A doença prolongada da democracia
segunda-feira, junho 18, 2007
A ler, o último postal assinalado a mastim, no Abrupto de JPP. Diz assim:
Sabem o que cada vez mais isto me parece, a sensação com que já fiquei depois da história do "diploma"? É que é tudo muito parecido com o estilo das "jotas", uma indiferença face à honestidade e à verdade, uma política feita de trapalhices e trapacices, um vale tudo para manter o poder, ganhar uns pontinhos, esmagar um adversário, um autoritarismo com os fracos e subserviência para com os fortes, um parecer mais que ser. A todo o custo.
Residirá nesta explicação prosaica a causa da anomia geral que nos consome?
É bem possível. Qual o remédio para esta maleita ainda não diagnosticada devidamente, mas pressentida pelos sintomas específicos?
Eleições? Com os mesmos de sempre, a usar os truques de sempre e as manipulações discursivas do costume?
A Verdade desta gente educada em jotas, já de percurso corrompido, é sempre uma verdade pequenina, instrumental e particular. Ao serviço dessa verdadinha, está porém, um batalhão de apaniguados do sistema que nos consome os recursos e nos mina a democracia real.
Será este o cancro da democracia?
Publicado por josé 13:06:00
É um fenómeno de novo-riquismo. Está-se tudo nas tintas porque andam a aprender a "ser gente de sucesso". Claro que num país pobre, sem exigência para nada, a chico-espertice transforma-se nisto- na indigulgência de quem também não quer ser importunado.
Esta questão do simples curriculo académico era impensável noutros países. Para qualquer emprego que se vá exige-se o curriculo e este é confirmado de fio a pavio. São as próprias agências de emprego quem o faz. Chega-se a demorar mais de um mês até assinar contrato. Porque eles confirmam tudo- até às notinhas de liceu. Com telefonemas, com pedidos de cópias- tudo.
Bastava este aspecto existir por cá para as pessoas sentirem a injustiça. Assim não. Assim todos sabem que a coisa funciona mais ou menos por máfia, por cunha, por treta.
Como disse e repito- o Sócrates, com esta papelada, não só não conseguia emprego num país europeu, como ficava queimado no meio. Não havia empresa que o quisesse. Nem agência que aceitasse. As próprias agências vivem do crédito que têm perante as empresas.
E ninguém ia dizer que a culpa não era dele, que era da universidade. Nem pouco mais ou menos. Quem apresenta papelada ilegal é que é responsável- porque é esse que quer beneficar dela.
A Democracia é frágil e volátil. Requer atenção permanente.
A nossa não pode continuar a ser mais do mesmo, sob pena de ser posta em causa.
O único caminho pragmático passa pelo reforço do Estado de Direito, da separação de poderes e do sistema de freios e contra-pesos. Passa também por uma overdose de ética republicana, que deve ser afirmada e reclamada, sem tréguas, pela "maioria silenciosa", que sancione democraticamente os desvios. E passa também pela tomada dos partidos pela "boa moeda"; enquanto os cidadãos verdadeiramente empenhados na defesa altruísta do interesse público (tal como o entendem) continuarem afastados (por um nojo que é compreensível) da vida político-partidária, deixando o campo livre para as tropelias dos "Jotas", não haverá saída.
São precisos novos políticos. E novos contra-poderes. Jornalistas dignos desse título. Magistrados que entendam que não podem andar em permanednte conúbio com o poder político, em cargos de nomeação e confiança política. Uma sociedade civil verdadeiramente autónoma e empenhada...
Vamos a isso?
Mas, não me parece, Gomez, que seja fácil mudar isto. Quem passa pela política com outro espírito é logo trucidado. E fica vacinado.
Um abraço,
Comentário:
É claro que toda a gente (incluindo os que se fazem de desentendidos - como o "encomendador" da dita placa) está farta de saber que, em termos legais (algo que é suposto aplicar-se a um primeiro-ministro), José Sócrates não tem (nem nunca teve) direito ao título de "engenheiro".
Goste-se ou não do facto; concorde-se ou não com ele - é assim que reza a lei.
No entanto, e como também se sabe, os seus defensores incondicionais, num exercício de tontice, ignorância ou má-fé (dando sobejas mostras de que eram capazes de fazer o mesmo), usam o argumento de «Como o tratam assim... é como se fosse» - uma falácia grosseira (a que ele mesmo recorreu na célebre entrevista na RTP1), e que nunca ouvi a nenhum outro dos inúmeros engenheiros-técnicos com quem, durante mais de 30 anos, convivi e trabalhei.
O certo é que a insistência nesse argumento grotesco não me deixa esquecer um electricista que eu conheci e que, por motivos de saúde, abandonou as obras, passando a trabalhar no escritório da empresa onde, por ser muito versátil, era pau-para-toda-a-obra.
Tratava-se de uma pessoa estimável e estimada, a quem todos tratavam carinhosamente por "Arquitecto", alcunha que ganhou quando os colegas lhe reconheceram uma inexcedível aptidão para montar, desmontar e remontar divisórias de "open-space".
Nos últimos tempos, tenho tentado encontrá-lo, pois a minha ideia é dizer-lhe que, já agora, aproveite a onda para actualizar - já não digo o curriculum (que, se calhar, nunca fez), mas ao menos os cartões-de-visita, se os tiver...