliás, parece ser geral, no seio do poder político e de algum poder mediático. A democracia em Portugal ainda não atingiu a maturidade europeia, é a constatação evidente.

Sabemos agora que quem denunciou a situação académica de José Sócrates, e procurou apenas saber aquilo a que tinha direito e suscitava muitas dúvidas ( até reconhecidas pelo póprio José Sócrates, é bom lembrar) o blogger António B. Caldeira, irá ser perseguido criminalmente, por causa do procedimento que foi desencadeado. Não se sabe ainda o como nem porquê da audição do blogger como arguido e o segredo de justiça não permitirá o esclarecimento, a não ser que se coloque a exigência de esclarecimento que a lei prevê e que consta do artigo 86º nº 9 al. b) do C.P.P.: em casos de especial repercussão pública, podem ser dados esclarecimentos para reposição da verdade.

Espero que sejam dados, porque neste caso é o mínimo que se exige,uma vez que o caso assume gravidade inusitada.

Publicado por josé 16:05:00 9 comentários  



era uma vez um País...


a propósito disto faltam-me as palavras. O que vale é que, às vezes, uma imagem vale mesmo por mil palavras.

Publicado por Manuel 19:04:00 5 comentários  



Frases com Pimenta

O pequeno filho-da-puta
é sempre um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.
no entanto, há filhos-da-puta
que nascem grandes
e filhos-da-puta que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto, os filhos-da-puta
não se medem aos palmos,
diz ainda o pequeno filho-da-puta.
(…)
é o pequeno filho-da-puta

que dá ao grande
tudo aquilo de que ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,o pequeno filho-da-puta
vê com bons olhos o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples
Sobejo
ou seja, o pequeno filho-da-puta.

Alberto Pimenta - Discurso sobre o Filho da puta


O instrutor do processo disciplinar movido pela DREN, ao professor destacado, por ter proferido frase ofensiva ao primeiro-ministro de Portugal, propôs a suspensão do ofensor, para desagravo do ofendido putativo.

A frase assassina da honra do primeiro-ministro de Portugal, segundo a DREN, é esta:” Somos governados por uma cambada de vigaristas e o chefe deles todos é um 'filho da puta.'" ( os jornais não reproduzem a palavra “puta”, por um pudor contido... ).
Contudo, parece que a frase evoluiu semanticamente, desde a mais ampla e abrangente "Estamos num país de bananas, governados por um filho da puta de um primeiro-ministro", para a versão restrita e abreviada, dirigida ao grupo de governantes capitaneado pelo mesmo putativo filho da puta.

Em epígrafe copia-se uma parte do discurso do filho da puta, de Alberto Pimenta, que assenta que nem luva nesta matéria, toda ela semântica e de significados ocultos e explícitos, e de contornos duvidosos.
O texto de Pimenta, é um catálogo literário de filha-da-putices e um elenco de paternidades várias, com indicação de bastardos, enteados e verdadeiros filhos da mãe.
Este texto que segue, é apenas uma glosa ao referido catálogo, em modo de igual pretensão literária e sem significado explícito, não vá o diabo semântico tecê-las...

O problema particular do professos Charrua, agora, já não é só da lavra dele- é de todos. Os que comentam, como hoje José Manuel Fernandes no Público o faz, já perceberam o cerne da questão e a sementeira de ventos que desde há muitos anos se faz, só poderia trazer destas colheitas tempestuosas.
A politização partidária e disseminada nos diversos cargos na Administração Pública, perverteu e corrompeu o sentido e a semântica do dever geral de lealdade e correcção, do funcionalismo público. A expressão “civil service” não tem equivalente na língua de Camões. É por isso que o discurso de Alberto Pimenta se adapta aos conceitos, já um tanto quanto anárquicos
A um dever de lealdade entendido como um desempenho profissional “subordinado aos objectivos do serviço e na perspectiva da prossecução do interesse público”, sobrepõe-se agora o entendimento semântico da lealdade como devoção, respeito e fidelidade caninas ao chefe máximo do governo, sem margem para discordâncias aceradas, públicas, ou sequer privadas. A reserva de intimidade da privacidade de uma conversa, passa ao domínio público, através de sms delator, se mencionar o chefe a venerar e serve de fundamento para castigos disciplinares.
A lealdade, neste sentido, passa a significar absoluta aparência de fidelidade ao chefe eleito e às suas ideias, mesmo peregrinas e avança sobre o dever de isenção e imparcialidade, com o denodo de uma indignação postiça.

