O inferno anda muito pouco cotado
sábado, julho 31, 2004
O Rocinante oferece-nos mais uma reflexão vibrante, desta vez num singular texto intitulado "É bem mais fácil ser de direita".
Mais relevante do que esmiuçar as ilações que me parecem caricaturadas, é caso para observar a simplicidade da própria caricatura, porque por vezes é preciso um pouco de maniqueismo para se sublinhar o essencial. Em doses moderadas, bem entendido.
Um excerto do post do Jumento
Cada vez sei menos sobre o que é ser de esquerda e o que é ser de direita, sei apenas que é mais fácil ser de direita, é mais fácil ver pobres e concluir que são pessoas pouco ambiciosas, ver empresas falir e concluir que foram as forças do mercado a eliminar os menos capazes, ver o país a arder e ficar tranquilo porque a intervenção do Estado não será solução.
Publicado por Rui MCB 23:16:00 1 comentários
"exercício espiritual"
É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
Mário Cesariny de Vasconcelos , manual de prestidigitação
Publicado por Manuel 21:23:00 0 comentários
Surf ski paddler passes along Manly Beach on Sydney's north shore at sunrise July 31, 2004. REUTERS/Will Burgess
Publicado por Manuel 18:52:00 0 comentários
"Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto"
Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.
Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.
O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.
Maria do Rosário Pedreira, A Casa e o Cheiro dos Livros
Publicado por Manuel 02:31:00 1 comentários
Menyaru(L), a young Samatran Orang-utan celebrates his first birthday with his mother Maimunah at the Melbourne Zoo. (AFP/William West)
Publicado por Manuel 22:58:00 0 comentários
Sampaio e os incêndios...
O Dr. Sampaio, avalista do governo do Dr. Lopes e Presidente da República, ressuscitou hoje para assacar críticas a toda a gente no que as incêndios diz respeito. A toda a gente não, porque Sampaio, o pedagogo, não se acha com rigorosamente nenhuma culpa na cartola. Sampaio, o descentralizador, bem que critica os autarcas mas não lhe parece passar por aquela cabeça, cor de cenoura, que é precisamente o modelo de descentralização que tanto aclama e proclama um dos causadores da rebaldaria vigente. Se o Estado central tem culpas inalienáveis a verdade, verdadinha, é que o que se tem passado demonstra também e à exaustão a falência do actual modelo dito municipalista. detalhes.
Publicado por Manuel 20:25:00 0 comentários
O discurso de aceitação de John Kerry – O Iraque e um pouco do resto
Na convenção democrática de ontem, John Kerry não disse qual era a sua solução miraculosa para a situação no Iraque. E não o fez porque ela não existe.
Disse antes que encontrar a solução para o problema passará inevitavelmente por um entendimento com os aliados, por uma partilha de competências e de responsabilidades na condução da situação futura. Foi preparando os americanos para terem de entender um problema que não é, nem nunca foi, linear. Criticou as mentiras que se têm sucedido e das quais Dick Cheaney tem sido um dos mais óbvios propagadores; criticou a ida para a guerra sem um plano de paz.
No final da convenção, os comentadores da CNN, apresentaram a sua declaração sobre a solução da guerra como algo muito difuso, algo em que não se apresenta à vontade. Justificaram esta tese pelo facto de ter sido um dos que apoiou a intervenção num primeiro momento e por hoje não saber como resolver o problema.
Atendendo ao problema em questão e à analise que dele fez John Kerry, julgo que prestou um bom serviço ao seu país e ao mundo permitindo que se sublinhasse a complexidade do problema e deixando espaço para negociar sem vir a ter de faltar à sua palavra.
Já em relação a outras política como a educação, a segurança social, o sistema de saúde ou o acesso ao direito foi bem mais claro e incisivo como convém a um candidato a líder executivo de um país.
Como bem lembrou no seu discurso, quem quiser saber mais detalhes e conhecer melhor os seus compromissos pode e deve passar por John Kerry dot com (ou pelo blogue de campanha).
Publicado por Rui MCB 18:59:00 6 comentários
"A Inegualável"
Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de setim...
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...
E tão febril e delicada
Que não pudesse dar um passo -
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de cor no regaço...
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...
Ah! que as tuas nostalgias fossem guisos de prata -
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos, de seda...
- Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim...
Mário de Sá-Carneiro, Poemas Completos
Publicado por Manuel 18:05:00 1 comentários
porque é verão...
A monkey eats an ice cream cone given by a visitor in a zoo in Islamabad. (AFP/Jewel Samad)
Publicado por Manuel 17:04:00 0 comentários
Adivinhem quem faz 50 anos?
Publicado por Rui MCB 16:01:00 0 comentários
o esteta ou a Tégui do PS...
Já aqui o tinhamos antecipado, José Sócrates não vai ser nada no PS. A declaração, ontem, de João Cravinho de que Sócrates nem sequer era o melhor candidato a Primeiro-Ministro, evocando o nome de - surprise - António Vitorino é pura e simplesmente a estocada final. A luta interna no PS é muito mais do que uma mera dicotomia entre duas visões de fazer política, entre alas esquerdas ou republicanas vs alas moderadas, ou entre o passado e o futuro, a luta interna no PS é um sinal, uma metáfora, de tudo o que está mal, podre, na democracia portuguesa.
A entrevista de Sócrates ao último Expresso que agora muitos pretendem menorizar e contextualizar é tudo. Não é apenas o retrato de Sócrates, é o retrato de um certo País, de um certo Portugal. Com uma certa pitada de ironia fico-me por uma e uma só frase de Sócrates ...
Receita de mulher: As feias que me perdoem mas beleza é fundamental. Sim, também sou um esteta.
Está aqui tudo resumido, às claras e sem equívocos.
Também Hitler se considerava um esteta, também Jaime Nogueira Pinto, que pode ser visto a ulular por estas bandas, se considera um esteta, até o Dr. Cunhal se considera um esteta. E ser esteta é moldar a realidade, adaptá-la áquilo que queremos ver, whatever it takes, é querer mostrar só o que se acha que é para ser mostrado, é ser revisionista, é antes de tudo ser cínico, muito cínico.
O Dr. Lopes tem os defeitos que tem estruturalmente, o Eng. Sócrates tem a virtudes que enuncia laboratorialmente. E entre uma aberração da natureza e um monstro criado voluntária e conscientemente em laboratório, mal por mal e pela parte que me toca, sempre prefiro o que é natural...
Voltando às senhoras, uma sugestão grátis a todos os sócrates deste mundo, que não ao próprio, o que interessa não é o hardware mas sim o software, o hardware é uma comodidade, é o software que faz o trabalho todo, bem ou mal... Este conselho de nada vale a Sócrates porque afinal também ele é só hardware, o software é o do momento - o dos spinners, das sondagens, da voragem do dia. A Sócrates só lhe falta pintar o cabelo de louro, é afinal a Tégui do PS...
Publicado por Manuel 14:55:00 4 comentários
"Porta Aberta"
O Dr. Mário Morgado foi-se embora. Haverá, com certeza, um Tribunal da Relação à sua espera. É esta a garantia dos magistrados que, por convicção ou desfastio, brincam, de vez em quando, às políticas. As estruturas sindicais da PSP ficaram contentes.
Na PJ e no SIS também houve manifestações de contentamento. Segundo um jornalismo pimba, que também o há, o juiz, que no momento não era juiz mas serventuário de uma política, bateu com a porta. É evidente que esse jornalismo não compreendeu que o dito só pôde bater com a porta porque a porta lhe foi aberta.
Do ponto de vista da gestão dos quadros, a situação era insustentável para o Dr. Mário Morgado. A dois anos das eleições, o que o Dr. Santana dispensará serão os conflitos laborais, nomeadamente envolvendo milhares de polícias. Onde antes era preciso mostrar firmeza, hoje impõe-se o diálogo. Em nome dos votos, evidentemente.
