quo vadis Público
sexta-feira, agosto 19, 2005
Voltando ao Público de hoje, e a reboque do post anterior, o editorial de hoje trás subjacente uma questão importante que é a responsabilidade das instituições, e das farsas em que estas se metem quando tentam encobrir atabalhoadamente os seus próprios erros. Falemos pois de uma institução respeitada, no nosso país, apenas o menos mau Jornal diário Português, o próprio Público. Tanto nos dá Vasco Pulido Valente, editoriais bem pensados e sóbrios como o de hoje como... manchetes ao pior estilo do Crime, do Correio da Manhã e do 24 Horas, hoje saiu mais uma. Haverá alguém que explique em que país do mundo é que um jornal, de referência, faz manchete com uma historieta sobre "ligações perigosas entre funerárias e hospital" ? É mesmo isto a história do dia, é ?! de certeza ? O Público pretende agora ser o boletim diário da PJ ? (e por muito respeito que me mereça essa instituição) Não é infinitamente mais relevante, e merecedor de manchete, por exemplo, a história - relatada, e aí muito bem, pela mesma jornalista que assina a novela das funerárias, a Tânia Laranjo - do empresário de construção civil, pág. 8, que acusa Ferreira Torres de coação ? Não era mais importante o regresso de Sócrates e os incêndios, págs 20 e 21 ? Não é até mais relevante e gerador de interesse a iniciativa governamental de completar até 2006 uma rede de atendimento a vitimas de violência doméstica, pág. 23 ? E já nem falo em chamar à capa o destaque (muito bom) , págs 2 e 3, sobre o Papa em Colónia, para não ter que aturar os anti-clericais do costume. Para o Público uma operação policial de rotina com o pitoresco de envolver funerárias num hospital é o destaque. A falha deve ser minha, como também deve ser falha minha ver uma incoerência grotesca entre aquilo que, em editorial, o Público pede, e exige, "implacavelmente" a uns, responsabilidade, transparência, accountability, verdade, e aquilo que o Público ainda não fez relativamente a uma capa infeliz, falsa e indutora em erro, como todos reconhecem, envolvendo a PGR (o historial pode ser acompanhado, cronologicamente, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Nem uma retratação, nem um pedido de desculpas. É um caso flagrante, exigem mas não cumprem, julgam que são o quê ? Deus ? Nos seus diferentes campos aquilo que se espera de uma força polícial, como a Scotland Yard, e aquilo que se espera de um jornal de referência é o mesmo, competência e precisão. E, claro, um mínimo de humildade para assumir e corrigir os erros, antes que estes destruam tudo à sua volta. É assim tão dícil perceber isto ? É mesmo, José Manuel Fernandes? depois querem ser levados a sério. Deviam (poder) ser, porque o país precisa de imprensa de qualidade e na qual confie minimamente. Conquistar a credibilidade é díficil, muito díficil, dá muito trabalho e demora muito tempo, já desbaratá-la é num ápice... Eu, pela parte que me toca, não gostaria de ver o Público ser mais um... tabloíde rasca - no estilo do 24 Horas ou do Correio da Manhã- que se lê nuns instantes para aliviar o stress sem (poder) levar demasiado a sério.
Publicado por Manuel 21:00:00
2 Comments:
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- Teófilo M. said...
11:54 da manhã, agosto 20, 2005Alguém me recorda p.f. onde é que este papa operava uma anti-aérea na II Guerra Mundial? Não era em Colónia?- Anónimo said...
1:55 da manhã, agosto 21, 2005Duas notas: à semelhança do que acontece actualmente com os telejornais dos 3 canais o único, repito único proposito é ganhar audiencia e para isso utilizam-se as capas mais voyeristas possivel; Jose Manuel Fernandes foi "evangelizado" jornalisticamente no Expresso.