Publicado por josé 12:17:00 14 comentários  



Observatório 2008 - Fred Thompson sobe, sobe...


Fred Thompson: o antigo senador do Tennessee não pára de subir nas sondagens e coloca-se como o principal candidato a destronar a liderança de Rudi Giuliani na corrida republicana. Para os conservadores tradicionais ele parece ser quem dá mais garantias de se tornar o candidato Ronald Reagan. Tem boa imagem, uma voz bem colocada, fala dos valores da América, agrada à Direita religiosa. Mas há quem aponte Fred como um daqueles típicos casos de... muita forma e quase nenhuma substância. Será?
Últimos números da corrida republicana:

-- Rudi Giuliani 27
-- Fred Thompson 21
-- John McCain 12
-- Mitt Romney 10
-- Newt Gingrich 9
-- Outros+indecisos 21

Publicado por André 01:01:00 1 comentários  



Lisboémia, de Júlio Pereira

Na música popular portuguesa, há alguns discos que tendo saído no seu tempo, passaram na rádio, foram ouvidos e desapareceram dos escaparates das lojas, nunca mais sendo reeditados.
Alguns deles atingiram entretanto a dimensão mítica conferida pela raridade e a lembrança de quem os viu, ouviu e apreciou no seu tempo.
Um desses discos, é o LP Lisboémia, de Júlio Pereira.
Gravado e publicado pela EMI, em 1978, o Lp seguiu a mesma linha musical que o anterior – Fernandinho vai ao vinho – saído em 1976 e com o mesmo tipo de instrumentação e músicos.
Ambos beneficiam de um tratamento gráfico da capa, da autoria de Carlos Zíngaro que desenha ainda a dúzia de páginas do encarte interior de Lisboémia que inclui as letras das canções.
Em matéria estritamente musical, Lisboémia, está numa escala menor relativamente a Fernandinho, um monumento da música popular em Portugal de sempre.
Lisboémia tem no entanto uma vantagem nos textos das canções. Enquanto Fernandinho vai ao vinho, entornava o copo nas crónicas de costumes, Lisboémia, espraia-se pelo roteiro da cidade de então.
O primeiro tema, começa em Moscavide, num ritmo animado e tropical, a lembrar José Afonso, com predominância de instrumentos acústicos ( o disco é essencialmente acústico e com predomínio de instrumentos de corda)- “ao entrar por Moscavide, fiquei muito embasbacado: ver duzentas mil pessoas em viveiro enlatado”, é a letra do começo. Não muito auspiciosa na originalidade das rimas, cumpre bem logo a seguir, quando retrata o ambiente de Lisboa e do país que desertificou do interior para o litoral: “dei de caras com os Silva a lavar o carro à porta, velho artista albicastrense, com saudades de uma horta”.
De Moscavide, segue para Alvalade, numa letra estugada de desfile temporizado a compasso quaternário e desemboca na Praça do Chile e Inendente, com referências à “Portugália mais abaixo da cerveja e do petisco, quem é pobre no tremoço, quem é rico no marisco” e à vida fácil de algumas mulheres da zona, na voz de Eugénia Melo e Castro “ que eu também sei amar”…
Na rota seguinte, encontramo-nos numa autêntica marcha santantoninha, para apresentar Alfama, numa música ritmada a trombone tuba e trompete, com contraponto na concertina que ainda hoje, seria uma séria concorrente à marcha ganhadora do bairro popular.
A transição para o comércio do Rossio e a baixa, toa-se em acordeão e violino e menções aos “posters do Eanes, Sandokan e namorada emblemas do partido e retratos da tourada”. As vozes misturam-se nesta pequena rapsódia do comércio mesclado do Rossio, com destaque para José Mário Branco, Mário Viegas, Duarte Mendes e Shila.
A passagem para o Cais de Sodré dos cabarets manhosos, faz-se em ritmo sincopado e de vaudeville e aproximação jazzística do baixo de Paulo Godinho, antes de introduzir a melhor passagem do disco que é o antigo mercado perto do cais do Sodré. À voz de Júlio Pereira, acompanhada de guitarras acústicas, junta-se no refrão a sonoridade de coro de um grupo desaparecido: o GAC, grupo de acção cultural vozes na luta, expressão do clima de PREC ainda presente no disco, até na identidade dos próprios colaboradores, com destaque para José Mário Branco e Mário Viegas.
O Bairro Alto, toma a sonoridade de uma harmónica encostada a uma colagem de faducho lisboeta e entalada na narrativa em som de guitarra acústica e voz de Júlio Pereira, num registo de alta qualidade.
O banjo marca a subida da Avenida da Liberdade, e a entrada no Parque Mayer, na voz efeminada em falsete de Mário Viegas que evoca o travesti de outros tempos.
A zona das Avenidas Novas, do Saldanha-Entre-Campos, traça a introdução mais fraquinha do disco, que dura uns poucos segundos, antes de uma nova epifania instrumental e vocal, para vibrar com o apelo “p´lo saber a gente vai, pela luta nos ficamos, se um país está a dormir, somos nós que o acordamos”.
O tema que retrata o sítio de Sete Rios, Belém, Casal Ventoso acompanha-se quase em solo de guitarra acústica, não fora a pequena passagem sinfónica de transição para a segunda parte da canção contrapontada a harmómica, sempre nostálgica.
E é com a nostalgia que chega o último tema do disco. Lisboémia, resume em coro, mais uma vez do GAC, a mensagem da época:
Lisboémia pode ser ditado de quem espera sempre alcança, quem quer da vida quer a morte, faz virtude da esperança”.

