Imagine-se...

Directamente da caixa de comentários do blog Do Portugal Profundo, copio uma ideia que complemento com uma história ficcionada de proveito e exemplo.

A história começa em 1975. Marques Mendes, o actual primeiro ministro de Portugal, matriculou-se em Setembro no primeiro ano do curso de Direito da Universidade de Coimbra.
Devido a afazeres da futura profissão, em Fafe, sua terra natal, onde o seu pai advogado tem uma posição de relevo político, o curso começa quase por correspondência. O jovem Mendes, passa mais tempo em Fafe do que em Coimbra e consegue passar em claro as aulas inflamadas de retórica do professor Aníbal Almeida e furtar-se às práticas dos assistentes de Introdução ao Estudo de Direito.
Mesmo assim, Mendes, que revela esperteza acima da média, consegue estudar por conta própria e matricula-se como estudante trabalhador para usufruir das vantagens da política local, em nome do PSD que se afirma, sem sofrer as desvantagens da política nacional educativa.
Ao fim de três anos consegue obter as cadeiras necessárias para se afirmar bacharel. Porém, em 1979, o PSD prepara-se para ser governo e Marques Mendes, está na linha da frente da luta política local, seja em Braga, seja em Famalicão, seja na capital. O curso fica em Coimbra e o bacharelato chega por ora.
Em 1980, vem a AD e a consagração de Sá Carneiro. Marques Mendes é figura de estilo importante e já com experiência política, no partido.

O curso de Direito fica a aguardar melhores dias, até meados dos anos noventa, altura em que Marques Mendes já é governante, no governo de maioria absoluta de Cavaco Silva. Nesse tempo de vacas gordas, o PSD no governo, tem alguns personagens do tempo de Coimbra, da faculdade de Direito que Marques Mendes frequentou, uma dúzia de anos antes.

Até aqui a história é parcialmente ficcionada, pois Marques Mendes acabou o curso de Direito em Coimbra, com licenciatura limpa e sem margem para dúvidas.
Por isso, cum grano salis, leia-se o que vem a seguir, pura ficção de proveito e exemplo e com a devida distância aos acontecimentos recentes.

Portanto, imaginemos que Marques Mendes, suposto bacharel em Coimbra, decide em meados dos anos noventa e quando era deputado com vista para o governo nascente de um PSD, acabar o curso de Direito.
Como está em Lisboa, iria para onde? Para a Nova por exemplo. Imaginemos que na Nova leccionava um professor que viera também de Coimbra; era do PSD e até tinha amigos comuns com Marques Mendes, embora este alegadamente nem o conhecesse. Imagine-se que Marques Mendes começa a frequentar o curso de Direito, na Nova, como estudante trabalhador e à noite. Imaginemos que na primeira aula, o tal professor que é de Coimbra, é do PSD e é amigo de amigos comuns, se apresenta a Marques Mendes, no fim da primeira aula.
Imaginemos agora que as cadeiras que são feitas na Nova, durante esse ano, são custosas, difíceis e o tempo não chega para tudo o que um Secretário de Estado pode fazer.
O que poderia resolver Marques Mendes, com ajuda explícita do tal professor? Mudar para outra universidade, por exemplo? Imaginemos então que a mudança se dá para a Independente, onde o tal professor também dá aulas, precisamente aos últimos anos do curso. Imaginemos que é esse mesmo professor quem assegura as equivalências de Marques Mendes, na mudança e lhe vai leccionar quatro das cinco cadeiras que segundo esse plano de equivalências, aprovado por quem nem tinha competência para tal, faltariam para concluir a licenciatura. A última cadeira do curso, é leccionada por um reitor que não existe nessa qualidade nem é sequer professor da cadeira. A prova final , é a um Domingo, como atesta o diploma entregue, assinado pelo tal reitor.

Imagine-se agora que passados dez anos se descobre num blog de um indivíduo que persiste na curiosidade em saber como tal curso se fez, que afinal não há documentação fiável e disponível para assegurar a validade formal dessa licenciatura.
Imagine-se ainda que um jornal de referência, começa a inquirir Marques Mendes, entretanto primeiro ministro de um governo com maioria absoluta na Assembleia, a propósito do percurso académico, dez anos antes e recebe como resposta, uma ameaça velada de processo judicial acompanhada de esclarecimentos que levantam mais dúvidas do que esclarecem, a menor das quais não será o facto de Marques Mendes nem se lembrar de quem lhe leccionou as cadeiras que faltavam, para concluir o curso.
Marques Mendes, então governante muito ocupado, aluno do tal professor, então colaborador do mesmo governo e partido, acaba o curso, num dia de Domingo de Setembro, com uma última cadeira leccionada pelo reitor da universidade, que se vem a descobrir depois que nunca poderia ter sido reitor, pois o verdadeiro reitor era outro professor catedrático que deu o seu nome e honra e que agora se cala e ainda se descobre que nem era sequer professor da cadeira de fim de curso, obtida de modo caricato, por correspondência.
Marques Mendes, agora primeiro- ministro, é confrontado com este problema da obtenção do seu diploma de Direito, pelo jornal que repescou uma informação publicada dois anos antes, num blog animado por um professor universitário. O professor interessou-se pelo percurso académico de Marques Mendes depois de ter desconfiado do modo como o mesmo o poderia ter obtido sendo governante e ao mesmo tempo, numa época em que a universidade Independente apenas iniciara o curso de Direito em causa.
Apesar de fustigado pela imprensa durante mais de quinze dias, para esclarecer as já muitas dúvidas que se levantam, Marques Mendes reduz-se ao silêncio, enquanto se descobrem outros pormenores através de entrevistas de responsáveis pela universidade Independente.
Os jornais não desistem e descobrem que afinal, o curso frequentado por Marques Mendes nem sequer tinha sido apresentado ao Ministério pela universidade, deixando a suspeita de que nem pudesse ter sido realizado naquele ano, quanto às últimas cadeiras dos últimos anos do curso.
Marques Mendes decide então dar uma entrevista à RTP na qual se defende dos factos conhecidos e divulgados, apresentando um diploma passado com data de Agosto do ano de conclusão do curso, desmentindo assim em directo o facto aventado de a licenciatura se ter concluído a um Domingo.
Imagine-se que no dia seguinte, se publica o facto de Marques Mendes que dissera apenas ter conhecido o tal professor enquanto aluno, ter sido aluno do tal professor, um ano antes do ingresso na universidade Independente e de ter sido o mesmo quem lhe avaliara as equivalências.
Imagine-se que Marques Mendes, afinal, dias depois, é obrigado a dar o dito por não dito e a reconhecer que afinal o diploma de curso era mesmo o do Domingo, porque se descobre entretanto, sem explicação plausível , que o diploma apresentado na Tv, está falsificado.
Imagine-se ainda que Marques Mendes confrontado com o facto, remete todas as explicações para a Universidade Independente.
Imagine-se ainda que se descobre que Marques Mendes, enquanto deputado, assinou e entregou uma ficha biográfica onde consta como profissão a de advogado e qualificações académicas, licenciado em Direito quando ainda era apenas bacharel. E que existe outra ficha rasurada. Ambas são cópias de um original que entretando desapareceu, sem explicação plausível. E que se descobre que como governante, Marques Mendes aceitou que a si se referissem oficialmente, no Diário da República, como licenciado, quando ainda o não era de todo.

Imagine-se ainda o que veio a seguir, as explicações contraditórias para os factos; a falta de documentos credíveis sobre a putativa licenciatura; as amizades perigosas que se mantiveram com o tal professor, nos anos seguintes a essa licenciatura, relacionadas com negócios que envolvem o Estado onde governavam amigos de Marques Mendes, ele mesmo e o tal professor.

Perante esta imaginação toda, prefigure-se o que diria disto tudo o líder da oposição, José Sócrates, no Parlamento e na televisão…para além do que diria toda a imprensa, rádio TSF e televisões em prise.

Ah! E o que faria o Presidente da República? Diria também que há assuntos mais importantes que este, não é assim mesmo?
E os jornais em geral? E a televisão?

Imagine-se, porque é um exercício fácil. E depois, veja-se a realidade que se nos vai deparando

Publicado por josé 21:58:00 6 comentários  



Contar para viver

O director do semanário O SOL, José António Saraiva, escreve na revista Tabu desta semana, uma espécie de texto desconstrutivo, sobre a polémica (alimentada aliás pelo próprio jornal que dirige) do percurso académico de José Sócrates.
Começa por explicar às crianças e lembrar ao povo adulto, como é que tudo isto começou, numa abordagem algo marxizante, porque tributária de uma certa concepção de luta de classes que conduziu à separação do ensino técnico das escolas comerciais e industriais, do ensino nos liceus de antigamente. Em resumo, nos liceus estavam os ricos; nas escolas técnicas, os pobrezinhos.
A seguir, conta a sua anedota habitual, com vários episódios e de riso garantido. Leiam:

(...)Foi mais ou menos esta a história de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, que tanta tinta tem feito correr e afinal se resume a muito pouco.Fez o liceu na Covilhã, como os meninos ‘ricos’. Mas o encerramento, a seguir ao 25 de Abril, da Faculdade de Engenharia do Porto, onde o pai o tinha matriculado, levou-o a inscrever-se num curso médio que lhe dava apenas direito ao título de ‘engenheiro técnico’. Assim, mais tarde, como milhares de outros engenheiros técnicos, Sócrates sentiu necessidade de ter um curso superior, de usar o título de engenheiro sem complexos por não o ser verdadeiramente – e matriculou-se numa universidade que, por não ter grande exigência, não o obrigava a muito trabalho: a Universidade Independente.Deram-lhe as equivalências que entenderam dar (justas ou injustas), fizeram-lhe os exames que entenderam fazer (concedendo-lhe mais ou menos facilidades) – e Sócrates lá ficou engenheiro sem a palavra ‘técnico’ à frente.
À semelhança de muitos outros agentes técnicos, regentes agrícolas e contabilistas por esse país fora, José Sócrates quis limpar essa ‘nódoa’ do seu passado, esse ferrete que significava para quase todos uma marca de classe.Isso constituirá um crime?E que necessidade há de remexer na ferida, de lhe atirar à cara que antes não era bem engenheiro e hoje o é por favor?No fundo, aqueles que atacam Sócrates fazem-no ou por uma mal disfarçada ‘superioridade de classe’ – como quem diz: tu não és um dos nossos – ou por um certo sentimento de inveja – por não se terem formado e não quererem que Sócrates passe por ser mais do que eles.
A mim, a licenciatura do primeiro-ministro não faz nenhuma confusão. Admito que tenha havido aqui ou ali uma certa facilidade. Mas isso terá importância para encher páginas e páginas de jornais ditos ‘sérios’? E quantos alunos se formaram em universidades privadas e públicas sem terem o mínimo de capacidades para serem doutores ou engenheiros?Compreende-se, por todo o envolvimento social, que Sócrates tenha querido ter um canudo. Mas isso não o faz melhor nem pior primeiro-ministro. E quantos têm um canudo que ninguém contesta e não serviriam sequer para dactilógrafos da presidência do Conselho de Ministros?