A questão das informações que teria sido suscitada pelo Ministro Daniel Sanches, foi apenas um pretexto para o Dr. Mário Morgado voltar ao seu refúgio judicial. O Dr. Morgado deveria saber que o novo ministro é um especialista em secretas e em segredos e que a sua actuação iria passar por estas áreas. Se as queixas do SIS e da PJ não terão chegado aos ouvidos do anterior ministro, parece óbvio que a escolha do Dr. Daniel Sanches teve em vista a resolução dessas tensões.
in Direitos
Publicado por Manuel 13:18:00 0 comentários
questões de sensibilidade...
Num tempo de recessão a direcção do Instituto Português da Juventude duplica custos, num tempo em que se apela à honestidade e transparência as notícias oriundas da Figueira da Foz, e pela segunda semana consecutiva, n' O Independente, a prazo levantam invariavelmente muitas e sérias dúvidas sobre a estirpe moral desse excelente rapaz que é o Miguel Almeida, chefe de gabinete do primeiro -ministro, e também sobre as próprias capacidades oftalmológicas de Pedro Santana Lopes...
Depois temos o 24 Horas - eu não quero saber com quem dorme, se tem mel ou não e o que faz ou que diz o Dr. Lopes quando não está em funções públicas, é um problema dele e só dele. Mas quando Santana Lopes o mesmo que, à custa do pagode, manda duplicar o seu corpo de segurança pessoal para depois achar que toda a gente tem que ler a Caras, a VIP, a OLÁ ou a TVGuia para saber quem é a sua amiga, grande eufemismo, du jour então algo está errado. Há uns anos, já alguns, Mário Soares, então Presidente da República, mandou literalmente passear um guarda da BT, não foi bonito nem delicado, mas ele era o PR, agora que legitimidade tem uma qualquer Catarina ou Joana deste mundo para querer entrar (de Porche) na residência oficial do Primeiro-Ministro, para falar com o Pedro, na premissa que não tem que parar, identificar-se ou dizer àgua vai? É legitimo a Santana Lopes, pelo braço comprido de Miguel Almeida, intentar uma campanha persecutória contra um agente da PSP que pura e simplesmente cumpriu escrupulosamente o seu dever, só para fazer um frete a umas madames amuadas?
Entretanto o Director Nacional da Polícia Judiciária acha que é normal uma casa ser roubada. Deve ser tudo uma questão de sensibilidade...
Publicado por Manuel 11:24:00 0 comentários
"Pretextos para fugir do real"
A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
*
Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos
Alexandre O´Neill, Poesias Completas - 1951/1981
Publicado por Manuel 05:14:00 0 comentários
Amanhã n' O Independente
Moita Flores, António Costa, o depoiamento do primeiro e a cabala do segundo...
quinta-feira, julho 29, 2004
Publicado por Manuel 21:48:00 1 comentários
Mother and son - Cora, a two-month-old baby tiger plays with her adoptive mother, a four-year-old dog in Villeneuve-d'Asq, northern France. (AFP/Philippe Huguen)
Publicado por Manuel 21:30:00 2 comentários
crónica de uma pilhagem anunciada...
O ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação, António Mexia, pediu à Comissão Executiva da TAP liderada por Fernando Pinto, que previa abandonar a companhia aérea amanhã, para adiar a saída «por mais alguns dias», disse fonte conhecedora do processo à Agência Financeira.
Ao que foi possível apurar, o Governo pretende fazer coincidir a saída dos brasileiros da TAP com o anúncio da nomeação dos novos gestores, fazendo ao mesmo tempo «a passagem de testemunho».
Segundo consta, António Laranjo, que integrou a administração da Sociedade Euro 2004, é o nome de quem se fala para substituir Fernando Pinto.
António Laranjo é já conhecido do actual presidente da TAP, Cardoso e Cunha, com quem já tinha trabalhado na Expo 98.
Contactado, pela Agência Financeira, o Ministério das Obras Públicas escusou-se a fazer qualquer comentário ao assunto.
Publicado por Manuel 20:10:00 1 comentários
"Fahrenheit 7/29"
Espera-se, sentado, que a mesma direita que condenou, e bem, os excessos de Michael Moore no seu Fahrenheit 9/11 critique agora, e com a mesma veemência, o despudurado tempo de antena que o PSD se prepara para emitir urbi et orbi.
A técnica, a desfaçatez, a demagogia e o simplismo da linha de raciocínio são exactamente as mesmas, sem tirar nem pôr...
Publicado por Manuel 19:20:00 1 comentários
Incêndios
Carta aberta a S.E. a Ministra da Cultura
Senhora Ministra,
No momento em que, mais uma vez, o país arde, as prioridades são claras: combater os incêndios e apoiar as vítimas.
Nenhuma destas prioridades tem imediatamente a ver com o Ministério de V. Ex.a. Pode a Senhora Ministra continuar a abanar suavemente o distinto leque com que se refresca - dispensando o requinte burguês do ar condicionado e o risco de infecção por legionella – sem com isso se sujeitar à crítica que se abate sobre alguns dos seus colegas.
Porém, sendo Ministra da Cultura, V. Exa. não pode deixar de ser culta; e, sendo culta e Ministra, será certamente sábia. O governante sábio conhece as virtudes da prospectiva. Sabe que o bater de asas de uma borboleta (ou o abanar de um frágil leque) pode provocar terramotos nos antípodas. Tem sobre os seus ombros sábios a responsabilidade estratégica de antecipar, planear e prover, tudo quanto necessário seja à boa governação da sua pasta. E bem pesada é a pasta da Cultura, carregada que está com o património cultural que partilhamos e temos a responsabilidade de preservar para os vindouros.
Agora que S.E. o Secretário de Estado dos Bens Culturais está ocupado com as incontornáveis prioridades da mudança do seu gabinete para Évora - medida de tão profundo alcance que ainda ninguém esteve à altura de o discernir - é chegado o tempo de V. Exa. governar. E como V. Ex.a sabiamente já terá antecipado, uma das urgentes prioridades dessa governação tem a ver com os incêndios que nos assolam.
É que o património, mesmo o construído em rocha dura, arde. Ainda hoje ardeu em Lisboa parte do Convento do Beato. Recordará também V. Exa. os danos causados na Igreja Matriz de Oleiros, em consequência das elevadas temperaturas provocadas por incêndios ocorridos na sua vizinhança durante o Verão passado.
As medidas de prevenção contra incêndios não podem pois ser descuradas, a começar pelos monumentos nacionais mais vulneráveis às chamas, como é o caso, por exemplo, do Convento de Mafra. Pasmará V. Ex.a, Senhora Ministra, ao saber - como possivelmente já sabe - que a generalidade de tais monumentos, tutelados pelo IPPAR, não tem, sequer, um plano de emergência aprovado, como reconheceu o Senhor Presidente daquele instituto em recente entrevista à Rádio Renascença. Ao que parece, o dito instituto não conseguiu, ainda, dar prioridade a elementares exigências de prevenção e protecção contra o risco de incêndio nos monumentos à sua guarda. Ainda estará a “criar um plano de actuação por fases", sendo que, para a sua implementação, "vão ser necessários meios que, neste momento, o IPPAR não tem". Perante esta cândida confissão do Senhor Presidente do IPPAR, concluiu a RR que “o Instituto do Património espera que, este ano, as chamas se esqueçam dos monumentos nacionais”... Todos esperamos. Mas também esperamos que uma intervenção ministerial, esclarecida e musculada, venha finalmente a pôr ordem nas confusas prioridades dos que consagram dia e noite às responsabilidades do património...
A protecção do património arqueológico será também uma das áreas em que se torna necessário intervir com urgência e determinação, para inventariar as situações de destruição ou de risco e definir medidas a tomar. A acção directa do fogo, a erosão a que as áreas ardidas irão estar sujeitas, os revolvimentos de terras para acções de reflorestação, ..., envolvem um risco potencial de destruição de elevado número de sítios arqueológicos já inventariados ou até agora não detectados.
Já no ano passado esta questão se colocou com enorme acuidade. Ao ponto de o país, com incontido assombro, ter testemunhado uma das raras ocasiões em que o Ministro Dr. Pedro Roseta tomou uma decisão. Decidiu - e bem - o V. digno antecessor, inventariar e avaliar o problema e definir linhas de acção. Do assunto, não se voltou a ouvir falar. O que é mau sinal, num tempo em que as mais ínfimas realizações do Estado são publicitadas urbi et orbi e numa terra em que as preocupações com os incêndios esmorecem com o rescaldo dos mesmos, para só renasceram com o eclodir dos fogos do ano seguinte...