Resta dizer que este disco antigo e desaparecido pode ser ouvido novamente em certos lugares selectos. Por exemplo, aqui.

E foi com a sonoridade do disco que escrevi o texto e concluo com uma menção sonora e dita bem alto: Lisboémia ,é um grande disco de Júlio Pereira que não me canso de ouvir nestas últimas semanas.
Para além de um hino à cidade de Lisboa, é uma obra prima da música popular portuguesa, a par com o disco anterior.
A temática de roteiro urbano, deixa alguma nostalgia de uma Lisboa em parte desaparecida ( Cabo Ruivo, o tema de introdução) e em parte ultrapassada ( os retornados do Rossio e vendedores de tudo). A música, porém, marca um tempo e uma época de ouro da música popular portuguesa e Lisboémia vale bem a pena uma reedição em cd.


Publicado por josé 22:42:00 0 comentários  



A sombra de Chambica

Um indivíduo de idade provecta, que passou quase toda a vida adulta na política activa e passiva, deu entrevista a uma revista de fim de semana. Na Única, podem ler-se coisas espantosas como esta, dignas de uma rábula fedorenta:
Mas o senhor é um profissional...
Profissional de quê? Nunca fui profissional da política.
Não foi profissional da política?
Não. Tornei-me político pela força das circunstâncias. Nunca encarei a política como carreira nem como profissão e nunca ganhei dinheiro com a política, sempre perdi. Fui líder do PS durante 13 anos e nunca aceitei um tostão do partido. Eu é que, muitas vezes, antes e depois de Abril, contribui com dinheiro do meu bolso, quando o partido estava aflito...
Ainda olha para a política como uma missão
?
Nunca olhei de outra maneira. Fui educado num meio republicano em que se separava a política dos negócios. Tive várias profissões na vida. Comecei por me licenciar em Letras e fui professor. Depois licenciei-me em Direito e fui advogado. Quando estive no exílio em França fui professor em várias universidades, Vincennes, Rennes, Sorbonne. No meu regresso do exílio, o Zenha e eu resolvemos dar baixa na Ordem dos Advogados porque entendíamos que o advogado defende interesses privados e o político defende interesses públicos. As duas coisas são dificilmente conciliáveis. Hoje, na política, há um hábito perigoso que são os lóbis. Permitidos na América, parece que vão ser autorizados em Portugal. É um estímulo ao tráfico de influências. Agora as pessoas desejam entrar na política para melhor usufruírem, depois, de lugares em empresas. Está a desaparecer o sentimento de honra - e o prestígio - do exercício de funções públicas. O que é terrível para o futuro das democracias.