Publicado por josé 19:04:00 2 comentários  



são Rosas, Senhores (banda sonora)

Publicado por Carlos 16:49:00 3 comentários  



São rosas, senhores

O Relatório do Tribunal de Contas, da Auditoria aos Gabinetes Governamentais, com incidências nas respectivas despesas, relativas a três anos- 2003, 2004 e 2005, - está disponível na Rede e permite saber que a Auditoria foi realizada por uma equipa constituída por Maria Brochado que coordenou; Luís Filipe Brandão, Liliana Soares, Selema Rebelo e João Rodrigues. Contou ainda com um consultor jurídico, Manuel Ventura e o relatório foi objecto de coordenação geral por Gabriela Ramos e António Garcia, com um tratamento de texto, concepção e arranjo gráfico por Ana Salina.

Este Relatório, publicado em 30.3.2007, contém 250 páginas e é assinado por um colectivo de juízes, em plenário, da 2ª secção do Tribunal de Contas.
São eles, os Conselheiros:
Carlos Moreno que foi o autor do Relatório e os adjuntos:
João Pinto Ribeiro, José Alves Cardoso, Armindo Sousa Mendes, António José Avérous Mira Crespo, Lia Olema Ferreira Videira de Jesus Gomes e Manuel Henrique de Freitas Pereira.
Os Conselheiro, unanimemente, subscreveram o Relatório nos seus aspectos e observações mais críticas e pertinentes, para o governo actual e antecedentes. Todos subscreveram as recomendações severas e os avisos à navegação à vista de interesses imediatos na contratação desenfreada de pessoal ajudante.
Manuel Henrique de Freitas Pereira, entendeu formular uma declaração de voto, também subscrita por João Pinto Ribeiro, relativamente a um único aspecto do Relatório que terá ficado menos esclarecida: o que respeita às “transferências correntes” no valor de 12,4 mil milhões de euros que representam o financiamento do Estado para as despesas de Segurança Social, canalizadas do Orçamento Geral do Estado para o Orçamento da Segurança Social, através de inscrição como despesas dos gabinetes governamentais da Segurança Social. Foi esse apenas o sentido da declaração de voto daqueles dois conselheiros.

Quanto ao resto do Relatório, é ler. Apesar das suas 250 páginas, o arranjo gráfico e os quadros exemplares, reduzem-no a muito menos e dão-nos um retrato aprimorado do funcionamento dos gabinetes governamentais, no que se refere ao regime de contratações de pessoal para ajudar ministros e outros governantes.
As críticas do Tribunal de Contas são demolidoras da credibilidade de qualquer governo que se atreva, depois disto, a reafirmar valores como transparência nas contratações de pessoal para os gabinetes e esforço de diminuição ou contenção de despesas, para além dos aspectos de estrita legalidade e que parecem completamente ausentes, nesses casos, da preocupação de quem governa. A lei, nestes casos, é simples indicação, sem conteúdo vinculativo e os exemplos sucedem-se, às dezenas, numa espiral de descontrolo evidente.
Basta citar um pequeno exemplo, documentado, entre muitos do mesmo género:
Em 2005, foram contratados 7 assessores, em dois gabinetes, que auferiam remunerações mensais superiores ao limite previsto, sem justificação em termos de prossecução do interesse público. Perante estes factos, os argumentos que se podem aduzir, para criticar o Relatório, precisam de desmentir os números expostos que desgraçam a imagem de qualquer governo que se preze. Além disso, os números foram fornecidos pelo próprio governo, actual!
O regabofe exposto, contudo, já nem parece incomodar quem sabe lidar com os media, particularmente a domesticada televisão. A mensagem que passou, única, é também demolidora da nossa atitude cívica e que se reflecte em muitos outros sectores: o primeiro ministro, teve a distinta lata em considerar-se satisfeito com o teor das aclarações, porque entendeu que conseguiu provar que apenas nomeou 53 assessores para o seu gabinete e não aqueles que lhe eram apontados!!! O resto...conta nada para a imagem oficializada.
Outros comentadores, lacaios de profissão e oficiantes habituais do pálio governativo, limitam-se a abanar a cauda do contentamento do patrão. Mesmo que a realidade dos espinhos expostos lhes esfregue o focinho da sabujice e os arranhe o senso, continuam a cheirar as rosas adjacentes.
É o Portugal que temos? Parece. Um Portugal amorfo, desmotivado da crítica e da exigência e conformado, submisso até, à sabujice reinante.
Actualização em 2.5.2007:
Há por aí um funcionário superior da nossa Administração Pública, armado em inspector de relatórios alheios e que escreve em blogs, com nome próprio e pseudónimos manhosos, por vezes assassinos. Gostos .
Topa tudo o que argueira o olho adversário e nunca se dá conta das inúmeras traves que lhe atravancam já o bestunto mais chão.
Por isso, já não lhe dou troco, porque nem adianta. Quem acha que os conselheiros do Tribunal de Contas não são juízes, nem conselhos merece.

Publicado por josé 10:48:00 3 comentários  



Os sons da Página Um


Para quem se dignar recordar e voltar a ouvir os antigos sons da Página Um, em modo de escrita, pode ler por aqui, ao virar da esquina.

De resto, aqui fica a imagem da cabina de som, dos antigos estúdios da Rádio Renascença, onde os sons da Página Um eram produzidos.

Publicado por josé 19:40:00 0 comentários  



Barómetro França 07'

Ségolène Royal: a candidata socialista tem conseguido recuperar diariamente cerca de 0,5 por cento, mas está ainda a 5 pontos de Sarkozy. A única hipótese que tem de chegar ao Eliseu é conquistar a esmagadora maioria dos votantes em Bayrou


Faltam 7 dias para a segunda volta:

-- Sarkozy 52,5

-- Ségolène 47,5

(Fonte: Ipsos/Dell)

Tendências:

-- Sarkozy partiu com uma boa vantagem da primeira volta e a soma dos candidatos que não passaram parecia dar-lhe avanço confortável

-- No entanto, a rivalidade com Bayrou pode custar problemas a Sarkozy na tentativa (crucial) de conquistar a maior fatia dos votos do candidato da UDF

-- Ségolène recupera cerca de 0.5 por cento todos os dias, mas ainda tem muitos votos para recuperar, até 6 de Maio

-- A candidata socialista necessita de fazer o pleno nos candidatos à sua esquerda e precisa, pelo menos, de 65 a 70 por cento dos votos de Bayrou e ainda de uma boa percentagem (20 ou 30 por cento) dos votos de Le Pen . Não é fácil, mas olhando para os sinais dos últimos dias, não é impossível...

Publicado por André 16:30:00 1 comentários  



Anomias políticas

Primeiro foi a notícia de primeira página, de 12.3.2007, do Diário de Notícias dirigido por João Marcelino, o putativo fautor do sucesso do Correio da Manhã, junto do leitorado.
A notícia era devastadora para a imagem do Governo, laboriosamente construída ao longo de meses de spin assessorado: “Governo efectuou 2773 nomeações em dois anos”. E ainda, Primeiro-ministro tem 13 adjuntos, 19 assessores, 15 secretárias e sete motoristas." A notícia refere-se à actualidade, do ano de 2007...
A mensagem que passava, era a realidade: o governo actual que pede sacrifícios ao cidadão comum, nomeia pessoal que se farta e faz como o frade Tomás.

Esta mensagem, aparece ao mesmo tempo que uma outra, com o selo de autenticidade de um tribunal de Contas, renovado por um socialista nomeado que ainda assim jurou a independência exigida.
O tribunal de Contas, além disso, é um Tribunal que entra na orgânica geral do nosso poder judicial, tal como definida no artigo 209º da Constituição e sustenta os mesmos princípio referenciados no artigo 202º: a independência e a especial atribuição de administrar justiça em nome do povo, na defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
O relatório do Tribunal de Contas em análise e em crise, refere-se ao resultado da auditoria às despesas dos gabinetes governamentais, num triénio: 2003, 2004 e 2005.

As inevitáveis comparações suscitaram as notícias desprimorosas para o actual governo, ferido na fachada da sua susceptibilidade, logo que se escreveu no relatório difundido que este governo tinha feito 148 nomeações para o gabinete do primeiro ministro. A verdade governamental fixara em apenas 53 , as nomeações da imagem da desgraça. O pormenor, era de relevo e mesmo com alguma distorção, poderia surtir efeito se fosse aclarado, para demonstrar a incompetência de um tribunal e a má fé dos que pretendem beliscar a suprema competência e eficádia deste governo constitucional.

Tal disparidade, deu azo a críticas públicas, pelos visados no governo, destacando-se até neste exercício, o próprio primeiro-ministro. Havia o pormenor...a fazer lembrar o papel das propinas, mostrado como prova de autenticidade de frequência do ensino...

O Governo, sob a chancela do Gabinete do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministro, na batuta de um inefável e inoxidável Jorge Lacão, durante anos e anos, presença permanente nos corredores da Assembleia da República, no Largo do Rato e noutros locais socialistas, tinha já respondido em Dezembro de 2006. Fizera-o no "contraditório" a um relatório preliminar do mesmo tribunal, presidido durante quatro anos, por um outro socialista, habituado aos mesmos lugares e cuja nomeação suscitou controvérsia.
A resposta-ofício, em modo de “competente contraditório”, datada de 27 de Dezembro não deixa de suscitar também algumas perplexidades formais: “Sem embargo não deixa o Governo de exprimir ao Tribunal de Contas o seu melhor empenhamento e disponibilidade para a cooperação construtiva, sempre exigível em quem se esforça por contribuir para aperfeiçoar o fuincionamento e as práticas da Administração Pública”. Foi assim, o modo como o inefável Jorge Lacão entendeu, endereçar ao Tribunal de Contas, a sua resposta-contestação-contraditório em que elencava depois, várias “confusões”, “insuficientes dilucidações” e “incorrecções de avaliação”, para concluir pela geral “deficiência analítica” do mesmo tribunal na auditoria ás despesas dos gabinetes.
Essa resposta, ainda assim, não foi suficiente para que o relatório publicado em Abril, deixasse de merecer mais críticas do Governo, porque os números como o algodão do anúncio, pareciam não enganar e a imagem impoluta do governo saía beliscadíssima.
Em Abril de 2007, o Governo, perante a divulgação do Relatório, requereu ao TC, aquilo que em linguagem jurídica se chama uma aclaração do Relatório, sustentado argumentos que desfizessem a imagem passada para a opinião pública de que o Governo tinha sido despesista, ao contrário do repetidamente afirmado. “Qualquer labéu despesista é efectivamente inaplicável ao Governo”, diz a comunicação de pedido de aclaração, no qual reafirma a “ melhor disponibilidade para a cooperação institucional, no respeito pela autonomia e separação de funções”. Acrescenta ainda que “ O XVII Governo Constitucional espera do Tribunal de Contas a devida ponderação destes elementos, tendo em conta os efeitos de um Relatório de Auditoria que, com insuficiente tratamento da factualidade disponível e insuficiente distinção da natureza das coisas, acarretou um objectivo episódio de desinformação da despesa pública sob a égide de um Governo que, patentemente, tem feito do rigor orçamental um desígnio da sua actuação."