V. Exa. avaliará o que foi feito e decidirá o que há a fazer.
Falar das implicações na Cultura e no Património, no auge do drama dos incêndios, não será politicamente correcto ou consensual. Não esquecemos que as prioridades imediatas são outras. Que os dramas humanos a tudo se sobrepõem. Que as catástrofes ambientais põem em risco um futuro sem o qual nada faz sentido.
Mas também não esquecemos que a nossa congénita incapacidade de prever e evitar factores de risco, de planear, testar e coordenar intervenções, explica em muito o que está a acontecer. Acabar com a cultura do nacional-porreirismo, do improviso e da impunidade tem de ser, de uma vez por todas, um dos principais desígnios nacionais. Fazê-lo hoje – e já - também no domínio do património cultural, é imperativo.
Não podemos deixar de integrar medidas de salvaguarda dos bens culturais na estratégia nacional de luta contra os incêndios, tanto mais que a eventual perda de muitos desses bens seria irreparável.
A Cultura não está, neste momento, debaixo de fogo. Que a titular da pasta saiba tomar, serena mas firmemente, as medidas que se impõem para que não venha a estar, são os votos do cidadão que se subscreve,
com os melhores cumprimentos,
Publicado por Gomez 18:50:00 1 comentários
O que falta a José Sócrates?
O Paulo Gorjão conseguiu sacar duas ou três ideias mais ou menos claras quando leu a entrevista de José Sócrates ao Expresso, mas a sensação dominante com que fiquei partilho-a com o José Manuel Fernandes no seu editorial de hoje: Um Político de Plástico.
Há poucos dias perguntava no meu reservado
“Desde quanto anda José Sócrates a preparar-se conscientemente para concorrer ao cargo de Secretário-Geral (SG) do Partido Socialista e de futuro Primeiro-Ministro?”
Hoje começo a desconfiar que o anda a fazer há "demasiado" tempo. Estar ao “centro” não tem de implicar vogar pelo pântano do qual nunca se sabe bem o que esperar.
Para o centro-esquerda ser uma verdadeira alternativa credível à sucessão de más opções disponíveis, é fundamental não entrar desde o primeiro momento a defender uma suposta lógica de compromisso e a dar sucessivos sinais de tibieza quanto a questões políticas muito claras.
No actual contexto político nem deveria ser muito difícil marcar com clareza o que distingue o alinhamento que teoricamente serve a José Sócrates.
É fundamental ter uma linha de rumo, um conjunto claro de prioridades básicas que fundarão tudo o resto que esteja ainda cinzento no momento do “assalto ao poder”.
Nas últimas semanas aquele que me parece ser o candidato a SG do PS que me está mais próximo não conseguiu mais do que servir-me desilusão em desilusão.
Gostei de José Sócrates enquanto executivo e gostava que hoje ele conseguisse transmitir de forma generalizada aos diversos dossiers, a garra, determinação e orientação quanto ao que pretende fazer se chegar a primeiro-ministro.
Mesmo para quem está ao “centro”, fazê-lo implica marcar uma linha além da qual alguns ficariam desde já a saber que não farão parte dos favorecidos pelo intervencionismo de gestão da coisa pública e que constituirão o adversário público e notório a enfrentar. Não o fazer não tem sido uma prova de cautela, de reserva mental até ter o poder, tem sido antes indício de não se pretender fazer nada.
Futebolesmente - um abraço à comunidade falante de futebolês radicada nos Estados Unidos da Blogoesfera - é no início da partida que o árbito controla ou não o jogo, e a partida para Sócrates (ou para qualquer um dos restantes candidatos a SG) já começou. Começou pela forma como reuniu apoios (e que apoios) mas fundamentalmente começou no dia em que se apresentou ao país como potencial futuro primeiro-ministro.
Seria muito bom que mostrasse que conhece alguns dos principais entraves que terá de enfrentar na governação – deveria ser esse o principal valor acrescentado recolhido da sua experiência enquanto governante - não se limitando a considerações difusas a roçar o auto-elogio.
Ouço-o e sinto um político desequilibrado, a fazer poses que não parecem radicar num desculpável nervosismo, mas antes num mais ou menos meticuloso ensaio que só ajuda a colar-lhe o libelo de político de plástico. Em suma, a campanha de santanização de José Sócrates tem tido na vítima o seu principal aliado, até ao momento.
Ainda é tempo de reverter essa campanha mas talvez primeiro seja tempo de esquecer um pouco da preparação que foi fazendo para chegar a secretário-geral. Talvez seja bom rever os métodos e a calculatória e, se conseguir, é tempo de olhar lá bem para dentro de si e procurar a genuína chave para o sucesso de que precisamos em qualquer político que se preze. Sem isso é entregar-se à esperança absoluta do milagre dos spin doctors e, como já vimos, nesse campo todos têm as suas medidas e contra-medidas em acção.
Trocar um Guterres que apresentava um razoável nível de esclarecimento mas que quase sempre ficou àquem no fazer, por alguém que quer fazer mas não sabe muito bem o quê, não é alternativa que se apresente.
Demonstrar o disparate desta minha última afirmação - que desconfio se vai tentando instalar no subconsciente de muita gente - sem recorrer a sucessivas piruetas à lá José Manuel Comissário, é o desafio daquele que, curiosamente, me parecer um pouco amado candidato a secretário-geral pelos seus pares que dissertam pela Blogoesfera.
Publicado por Rui MCB 17:36:00 7 comentários
The Richardson ground squirrel uses ultrasonic frequencies to provide a warning to fellow members of its group, the first time an animal has been found to use high-frequency sound this way.(AFP/File/Paul Richards)
Publicado por Manuel 16:16:00 0 comentários
"reality distortion field"
O mundo não existe, a incompetência não existe, a pobreza também não. As reformas essas já foram todas feitas e pasme-se "O futuro conta connosco com a nossa experiência e a nossa competência e sobretudo com a nossa auto-estima". Isto não é um qualquer discurso de um qualquer Fidel Castro, ou de um delirante ditador norte-coreano, isto é - pasme-se - o discurso oficial do Partido Social Democrata - braço Santana Lopes em versão tempo de antena.
Não sei se Santana Lopes acredita mesmo nisso, nem me interessa. O Santana Lopes que se move entre a beautifull people deste país não liga a detalhes... Estava escrito nas estrelas quer seria Primeiro Ministro e é-o, logo para quê maçar-se, e maçar-nos com a verdade, quando a verdade é suposto acabar por ser aquilo que ele quer?
Hoje vieram a lume mais uma série de ninharias, daquelas a que o Lopes não liga, porque não se coadunam com a sua grande visão, os seus grandes planos. Uma santanette, agora vice-presidenteda Câmara Municipal de Lisboa, na qualidade de gestora - nomeada pela CML - na sociedade gestora do MARL em conluio com uma outra alminha também gestora achou por bem comprar carrinhas - repito carrinhas - Mercedes alta gama, como viatura de representação. Uma questão de sensibilidade - grande eufemismo - dizem, numa empresa à beira da falência... O director nacional da PSD demite-se. Digam o que disserem sindicatos, e oposições, goste-se ou não do personagem, o facto é que Mário Morgado sabia muito bem o quer queria para a PSP, que funcionava. O novel ministro impôs o downsizing da funcionalidade da PSP e muito dignamente Mário Morgado bateu com a porta. Entretanto a Adelino Salvado assaltaram a casa, é a vida, não lhe levaram o cacetete mas um dia destes cassetes pelo correio ainda lhe vão lixar a vida. No affair GALP sabe-se agora que a Parpública (Estado i.e. nós todos) abdica dos lucros da GALP para um privado poder comprar parcelas da mesma (!), havemos de voltar ao assunto. Noutra frente "três ministérios diferentes do novo Governo estão a cobiçar a Casa do Ambiente e do Cidadão, um palacete na zona da Lapa, em Lisboa, cuja recuperação contou com um forte apoio financeiro da União Europeia no pressuposto de que se destinaria exclusivamente a funções de educação ambiental e participação pública. As obras, concluídas há três anos, orçaram em 1,75 milhões de euros, tendo obtido um apoio de 75% dos fundos comunitários para o ambiente."
