Discos perdidos no sótão do meu tempo.


Há sonoridades que nos lembram a infância, a adolescência e certos momentos da vida. Algumas, registadas em discos que passaram na rádio e que guardamos “no lado esquerdo do peito, dentro do coração”, na imagem sonora de Milton Nascimento (em “Amigo” do LP Sentinela).
Na música popular portuguesa, há discos e músicas que deixaram de se ouvir há longos anos e nunca mais foram regravados, reservados que estão em discotecas particulares, depois de esgotarem nas lojas, logo que sairam.
Depois da recente reedição do LP Hoje há conquilhas, da Banda do Casaco, sobram ainda alguns títulos dispersos que dificilmente verão a luz do raio azul do diamante minúsculo ou a incidência de outra cor que lhes capte os sons em espira ou em combinações particulares de zeros e uns.
Um desses discos de cultura reservada, é o de um duo do início dos setenta, de seu nome Duarte & Ciríaco e que em meados de 1970 gravou para a Movieplay, a composição popular da Beira-Alta , Chária( a plaina corre ligeira…). Outro esquecido é o de Nuno Filipe, cujas Novas Canções, com letras de Maria Teresa Horta e também de 1970, nunca mais se ouviram. Ainda deixou de se ouvir a canção de António Macedo, Erguer a Voz e cantar ( “é força de quem é novo…canta, canta amigo canta, vem cantar a nossa canção”).
Deixaram de se ouvir certas canções de Teresa Paula Brito e Luís Cília, as mais “revolucionárias” e “guerrilheiras”, prè-25 de Abril, mas as que mais tocam a memória vazia dos sons originais, são as primeiras de Fausto , com o celebrado Ó pastor que choras e Chora, amigo Chora.
Porém, uma das mais marcantes na época em que saiu, e nunca mais se ouviu nem aparece disco em antiquários ou coleccionistas é a canção Amor Novo de Luís Rego, gravada no início de 1970
Luís Rego emigrara para França, na leva geral dos sessenta e aó logrou apanhar um lugar de músico com o grupo yé-yé, Les Charlots. Comediante, Luís Rego passou ainda pelo teatro. Nunca mais se ouviu falar por cá, de Luís Rego e da sua magnífica canção Amor Novo, com letra de M. Flavia.Todos os cantores assinalados, incluindo Luis Rego, são do grupo dos “antifascistas”, que politicamente se empenharam em derrubar barreiras ideológicas, antes de 25 Abril de 1974. Nenhum deles votaria em Salazar como primeira figura de Portugal. Alguns, no entanto, talvez votassem em Álvaro Cunhal. Aí está uma razão para aqui figurarem no sótão das canções do meu tempo. Outra, é a música, excelente e que desafia o tempo. Essa, é a principal razão. A estética não precisa de se confundir com a ideologia, mesmo que eles o pretendam. Não podem. O valor da música não paga tributo a ideologias…

Noutras paragens e latitudes, outro disco de meados dos setenta, suscita atenção particular, em virtude de campanha no sentido de repescar imagens, motivos, sons e figuras musicais, de uma sumidade da música popular brasileira, num só disco: Taiguara e o LP Imyra, tayra, ipy, de 1976, distribuído entre nós pela Valentim de Carvalho , em 1977, com a etiqueta Odeon 8E 068 82313.
Sobre este disco já foi dito algo, num postal antigo sobre a mpb, intitulado Corações Futuristas.
Esse postal foi lido por um interessado na música de Taiguara e desse disco particular. O mesmo indicou em mail para esta Loja, o endereço do sítio dedicado ao músico e ao disco.
Como é um disco perdido, tal como o da Banda do Casaco, não há modo de pedir a sua reedição, senão clamando em voz alte e em uníssono:

Imyra, Tayra, ipy, de Taiguara, é um dos maiores discos da música popular brasileira! Reeditem-no!

Fontes de informação e imagem de Luís Rego: Mundo da Canção do ano 1970.

Publicado por josé 19:12:00  

2 Comments:

  1. zazie said...
    Estas postinhas são tão saborosas
    David said...
    Gostaria de saber se é verdade que Luis Rego cantou certos poemas de Fernando Pessoa.

    Moro actualmente em Paris e ele não deve estar longe mas so em Portugal é que consigo encontrar informacoes como a letra da musica "Amor Novo".

    Obrigado em avanco por qualquer dica, fico consultando o site para eventuais repostas

Post a Comment