Afinal, que disse o Tribunal de Contas, na resposta à aclaração requerida pelo Governo?
Aclarou agora que “todos os números constantes dos quadros (…) constam de listas nominativas, exaustivas quanto ao respectivo conteúdo, preparadas e elaboradas e posteriormente corrigidas na presidência do Conselho de Minsitros, ente 25.8.2006 e 23.10.2006.”
Diz ainda que nos documentos da Presidência do Conselho de Ministros, referidos especificamente ao Gabinete do Primeiro Ministro, constavam 148 indivíduos, expressa e literalmente considerados, pela dita Presidência do Conselho de Ministros, como “pessoal do quadro e além quadro do Gabinete do Primeiro Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa”.
Refere ainda, outra coisa muito importante: Se erro houvera, tal ficaria a dever-se exclusivamente aos serviços da actual Presidência do Conselho de Ministros e ainda salientou que se agora essa Presidência viera corrigir dados relativos ao Governo actual, não poderia omitir correcções aos outros Governos abrangidos pela Auditoria, como acontecera.
Desmentiu ainda, categoricamente, a alegada “confusão”, referida pelo inefável Lacão e refutou os termos do pedido de aclaração do Governo que afirmava em tonalidade de linguagem política, a ocorrência de um “objectivo episódio de desinformação ".

Os jornais, de ontem e hoje, tratam este assunto de um modo curioso.
O Expresso, “O TC não muda relatório”, e no artigo assinado por dois (!) jornalistas anuncia-se que o TC decidiu não rectificar o relatório e endossa toda a responsabilidade pela informação incorrecta, ao próprio Governo. Ainda assim, relata as diligências do inefável Lacão, para “minimizar os danos políticos”, acrescentado que “é possível que a guerra acabe aqui”.
No Sol, duas jornalistas (!) escreve-se que “Tribunal de Contas diz não a Sócrates”, para explicar que Sócrates pediu uma “rectificação” com o argumento de que “só contratara 46 pessoas, tendo enviado uma lista corrigida, com a indicação de quem está a trabalhar consigo”.
A Auditoria, lembre-se, é restrita ao triénio 2003, 2004 e 2005. Estamos em 2007…
No Público, ontem, uma jornalista, escrevia um pouco mais. Dizia que “Tribunal de Contas rejeitou “erros”, na auditoria sobre gabinetes ministeriais”. “Responsabilizando o Governo, o tribunal rejeita críticas, regista novos dados sobre o número de assessores e mantém críticas à falta de controlo na despesa”.
No Portal do Governo, estão disponíveis as diversas posições institucionais do Governo, nesta matéria.
Ontem, o Primeiro Ministro, numa declaração para a televisão, no decurso de uma feira, em Beja, disse, para toda a gente ouvir bem, que estava satisfeito com a deliberação do Tribunal de Contas, aprovada, na terça-feira passada, sobre o Relatório e sobre as nomeações e despesas governamentais. Cinismo maior, será difícil de encontrar em matéria política.
José Sócrates salientou um aspecto de relevo no que interessa à imagem do Governo. De uma eficácia a toda a prova, disse simplesmente que “o que pretendia está conseguido” e que era demonstrar que apenas fizera 53 nomeações para o seu gabinete, em vez das 148 anunciadas.
Foi esta a mensagem que passou e a imagem que fica, é de que o Tribunal de Contas errou as contas e fez má figura. Mas…fez mesmo?

Quem ler os jornais, não fica a perceber muito bem o que se passa. Percebe que há uma discrepância. Percebe que o Tribunal de Contas teve que aclarar um Relatório, mas nem se dá conta dos contornos legais que tal aclaração significa. Pela leitura dos jornais, que falam em “rectificação”, seria uma espécie de resposta à tutela. O Tribunal de Contas, é apresentado como uma espécie de tribunal, o que é notório dos ofícios do inenarrável Lacão.
Para o Governo, o TC é mesmo uma espécie de tribunal, pratica e objectivamente incluído no âmbito dos “órgãos de supervisão” sobre os quais o Governo tem alguma espécie de tutela, porque tem palavra a dizer na nomeação dos juízes presidentes.
É óbvio que o inenarrável Lacão sabe que assim não é nem pode ser. Mas o timbre dos ofícios, para além da incrível pesporrência institucional, trata o TC como se fosse um departamento da A.R. em que o incrível Lacão percorreu os seus anos incríveis. No seu perfil profissional,no portal governamenta, apresenta-se como "advogado". Advogado?!

Por outro lado, é sabido que os jornais representam uma fatia do leitorado, relativamente pequena. A televisão representa mais o eleitorado do que o leitorado e é aí, na pantalha dos milhões que os assuntos de decidem, em termos de imagem e comunicação.
O primeiro ministro José Sócrates, um sem-vergonha que pretende passar incólume por cima de uma trapalhada inominável e não esclarecida, sobre os seu percurso académico, mais uma vez, se serve da pantalha dos milhões para confundir a opinião pública.
Até quando estas mentiras sucessivas e sem remissão, farão o seu curso, com plena impunidade?
A reacção dos partidos é sintomática da anomia reinante:
Miguel Macedo, pelo PSD, ouvido pela mesma televisão e usufruindo do mesmo espaço de esclarecimento, perde-se em justificações platónicas. O líder do BE, aponta um trocadilho inócuo para a falta de vergonha, reduzindo tudo a uma questão de contas e contabilistas.
Restam os blogs. Que audiência têm os blogs? Mínima. Sem qualquer efeito de beliscadura na imagem falsa de um primeiro ministro com total falta de vergonha. Sem paralelo na União Europeia.

Publicado por josé 14:32:00 0 comentários  



Carta ao director do Público

Pelos vistos, o Público caiu outra vez nas vendas e não acerta com o mercado a que se dirige.

Pois bem. Compro o Público desde o primeiro número que me desiludiu logo nessa altura, pois esperava um jornal mais aberto às realidades das notícias que o Jornal de Notícias então fazia. Esperava então do Público um jornalismo real, de rua e não de cadeira ou poltrona, do tipo que alguns tipos ainda faziam. Já aqui citei, várias vezes, um jornalista sem peneiras e com muita classe chamado Aurélio Cunha. Porque é que o cito- já o conhecendo pessoalmente- e não me lembro de mais nenhum?
Pela simples razão de me parecer o símbolo do jornalismo que já não há. O jornalista Aurélio Cunha, chegou a investigar factos concretos de casos concretos e falava com as pessoas, procurando ligar factos a realidades e pessoas a acontecimentos. Em poucas palavras, procurava perceber o assunto sobre que ia escrever e não costumava atabalhoar notícias para colocar cachas de primeira página. Em certo sentido, estava nos antípodas do jornalismo tipo Independente de Portas, MEC, Helena S. Osório e Inês Serra Lopes. Todas estas personagens do jornalismo luso, acantonaram-se em lugares esconsos que o actual ministro Santos Silva diria da sarjeta. Desvirtuaram à sua maneira o jornalismo de qualidade, em função da pressa, da avidez de notícias e de cachas para encher papel moeda. Dizem que terão feito jornalismo de causa. Provavelmente sim, manifestamente não.

Voltando ao Público, este tipo de jornalismo, ainda vai vicejando numa ou noutra reportagem, mormente aquelas que vieram recentemente a lume, por causa da Independente, das habilitações do primeiro ministro e dos negócios, com e Estado, de alguns apaniguados. Mas é um jornalismo que tende a desaparecer ou pelo menos não marca a agenda diária do Público. Sendo meramente episódico, por vezes suscita algumas suspeitas de motivações obscuras e dá azo a comentários dos visados que não abona nada a favor do jornalismo independente e separado do poder político.

Sendo assim, qual a razão do declínio progressivo do Público e como é que me atreveria a dar razões para ultrapassar a crise do (ainda) melhor diário português?

O declínio, quanto a mim, está na direcção, quero dizer na linha editorial seguida de há alguns anos a esta parte.
Se o Correio da Manhã ou o Jornal de Notícias, se destinam a um público que pretende ler as notícias e os pormenores sobre os casos de faca e alguidar e ainda os que abalam os telejornais, sobre o mundo judiciário, por que razão o Público continua a manter como repórteres, pessoas que já deram sobejas provas de falta de isenção, noticiando acontecimentos, intrometendo palpites avulsos e pessoais que desvirtuam o sentido das coisas que o leitor pode aquilatar por si, através de outras vias de conhecimento?

As notícias do Público, muitas vezes carecem de densidade informativa. Explico: ontem, a primeira página dava conta da notícia de que o Governo incentivaria funcionários públicos a denunciar a corrupção. Lá dentro, na pág 12, três colunas em nem sequer meia página, procuravam explicar o que era o tal guia de boas práticas. O artigo assinado por Paula Torres Carvalho não dava a ninguém, muito menos aos leitores do Público que frequentaram escolas e sabem ler alguma coisa, a noção exacta do guia e do significado do mesmo. Em algumas frases desgarradas, percebe-se que a autora não percebeu o assunto, nem deu a perceber ao leitor.
Exemplos destes são diários e repetidos, num declínio acentuado na qualidade exigível a um jornal de referência.
O Público, para sobreviver tem que ser melhor que os seus leitores e dar-lhes a conhecer aquilo que eles não sabem! Só isso justificará que o continuem a ler e comprar.
Poderia continuar com os exemplos práticos, mas fico por esse.
Na edição de hoje, o assunto transversal é a liberdade de imprensa e de informação. A ideia geral que perpassa nas notícias e comentários, é a de tentativa de arreata por banda do poder político. Pois bem! Estude-se melhor o assunto. Aprofunde-se o mesmo. Convidem-se peritos e entrevistem-se conhecedores.
A matéria é tão escorregadia que qualquer notícia, sem consistência devidamente embalada, foge do controlo de quem a solta e torna-se…inócua.
O jornal, hoje, Sexta-feira, traz dois ou três suplementos. O de Economia que é dispensável. O Ípsilon que não presta por aí além e deveria ser reformulado. A cópia da net, por vezes é demasiado aflitiva e nunca traz referências como deveria. Neste aspecto, é uma vergonha. Ponham alguém a consultar a net, sobre o que querem escrever e citem os sítios! Duas páginas chegavam! O melhor ainda são as fotos, vá lá. O Inimigo Público que se alarga em páginas repetitivas com o mesmíssimo tipo de humor que de tão previsível e estereotipado, poderia muito bem reduzir-se a meia página com efeitos de riso mais assegurado.Poupem as meninges! Ninguém quer rir tanto de tanta coisa!