Isto, meus caros, já não são meros casos clínicos, são casos de polícia, caso houvesse uma que funcionasse, claro...
Publicado por Manuel 14:48:00 5 comentários
"Sacode as nuvens"
Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.
Sophia de Mello Breyner
Publicado por Manuel 12:04:00 0 comentários
A nossa vergonha...
Atentem-se no seguinte raciocínio, todos nós não poucas vezes já nos interrogamos quanto custa efectivamente um incêndio ao país Portugal.
Não se trata apenas de contabilizar os custos dos incêndios, no desgate dos meios, nem tão pouco quanto custa mas sim de calcular o verdadeiro valor da irresponsabilidade de privados e do Estado quando não gerem da melhor forma os incêndios e a sua prevenção.
Esta deveria ser a vergonha de todos os governantes...Todos sem excepção, porque pior que um político que não faz nada é aquele que aproveita os incêndios como meio de auto-promoção política.
Decidi por iniciativa própria e sabendo dos riscos que corro, em meter-me pelos caminhos da modelização económica, sempre sujeita a muitas interpretações, construir o Modelo Económico de avaliação dos custos dos incêndios por incêndio, daqui em diante denominado modelo da vergonha...
Y = Custo Global dos Incêndios
RAh = Rendimento Anual médio por hectare no concelho em análise.
AR = Àrea Ardida
NP = Nº de Anos de improdutividade dos hectares afectados pelo incêndio
ND = Duração do incêndio em dias
CBD = Custos com Bombeiros, gasolina, Àgua, assistência técnica diário.
NAC = Nº horas contratadas para meios àereos
PH = Preço hora dos meios àereos
CD = Compensações Diversas cedidas pelo Estado a título de regimes de calamidade
EP = Postos de trabalho perdidos
MN = Número de Mortes causadas directamente pelos incêndios
CI = Clausula Indeminizatoria atribuida à família.
CP = Compensações Segurança Social Fundo Desemprego
NMM = Numero Meses do subsidio . Neste caso é estabelecido 18 meses.
CFL = Custos de florestação por hectare
CMS = Custo médio de sáude por habitante
PP = Propensão Marginal dos custos de saúde provocados directamente pelos incêndios.
Assim, e por pura dedução lógica..
Y = (Rah*AR*NP) + (ND*CBD) + ( NAC*PH )+ (NM*CI) + CD + ( EP*CP*NMM)+ (CFL*AR) + ( (CMS *PP) + CMS )
No incêndio de Monchique do ano de 2003 arderam 40.587 hectares durante 10 dias. O Rendimento Anual por hectar do Concelho de Monchique é de 4300 Euros. Calcula-se que todos os bombeiros mobilizados tenham gasto cerca de 10.000 Euros por dia. Foram contratados 2 Canadairs durante 10 dias a uma média de 10 horas por dia ao preço de 3.000 euros hora. O estado gastou ao todo 4.573.000,00 até 31/01/2004 em apoios aos concelhos com áreas ardidas . O valor da variável CD é obtidor pela divisão do total pago como indeminizações e apoios face a % da area do incêndio de Monchique relativa ao total da àrea ardida nacional. Como em Monchique ardeu 40.587 e a área ardida em 2003 em Portugal foi de 431.000 hectares, logo o valor calculado corresponde a cerca de 10 %.
Perderam-se 180 postos de trabalho directos, que a Segurança Social comparticipará em 400 euros mensais por 18 meses. O custo de reflorestação está estimado em 350,00 Euros por hectare. Estima-se que a área ardida demore 4 anos a voltar a tornar-se produtiva.
Y =(40.587*4300€*4)+(10*10000€)*(100*3000,00€)+ 457.704,06 € +(350 € * 40.587 )+(180*400*18)= 746.170.560,00 Euros
Setecentos e quarenta e seis Milhões, cento e setenta mil quinhentos e sessenta euros
Já Chega. É este o verdadeiro preço apenas no concelho de Monchique da descoordenação vivida no ano passado.
Nota - O Modelo baseia-se em meras estimativas por baixo. Não estão contabilizados os valores do aumento dos custos de saúde.
Publicado por António Duarte 00:51:00 26 comentários
Federal scientists in Alaska waters have sighted a rare mammal, the endangered blue whale, shown, approximately 100-150 nautical miles southeast of Prince William Sound. The blue whale is the largest animal known to live on Earth. The sighting by researchers on board a National Oceanic and Atmospheric Administration vessel means the blue whale population may be getting healthier and expanding back to traditional territories. (AP Photo/National Oceanic and Atmospheric Administration)
Publicado por Manuel 21:41:00 1 comentários
Magistrados - "Formação descontínua"
Há uns tempos, a propósito de uma acção levada a cabo pela Universidade Católica (Faculdade de Direito do Porto), em conjunto com o Centro de Estudos Judiciários, sobre a nova legislação laboral, uma professora queixava-se da pouca participação dos magistrados. Dois magistrados, com cerca de trinta anos de serviço, que ouviram o desabafo, justificaram-se, a eles e à classe, invocando a falta de tempo face às tarefas que lhes estariam cometidas.
Tratou-se, obviamente, de uma desculpa de ocasião mas que traduz a ideia errada da generalidade dos magistrados sobre a importância da formação.
As grandes transformações doutrinárias e legislativas, ou os diferentes espaços de conflitualidade, ou o novo enquadramento social em que a justiça se exerce, ou a importância das tecnologias na gestão dos processos, impõem aos magistrados uma formação contemporânea que lhes permita um exercício actualizado da função. Essa, porém, tem sido uma vertente descurada. Há uma cultura judiciária que não lhe é favorável.
Ao longo dos últimos vinte anos, a formação destinada à actualização dos magistrados tem sido precária e dispersa. Com uma participação em regime de voluntariado, os magistrados não a sentem como uma obrigação profissional.
Seria interesante saber, nos recentes concursos de graduação para o Supremo Tribunal de Justiça, quantos magistrados teriam documentado o seu percurso profissional com acções de formação.
Tem-se dado uma relevância predominante à formação inicial, numa perspectiva de preencher, com urgência, a insuficiência de quadros. Persistir nessa política, num momento em que os números, ou a insuficiência deles, deixam de ser preocupação. Relevante será re-formar os magistrados, começando por aqueles que desenvolvem as suas tarefas em instâncias de recurso ou tem funções inspectivas.
in Direitos
Publicado por Manuel 20:07:00 2 comentários
A lone man tries to fight a forest fire early morning in Boticas, Vila Real, northern Portugal, Wednesday, July 28, 2004. Three days of intense blazes have destroyed thousands of hectacres of forest and protected landscape all over the country. (AP Photo/LUSA/Pedro Costa)
Publicado por Manuel 19:16:00 0 comentários
Eu até nem sou de intrigas...
Da revista «Focus»...
Enquanto se prepara para cavar batatas e ordenhar vaquinhas, Jose Castelo Branco vai saltando de festa em festa, surpreendendo tudo e todos com o seu estilo e sentido de humor.
Há dias, num desses eventos, rodeado de curiosos e admiradores, José fez uma revelação surpreendente: "Estou contentíssimo com o novo Governo. Já lá tenho quatro ministros!" E nomeou-os, logo ali, um a um.
Publicado por Carlos 18:30:00 3 comentários
Tudo isto é triste, tudo isto é fado...
Ministro da Agricultura elogia política de prevenção e vigilância de fogos
O novo ministro da Agricultura, Pescas e Florestas, Carlos da Costa Neves, elogiou hoje a política de prevenção e vigilância de incêndios realizada pelo seu antecessor e afirmou que foi feito um "esforço notório".
"Não posso deixar de saudar o trabalho desenvolvido pelos serviços deste Ministério, em articulação com entidades actuantes", referiu.
"Os números falam por si e demonstram a prioridade que esta questão assumiu", salientou o ministro, prometendo para mais tarde a divulgação das medidas que estão em curso.
