As campanhas
sábado, junho 16, 2007
José Sócrates, na entrevista à RTP1, em que tentou explicar o seu percurso académico, por mor das dúvidas que durante semanas alimentaram alguns órgãos de informação, tentou ainda dar o seu contributo explicativo para o modo como se montam e edificam aquilo que o mesmo apelidou de “campanhas”.
O termo sugere acções guerreiras, de logística preparada e planeamento centralizado, algo de que José Sócrates parece entender, ou não tivesse um número certo de fiéis assessores de imprensa e um outro incerto de spinners dedicados, mesmo em blogs.
Logo, “campanhas”, para José Sócrates, parecer ser tudo aquilo que aparece noticiado, como publicidade negativa para a sua excelsa pessoa. O que resta no sentido contrário, necessariamente e nesta lógica, não serão campanhas em sentido estrito e pejorativo, mas sim, mera propaganda. Campanhas positivas, portanto e que em nada se desmerecem, na apreciação do político que agora governa.
O que será vil e desprezível, são precisamente as campanhas que atingem e denigrem a imagem tão laboriosamente criada. Esta, singela e pura, apenas pretende mostrar à poba, o quanto é difícil governar e o quantum de esforço e sacrifício pessoal, representa a dedicação à causa que a eles pertence.
A ingratidão das “campanhas”, é por isso, base de sustentação da sua repressão que passa agora por acções judiciais, em processos crime e cíveis, para apuramento de responsabilidades dos campaigners mais ousados. Alguns, coitados, transidos de medo, assinam estudos em anonimato e conspiram em blogs anónimos, numa clandestinidade recuperada dos tempos do fassismo salazarento. Vem hoje escrito no semanário Sol e já glosado por Vasco Pulido Valente , ( no Público de hoje) o medo de retaliações do Governo de José Sócrates, em relação a dissidentes ou que se oponham à estratégia sagrada da governação do momento, de maioria absoluta. É este o problema, aliás. O poder de mandar, sem entraves de maior...
Porém, tal como na aldeia isolada de Astérix, há por aí, uns guerrilheiros do verbo, acoitados em blogs que só denigem a imagem de pureza, desta gente de qualidade extraordinária que nos saiu em rifa, nas últimas eleições. Os bloggers, são a fonte de todo o mal, para o primeiro-ministro, certamente com o apoio activo de outros ministros, secretários de Estado, núncios diversos, acólitos e demais sabujos do tacho e do emprego refastelado no Estado das empresas públicas e assessorias diversas que olham para os críticos, nesta democracia, como inimigos de classe.
Disse José Sócrates, na entrevista à RTP:
“Tudo isto nasce como nasceram outras campanhas. Em primeiro lugar nas blogsofera. Depois vai passando para o rumor, para o boato, até chegar aos jornalistas da…repare…há muita gente que utiliza a seguinte…eu se perdesse o meu tempo a processar todos os insultos que eu vejo na blogosfera que me são dirigidos, eu não teria tempo para fazer mais nada.
Aconselho-os a não procurarem muito na blogosfera porque aí poderão ver os mesmos ataques pessoais, os mesmos insultos, as mesmas difamações. E eu tenho-me portado quanto a essas campanhas na blogosfera, porque já não é a primeira vez que passo por isso, com a superioridade e indiferença que um homem público tem que ter. Temos que ter uma couraça perante isso.
Mas isso não quer dizer que quando achar que o devo fazer que recorra aos tribunais.
Tudo isto tem a mesma natureza e a mesma origem que tiveram outras: blogosfera, rumor, boato, jornalistas. E depois, digamos, sou obrigado a explicar- e cá estou a fazê-lo.”
Ver, aqui, via Apdeites.Foi isto que José Sócrates disse na tv. Quanto à explicação que ali estava a dar, só apetece lembrar um facto: apresentou na altura uma folha, pretensamente um documento de certidão de licenciatura, em que pretendeu provar que fizera a licenciatura num certo dia do mês de Agosto de 1996. Esse documento que José Sócrates apresentou publicamente como prova da sua licenciatura, e prova suprema de que afinal, ao contrário do que escreveram os arautos da campanha, não concluíra a usa licenciatura a um Domingo, veio a descobrir-se dias depois, ser apócrifo, eventualmente falsificado ( a informação nesse sentido partiu dos serviços da Câmara, segundo os jornais) e dera entrada na Câmara Municipal da Covilhã, para sustentar a documentação de José Sócrates, também funcionário ( quadro técnico) nessa Câmara.
O simples facto de José Sócrates, também agora primeiro-ministro, ter apresentado em público um documento apontado e revelado como falso, para demonstração de algo que já em si era duvidoso ( o percurso académico e o modo de realização das cadeiras do curso), seria bastante para a vergonha cair sobre o mesmo e pura e simplesmente demitir-se do cargo que ocupa, em nome do povo que representa e em nome do juramento solene de lealdade no cumprimento das suas funções.
Nada disso, aconteceu, perante a passividade e complacência dos demais poderes públicos e políticos que têm a estrita obrigação de zelar pelo cumprimento desses deveres e fiscalização dessas incumbências e que foram incapazes de lho lembrar, sendo cúmplices desta anomia. A anomia, aliás, parece ser geral, no seio do poder político e de algum poder mediático. A democracia em Portugal ainda não atingiu a maturidade europeia, é a constatação evidente.
Sabemos agora que quem denunciou a situação académica de José Sócrates, e procurou apenas saber aquilo a que tinha direito e suscitava muitas dúvidas ( até reconhecidas pelo póprio José Sócrates, é bom lembrar) o blogger António B. Caldeira, irá ser perseguido criminalmente, por causa do procedimento que foi desencadeado. Não se sabe ainda o como nem porquê da audição do blogger como arguido e o segredo de justiça não permitirá o esclarecimento, a não ser que se coloque a exigência de esclarecimento que a lei prevê e que consta do artigo 86º nº 9 al. b) do C.P.P.: em casos de especial repercussão pública, podem ser dados esclarecimentos para reposição da verdade.
Espero que sejam dados, porque neste caso é o mínimo que se exige,uma vez que o caso assume gravidade inusitada.
Publicado por josé 16:05:00
Por isso, vou fazer o link devido. Já não me lembrava.
Já agora, ficam aqui também os links directos para o "clip" (YouTube), e para a entrevista completa, na RTP: mms://195.245.176.20//rtpfiles/videos/auto/especiais/2anosgov_11042007.wmv
(é favor copiar o endereço para a linha de comando do "browser", porque este sistema de comentários não aceita links deste tipo; para copiar, seleccione todo o endereço, incluindo a linha em branco, por baixo daquele).
Quando a coisa é mais fina, mete música - e diz que a campanha é... orquestrada.
Sinto sempre a sua companhia firme nestes momentos críticos. Os tais em que uns sim e outros talvez, outros nem sequer... Por isso, lhe estou obrigado.
Pegando na sua palavra - "inusitada". Inusitada é a resignação popular com os abusos, mais a promiscuidade das elites com os abusadores. Somos ainda o povo que fomos - mas por que adormecemos?...
ahahahahahaha
Só que quando Sócrates alegou ter feito a inscrição a Independente ficava em Xabregas e não ali ao lado do ISEL.
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«A top executive at InterContinental Hotels has quit in disgrace after it emerged that he had lied about his academic qualifications (...)»
Detalhes em:
http://www.telegraph.co.uk/money/main.jhtml?xml=/money/2007/06/15/cnimbardelli115.xml