No capítulo dos comentários, nada a assinalar. Está bem assim. No aspecto gráfico, idem. Melhorou em relação ao anterior.
Em resumo: mudem o estilo de jornalismo. Sejam mais autênticos e consistentes. Procurem a realidade e não inventem realidades paralelas. Arranjem urgentemente quem faça o que os jornais americanos fazem: fact-checking. Assegurem-se que o que escrevem não traz lapsos graves, noções erradas ( um crime público não é aquele cuja investigação é obrigatória, mas o que não depende de queixa para se investigar), informações factualmente incorrectas, desinformação.

Por hoje é tudo, senhor director.

Publicado por josé 19:40:00 1 comentários  



avisos à navegação

All the World's a Bubble
TheStreet.com

How high will the Dow go? 15,000? 20,000?

How about 36,000?

While euphoria sweeps stock markets here and worldwide, there are at least a few voices of dissent.

One, unsurprisingly, is legendary value investor Jeremy Grantham -- the man Dick Cheney, plus a lot of other rich people, trusts with his money. Grantham, chairman of Boston firm Grantham Mayo Van Otterloo, has been a voice of caution for years. But he has upped his concerns in his latest letter to shareholders. Grantham says we are now seeing the first worldwide bubble in history covering all asset classes.

Everything is in bubble territory, he says. Everything. [continua aqui]



Publicado por Manuel 18:55:00 0 comentários  



a queda de um anjo

Publicado por Manuel 17:27:00 2 comentários  



Barómetro França 07'

A 9 dias da segunda volta...


-- Sarkozy 53

-- Ségolène 47


Fonte: Ipsos/Dell

Publicado por André 13:19:00 0 comentários  



um desejo

... para que o Dr. Mendes gira a pessegada na Câmara Municipal de Lisboa um bocadinho melhor, do que o senhor Primeiro-Ministro geriu a questão das suas habilitações académicas. Nestas coisas o timing é tudo.

Publicado por Manuel 13:04:00 0 comentários  



um detalhe

Anda para aí muita gente aos pulos - agora - a perorar sobre Televisão, ora sobre a 'ida' de Pina Moura para a TVI, ora sobre o detalhe da SIC ser do Dr. Balsemão. Discutem o acessório. As linhas ficaram bem (de)marcadas na areia quando este governo decidiu renovar automaticamente as licenças de televisão nos idos de 2005. Sobre isso - uma simpatia avaliada em milhões, ninguém fala. O 'mercado' é uma coisa muito complicada, o bloco central também...

Publicado por Manuel 12:58:00 0 comentários  



Para o senso comum, já dei.

O jornal Público de hoje, ocupa parte do seu espaço de comentário a glosar o tema da liberdade de expressão e por extensão, de imprensa.

O editorial de José Manuel Fernandes, coloca o dedo numa ferida pustulada e nunca fechada e que afecta o nosso tecido social: os limites da liberdade, naquilo que se pode dizer ou escrever sobre outrém.
Este ano, já são duas, as decisões do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que condenam o Estado português, por causa de decisões de tribunais portugueses acerca da matéria.
O sentido das decisões do TEDH tem sido unânime e rotundo: a liberdade de alguém se exprimir na imprensa relativamente a figuras com relevância política e pública, é mais alargada do que os tribunais ( e a lei) portugueses entendem e interpretam.
Na mesma página em que se dá conta da notícia, é notícia também, a primorosa rectificação do ministro Santos Silva, sobre a declaração de extraordinário bom- gosto, sobre o “jornalismo de sarjeta”. Esclarece que nunca quis qualificar o jornalismo português como sendo de “sarjeta” e que a expressão tem paternidade incógnita mas indigitada a um antigo presidente do Conselho deontológico e uma antiga presidente do Sindicato dos Jornalistas. A gente calcula quem sejam e onde estão, para tão afincadamente defenderem a liberdade, aferrando-lhe o açaime da responsabilidade que aparentemente ninguém contesta, mas que serve na perfeição o desígnio contido de arreata.
A desgraça de Santos Silva, porém, mostra-se logo a seguir, quando reafirma a sua afincada noção que lhe permite distinguir e separar águas: “importa é distinguir com clareza o jornalismo de investigação e aquilo que vários jornalistas chamam e bem, jornalismo de suspeição e/ou jornalismo panfletário”.
Ora aqui temos o sumo da questão, espremido para sintetizar a contradição.
As reportagens jornalísticas, sobre os casos recentes da Eurominas, envelope 9, negócios tipo Ota, tipo aterros sanitários à moda da Cova da Beira, serão, muito naturalmente, incluídos no “jornalismo de sarjeta”. Como o serão também, estas arrelias recentes sobre o percurso académico impoluto e exemplar do primeiro ministro, enquanto estudante trabalhador esforçado, com professores de amizade reconhecida e exames ao Domingo, com provas feitas em casa, por professores estranhos à cadeira e pelo reitor de coisa nenhuma.
Já não serão de sarjeta as notícias que envolvem uma responsável do MIT que há dezenas de anos arranjou um curriculum académico, “à maneira” de outros que se vão conhecendo. Nem são de sarjeta as exigências de demissão desses nepóticos embusteiros estrangeiros, tipo Wolfowitz. Por cá, não. “Nós, por cá, todos bem”. A nossa ética é diferente, consoante se trate dos nossos ou dos deles. No primeiro caso, pára nas fronteiras do nosso proteccionismo de costumes. No segundo, exporta-se com toda a facilidade e ligeireza de comentários em causas que são nossas.

Assim, aquelas notícias de sarjeta, serão em breve sujeitos a descarga de agulheta pressionada, vinda do próprio Estatuto do jornalista e com alto patrocínio dos vigilantes, atentos e veneradores do poder situado, antigos sindicalistas reformados no sucesso da louvaminha habitual e crítica velada e respeitosa que a ninguém incomoda, porque a vidinha custa a todos e “estamos aqui uns para os outros”.
Esta frente de batalha pró-governamental, enfrenta a resistência do povo leitor que pretende saber mais um pouco do que se passa, nos meandros do poder delegado a uns tantos que se escondem para não prestar contas, além das fixadas em regulamentos que não funcionam. A lei serve de escudo a quem não quer dizer o que anda a fazer em nome de todos e os indícios que assim é, são agora preocupantes.
Entre esta tensão, sobre o que se pode ou não pode dizer dos governantes e afins, interpõe-se o aplicador da lei, o poder judicial, supostamente independente, afastado das querelas de partidos e sem ligações aos mesmos. Desgraçadamente, descobre-se sempre que assim não é, por ocasião da corrida a postos de prestígio na administração ou em tribunais de alto coturno Constitucional.
Diga-se assim, de chofre que é para não assustar ninguém: a independência do poder judicial em Portugal, nos casos que contam e são exemplo, assemelha-se cada vez mais a um mito grego, falsificado numa ópera bufa..
A Justiça simbólica de venda nos olhos, balança numa mão e espada na outra, nem símbolo já pode ser, nos tempos que correm. Tornou-se apenas em bibelot de regime, quando lemos certas opiniões de quem tem o dever de a aplicar nos casos concretos. Sendo manifesto que a independência pessoal e integridade de carácter, assegurados os pressupostos legais, são os ingredientes necessários ao exercício da independência judicial, como esperar tal coisa de quem se aproxima tacticamente dos poderes, defendendo publicamente amigos poderosos, contra a evidência do recato exigível? Como se admite por exemplo, um juiz tipo mediático que devendo figurar nas fileiras dos independentes, assume posição pelo poder de facto, sem qualquer pudor de dizer e afirmar amizades e inclinações políticas? Espera-se o quê, deste tipo de juízes ? Justiça nas decisões? Só se for por acaso…

Nesta encruzilhada de ideias e noções, avultam as que a lei fixou como parâmetros de referência. Quem os conhece? Os especialistas divergem na sua interpretação. Os aplicadores afastam-se da unanimidade ou até da sensatez comum e os visados, rejubilam ou resmungam, sempre que se encontram em posições delicadas.
Os requisitos da lei civil não coincidem, como é natural, com os da lei penal e estes são tão restritivos dos direitos à liberdade que só os intérpretes afinam os critérios, segundo critérios que se afiguram muitas vezes manifestamente subjectivos, numa matéria em que isso é fatal, para não se recair na discricionariedade de quem julga.
Os exemplos apontados no editorial do Público de hoje, são redundantemente exemplares. Há tribunais que estendem a liberdade de expressão e há tribunais que a restringem, numa contradição interpretativa que deveria ser inadmissível e que provoca a perplexidade que vemos, sempre que lemos, anos depois, a denegação dos fundamentos dessas restrições, cada vez mais subjectivas, apresentadas no entanto, como o nec plus ultra do rigor e qualidade jurisprudenciais.