De acordo com os últimos números disponíveis, até domingo arderam cerca de 30 mil hectares de floresta, uma situação que levou o Governo português a pedir ajuda à União Europeia para o combate às chamas. (...)
Na segunda-feira, o ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, adiantou que nos primeiros dois dias desta semana o número de incêndios quadriplicou relativamente ao mesmo período do ano passado e admitiu que, face à quantidade de fogos, os meios nunca são suficientes. (...)
Cortes na prevenção de fogos atingiram os 50 por cento
Anterior Executivo (de Barroso) reduziu verbas para o Instituto da Conservação da Natureza. Com resultados trágicos no Parque da Arrábida, Peneda-Gerês e Serra de Monchique.
Aumentou a capacidade de resposta aos incêndios", declarou Pedro Santana Lopes a 27 de Julho de 2004 no debate do Programa do Governo, na Assembleia da República, depois de considerar que já o executivo anterior, liderado por José Manuel Durão Barroso, tinha contribuído para melhorar essa capacidade de resposta
mais palavras para quê ?
N.A. O Dr. Lopes tinha prometido hoje "começar a governar". E não, isto não é para os apanhados...
Publicado por Manuel 17:48:00 2 comentários
A dispensa polémica...
Portugal relatou que, após um exame minucioso da situação, concluiu que, pelo momento, a assistência oferecida pela Alemanha, Noruega, e Reino Unido não seria necessária
Para que se tenha a ideia do que falamos, a Alemanha iria disponibilizar ainda hoje 8 helicópteros, a Noruega 1 helicópetro e o Reino Unido iria enviar ainda hoje um avião Lockhead Elektra L188 preparado com tanques de água para combate aos incêndios.
É obviamente discutível a decisão do governo português em abdicar de ajuda que seria paga e proveniente directamente da União Europeia, e dificil de compreender mesma quando se olha para os meios utilizados no combate aos fogos de 2003, segundos os dados do SNBPC e relatório da Comissão eventual sobre os fogos florestais ocorridos em 2003 ...
- Helicopteros ligeiros - 4 (combate)
- Helicopteros pesados - 2
- Helicopteros ligeiros - 19 (primeira intervenção)
Áparte das críticas de todos, uma vez que parece ser verdade que os meios nunca são suficientes, a quem vou eu pedir responsabilidades pelos hectares que arderão hoje, e que provavelmente poderiam não ter ardido, se Portugal não tivesse recusado a ajuda ? Tudo isto é triste, porque o comunicado actualizado às 12:40 e disponível no site do SNBPC dava conta das seguintes situações...
- Distrito de Beja - Concelho de Almodôvar, local Monte Zebro, envolvendo no seu combate 178 bombeiros, e 57 Veículos.
- Distrito de Bragança - Concelho de Mirandela, local Serra dos Paços, envolvendo no seu combate 74 bombeiros, 16 veículos 2 aviões.
- Distrito de Faro - Concelho de Loulé, local Águas Frias, envolvendo no seu combate 100 bombeiros e 29 veículos, 4 aerotanques pesados, 3 helicópteros bombardeiros pesados, 1 helicóptero bombardeiro médio e 1 helicóptero de coordenação da Força Aérea.
- Distrito de Vila Real - Concelho de Valpaços, local Veiga do Lila, envolvendo no seu combate 56 bombeiros, e 17 veículos, 1 helicóptero bombardeiro ligeiro e 2 aviões.
Não quero acreditar que a recusa se deva a razões climatéricas, mas a verdade é que a eventual ajuda europeia no combate aos incêndios, iria diminuir as horas de voo utilizadas e devidamente contratadas no tal concurso realizado em abril....
Publicado por António Duarte 16:37:00 0 comentários
Salazar também dispensou o Plano Marshall...
Portugal dispensou, por agora, a assistência aérea de combate aos incêndios oferecida pela Alemanha, Noruega e Reino Unido, numa altura em que as queixas de falta de meios continuam por parte de bombeiros, autarcas e associações ambientalistas.
«Portugal relatou que, após um exame minucioso da situação, concluiu que, pelo momento, a assistência oferecida pela Alemanha, Noruega, e Reino Unido não seria necessária», lê-se no relatório de hoje da Comissão Europeia feito com base nas informações portuguesas de terça-feira à noite, a que a agência Lusa teve acesso.
As autoridades nacionais acrescentam que, para hoje, está prevista uma «diminuição das temperaturas e o aumento dos níveis de humidade», em especial no noroeste e zonas costeiras do país.
Entretanto o Dr. Sampaio anda por aí a vaguear, qual fantasma desaparecido a rezar para que não se lembrem dele...
Publicado por Manuel 16:11:00 0 comentários
"Porque"
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner
Publicado por Manuel 15:15:00 0 comentários
Brevemente nesta Grande Loja...
Objectivo
O Plano de Combate aos incêndios para a época de 2005.
Documento de utilização livre pelo executivo e em versão pdf.
Publicado por António Duarte 14:27:00 0 comentários
os neo-marxistas de direita ou o liberalismo "cientifico"...
O marxismo, ou o socialismo cientifico, pode ser muito bonito no papel, mas se há coisa que a história nos ensinou é que as implementações práticas foram autênticos desastres, sem excepção. Com efeito a teoria - social, económica ou política - é de todo muito bonita mas não pode ser dissociada da realidade prática, concreta e factual.
Os diferentes escribas do Blasfémias assumem-se como o último estertor blogosférico do liberalismo puro e duro. Já em tempos afirmei aqui numa saúdavel polémica com o eclipsado Carlos Abreu Amorim que eu não era liberal, mas numa pose mais papista que o papa, os ilustres liberais daquelas bandas tem andado, por estes dias, a prestar um enorme desserviço à causa que dizem professar.
Vejamos o caso dos incêndios:
Questiona-se João Miranda...
Pergunta do diaSe 88% das florestas portuguesas pertencem a privados, porque é que o estado é que é responsabilizado pelo combate aos incêndios?
De novo João Miranda...
Estatismo entranhado
O estatismo é uma coisa tão entranhada na sociedade portuguesa que a minha pergunta anterior chega a ser ofensiva. Afinal porque é que o estado tem que ser responsável pelo combate aos incêndios?
A estocada final de AAA...
Contra a cegueira do estatismo entranhadoRural/Metro Corporation
As the nation's leading private sector fire protection provider, Rural/Metro is in the forefront of demonstrating how the public and private sectors can come together to provide top notch services for less cost through correctly administered emergency services.
Rural/Metro currently provides fire protection services to more than 25 communities, and responds to more than 60,000 calls annually. Studies have shown that Rural/Metro's fire protection provides residents with a higher degree of safety, while featuring comparatively lower costs. Rural/Metro's emphasis on fire prevention has resulted in an incidence of structure fires that is more than 300% lower than the national average.
In addition to community fire protection, Rural/Metro provides wildland, industrial and aircraft rescue and firefighting (ARFF) services.
Seguindo o mesmíssimo racicínio, e abusando da lógica agit-prop à João Miranda, reduzam-se já os papeis das polícias, ministério público e tribunais... Afinal numa boa parte dos crimes os lesados não são o Estado pelo que as vitimas que se amanhem... Talvez, quiçá, com uma miliciazitas populares ou privadas...
Depois é muito fácil dar exemplos do espaço exterior, de realidadade que não são comparáveis, muito fácil mesmo. Fácil, absolutamente irresponsável, para não dizer demagógico. Também eu quero um Estado mais leve, também eu quero um Estado mais flexível, mais regulador e árbitro que actor, também eu acho que num cenário ideal muita coisa que é feita pelo Estado deva ser feita por privados mas sejamos sérios - para isso é preciso um Estado transparente, um Estado que funcione, um Estado que fiscalize, um Estado que se dê ao respeito, tudo, mas tudo detalhes que o nosso Estado não é. Há alguma entidade reguladora que funcione decentemente em Portugal ? Por acaso o Estado cumpre os seus papeis de árbitro e fiscal ? Por acaso existe qualquer tipo de accountabbility por parte dos privados e do próprio Estado ? Não, a resposta é não, claro que não. E como a resposta é não parem por favor de demagogicamente pedirem para as coisas ficarem ainda piores do que já estão! O Estado que faça outsourcing à vontade mas primeiro que se defina e muito bem o que é core-business, do Estado, e o que não é, quais as regras, quais as obrigações e qual o preço, sim, o preço porque um verdadeiro liberal sabe muito bem que não há almoços grátis...
