A sombra de Chambica
terça-feira, junho 12, 2007
Um indivíduo de idade provecta, que passou quase toda a vida adulta na política activa e passiva, deu entrevista a uma revista de fim de semana. Na Única, podem ler-se coisas espantosas como esta, dignas de uma rábula fedorenta:
Mas o senhor é um profissional...
Profissional de quê? Nunca fui profissional da política.
Não foi profissional da política?
Não. Tornei-me político pela força das circunstâncias. Nunca encarei a política como carreira nem como profissão e nunca ganhei dinheiro com a política, sempre perdi. Fui líder do PS durante 13 anos e nunca aceitei um tostão do partido. Eu é que, muitas vezes, antes e depois de Abril, contribui com dinheiro do meu bolso, quando o partido estava aflito...
Ainda olha para a política como uma missão?
Nunca olhei de outra maneira. Fui educado num meio republicano em que se separava a política dos negócios. Tive várias profissões na vida. Comecei por me licenciar em Letras e fui professor. Depois licenciei-me em Direito e fui advogado. Quando estive no exílio em França fui professor em várias universidades, Vincennes, Rennes, Sorbonne. No meu regresso do exílio, o Zenha e eu resolvemos dar baixa na Ordem dos Advogados porque entendíamos que o advogado defende interesses privados e o político defende interesses públicos. As duas coisas são dificilmente conciliáveis. Hoje, na política, há um hábito perigoso que são os lóbis. Permitidos na América, parece que vão ser autorizados em Portugal. É um estímulo ao tráfico de influências. Agora as pessoas desejam entrar na política para melhor usufruírem, depois, de lugares em empresas. Está a desaparecer o sentimento de honra - e o prestígio - do exercício de funções públicas. O que é terrível para o futuro das democracias.
Mas como limpar os partidos dos ambiciosos que querem apenas promoção social e pecuniária?
Fazendo a pedagogia do serviço público, que é uma honra para quem o pratica de uma maneira séria e honrada. Não pode ser uma maneira de subir na vida ou, muito menos, de fazer fortuna. Ministros, deputados, autarcas, devem ser impolutos, em todos os planos, como os magistrados e os altos funcionários do Estado. Ora, o que se passa na sociedade actual - não só em Portugal - é o inverso. As pessoas acham que se um político morre pobre é parvo, porque não soube «arranjar-se»! Em sociedades sem valores - em que o dinheiro é tudo - desapareceu a sanção moral em relação aos políticos e aos funcionários públicos corruptos e não só a eles... Na fase do capitalismo financeiro-especulativo, em que vivemos, tudo é permitido. Vamos pagar essa excessiva permissividade muito cara.
E os casos de pessoas que passam de um grupo económico para o governo e voltam ao grupo económico?
Trata-se de um comportamento - uma espécie de promiscuidade - absolutamente condenável. E ainda é pior quando, sem vergonha, nos querem dar lições de ética. Tem-se visto muito ultimamente, alguns péssimos exemplos. Perante uma impunidade quase absoluta.
Está a pensar em alguém específico?
Não. Além do mais porque não sei, como diriam os Gato Fedorento, falar espanhol... Note, contudo, que o mal é geral. Não é só português. Reflicta no caso Wolfowitz e no seu comportamento abusivo e indecoroso como presidente do Banco Mundial.
Um pouco mais à frente, sobre Carlucci:
Muita gente interroga-se como é que um homem que foi aliado de Frank Carlucci é hoje um feroz anti-americano.
Nunca fui aliado de Carlucci. No PREC convivi muito com ele, porque percebeu, com inteligência, que só o PS podia derrotar os comunistas, como aconteceu.
Neste contexto semântico, as palavras nepotismo, corrupção, tráfico de influências, Macau, Rui Mateus, Craxi, Andreotti, Khol, Melancia, mediocridade, inépcia, soberba, vingança, vergonha, obscenidade, assumem outro significado. Não obstante, a memória, sendo curta para muita gente, ficou registada para a posteridade em documentos, livros, jornais e revistas, para além dos depoimentos pessoais.
Nota: O sr. Chambica, segundo relato do próprio entrevistado, há uns meses , numa rádio, era um funcionário da polícia política salazarista, incumbido de vigiar os passos do entrevistado, na altura em que este se encontrava preso, por delitos de natureza política, no final dos anos sessenta, em S. Tomé. Numa altura em que o prisioneiro se encontrava a cortar a barba e cabelo no barbeiro local, abrigado no estabelecimento do sol e calor impiedosos, o vigilante Chambica esperava fora, sem sombra de protecção, que não o sentido do dever. Ao sair, o entrevistado, na sua bonomia habitual, larachou com o desgraçado, a suar em bica: “Então… aí à fresquinha, sr. Chambica?”
