Cavaco (I)

Não é segredo para ninguém que o Prof. Cavaco vai ser candidato presidencial, estando a decisão tomada há muito tempo. Dito isto, é óbvio que a agenda, e os timings, do Professor não são os do sistema, sendo contudo inevitável que mais dia menos dia, alguém aparecesse, a desoras, a ulular o óbvio, sem riscos de desmentido. Hoje, isso aconteceu, no Diário de Notícias. Como que por mágica, e simultaneamente, ocorreu, nos mais diversos quadrantes uma recontextualização das presidenciais que vale a pena analisar. Ainda no DN, o João Morgando Fernandes, regente, em mais um editorial, piedosamente tenta colocar Cavaco e Soares em igualdade como dois representantes do centrão, ao mesmo tempo que antecipa um duelo ideológico esquerda vs direita, onde nota uma uma vantagem soarista não fosse o excesso (deve estar a referir-se à alegria de Manuel Alegre) de apoios de Soares à esquerda que o podem levar a perder o centro. Nada a comentar, excepto a falta de imaginação, tal cenário já tinha sido debatido e rebatido aqui a... 28 de Julho. Já no Diário Económico há dois textos a reter, um do inefável Rui Ramos, que numa curiosa evolução face ao que tem escrito, diz que afinal não há crise, porque Cavaco afinal será inevitavelmente 'igual' a Sampaio e Soares, isto é, Sócrates só fará o que Cavaco deixar, assim, no mundo pós-presidencialista de Ramos subitamente a Constituição deixou de ser o obstáculo-mor às reformas, já que este sempre foi o inquilino do momento do Palácio de Belém, motor ou travão das mesmas. Genial, hein. Já Domingos Amaral, também no DE, mais reguila, avança com uma outra tese - Soares não ganha mas... deixa Cavaco, Presidente, refém do PSD, já que sem o PSD, Cavaco não chegaria a Belém. " A presidencialização do regime é agora um cenário mais difícil. Ganhando a eleição por uma unha negra, Cavaco terá muito menos legitimidade para presidencializar o regime. O que volta a dar mais importância aos partidos, incluindo o PSD." remata o director de um conhecida revista masculina. Domingos Amaral parte, como Morgado Fernandes, da premissa dúbia de que o combate será mesmo ideológico e segundo as fronteiras 'clássicas' partidárias, e sobretudo assume como axioma que o PSD, no seu estado actual, teria força para poder avançar contra Cavaco, ou apesar Cavaco. Já n' O Acidental, pesem os estados de alma de Eduardo Nogueira Pinto, que quiçá pensando na cosmopolita Madrid, suspira por Jaime Gama, Paulo Pinto Mascarenhas apela à unidade da... direita em torno de Cavaco. Subitamente, a questão, apesar de Soares mas também muito por causa dele, deixou de ser saber se Cavaco ganha mas a de relativizar a vitória, e o papel presidencial, isto ao mesmo tempo que se desvaloriza o valor das próprias presidenciais, pintadas como mais umas eleições dos mesmos contra os do costume, com as discussões do costume.

Publicado por Manuel 17:42:00  

1 Comment:

  1. Anónimo said...
    Retirado de Cavaco (I)

    "Soares não ganha mas... deixa Cavaco, Presidente, refém do PSD"

    Refém do PSD porquê?
    Os Portugueses já começaram a pensar por si próprios, já começam a não ir na conversa dos "iluminados" que integram os partidos.
    Quando chegar a votos vão pensar em quem fez obra e em quem não fez e ainda por cima nos deixo de rastos.

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