Publicado por Manuel 13:45:00 5 comentários
SABEDORIA POPULAR
Para os que, distraídos, a esquecem : “o peixe apodrece pela cabeça”.
Publicado por Manuel 12:07:00 0 comentários
Investimento - primeiro semestre ok, segundo?
Novos Hóteis, renovação dos velhos, investimento puro e duro nas empresas de Transportes, Armazenagem e Comunicações, mais uns pozinhos na Banca e Seguros, é este o cenário previsto neste momento para o ano de 2004*. Esperemos pelo segundo semestre.
2003 terá sido tão mau como 1993 em termos de variação de investimento.
Reforço nas intenções de investimento para 2004
Os resultados do Inquérito ao Investimento de Abril de 2004 revelam uma melhoria das intenções de investimento para 2004 face ao previsto no segundo semestre do ano passado. As estimativas apontam para que em 2004 ocorra um reforço do valor da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) empresarial de 5,6%, uma taxa que representa uma revisão positiva face aos resultados do Inquérito de Outubro/Janeiro de 2003 (1,4%). Quanto ao investimento realizado em 2003, verificou-se também uma revisão da respectiva taxa de variação, passando-se de -21,6%, taxa apurada ainda em 2003, para -11,1%, o resultado do presente inquérito (Abril/Julho de 2004).
* O sector da Energia, Água e Gás também se apresentou dinâmico mas, pelo que diz o INE...
O valor apurado com o Inquérito de Outubro de 2003 está enviesado negativamente devido a um erro de registo agora detectado. Assim sendo, a dimensão da revisão real neste sector entre os dois inquéritos (tanto para 2003, como para 2004) não será tão expressiva quanto o
indiciam os números comparados.
Publicado por Rui MCB 11:09:00 8 comentários
O ciclo das citações virtuosas
Depois de passar um ano a "cascar" no director do Público entrei numa fase de sintonia com o senhor. Tudo por causa do seu homónimo Barroso e do mais recente Santana peixe-que-apodrece-pela-cabeça Lopes...
Fica o primeiro parágrafo do editorial de hoje do Público:
Há uns anos perguntei a um dos vários moderadores de um dos muitos debates televisivos em que Santana Lopes se especializara como é que ele fazia. É que, vistos do sofá, esses debates revelavam que a telegenia e habilidade do agora primeiro-ministro escondiam mal a sua ausência de ideias ou de conhecimento dos temas que tinha de discutir. Ele explicou-me que o truque era dirigir sempre a primeira pergunta ao adversário no debate, que Santana depois arranjava sempre forma de reagir. Umas vezes com umas generalidades, outras com ideias soltas, mas assim a coisa disfarçava-se. O risco era colocar directamente, em primeiro lugar, uma questão concreta à popular figura televisiva: o mais provável era não ter nada para dizer e o debate arrancar engasgado.
Publicado por Rui MCB 09:58:00 0 comentários
a bananização da República...
Falou-se muito da italianização do regime com a ascensão, predestinada nas estrelas mas concretizada na secretaria de Belém, de Pedro Santana Lopes a Primeiro-Ministro. Os últimos dados porém apontam é para a mais completa sul-americanização desta república de bananas...
Primeiro foi o Expresso com a pungente notícia de que o Lopes precisava apenas do dobro dos seguranças de Barroso, hoje o 24 vem informar que também Bagão está também protegido porque os serviços secretos (sim, esses mesmo) acham que o homem corre perigo.
Que é que esta gentinha quer, afinal ? Que tenhamos pena deles ? E alguém por acaso tem pena de nós ?
Publicado por Manuel 05:23:00 1 comentários
"Chamo-Te"
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que não quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Publicado por Manuel 04:08:00 0 comentários
N.A. via Jumento
Publicado por Manuel 02:43:00 2 comentários
memória
Convém lembrar aos mais esquecidos que no ano passado o desastre dos incêndios só começou na primeira semana de Agosto. Até lá o volume de área ardida tinha sido um dos mais baixos de sempre
Luis Bonifácio
Publicado por Manuel 00:19:00 0 comentários
A giant panda cub rests at a panda park in the outskirt of Chengdu, capital of China's southwestern Sichuan province, July 27, 2004. China's giant pandas are rebounding from the brink of extinction, thanks to an improved and expanded habitat, but they are not out of the woods yet, forestry officials said in June. The first comprehensive Chinese study of the mammal since 1988 showed that more than 1,590 giant pandas now roam China's forests, and another 161 pandas have been raised in captivity. REUTERS/Bobby Yip
Publicado por Manuel 23:04:00 0 comentários
Os números do negócio
Chega… Basta… (IV)
Segundo os relatórios da Comissão Eventual para os Incêndios Florestais, presidida por Leonor Beleza, divulgou os seguintes números...
No ano de 2000, o nosso país contratou 4 Canadairs a empresas portuguesas, tendo nesse ano ardido 159.604 hectares de floresta e mato. No ano de 2003, com a contratação de 2 Canadairs arderam 416.000 mil hectares de floresta e mato. Não logicamente possível estabelecer uma relação de causa-efeito entre a àrea ardida e o número de Canadairs –aerotanques pesados - , mas não deixa de ser um facto.
No ano de 2003, o orçamento para o combate aos incêndios, foi de 12 Milhões de Euros, excluíndo a contratação de 2 Canadairs à empresa Aerocondor, que custaram perto de 2,8 Milhões de Euros.
Esta Venerável Loja tem travado um debate de ideias interessante com os nossos leitores nos comentários, relativamente às questões que envolvem a utilização de Canadairs, quer sobre a forma de aluguer em concursos públicos internacionais, quer relativamente ao preço dos Canadairs.
Por muito que o debate de ideias seja de facto salutar é por vezes empregue um conjunto de termos, e mais grave deduções que não correspondem à profunda realidade de quem daqui quer dar uma versão o mais próxima possível da verdade, e que várias vezes corresponde aquilo que muitos desconheciam. Como a história que se segue...
Já se percebeu, e penso que todos aqui estarão ao corrente, que falamos da utilização de uma empresa privada cujos lucros são conseguidos em função do número de horas de voo e por conseguinte em função da área ardida. Ainda que seja redutor, quanto maior for a àrea ardida maior é o lucro da empresa. Não se trata aqui se imputar culpas nos incêndios aos accionistas das empresas privadas, mas sim de ter alguma dificuldade em lidar com esta situação.
O grande problema aqui está em definir se deve o Estado assumir, ou não, o combate aos fogos florestais adequando e equipando alguns aviões que dispõem na força aérea para o combate. Bem sabemos que a Força Aérea não dispõem de Canadairs , mas aqui existiriam três situações que poderiam ser empregues pelo Estado
- Aluguer pela força àerea dos aviões Canadair. Em termos de efeitos práticos o único ganho relativo, que teríamos seria a questão de colocar em mãos públicas a gestão da catastrofe.
- A aquisição de Canadairs novos com custos a rondar os 25 Milhões de Euros cada aparelho.
- Aquisição de Canadairs usados com preços substancialmente mais baixos.
Mas como referiamos acima, a história que se segue é provavelmente a clara demonstração de que existem fortes interesses no sector, e que provavelmente é desconhecida do grande público. Como era por mim até ter realizado algumas pesquisas no google, eu que desconhecia o google, estava longe de imaginar...
Os países europeus efectuam em Novembro de cada ano, os seus concursos internacionais de aluguer de aviões Canadairs para as èpocas de incêndio. Falamos pois da Grécia, da França e da Itália que não possuem aviões Canadair em número suficiente para uma correcta cobertura do espaço florestal. Em Portugal o concurso público decorre em Abril, numa altura em que todas as empresas internacionais já alocaram os seus aviões nos concursos ocorridos em Novembro. Não deixa por isso de ser estranho que num concurso público internacional promovido anualmente pelo Estado Português cujos valores ascendem a 20 Milhões de Euros não concorram empresas internacionais. Apenas as portuguesas.