Publicado por josé 22:50:00
":O))))
É que é mesmo isso
Quem perceber, que perceba.
A zazie, como de costume, percebeu muito bem.
Abraço
Paulo
Mentiroso... roubou e não foi pouco!
O meu voto vai para os alemães!
O pai da pátria também já teve (antes de se reformar) toda a família a servir esses mal agradecidos mulatos portugueses.E sempre com bom coração e inteligência.Ele foi o Joãozinho que herdou a Câmara do sampaio , a declamadora andou pela cruz roja, a filha foi logo com o Milicias para Timor e é agora assessora do governo.
Concluindo isto afinal anda mal por o homem ter tido poucos filhos pois que se fossem mais isto andava um brinquinho...
PS
Não ando a gostar é duns MP´s que acusam por 3,9 euros, se metem com a PSP e PJ mas perdoam o ex-cmdt dos bombeiros de Poiares e do maior traficante... Haverá classificações para este pessoal?
A Grande Loja, pretendendo retratar o que no seu entender seria o mau carácter de Mário Soares, resolveu escrever esta posta que terminou com esta “Nota” curiosa que não resisto a realçar a negrito (e já vão ver porquê):
«O sr. Chambica, segundo relato do próprio entrevistado, há uns meses , numa rádio, era um funcionário da polícia política salazarista, incumbido de vigiar os passos do entrevistado, na altura em que este se encontrava preso, por delitos de natureza política, no final dos anos sessenta, em S. Tomé. Numa altura em que o prisioneiro se encontrava a cortar a barba e cabelo no barbeiro local, abrigado no estabelecimento do sol e calor impiedosos, o vigilante Chambica esperava fora, sem sombra de protecção, que não o sentido do dever. Ao sair, o entrevistado, na sua bonomia habitual, larachou com o desgraçado, a suar em bica: “Então… aí à fresquinha, sr. Chambica?”
Não resisto a parafrasear o autor da posta dizendo:
Neste contexto semântico, as palavras esbirros da PIDE, torturadores, prisioneiros por delito de opinião, tribunal plenário, Tarrafal, Aljube e forte de Peniche, assassinatos políticos, repressão, ditadura e fascismo, assumem outro significado. Não obstante, a memória, sendo curta para muita gente, ficou registada para a posteridade em documentos, livros, jornais e revistas, para além dos depoimentos pessoais.
"Neste contexto semântico, as palavras esbirros da KGB e STASI, torturadores, prisioneiros por delito de opinião, tribunal do povo, Gulag, assassinatos políticos, repressão, ditadura e comunismo, partidos comunistas, estalinismo, assumem outro significado. Não obstante, a memória, sendo curta para muita gente, ficou registada para a posteridade em documentos, livros, jornais e revistas, para além dos depoimentos pessoais. "
O tipo de eleições, aliás, era parecido: só votava quem oferecia garantias de apoiar o regime e não havia margem para a oposição real.
No regime comunista, era exactamente assim.
Daí que seja irónico que venha agora um antifascista vituperar o regime salazarista, apontando-lhe exactamente os defeitos que os regimes comunistas mais preservaram: ditadura, repressão política, censura e ausência de liberdades em geral.
Isto são factos, não precisando de demonstração.
A vida às vezes prega-nos partidas destas: de caçadores passamos a peças de caça, e muitas vezes vemos o cisco no olho do vizinho ignorando a trave que temos no nosso.
Com a sua reacção fica provado que cada um tem a semântica que mais lhe convém e melhor lhe serve: O Dr. Soares, a dele; o Dr. José, a sua; e eu, a minha.
Penso que assim ficamos assim quites.
É a vida.
Está apenas em estado de hibernação, mas se o tempo se proporcionasse, teríamos outra vez o PREC em força, não seria assim, senhor Klbzz?
Mal por mal, mais vale uns "safanões" a tempo do que ficar sem tosse para sempre.
Leve lá a taça porque senão ainda é capaz de ter um AVC e ficar pior do que já está, sonhando o resto da noite com seu querido desgraçado Chambica, "à fresquinha", vigiando o Dr. Soares.