Assim, torna-se cada vez mais notória a necessidade de debate dos fundamentos e limites actuais, do direito ao bom nome, boa imagem, honra, consideração e outros valores conexos que sustentam os artigos do Código Penal actual. O tema, de grande dificuldade conceptual, para fixação da precisão dos seus contornos exactos, não pode continuar a balizar-se apenas nos estudos dos anos sessenta do professor Figueiredo Dias ou dos mais recentes, de Costa Andrade, ambos professores de direito penal de Coimbra e da jurisprudência que se limita a reastear esse caminho.
A noção jurídico-penal dos crimes contra a honra, do código penal, assenta em bases teóricas que já mudaram ao longo dos anos.
A compressão ou expansão dos direitos de liberdade de expressão, dependem demasiadas vezes de entendimentos subjectivados, dos intérpretes e aplicadores do direito e da lei, como é patente nas últimas decisões dos tribunais.
A jurisprudência sobre o assunto, abundante e luxuriosa, permite a comprovação fácil da afirmação sobre suspeitas de arbítrio no modo de julgar, ancorado em concepções rígidas de costumes subjectivos.
Há decisões para todos os gostos e feitios, nesta matéria. Já houve quem considerasse ofensivo o epíteto “fascista” e houve o contrário, por exemplo.
No capítulo do direito da informação, a existência de crime pode aferir-se como a imputação de um facto ofensivo à honra – que é a dignidade subjectiva de cada um- e á consideração- que é dignidade objectiva da estima e reputação sociais.
Discutiu-se a intenção de ofensa, para se afastar a sua exigência, como de especialidade, para se dizer que basta a consciência lata de ofender. Igualmente irrelevante foram considerados os motivos determinantes de ofensa. Mas já o não são, os motivos que podem excluir o propósito de ofensa.
Se alguém pretende brincar com outrém, poderá fazê-lo nos limites do ridículo e do mau gosto, dos graçoleiros profissionais que se apresentam em tonalidade fedorenta ou bem cheirosa. Quem definirá depois, se um ofendido deve sê-lo juridicamente? Os tribunais. Com que critério? Ora…os do “bom gosto”, da “graçola permitida” e outros conceitos assim tão engraçados que a subjectividade reside no senso comum. E se o juiz falha neste senso comum? Recurso em cima? E se ainda assim, o senso superior não prevalece? Nada a fazer, como adivinharam os ofendidos de um tribunal militar que se há uns anos se queixaram de um boquejão politicamente bem posicionado.
Também não haverá ofensa criminal, digna de crédito jurídico, se o propósito se limitar a narrar o acontecimento ou o facto, com veracidade informativa.
Mas, neste caso, que dizer da decisão cível, sobre a informação pública das dívidas fiscais de outrém que existem mas parecem não existir e que apenas poderão existir?
Como conciliar o direito a uma informação, com o critério de indemnização vigente no código civil?
Nestas perplexidades, residem muitas das preocupações de quem informa, comenta ou escreve sobre assuntos da sociedade em geral.
Perante uma ideia geral e comum de que os políticos eleitos e figuras públicas que vivem da publicidade à sua imagem, se restringem voluntariamente em alguns dos seus direitos de personalidade, os teóricos de Coimbra citam teóricos alemães, como Roxin e Herdegen, para sustentar que na luta política diária e de formação da opinião pública, há por vezes o recurso a formulações bombásticas exageradas e até picantes. Chamar “homem sem carácter” ou mentiroso, a um político, é difamatório? Pode ser. E será punível criminalmente? Não pode ser.
Diz o teórico de Coimbra, Vieira de Andrade, num parecer antigo:
os direitos fundamentais não podem ser pensados apenas do ponto de vista dos indivíduos, enquanto faculdades ou poderes de que são titulares, antes valem juridicamente também do ponto de vista da comunidade como valores ou fins que esta se propõe prosseguir”.

Ao criticar os políticos e ao levantar questões que envolvem suspeitas naturais, pela ordem do senso comum, de um político como o primeiro ministro, acerca das suas habilitações académicas, um jornal não pode ser considerado como media de sarjeta.
Tal como não o poderá ser, o deputado que ao abrigo da sua imunidade, faz inquirições ao executivo ou contesta ideias alheias e adversárias. Mesmo que o faça com deselegância ou falta de urbanidade. Nem tudo pode ser crime, como nem tudo se pode resolver em tribunais institucionalizados. Muitas vezes, o melhor tribunal, ainda é o da opinião pública. Mesmo manipulado pelos media, consegue geralmente um melhor tom de justiça do que aqueles que se instituíram para aplicar a mesma em nome do povo.
Talvez por isso, o ditado antigo, se deva lembrar: vox populi, vox dei. Dei, como senso comum.

Publicado por josé 12:20:00 0 comentários  



descubra as diferenças ou porque é que o portugal é um país muito complicado...

Breaking news

MIT dean resigns over misrepresented credentials

"Marilee Jones, a prominent crusader against the pressure on students to build their resumes for elite colleges, resigned Thursday as dean of admissions at the Massachusetts Institute of Technology after acknowledging she had misrepresented her own academic credentials.
Jones has been a popular speaker on the college admissions circuit, where she urged parents not to press their kids too hard, and told students there are more important things than getting into the most prestigious colleges. She rewrote MIT's application, trying to get students to reveal more about their personalities and passions, and de-emphasizing lists of their accomplishments.
But Jones, dean since 1997, issued a statement saying she had misrepresented her credentials when she first came to work at MIT 28 years ago and "did not have the courage to correct my resume when I applied for my current job or at any time since.
"I am deeply sorry for this and for disappointing so many in the MIT community and beyond who supported me, believed in me, and who have given me extraordinary opportunities," she said, adding she would have no further comment."
Para quem gostou de ler este pequeno naco de prosa, da autoria da AP, e que revela o que se passa no prestigiado instituto que o Governo trouxe para fazer protocolos com o nosso País, eis o resto da notícia na CNN. Como dizia a outra, não há coincidências... Nenhuma, aliás.

FAL, no Corta-Fitas

Publicado por Manuel 21:20:00 2 comentários  



diz que é uma espécie de retrato

Publicado por Manuel 20:03:00 0 comentários  



uma dúvida...

Será que um blog pode processar uma espécie de revista (alegadamente de grande informação) por difamação ?

Publicado por Manuel 17:15:00 0 comentários  



Os blogs da Sábado

Na revista Sábado de hoje, um repórter de nome Jaime Martins Alberto, ( que só pode ser jovem e por isso não pensa duas vezes), escreve sobre "blogues" e o seu poder!

Cita o fatal Abrupo, o equívoco Bloguítica e um oficioso A Nossa opinião, de um António Costa avisado e com algum tempo. Depois, cita o Do Portugal Profundo, como "um sítio pouco visitado até o jornal Público ter decidido investigar as acusações que lá estão". Poderia perguntar-se já: "acusações"?! Ó jovem Alberto, você leu o blog em causa, ou foi só para encher papel e olho de leitor?
A seguir, cita este mesmo blog onde escrevo, para afirmar alegremente que foi "onde escreveu o actual procurador-geral da República, Fernando Pinto Monteiro"!!!
Afinal, o homem que disse que os blogs "é uma vergonha!", já por aqui andou a escrever e nunca dei por nada...

Nã...este jovem Alberto não lê blogs. Escreve sobre os blogs; sobre o poder dos blogs e " a nova arma política"; sobre alguns blogs, mas de blogs percebe quase nada.
Então, por que raio escreve sobre o que não sabe?! Para nos rirmos? Epá! Para isso, temos a actualidade política...
Qual foi o editor que lhe deixou passar o artigo? Também será um cómico?

Publicado por josé 13:31:00 4 comentários  



Barómetro França 07'

Sarkozy 53.5

Ségolène 46.5


Fonte: Ipsos/Dell

(até à noite da segunda volta, actualizaremos este barómetro, de dois em dois dias)

Publicado por André 03:49:00 0 comentários  



Página 1


A minha experiência pessoal do dia 25 de Abril 1974, está ligada ao rádio. Quero dizer, à música que ouvia no rádio. Assim, tal e qual, porque a rádio no feminino, é fenómeno linguístico posterior.
Em plena adolescência e em plena evolução da música popular de expressão anglo-saxónica, nesses anos, todos os meses eram meses de novidades que as revistas traziam e recenseavam.
Em Abril desse ano, o programa de rádio que ouvia religiosamente, em todos os dias que podia, era a Página 1, da Rádio Renascença, das 19h e 30m até às 21h de segunda a sexta.
Nesse programa, passavam todas as novidades que interessavam, da música popular, de várias expressões, incluindo a música popular portuguesa, de cantores de protesto. O Lp de José Afonso, Venham mais cinco, por exemplo.
No entanto, a esmagadora maioria das sonoridades, cantava em inglês e sabia bem ouvir.
Nos primeiros meses de 1974, tinham saído alguns LP´s com interesse intemporal.
Planet Waves de Bob Dylan, sem ser um álbum fundamental, passava depois da banda sonora Pat Garret & Billy the Kid, Knocking on heaven´s door.
Com toda a certeza, ouviam-se as sonoridades perfeitas de Paul Simon, no álbum al vivo, Live Rhymin´Simon e fatalmente reouvia-se The boxer e American Tune.
Com certeza também, os Procol Harum, do LP Exotic Birds and Fruit e o tema Nothing but the truth.
Esses sons possíveis do dia 25 de Abril de 1974, foram apresentados por um indivíduo que agora faz outra coisa e tem um blog: Luís Paixão Martins que então se apresentava como Luís Filipe Martins.
Umas semanas depois, a seguir à introdução sincopada da bateria dos Pop Five Music Incorporated, num rolamento de fracção de segundo, a hora e meia que se seguiu tinha outra voz- a de um tal Artur Albarran. O qual viria a dar que falar, mais tarde e por outros motivos.
Agora fica aqui a minha homenagem ao locutor de grande categoria que era Luís Paixão Martins.
E ao programa Página 1 que começava com a música do mesmo nome que se pode ouvir neste local

Publicado por josé 23:37:00 3 comentários  



Vigilância democrática

O blog Do Portugal Profundo, cujo autor levantou a lebre que acossa o primeiro ministro de Portugal, aliás, por factos que apenas a ele são directamente imputáveis, queixou-se publicamente de suspeitas de vigilância electrónica.

Nem quero crer que haja no Portugal democrático dos dias que correm, alguém com responsabilidades oficiais que à margem da lei, se dedique a actividades de pesquisa online, para colocar offline quem desalinha de quem lhe paga o salário ou assegura a carreira.
Não quero crer porque a emenda , pior do que o soneto, significaria uma sinfonia desconcertante e de prisão à vista. Seguramente e num escândalo sem proporções. Além do mais, o diabo tapa com uma mão e destapa com as duas, como é sabido...
Não quero crer que haja, no Portugal democrático dos dias que correm, algum funcionário zeloso que no afã de agradar ao chefe que o promove, infrinja a legalidade mais estrita, vigiando quem lhe convém, em nome de quem manda e sem mandado de juiz. Passam hoje 33 anos, sobre a data em que isso teoricamente acabou.
Se isso, porém, acontecer e se vier a saber, vai ser o cabo dos trabalhos para justificar o injustificável. E a presunção de inocência, será um mito, para quem vier a saber.
A credibilidade das instituições de segurança, afere-se pelo respeito da legalidade e a dedicação à causa do Estado que não se confunde com o ministro x do governo y ou o directorzinho geral de valor z.
A vontade legítima do poder querer perceber quem está por detrás de imaginárias cabalas, já levou no passado, a casos lastimáveis de suspeitas de vigilância ilegal dos nossos serviços que se dedicam a garantir a estabilidade do Estado de Direito. Os serviços secretos civis ou militares, não servem para este tipo de vigilância, a não ser que sigam a opinião moralizadora de que isto que se passa é uma tentativa de golpe de estado através da imprensa...