O problema é que o concurso é ganho por empresas portuguesas que não tem os meios próprios. Então funcionam como intermediários, é mais um intermediário na cadeia. Depois têm que ir alugar os meios a empresas na Alemanha e noutros países europeus, mas estas empresas já os têm alugados e, por isso, acabam por ir para a Ucrânia e para a Rússia.
Ou seja, o Estado Português paga mais caro e menor qualidade pelos aviões que aluga para a época de fogos florestais. A somar a isto temos ainda o problema dos pilotos, muitos deles de nacionalidade russa ou angolana a operar em Portugal, que independentemente da qualidade técnica que possam possuir, não tem a disciplina que possuem os italianos ou os espanhóis.
É assim legítimo pensarmos que um concurso desta envergadura tem que ser feito muito cedo e com pré-qualificação de concorrente, com um claro objectivo de reduzir o número de intermediários do negócio, porque cada um vai cobrando a sua comissão e a factura final vai ser cada vez maior. Tem que haver um verdadeiro estudo dos meios aéreos e a solução passa objectivamente pela aquisição destes meios pelo Estado. Além disso, têm que ser pilotados por pilotos da Força Aérea ou do Exército, que pensem em termos de país e não em termos de empresa.
Mas mais grave do que isto, ou apenas o reflexo dos interesses existentes no sector e na actividade, é explicar porque razão desistiu Portugal de um concurso público internacional de aquisição de aviões Canadair , co-financiado pelo Banco Europeu de Investimentos.
O BEI disponibilizou para a Espanha uma linha de crédito por exemplo e ao abrigo deste programa adquiriu cerca de 25 aviões Canadair, tendo cerca de 55 % do custo total sido suportado pelo BEI, pelo simples facto de a Espanha ainda ser considerada elegível para o Fundo de Coesão. Tal como Portugal. O custo final co-financiado ficou em cerca 6,5 Milhões por cada avião novo.
Ou seja, Portugal que até esteve no concurso desistiu de adquirir a preços bem mais acessíveis do que os praticados pelo mercado. Quais foram as razões ?
Preferimos pagar em concursos 20 Milhões de Euros anualmente, ou achamos que adquirir material próprio se tornaria mais dispendioso ainda por cima com co-financiamento da União Europeia ?
Tudo isto se torna ainda mais complicado, quando sabemos que o SNBPC geriu em 2003 um orçamento de 80 Milhões de Euros. Não pela dimensão, mas pelo eventual uso indevido dos fundos.
À atenção e consideração do Senhor Procurador-Geral da República...
Publicado por António Duarte 21:42:00 6 comentários
A polar bear reaches a block of ice containing fruits at an event to cool animals off during hot summer weather, at a zoo in Yongin, south of Seoul, July 27, 2004. REUTERS/You Sung-Ho
Publicado por Manuel 18:22:00 4 comentários
carta aberta a David Justino
Leio o contributo recebido por e-mail, presente no penúltimo post, e apetece-me lançar um repto ao ex-Ministro da Educação, David Justino.
Em diversas ocasiões tive oportunidade de o criticar, de mostrar a minha estupefacção perante os diversos capítulos da novela que invariavelmente se conta a cada novo Ministro e em cada Ministério.
Houve até uma das mais interessante discussões na blogoesfera sobre a questão dos manuais escolares de que o Aviz foi repositório e à qual regressou hoje, ainda que lateralmente.
Apesar das críticas a David Justino, tenho-o em suficiente conta para lhe pedir um último esforço de serviço público: Escreva! Diga coisas, conte-nos a sua visão do que fez e não fez, diga-nos os seus quês e porquês.
O "aparelho" do Ministério parece um autêntico monstro de devorar ministros e pouco estes conseguem deixar de legado útil e/ou visível no final dos respectivos consulados.
O governante precisa urgentemente de aliados, particularmente daqueles que votam e que, perante o silêncio ou as dificuldades de defesa pública de um Ministro, perante grupos tão organizados e profissionalizados em usar a comunicação social, cai facilmente no engodo da crítica ignorante, na manipulação populista dos detractores.
Talvez uma intervenção polémica após a conclusão de um mandato seja recebida de outra forma e colha melhor entre os que o venham a ler do que a própria defesa imediatista do frenesim próprio do exercício do poder.
Temos sempre que admitir que um dia alguém tentará, de novo, combater o imobilismo. Quem lhe segue os passos no actual governo, ou em futuros, passará pelo mesmo e enfrentará, porventura, um "adversário" ainda mais difícil de condicionar e de gerir.
Mais do que identificar-se com um partido, ou com um governo, é preciso defender o Estado de si próprio usando e abusando da sinceridade num último esforço de contribuir significativamente para a coisa pública.
Em Portugal, não há esta tradição dos antigos dirigentes executivos da nação deixarem o seu legado escrito em bom português. Quando muito temos compilações de discursos e, se bem me lembro, houve um ou outro Ministro dos Governos de António Guterres que nos ofereceram alguns contributos que se aproximaram daquilo que aqui tento promover.
Se o relato for genuíno, seja ele mais ou menos apologético, será sempre bem vindo. Para valer a pena, basta que tenha um leitor, mas pode até haver a sorte de ser um leitor particularmente adequado.
Qualquer Ministro que se preze deveria, no mínimo, ler o que os seus antecessores lhe quiseram dizer.
No final, só teremos que lhe agradecer.
Publicado por Rui MCB 16:54:00 12 comentários
A capitulação...
Pedro Santana Lopes, réstia de esperança ainda houvesse, capitulou hoje na Assembleia da República, no debate do Programa de Governo, em toda a linha, e em todas as frentes.
No seu primeiro discurso na Assembleia da República, enquanto chefe do Governo, Pedro Santana Lopes lançou o desafio aos partidos da Oposição para o estabelecimento de «consensos políticos» nas questões de regime, como a política externa, defesa, finanças públicas e justiça.
Ora todos sabemos que as reformas não se fazem com consensos, qualquer reforma é sempre contra algo, contra alguma coisa, a começar pelo conservadorismo inerte que mina o nosso aparelho de Estado. Ao contrário de Guterres, e tal como Barroso, Pedro Santana Lopes não depende de ninguém para fazer reformas, tem uma maioria sólida que o sustenta e cuja utilidade primeira devia ser precisamente a de abalizar as reformas de que o país tanto precisa.
Ao apelar - agora - a patéticos pactos de regime Santana mais não veio dizer que com ele não haverá reformas, ponto final. Claro que será sempre possível chegar a alguns consensos, aqui e ali, é para isso que serve afinal o Bloco Central, mas quanto a reformas daqui por dois anos talvez se volte a falar delas...
Já quanto aos incêndios Pedro Santana Lopes, não teve pejo em mostrar o que de mais rasca há na classe política. Num ano em que já ardeu mais que no ano anterior, o melhor que Santana Lopes teve para dizer ao País foram coisas como ...
Aumentou a capacidade de resposta aos incêndios
Entre 01 de Janeiro e 09 de Julho houve menor quantidade de área ardida
As condições climatéricas foram absolutamente adversas
... em suma um absoluto insulto à inteligência de qualquer um.
O estado de desgraça santanista começou.
Publicado por Manuel 16:09:00 2 comentários
correio dos leitores
Educação - notas breves, mas incisivas
De, mais, um leitor, devidamente identificado, aqui seguem estas oportunas reflexões sobre o estado do nosso sistema educativo...
Dois anos desperdiçados
Como a Pátria é a nossa política "no ensinamento de Passos Manuel" as considerações que tecemos são exclusivamente orientadas pelo interesse que julgamos ser o Nacional, e porque muito acima da política mesquinha está a Pátria em que nascemos não nos podemos coibir de publicar o que pensamos, reflectir sobre a realidade em que vivemos e denunciar construtivamente o que nos parece estar errado.
Depois da platónica paixão guterriana pela educação e do inconsumado espírito reformista barrosiano e do seu ministro Justino, só podemos dizer que desperdiçámos dois anos em política educativa, dois anos a somar aos últimos trinta ou quarenta de disparates, alucinações e negligências.