Mas como limpar os partidos dos ambiciosos que querem apenas promoção social e pecuniária?
Fazendo a pedagogia do serviço público, que é uma honra para quem o pratica de uma maneira séria e honrada. Não pode ser uma maneira de subir na vida ou, muito menos, de fazer fortuna. Ministros, deputados, autarcas, devem ser impolutos, em todos os planos, como os magistrados e os altos funcionários do Estado. Ora, o que se passa na sociedade actual - não só em Portugal - é o inverso. As pessoas acham que se um político morre pobre é parvo, porque não soube «arranjar-se»! Em sociedades sem valores - em que o dinheiro é tudo - desapareceu a sanção moral em relação aos políticos e aos funcionários públicos corruptos e não só a eles... Na fase do capitalismo financeiro-especulativo, em que vivemos, tudo é permitido. Vamos pagar essa excessiva permissividade muito cara.

E os casos de pessoas que passam de um grupo económico para o governo e voltam ao grupo económico?
Trata-se de um comportamento - uma espécie de promiscuidade - absolutamente condenável. E ainda é pior quando, sem vergonha, nos querem dar lições de ética. Tem-se visto muito ultimamente, alguns péssimos exemplos. Perante uma impunidade quase absoluta.

Está a pensar em alguém específico?
Não. Além do mais porque não sei, como diriam os Gato Fedorento, falar espanhol... Note, contudo, que o mal é geral. Não é só português. Reflicta no caso Wolfowitz e no seu comportamento abusivo e indecoroso como presidente do Banco Mundial.


Um pouco mais à frente, sobre Carlucci:
Muita gente interroga-se como é que um homem que foi aliado de Frank Carlucci é hoje um feroz anti-americano.
Nunca fui aliado de Carlucci. No PREC convivi muito com ele, porque percebeu, com inteligência, que só o PS podia derrotar os comunistas, como aconteceu.

Neste contexto semântico, as palavras nepotismo, corrupção, tráfico de influências, Macau, Rui Mateus, Craxi, Andreotti, Khol, Melancia, mediocridade, inépcia, soberba, vingança, vergonha, obscenidade, assumem outro significado. Não obstante, a memória, sendo curta para muita gente, ficou registada para a posteridade em documentos, livros, jornais e revistas, para além dos depoimentos pessoais.

Nota: O sr. Chambica, segundo relato do próprio entrevistado, há uns meses , numa rádio, era um funcionário da polícia política salazarista, incumbido de vigiar os passos do entrevistado, na altura em que este se encontrava preso, por delitos de natureza política, no final dos anos sessenta, em S. Tomé. Numa altura em que o prisioneiro se encontrava a cortar a barba e cabelo no barbeiro local, abrigado no estabelecimento do sol e calor impiedosos, o vigilante Chambica esperava fora, sem sombra de protecção, que não o sentido do dever. Ao sair, o entrevistado, na sua bonomia habitual, larachou com o desgraçado, a suar em bica:Então… aí à fresquinha, sr. Chambica?”

Publicado por josé 22:50:00 14 comentários  



A dificuldade de governar

Segundo se lê no Diário Digital, o senhor Blair, de saída como Premier dos ingleses, queixou-se amargamente dos media que “operam como uma matilha selvagem, fazendo pouco das pessoas e denegrindo as suas reputações”.
Confessando o seu porfiado esforço em tentar inverter essa tendência, em dez anos passou muito tempo a “tentar influenciar a cobertura dos meios de comunicação”. Pelos vistos, confessadamente, fracassou. Como muitos, aliás. A maioria, deve dizer-se. Ou até a totalidade se quisermos ser mais precisos. Um seu conterrâneo, dizia que era possível enganar muita gente durante algum tempo; pouca gente durante muito tempo; mas ninguém, o tempo todo. Estará aí , porventura, a razão do desconsolo de Blair.

Lá, como cá, os governantes queixam-se da pouca atenção que os media dispensam às suas tarefas filantrópicas e sempre beneméritas, em nome do povo, para o povo e pelo povo- que vota…

Lá como cá, apetece repescar uma velho texto de Bertolt Brecht, um intelectual comunista que viveu o dealbar da ditadura nazi, escolhendo o modelo dos amanhãs que cantam, para fustigar um totalitarismo em nome de outro.
Sobre os governantes e as suas supremas dificuldades, só pagas com o peso de ouro dos privilégios, escrevia:

Dificuldade de governar
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar!
Sem os ministros,
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente.
Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida.
Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar. (…)
Se governar fosse fácil

Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.(…)
E só porque toda a gente é tão estúpida

Que há necessidade de alguns tão inteligentes. (…)
Ou será que

Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

Publicado por josé 17:15:00 0 comentários