Embora o ridículo, nos tempos que passam, não mate ninguém e pelo contrário, até engorde, espera-se ainda assim que sobreleve às tentanções, para bem de todos e principalmente deles mesmos, o bom senso que deriva da lei. Só isso, chega.

Publicado por josé 16:45:00 5 comentários  



... e viva o 25 de Abril!

Publicado por Manuel 14:24:00 1 comentários  



retórica para políticos

«Não me resigno nem me conformo na batalha pela qualidade da democracia portuguesa», afirmou Cavaco Silva na sessão solene do 25 de Abril, no Parlamento, em que defendeu a necessidade de uma «classe política qualificada» e «critérios de rigor ético, exigência e competência».
Lisboa, 25 Abr (Lusa) - O primeiro-ministro, José Sócrates, elogiou hoje o discurso do Presidente da República, considerando "muito apropriado" o apelo aos políticos para que "unam esforços" a favor da "qualidade da democracia".

Estes indivíduos, eleitos para representar o povo português, notoriamente não têm qualquer emenda. Evidentemente, julgam-se acima dos critérios éticos que apresentam aos outros como modelo e perante as evidências gerais de incongruência e contradição, apresentam as superiores razões de Estado como critério supletivo e justificam a inconsistência, com os interesses do povo que eles mesmos interpretam, obliterando os princípios que proclamam e sufocando a obrigação de lealdade à Constituição que juraram cumprir.
A lógico e coerência deste tipo de discursos, perante aquilo a que vamos assistindo e que comentadores insuspeitos como Santana Castilho, no Público de ontem, Marcelo Rebelo de Sousa na RTP e hoje Rui Ramos, no mesmo Público, entre muitos outros, já disseram, vale um zero à esquerda, porque é daí que o desvalor aparece.
Na segunda-feira, no programa Prós & Contras, na RTP1, a propósito das intervenções da entidade de inspecção económica nos restaurantes, mercados e feiras, falou-se em contrafacção de merdadorias. Um vendedor ambulante, cigano, desanimado pela intervenção da fiscalização que lhe apreendeu a mercadoria contrafeita, desabafou para a câmara: “se isto que me levaram é contrafação, então o diploma do primeiro ministro também não é contrafacção?”

Hoje, em Portugal e numa sintonia inédita em mais de 30 anos de democracia, entre intelectuais e povo em geral, a questão das habilitações do primeiro ministro de Portugal aparece pacífica: a honorabilidade política do primeiro ministro é insustentável e inseparável da questão de carácter.
O presidente da Republica, enquanto cidadão que vive em família normal, uma vida normal de português médio, sabe muitíssimo bem que assim é. Então, porque não é? Porque não lhe convém? Porque não convém a quem o apoiou? Quem o apoiou foi o povo em geral. E mais ninguém. Então porque é que não ouve o povo? Ouça os filhos, ao menos...

O discurso hoje, na A.R. pelo primeiro de todos os portugueses, representou apenas os portugueses sentados à sua frente. A maioria deles. E mais ninguém.

Publicado por josé 14:17:00 1 comentários  



Quarta-feira, Abril 25, 1974 e dias seguintes.

Esta é a primeira imagem importante, do dia 25 de Abril. No largo do Carmo, o capitão Salgueiro Maia, uma das figuras-chave do movimento dos capitães, explica aos presentes, pelo megafone, que o general Spínola ali chegará em breve, a fim de receber o poder de Marcelo Caetano.



A Junta de Salvação Nacional, poucas horas depois e pela televisão, assumiu o comando do país, em nome do Movimento das Forças Armadas. No dia 28 de Abril, em Santa Apolónia, vindo de Paris, de comboio, chega Mário Soares que vai imediatamente encontrar-se com o general Spínola, na Cova da Moura. No dia 30 de Abril, de avião, proveniente também de Praga ( escala Paris) chega Álvaro Cunhal, ao aeroporto da Portela. Esperava-o uma "multidão numerosa" ( Século Ilustrado de 4.5.1974) . Pouco depois, Cunhal dirigia-se também à Cova da Moura, para se apresentar a Spínola. Na sala do aeroporto, declarou: "Neste momento, o futuro do nosso país está nas mãos de todos os democratas que desejem libertar-se do fascismo". A palavra estava dita. No dia seguinte, 1 de Maio de 1974, no início da tarde, uma multidão de manifestantes, estimada em meio milhão de pessoas, maioritariamente erguia as mãos com o "v" de vitória. Dali a dias, o gesto simbólico, era substituido pelo punho erguido, esquerdo-direito, porque "só de punho erguido, a canção terá sentido". A multidão que se dirigia para o estádio dos trabalhadores da FNAT, que se passou logo a chamar 1º de Maio, poucos slogans tinha e poucas bandeiras empunhava- e na sua maioria nacionais. Mesmo assim, a do "viva o PCP" era uma delas e as saudações ao Cunhal, rivalizavam já com as dirigidas ao general Spínola.

No estádio, os dois líderes dos partidos políticos constituídos- PS e PCP- enquadrados por militares e acompanhados de dirigentes sindicais nacionais e estrangeiros, e ainda de figuras de relevo como Pereira de Moura, dirigiram-se à multidão, com palavras inflamadas, acompanhadas de canções pouco divulgadas e palavras de ordem nunca ouvidas, e em termos inéditos: "Abaixo a guerra colonial!", "Poder aos trabalhadores!", "é mau, é mau, é mesmo mau, o malandro do Tenreiro não nos dava bacalhau!". Como nota de curiosidade, quem é o indivíduo de óculos escuros, à esquerda de Mário Soares? Parece...parece...pois é: um símbolo, de facto.


Os três senhores que seguem, só passados 15 dias se organizaram para formar um partido " na linha da social-democracia alemã". Nessa altura, já havia notícias de sedes desses partidos e ainda de outros mais: o MRPP, a FPLN ( de Manuel Alegre e Piteira Santos), o MES ( de Manuel Galvão Teles, César de Oliveira, Vítor Wengorovius), o PCSD ( partido cristão social democrata, sem nomes á vista), o Movimento Democrático Português ( vindo da CDE de Tengarrinha e Pereira de Moura), a Frente Libertária Portuguesa ( movimento antipartidário, contra todo o Estado) e a LUAR ( de Palma Inácio).

Mário Soares, logo nessa altura, declarava: "Somos contra o partido único, mas o facto de sermos pelo pluralismo dos partidos não significa que não estejamos a assistir , com preocupação, à excessiva fermentação de demasiados grupos, neste breve espaço de dez dias."

Cerca de quinze dias depois, tomava posse como primeiro presidente da República, por decisão da Junta de Salvação Nacional, e proclamado pelo general Costa Gomes, António Spínola. Na chefia do governo provisório, o primeiro de muitos que seguiram, o professor de Direito, Palma Carlos. Porém, a imagem que segue vale mil palavras de significados pesados.

Foram assim os primeiros quinze dias da revolução de 25 de Abril de 1974.
Nota: as imagens foram extraídas das revistas Século Ilustrado de 4.5.1974 e 18.5.1974 e Flama de 10.5.1974
Corrigido e aumentado.

Publicado por josé 00:40:00 4 comentários  



O Primeiro SInal : As bolhas quando rebentam começam assim

Há uma década que ouvimos falar, numa "bolha especulativa" que se vai alimentado em Espanha, á custa do mercado imobiliário. O circuito esse é fácil de desenhar. Com a ajuda de mão-de-obra magrebina e do leste europeu - mão de obra barata - , o sector imobiliário em fortíssima expansão criou um verdadeiro mercado em Espanha. Mais construção, mexe com o sector cimenteiro. Mais construção eleva as necessidades de financiamento, logo maiores lucros arrecados pelo sector financeiro espanhol e cria-se uma enorme cadeia.
Há uma década que ouvimos falar, que se e quando rebentar, o nosso país pode sofrer gravíssimas consequências, dada a enormíssima dependência do parceiro espanha, para trocas comerciais, investimento e criação de emprego, bem como um acréscimo do risco da perda dos centros de decisão nacional. Tudo claro, porque em termos estruturais, pouco ou nada mudou, e o grau de dependência e exposição a determinados sectores e países é cada vez maior.
Se é verdade que da teoria á prática em economia vai uma larga diferença - ainda hoje ninguém consegue explicar em que teoria económica se terá baseado Pina Moura para congelar os preços dos combustíveis num país de economia aberta e com risco câmbial e de taxa juro aberto - não é menos verdade, que o dia 24 de Abril passará a ter, um significado acrescido para Espanha tal como o tem para Portugal. Cá foi o ultimo dia de um regime ditatorial, lá em Espanha, poderá ter sido o último dia da ilusão que a bolha existindo nunca rebentaria.
Tudo começou, quando a economia espanhola, através do seu sistema financeiro começou simultaneamente a financiar com prazos longos (superiores a 40 anos) a compra de habitação e aproveitando as baixas taxas de juro a financiar sem limites a compra de habitação. Para que se tenha uma noção, em Espanha em 2006, foram construídas 600.000 habitações, quando as necessidades apontavam para 240.000 habitações. Com o mercado de capitais - nos anos 2000 e 2001 - a sofrer o rebentamento da bolha das blue chips, e com o nível das taxas a baixar ao mesmo tempo, investir em habitação em Espanha, passou a ser um autêntico negócio, pois os preços cresceram em média 15 % ao ano nos últimos 8 anos. Se a isto juntarmos um sistema fiscal espanhol que favorece mais a compra que o aluguer, explica-se porque se criou uma bolha.
Ontem dia 23 de Abril, uma empresa de menor expressão chamada "Astroc Mediterraneo", caiu 23 % na bolsa de Madrid. Hoje dia 24 de Abril, o IBEX35, abriu a cair quase 3,00 %, a maior queda dos últimos anos, e empresas fortíssimas como a Ferrovial (-3,62%), Metrovacesa (-4,55%), Inmocaral (-11,27%) e Sacyr ValleHermoso (-8,15 %) cairam a pique, arrastando também a banca - quedas superiores a 3,00 %. De salientar que hoje a Astroc Mediterraneo, caiu mais 17 %, perdendo num acumulado semanal 70% da sua capitalização bolsista. Não é engano, são mesmos 70% a menos. Em Fevereiro cada acção da Astroc, valia 75 euros. Hoje valem 15,95 Euros.
Pode ter sido apenas um sinal, mas os dados estão em cima da mesa, e mesmo os menos crentes, começam a acreditar, que um dia a bolha vai estoirar, e esse dia pode estar perto, e quando rebentar não haverá Ota nem TGV, que nos consiga safar de cair novamente, onde tanto temos feito para estar...na cauda da Europa. Tudo porque o peso de Espanha para Portugal é enorme em todos os aspectos, e foi a mesma Espanha que com a sua bolha, enquanto a Europa caia que segurou Portugal de cair mais, poderá ser a mesma Espanha, que quando a Europa sobe, levará o país ao fundo.

