Rolling Stones

Anuncia-se a presença, em Portugal, dos Rolling Stones, para mais um concerto em grande auditório. Segundo se conta, os bilhetes desta vez, até sobram.
Mas… que têm os Rolling Stones para oferecer, musicalmente, ao pessoal que gosta de música e concertos ao vivo?
Pouca música que valha a pena ouvir e espectáculo cénico sempre renovado, mas em tonalidade minimamente repetitiva.
Os Stones, enquanto músicos, deixaram de ter interesse especial, em meados da década de setenta, senão mesmo antes disso. O último disco que ainda se ouve, de algum modo, é de finais dos setenta, por causa de Some girls e de um número country, de ironia respeitável, chamado Far Away eyes.
E então, nestes últimos 30 anos que produziram os Stones para sobreviverem ao punk, ao disco e à normalização geral da música popular que entrou em vigor, como lei do marketing musical?

Produziram algo intangível e inaudível e que tem acompanhado todos os seus espectáculos regulares, ao vivo e os discos que os justificam. Inovam com imagens renovadas do mesmo símbolo de sempre: a língua de fora, estilizada em 1971, por John Pasche.
A música é apenas um pano de fundo, sonoro, para a imagem iconoclasta habitual e por cada riff repetido, uma nova imagem se apresenta.
Em 1970, os Stones afixavam-se como concorrentes directos dos Beatles, na competição sobre a música popular mais em voga. Nessa altura, o catálogo musical dos Stones não se comparava com o dos Beatles. Para cada Honky tonky woman dos Stones, os Beatles apresentavam Strawberry fields forever. Mas quem dançava, fazia-o ao som de Jumpin jack Flash, mais depressa do que sob a influência de Lucy in the Sky with diamonds.
Mesmo assim, os Beatles eram os certinhos do rock, os bem comportados da imagem pública e em 1971 já tinham acabado como grupo, enquanto os Stones lançavam um dos seus melhores discos: Sticky Fingers.
A capa era um escândalo de época: o disco original, reproduzia a parte da frente de umas calças de ganga Levi´s, com alguém dentro delas e com fecho éclair verdadeiro que se integrava na capa. O conceito artístico, provinha de Andy Warhol, um ser híbrido que invadira a cena artística de Nova Iorque.
As músicas, no entanto, eram do melhor que então se ouvia: Brown Sugar, falava em açúcar castanho, numa alusão eufemística a produtos proibidos e então ainda desconhecidos por cá, apesar de Vilar de Mouros, nesse mesmo ano, em Agosto. Wild Horses, como balada de Gram Parsons, resultava em xaropada certa, mas audível, por mor das guitarras, tal como se ouvia bem Dead Flowers ou Sister morphine. O hit, no entanto, era Brown sugar que passava vezes sem conta, nas juke boxes de café, enquanto se jogava uma partidita de bilhar, antes das aulas…