Poupando-nos a grandes elucubrações, basta perguntarmo-nos intimamente: os alunos que terminaram este ano lectivo estão melhor preparados do que os do ano lectivo anterior? Como todos sabem a resposta, escusamos de a dar...
Avançou a revisão curricular no ensino básico, reduzindo-se os tempos lectivos e os conteúdos programáticos, com os seus efeitos previsíveis.. O novo estatuto disciplinar dos alunos poderia permitir resolver alguns dos problemas comportamentais, mas a inércia das escolas e dos professores tem feito da lei simples letra morta. Os mais rigorosos critérios de transição de ano poderiam ter permitido implementar um ensino de mais rigor e de exigência, mas o que se viu nas reuniões de avaliação do terceiro período foi a mesma vergonha de sempre, com alunos a passarem ao abrigo de regimes de excepção quando se verificavam os pressupostos da retenção ou com classificações a serem votadas para que passassem quase todos os alunos. Do novo sistema de concurso do pessoal docente não vale a pena dizer muito... Perdidos mais dois anos e conhecidos o novos dirigentes políticos do Ministério, o caminho que se vislumbra só deixa como dúvida saber se o destino é o velho pântano ou o novo charco...
Imobilidade docente e empenhamento pessoal
Sendo escusado falar do atribulado processo do concurso de professores do corrente ano, pelo muito que já se disse e ainda se dirá dele, limitamo-nos a aflorar uma das ideias que enformam as novas regras que o Ministério da Educação tentou implementar. Ao pretender que os professores leccionem nas escolas a que estão definitivamente vinculados, entendem os pensadores do ministério tutelar que um professor terá um melhor desempenho profissional pelo simples facto de leccionar no estabelecimento de ensino em que é efectivo, partindo do pressuposto de que a imobilidade de um professor numa determinada escola só por si assegurará um maior empenhamento e uma melhor qualidade de ensino. A ideia parece à partida indiscutível, mas soçobra perante a realidade dos factos, desagrega-se com uma elementar reflexão da realidade e desmorona-se pela experiência secular do mundo laboral tanto administrativo como empresarial. Se é certo que a instabilidade laboral e a mudança frequente de local de trabalho não constituem estímulos à dedicação dos trabalhadores, já não é certo que a imobilização de um trabalhador num determinado emprego lhe aumente a produtividade, especialmente quando se contraria a sua vontade e se amputam as suas aspirações.
A dedicação de qualquer trabalhador à função que desempenha depende de um agregado complexo de factores, uns de ordem interior e pessoal, outros de ordem exterior e institucional. Fixar imperativamente um docente à escola em que é efectivo, impedindo ou dificultando o seu destacamento, dificilmente constituirá estímulo ao seu esforço pessoal, principalmente se for forçado a trabalhar 50, 100 ou 200 quilómetros distante da família quando anteriormente tinha a possibilidade de exercer a sua função junto de casa.
Além do mais, quem pode ousar afirmar, com validade universal, que um professor a leccionar na escola em que é efectivo terá invariavelmente um melhor desempenho do que um professor destacado?
Independentemente de questões salariais e da natureza dos vínculos jurídicos que os ligam à entidade patronal, os professores dedicam-se denodadamente às tarefas de que se ocupam quando por razões éticas e morais têm sentido do dever e brio nas funções que exercem. E porque a natureza humana é falível, a sociedade criou instituições para suprirem as carências e limitações individuais. Se ao trabalhador faltam os interiores e pessoais estímulos motivacionais, aí deve intervir o quadro institucional, designadamente através da diferenciação salarial da produtividade, da promoção na carreira que não dependa quase exclusivamente do decurso do tempo e de um sistema de avaliação rigoroso e verdadeiro... tudo o que tem faltado no nosso sistema educativo...
Promover a droga
Segundo um inquérito realizado pelo "Instituto da Droga e da Tóxicodependência", há pouco tempo divulgado, o consumo de estupefacientes continua a crescer nas escolas portuguesas: entre 1999 e 2003, a percentagem de estudantes de 16 anos que já tinha experimentado drogas subiu de 12 para 18%. Nos estudantes com idades entre os 16 e 18 anos o consumo de drogas disparou: em 1995, o número de alunos que afirmavam ter consumido drogas ilícitas nos últimos 30 dias era de 6,5%, subindo para 12% em 2001.
Sendo sabido que a esmagadora maioria dos jovens que se inicia no consumo de drogas ilícitas começou por adquirir hábitos tabágicos e sendo também conhecido que a escola é um dos locais privilegiados para a iniciação do consumo de tabaco, já era tempo de o Ministério da Educação, as escolas e os professores reflectirem profundamente sobre a realidade vigente de generalizado incumprimento da legislação de combate ao tabagismo nos estabelecimentos de ensino, de modo a que a instituição escolar, pela sua negligência e laxismo, não continue a ser promotora inconsciente e indirecta do consumo de drogas e, em vez de realizar uma educação para a saúde e para a cidadania, involuntariamente esteja a pôr em prática uma educação orientada para a morte e para a destruição social. O que explicará esta inacção das instituições do Estado português em fazer cumprir a legislação supostamente em vigor?
Sindicalismo responsável
Durante a realização do Euro 2004, um sindicato de professores empreendeu uma campanha junto dos visitantes estrangeiros, denunciando em múltiplas línguas a existência em Portugal de elevadas taxas de analfabetismo e de desemprego docente. Com tal iniciativa algum dos nossos analfabetos aprendeu a ler e a escrever, algum professor infelizmente desempregado obteve um ambicionado cargo docente e o Ministério da Educação reformou a sua política? Ao invés, quantos milhares de estrangeiros terão ficado mal impressionados com o País que visitaram?
Este lamentável episódio deveria constituir motivo de séria reflexão sobre a postura da generalidade dos sindicatos. Em lugar de fazerem mera agitação política partidária e de estreitarem as suas iniciativas às legítimas mas acanhadas reivindicações laborais, talvez adquirissem mais credibilidade se, pensado no País e nos Alunos, se empenhassem prioritariamente nas questões da qualidade do ensino e do futuro de Portugal, o mesmo é dizer, no sucesso real dos nossos discentes.
Sucesso desmascarado
Um estudo do "Observatório da Ciência e do Ensino Superior", publicado recentemente, relativo ao ano lectivo 2002-03, veio revelar o que qualquer espírito atento à realidade escolar portuguesa já esperaria: cerca de 40% dos alunos que entram no Ensino Superior não concluem os respectivos cursos, sendo que o panorama é mais negro nos institutos politécnicos em que o insucesso se cifra nos 46%, contra os 36,5% registados nas universidades. Em alguns cursos o insucesso ronda os 90%...
Num sistema educativo em que desde os primeiros anos se promove um sucesso artificial, meramente estatístico, em que o rigor e a exigência longe se serem encarados como objectivos basilares são perspectivados como ideias anquilosadas e pedagogicamente ultrapassadas, onde a transição de ano se impõe como regime-regra e a retenção como excepção independentemente das verdadeiras competências adquiridas pelos discentes, em que se conclui o ensino básico de nove anos sem os requisitos elementares que no passado se obtinham ao fim de quatro anos, em que se entra no Ensino Superior com classificações inferiores a dez valores, os resultados não poderiam ser outros...
Num País em que tudo se esconde e quase todos "fazem de conta", há que dizer frontalmente, que mesmo estes resultados tenebrosos ainda obnubilam uma triste realidade: também no Ensino Superior, pela inexorável pressão da ignorância e impreparação dos alunos e pela necessidade de mostrar outros resultados, professores e instituições já começaram a adoptar o modelo do Ensino Básico e Secundário: reduzir objectivos, facilitar a avaliação, mascarar um pouco a situação. A preparação que as últimas levas de licenciados evidenciam, patenteia à saciedade esta trágica realidade. Os que furaram a barreira do desemprego já iniciaram o processo de reprodução social e escolar da sua incultura e incompetência, num ciclo vicioso que os governos não querem quebrar e que muitos professores complacentemente toleram... contribuindo para a perpetuação deste percurso colectivamente suicida...
Publicado por Manuel 14:31:00 0 comentários