Publicado por António Duarte 22:35:00 1 comentários  



há mar e mar...



Acabada a comissão de serviço no DN, João Morgado Fernandes, que brilhava aqui..., qual filho pródigo, regressou à base - é um dos novos otários, digo, assessores de Mário Lino. De facto as coisas são que são.

Publicado por Manuel 22:57:00 5 comentários  



diz-se que é uma espécie de poço



o estranho caso da licenciatura do 'tipo farinha Amparo' dura, e dura... e ainda não se chegou ao fundo...

Publicado por Manuel 17:50:00 1 comentários  



Brindes

Segundo a última página do Correio da Manhã de hoje, no canto superior esquerdo, Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, na sua intervenção de crónica de costumes políticos, na RTP1, comentou "o facto de Sócrates ter enviado testes pelo correio, dizendo que a sua licenciatura é do tipo farinha Amparo".

Publicado por josé 10:24:00 15 comentários  



O ESTRANHO CASO DO LACAIO DO PS


Este lacaio do PS - deste PS - veio meter-se comigo a propósito daquilo que faço profissionalmente e daquilo que escrevo. Direito dele. Para começar, nunca realizei uma sindicância embora a sua pobre cabeça esteja manifestamente a precisar de uma com urgência. Pelo teor da posta, vê-se que o lacaio tem espírito inquisitorial - mais, até, do que alguém que "inspecciona" - típico dos pífios herdeiros do dr. Afonso Costa. Este tardio jacobino também verbera, por tabela, o General Ramalho Eanes quando devia lavar a boca antes de pronunciar ou escrever o seu nome. Foi ele quem lhe outorgou o direito à imbecilidade depois do 25 de Novembro ou a sua idade mental não lhe permite apreender esta evidência? A prosa deste cavalheiro ressuma o ódio pequeno burguês assassino da 1ª República, o que significa que a criatura ainda não abandonou mentalmente o Terreiro do Paço do dia 1 de Fevereiro de 1908. Já que mencionou livros - o que prova que é apenas um analfabeto funcional - recomendo-lhe as "Cartas D'El Rei D. Carlos I a João Franco Castello-Branco, seu último Presidente do Conselho", reeditado pela Bertrand. A criatura - problema dela - é daquelas a quem João Franco se referia como não tendo sequer o "direito a querer ser bem governado" e que aprecia a trela partidária. Direito dela. Finalmente, e quanto à ilustração da sua "posta de pescada", a sopa enlatada de tomate, é a que, se um dia tiver a infelicidade de me cruzar consigo, lhe atirarei à cara. Quanto ao genuíno produto da sopa, duvido que o possua.

Publicado por João Gonçalves 09:47:00 3 comentários  



as coisas são o que são


(via Avenida Central)

Publicado por Manuel 20:02:00 1 comentários  



Golpes...no Estado

O doutor António José Morais, concede hoje ao DN uma entrevista estruturada que apresenta já uma equivalência: a entrevista do primeiro ministro, José Sócrates, à RTP1, acerca do seu percurso académico.
Sobre as equivalências de Sócrates que o fizeram passar em ascensão fulgurante, do ISEL para a UNI, e aí, surpreender num exame, o ex-futuro reitor que antes de o ser já o era, ninguém melhor do que o estruturado Morais, doutor com distinção e louvor, para a explicar: tinha sido professor do distinto aluno, no ISEL, avaliou as suas competências e equivalências e voltou a ser seu professor de quatro das cinco cadeiras, na UnI quando já estava a dirigir um importante Departamento de Obras do Governo ( GEPI), nomeado por confiança política e a quinta cadeira que faltava, ficou a cargo precisamente do reitor que não era, parece que não é, mas passa agora por sê-lo.
Tal fenómeno surge ainda com toda a naturalidade e legitimidade com que leccionou, examinou, classificou e graduou o futuro licenciado, a um glorioso Domingo. O actual primeiro ministro não se lembrava da efméride, como não se lembrava sequer dos seus dois únicos professores. Não conseguiu dizer o nome deles ao Público, quando foi perguntado. Passavam já muitos anos, cerca de onze e o primeiro ministro é pessoa ocupada com outras obras para ligar a tais minudências, como sejam exames finais de conclusão de curso, domingueiros ou o pormenor banal de ter tido como professor das quatro cadeiras que faltavam, alguém que nos anos a seguir esteve estreitamente ligado ao governo do PS, sendo repetente, por convite de um ministro que Sócrates mal conhece, Alberto Costa e amigo de outro que Sócrates ainda conhece menos, Armando Vara.
O reitor que não era, também não era o professor legítimo da cadeira, cuja prova escrita foi enviada pelo aluno acompanhada de um pequeno cartão do “seu Sócrates”.
O professor legítimo da cadeira feita por correspondência, já afirmou nem conhecer Sócrates como aluno e o reitor que então era mas deixou de ser, nem sequer fala dessa vergonha. O reitor que era mas não era, foi preso por crimes contra o património e anda agora de TIR e a Uni já foi considerada por outros insuspeitos como uma espécie de universidade, o que foi confirmado pelo ministro das mesmas.
Com tudo isto e muito mais que aqui agora não cabe, o doutor estruturado, afirmou agora convictamente que a “licenciatura do cidadão José Sócrates foi obtida regularmente, cumprindo todos os requisitos da instituição”. Os requisitos da instituição vamos sabendo como eram; sobre o cumprimento dos mesmos, também. Sobre a veracidade da afirmação, vale o que vale, vinda de quem vem.
A entrevista precisa assim de análise, equivalente à do PM, na RTP1.
Logo a abrir, o doutor Morais atira-se à estrutura dos jornais que atacam Sócrates. São dois: o Público e o Expresso e descobre-lhes nas notícias que publicam, intenções socapadas de subversão do estado democrático.
A principal prova da acusação intencional, reside num facto singelo apresentado como de evidência estruturante: “O director do Público, José Manuel Fernandes, disse, na SIC, que já corria o boato de que o jornal estaria de algum modo a cumprir determinações dos seus accionistas, por causa da OPA da PT. Foi ele que disse, não fui eu...”
Observação de grande inteligência lógica. Repare-se bem no pormenor fatal de se repescar a defesa do director do Público, na SIC, para afirmar que fora ele mesmo quem dissera que havia alguém que já dizia que corria o boato de que o jornal estaria a soldo do Belmiro por causa da Ota, perdão, OPA.
E o discurso estruturado do doutor Morais realça: “foi ele que disse, não fui eu…”
Sócrates disse mais ou menos o mesmo na RTP1: mostrou papeis de pagamento de propinas, para acusar a ignomínia de quem dissera que não tinha pago, suscitando ele mesmo a questão de um putativo favorecimento por essa via. Veio a saber-se depois que terá ficado isento de pagamento…

Depois , o doutor Morais, não lê jornais: ao dizer que “viu só dois jornais como motor de campanha”, nem se deu conta dos outros todos que seguiram atrás a empurrar, a meter gasolina, a limpar os faróis e medir a pressão dos pneus.
Ainda assim, o doutor Morais é peremptório na evidência cabalística: “ É evidente que o fulcro dessa tentativa são os grupos económicos”, embora reconheça que “Provavelmente nunca se vai saber quem são os autores desta campanha. Você nem sabe quais são os seus objectivos. É derrubar o Governo? É pressionar o Governo? É orientar o Governo? A mim parece-me que esta campanha, que está especialmente centrada em dois órgãos de comunicação social, não é só uma campanha pessoal. Nem é só retaliação sobre o primeiro-ministro. É muito mais do que isso.
Ora aqui, nesta parte, deve reconhecer-se toda a razão ao doutor Morais, malgré lui. O que está em jogo é mesmo muito mais do que isso. Arriscaria mesmo dizer que é um assunto da sua especialidade, a geotecnia. É um caso de tremelique de estruturas, precisamente as do sistema em que vive e prosperam os doutores morais que deixaram infelizmente a moral por mãos alheias e se refastelam no pântano anunciado por quem lhes abriu o caminho para as otas pantanosas e com obras de estaca.
O caso Sócrates é de facto, um caso de moralidade ético-política, o que o doutor Morais não entende de todo, convencido que está de mais uma cabala ignóbil que atinge a bondade intrínseca de um partido que lhes dá quase tudo na vida.
Vejamos algumas razões mais, para a sua admiração, rebuscadas no perfil pessoal que apresenta e nos antecedentes que evoca.
O Doutor Morais, antes de ser professor de Sócrates, não o conhecia sequer. Embora natural da mesma terra das cerejas onde Sócrates cresceu e se fez homem, militantes do mesmo partido, com amigos comuns, Morais só encontrou Sócrates, pela primeira vez, no primeiro dia de aulas no ISEL. Entrou na sala, deu a aula, viu o então modesto deputado e no final foi apresentar-se. Foi assim. Sobre isto, alguém duvida? Veremos.