Logo em 1971, o que se tornava inovador com os Stones, era um certo culto estético e uma imagem de marca que passava pela inovação conceptual, nas fotos, no grafismo e na apresentação dos concertos. Os posters de apresentação, são uma beleza de catálogo das tendências das épocas.
Em 1971, os Stones apareciam fotografados em poses dúbias e de provocação aos costumes e isso pega a qualquer jovem, a curiosidade do escândalo, pelo que os Stones começavam a década, na tendência da língua de fora.
No ano seguinte, saiu uma obra prima, provavelmente o melhor disco dos Stones: Exile on Main St”, encapado num duplo LP, a preto e branco, com fotos em quadrículas a condizer e uma largada de peso, com Rocks off, engrena nas seguintes como bólide em dia de corrida: sem parar e num boogie infernal que obrigava à compra do disco, nesse ano de graça de 1972, sem falta de boa música de outros lados. No lado dois, aliás, Sweet Virginia, segue acusticamente o clássico Tumbling Dice, como aperitivo para um lado todo calmo e reconfortante, antes da retoma vigorosa de Happy e All down the line. No disco, ouve-se Ry Cooder, na guitarra slide, sem crédito confirmado na capa, mas seguro na execução técnica.
O aspecto gráfico, desta vez, ficou a cargo de Norman Seeff e Robert Frank.
Depois de um ano de audição atenta, surge a surpresa de um single atípico, mas marcante. Angie, é um hit de luxo, na discografia dos Stones que desafia a aprender a tocar guitarra acústica, por causa dos acordes iniciais e da beleza da musiquinha. A capa do single, evitava a compra do LP, Goat´s head soup, anódino na discografia do grupo. A capa do single, comportava uma imagem estilizada de loira oxigenada, em trompe l´oeil, e olhos azuis muito bem localizados, e que ajudavam a consolidar a imagem de marca que vende bilhetes de concerto.
Nesse ano, todo de Angie consumido, desenvolvia-se a tendência, vinda do ano anterior, em dar uma atenção gráfica, cuidada, às vestimentas dos concertos e posters de apresentação.
A imagem dos Stones nos décadas seguintes, irá depender disso, em larga medida estética.
O disco do ano seguinte, era um mini Exile, com destaque para o título tema: It´s only rock n´roll ( but i like it) , com um riff de entrada, mortalmente aditivo. A balada costumeira que é Time waits for no one, assegurou o sucesso do disco, a par de If you really want to be my friend.
A capa é outro luxo estético, da autoria de um artista então em voga e que publicou nesse ano de 1973, Rock Dreams, uma antologia de pinturas a aerógrafo e outras técnicas sonre os mitos do rock, livro agora reeditado e à venda por aí. Guy Peellaert é um artista belga que representa bem a atenção particular que os Stones sempre deram às tendências artísticas do momento, com reflexos imediatos nas capas dos discos, posters e demais publicidade artística.
É esse o legado dos Stones, para além dos clichés musicais que são imagem de marca: a divulgação de certas tendências artísticas, algumas tidas como de avant garde, mesmo sem qualquer guarda avançada.
Os posters de anúncio de concertos, durante estes três decénios, chegariam bem para um estudo de doutoramento.
No ano de 1976, para reafirmar a tendência, saiu um disco- Black and Blue- que vale pela foto da capa, do fotógrafo japonês Hiro.
A pela publicidade ao disco, ( imagem acima, já retocada após protestos) alcançou foros de escândalo, ao convocar a ira feminista, contra o anúncio putativamente ofensivo da condição feminina.
Em 1977, saiu um duplo LP ao vivo, Love you Live, ilustrado visualmente por Andy Warhol, já então um artista considerado, nos meios intelectuais da Village Voice e da Interview.
No ano seguinte, saiu então o disco que termina a carreira musical dos Stones em produção com o mínimo de interesse auditivo. Some Girls, contém ainda Beast of burden e Far way eyes e até Miss you, com o ritmo hipnótico e com a sonoridade disco do momento. Graficamente, graficamente provoca novo escândalo. Ao reproduzir a imagem real de fotos de artistas do show bizz, recortadas da capa interior, visível pelas janelinhas alinhadas na capa exterior, provocou os protestos e exigências de reparação das visadas Raquel Welsh e outras Farrah Fawcet e Sofia Loren e os Stones rapidamente apagaram as figurinhas do disco.
A seguir a este disco, os Stones repetiram tudo outra vez, voltando aos ensaios repetitivos anteriores. Há quem assegure que o disco de 1981, Tatto You é o melhorzinho que já produziram. Gostos não se discutem, mas tirando a imagem da capa, é igual a outros, incluindo Emotional Rescue de 1980 e aos demais que se seguiram, mesmo o The Bigger bang, o último, de 2005.


O que vai mudando, ao longo dos anos, com os Stones, é a moda. A imagem deste ano, com o poster de A Bigger Bang, não é excepção, porque é uma delícia visual, tal como o foram as anteriores, sempre surpresas e sempre interessantes. Imagens, claro está. Poucos grupos lograram cuidar de uma imagem com tão elevado sentido do sucesso. Time waits for no one, cantavam em 1974. And it won´t wait for me...canto eu agora.

Entre a imagem promocional de 1975 ( a minha preferida de sempre) e a imagem deste ano, só a moda é que varia, vai a lua e vem o sol.





Imagens: Rolling Stone de 1.7.1976 e revista Best de Agosto de 1975

Publicado por josé 19:53:00  

1 Comment:

  1. Pedro said...
    Fui ver o concerto que os Rolling Stones deram na cidade do Porto, no ano passado.

    Pensava que seria a última vez que viriam a Portugal, porém enganei-me.

    De qualquer modo, fui vê-los não pela música, uma vez que só conheço umas quantas. Mas antes pelo próprio espectáculo inerente aos Rolling Stones, tentar perceber como é que conseguem arrastar pessoas dos 7 aos 77 anos para os seus espectáculos.

    Resumindo e concluindo, gostei do concerto e recomendo vivamente que, e pelo menos uma vez na vida, se veja a actuação ao vivo daquela banda.

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