Segundo o Público de hoje, António José Morais e um seu monitor, serão arguidos num processo crime, aberto em 1999, por factos ocorridos em 1996, no âmbito de concurso de adjudicação de um aterro sanitário na Cova da Beira, ocorrido em Junho de 1996, a uma empresa ( HLC) da qual António José Morais, fora consultor, enquanto exercia o cargo público de director do GEPI ( gabinete de estudos e planeamento de instalações do Ministério da Administração Interna, do qual era então ministro, Alberto Costa).
Segundo o Público de hoje, “em causa estava também o papel atribuído a José Sócrates e a alguns socialistas a ele ligados, como João Cristóvão”. Os factos respectivos a este inquérito demoraram oito anos a serem investigados ( pela PJ) e o mesmo terá sido remetido ao DIAP ( ou será o DCIAP?) com proposta de acusação, por crimes de “favorecimento e corrupção”.
Sobre isto, a entrevista do doutor Morais ao DN, é parca de esclarecimentos. “Parece que houve uma denúncia anónima contra mim, a que se seguiu a abertura de um inquérito judiciário. Foi há oito anos. Fui ouvido uma vez. Não sei exactamente do que se trata porque as perguntas foram vagas.”
E explica então como foi: “A minha empresa foi contratada pela Associação de Municípios da Cova da Beira para a elaboração do caderno de encargos, especificações e desenvolvimento de todo o modelo conceptual à volta do concurso público internacional para a central de combustagem da Cova da Beira, e do tratamento da selagem de lixeiras. Realizamos o trabalho, e seguiu-se o concurso.”
O concurso foi ganho por um consórcio de que fazia parte a empresa HLC , para a qual, segundo o Público, também trabalhou Couto dos Santos que agora, curiosamente, aparece a defender o primeiro ministro, contra o líder do seu partido…
A intervenção de António José Morais, na consultadoria é apresentada de modo muito curioso pelo próprio: “ A minha empresa nunca produziu para a HLC os trabalhos referidos pela comunicação social. A minha empresa foi contratada para realizar estudos semelhantes aos que havia realizado para a Associação de Municípios da Cova da Beira para outras centrais de combustão, mas contratada por uma empresa estrangeira. Acho que as notícias vindas a público pretendem apenas pressionar os magistrados para deduzirem uma acusação. Porém, eu acredito na independência da justiça.”

Quanto à sua entrada no GEPI, em 1996, do ministério titulado por Alberto Costa, no tempo em que este dizia que a polícia que havia e em que mandava, não era a dele, o mistério é nenhum: “Fui para o GEPI por alguma capacidade do PS de base que fez sentir a Armando Vara que um membro do secretariado da comissão política de Lisboa tinha capacidade para desempenhar tarefas a nível governativo. Por isso apostou em mim. Só saí do GEPI quando o PSD ganha as eleições. O lugar é de extrema confiança política.”
Foi certamente por isso que em 2005, Alberto Costa o chamou outra vez para um lugar de confiança política, para o IGFPJ do ministério da Justiça. E António José Morais, explica: “Acha que se tivesse realizado um mau trabalho no GEPI ele me convidaria para o IGFPJ? Os senhores jornalistas é que com uma frase matam o trabalho de dezenas de pessoas. Os jornalistas andam a publicar peças que não representam a qualidade do trabalho ali realizado. Estou de consciência tranquila”.
Ora sobre esta tranquilidade de consciência, os jornalistas do Público, têm-se esforçado por chamar a atenção dos leitores para as obras do GEPI: “A empresa Cosntrope que em 2000 e 2001 construiu a moradia de Armando Vara em Montemor o Novo ( e que teve, segundo o Público, a colaboração do GEPI), conseguiu nesses dois anos 27 adjudicações de obras do GEPI, então dirigido por António Morais, o professor de José Sócrates que Vara nomeou para esse lugar em 1996.”
Uma das obras, fora a remodelação de um palacete na Pontinha, para albergar a futura e funesta Fundação para a Prevenção e Segurança, de Armando Vara.
Nessa obra, segundo o Público, interveio ainda uma arquitecto, colaborador e sócio de António Morais, numa empresa deste.
Em 2002, António Morais abandonou o GEPI, após uma auditoria e nos anos seguintes, as contratações da Constrope, segundo o Público, caíram a pique. Em 2005, em vez das 27 dos dois anos de ouro, teve… duas. Ainda assim, a empresa , em 2005, estava no ranking das 500 maiores empresas de construção civil e obras públicas, num honroso 101º lugar.
Talvez por causa disto tudo, António José Morais, tenha dito logo no início da entrevista que “Acho que estamos a assistir a uma tentativa de golpe de Estado, através da comunicação social.”
“Golpe de estado”?!
Por mim, acho que aquilo a que andamos a assistir, de há uns anos a esta parte, são, golpes, sim, mas …no Estado que nos pertence a todos.

E os golpistas tardam em ser identificados devidamente. E responsabilizados.

Publicado por josé 18:29:00 7 comentários  



regras de três

Andam por aí uma série de alminhas a ver cabalas em tudo quanto é lado. Pois sim, ora leiam o texto abaixo, e pensem um bocadinho...

April 22, 2007
50% Good News Is the Bad News in Russian Radio, NYTimes.com
By ANDREW E. KRAMER

MOSCOW, April 21 — At their first meeting with journalists since taking over Russia’s largest independent radio news network, the managers had startling news of their own: from now on, they said, at least 50 percent of the reports about Russia must be “positive.”
In addition, opposition leaders could not be mentioned on the air and the United States was to be portrayed as an enemy, journalists employed by the network, Russian News Service, say they were told by the new managers, who are allies of the Kremlin.
How would they know what constituted positive news?
“When we talk of death, violence or poverty, for example, this is not positive,” said one editor at the station who did not want to be identified for fear of retribution. “If the stock market is up, that is positive. The weather can also be positive.”
In a darkening media landscape, radio news had been a rare bright spot. Now, the implementation of the “50 percent positive” rule at the Russian News Service leaves an increasingly small number of news outlets that are not managed by the Kremlin, directly or through the state national gas company, Gazprom, a major owner of media assets.
The three national television networks are already state controlled, though small-circulation newspapers generally remain independent.
This month alone, a bank loyal to President Vladimir V. Putin tightened its control of an independent television station, Parliament passed a measure banning “extremism” in politics and prosecutors have gone after individuals who post critical comments on Web chat rooms.
Parliament is also considering extending state control to Internet sites that report news, reflecting the growing importance of Web news as the country becomes more affluent and growing numbers of middle-class Russians acquire computers.
On Tuesday, the police raided the Educated Media Foundation, a nongovernmental group sponsored by United States and European donors that helps foster an independent news media. The police carried away documents and computers that were used as servers for the Web sites of similar groups. That brought down a Web site run by the Glasnost Defense Foundation, a media rights group, which published bulletins on violations of press freedoms.
“Russia is dropping off the list of countries that respect press freedoms,” said Boris Timoshenko, a spokesman for the foundation. “We have propaganda, not information.”
With this new campaign, seemingly aimed at tying up the loose ends before a parliamentary election in the fall that is being carefully stage-managed by the Kremlin, censorship rules in Russia have reached their most restrictive since the breakup of the Soviet Union, media watchdog groups say.
“This is not the U.S.S.R., when every print or broadcasting outlet was preliminarily censored,” Masha Lipman, a researcher at the Carnegie Moscow Center, said in a telephone interview.
Instead, the tactic has been to impose state ownership on media companies and replace editors with those who are supporters of Mr. Putin — or offer a generally more upbeat report on developments in Russia these days.
The new censorship rules are often passed in vaguely worded measures and decrees that are ostensibly intended to protect the public.
Late last year, for example, the prosecutor general and the interior minister appeared before Parliament to ask deputies to draft legislation banning the distribution on the Web of “extremist” content — a catch phrase, critics say, for information about opponents of Mr. Putin.
On Friday, the Federal Security Service, a successor agency to the K.G.B., questioned Garry Kasparov, the former chess champion and opposition politician, for four hours regarding an interview he had given on the Echo of Moscow radio station. Prosecutors have accused Mr. Kasparov of expressing extremist views.
Parliament on Wednesday passed a law allowing for prison sentences of as long as three years for “vandalism” motivated by politics or ideology. Once again, vandalism is interpreted broadly, human rights groups say, including acts of civil disobedience. In a test case, Moscow prosecutors are pursuing a criminal case against a political advocate accused of posting critical remarks about a member of Parliament on a Web site, the newspaper Kommersant reported Friday.
State television news, meanwhile, typically offers only bland fare of official meetings. Last weekend, the state channels mostly ignored the violent dispersal of opposition protests in Moscow and St. Petersburg.
Rossiya TV, for example, led its newscast last Saturday with Mr. Putin attending a martial arts competition, with the Belgian actor Jean-Claude Van Damme as his guest. On the streets of the capital that day, 54 people were beaten badly enough by the police that they sought medical care, Human Rights Watch said.
Rossiya and Channel One are owned by the state, while NTV was taken from a Kremlin critic in 2001 and now belongs to Gazprom. Last week, a St. Petersburg bank with ties to Mr. Putin increased its ownership stake in REN-TV, a channel that sometimes broadcasts critical reports, raising questions about that outlet’s continued independence.
The Russian News Service is owned by businesses loyal to the Kremlin, including Lukoil, though its exact ownership structure is not public. The owners had not meddled in editorial matters before, said Mikhail G. Baklanov, the former news editor, in a telephone interview.
The service provides news updates for a network of music-formatted radio stations, called Russian Radio, with seven million listeners, according to TNS Gallup, a ratings company.
Two weeks ago, the shareholders asked for the resignation of Mr. Baklanov. They appointed two new managers, Aleksandr Y. Shkolnik, director of children’s programming on state-owned Channel One, and Svevolod V. Neroznak, an announcer on Channel One. Both retained their positions at state television.
Mr. Shkolnik articulated the rule that 50 percent of the news must be positive, regardless of what cataclysm might befall Russia on any given day, according to the editor who was present at the April 10 meeting.
When in doubt about the positive or negative quality of a development, the editor said, “we should ask the new leadership.”
“We are having trouble with the positive part, believe me,” the editor said.
Mr. Shkolnik did not respond to a request for an interview. In an interview with Kommersant, he denied an on-air ban of opposition figures. He said Mr. Kasparov might be interviewed, but only if he agreed to refrain from extremist statements.
The editor at the news service said that the change had been explained as an effort to attract a larger, younger audience, but that many editorial employees had interpreted it as a tightening of political control ahead of the elections.
The station’s news report on Thursday noted the 75th anniversary of the opening of the Moscow metro. It closed with an upbeat item on how Russian trains are introducing a six-person sleeping compartment, instead of the usual four.
Already, listeners are grumbling about the “positive news” policy.
“I want fresh morning broadcasts and not to fall asleep,” one listener, who signed a posting on the station’s Web site as Sergei from Vladivostok, complained. “Maybe you’ve tortured RNS’s audience enough? There are just a few of us left. Down with the boring nonintellectual broadcasts!”
The change leaves Echo of Moscow, an irreverent and edgy news station that often provides a forum for opposition voices, as the only independent radio news outlet in Russia with a national reach.
And what does Aleksei Venediktov, the editor in chief of Echo of Moscow, think of the latest news from Russia?
“For Echo of Moscow, this is positive news,” Mr. Venediktov said. “We are a monopoly now. From the point of view of the country, it is negative news.”

Publicado por Manuel 17:18:00 0 comentários