"Farsa Inadmíssivel"
sexta-feira, agosto 19, 2005
É este o título do Editorial de hoje do Público. Nuno Pacheco, Director Adjunto, escreve asperamente sobre a morte acidental de um cidadão brasileiro em Londres, abatido por engano, a sangue frio, pela Scotland Yard. Pacheco descreve longamente todo o incidente, a fase de denial e encobrimento que a Scotland Yard tentou num primeiro tempo, para concluir que o engano é inadmíssivel num estado democrático. Pede um "desfecho implacável" e "coragem para isso". Confesso que concordo muito mais com o Pacheco do Público que com o pretensamente sofisticado relativismo moral de Pacheco Pereira expresso aqui (e que foi acrescido de um 'esclarecimento', verdadeira lição, enviado a JPP por Eunice Goes, correspondente do Expresso em Londres, e à qual JPP não dedicou que tenha visto uma letra). Pacheco Pereira escreve que...
O cidadão brasileiro que foi morto por polícias à paisana em Londres não foi “roubado” nem da “dignidade”, nem do “respeito” pela polícia. Foi vítima de um trágico engano, num momento ainda mais trágico, em que um gesto precipitado e um clima de perigo, o matou também a ele. O que me revolta é que parece que em Londres só morreu Jean Charles de Menezes e mais ninguém. Ou que a morte dele foi a Maior e as outras, as Menores.mas, apressado, não percebeu nada. O drama maior não é o trágico engano, o drama maior é a contextualização, a relativização que se tenta fazer, ao colocar tudo no mesmo patamar. Sendo certo que todas as mortes são lamentáveis, o facto é que há uma diferença - bem grande - entre morrer às mãos de terroristas e morrer, ainda que por engano, às mãos daqueles que deviam proteger civis desses mesmos terroristas. O que devia revoltar Pacheco Pereira era o facto do combate ao terrorismo, e que visa salvar vidas, ter roubado uma vida, e não uma frase do Expresso alegadamente mal construída. Quanto à questão da dignidade onde Pacheco Pereira dispara imperialmente que ...
A Culpa não é dos terroristas da Al-Qaida, que eles sim mataram o infeliz trabalhador brasileiro, eles sim lhe roubaram a “dignidade” e “respeito”, mas a da polícia londrina para quem todas as indignações se dirigem.mais uma vez Pacheco não percebe nada, rigorosamente nada. O objectivo da Al-Quaeda é espalhar o terror, o terror pelo terror, o pânico, democratizar a violência, para eles todas as mortes são justificaveis porque são um meio para atingir um fim (para eles considerado superior), ora - numa democracia, num estado de direito - nenhuma morte civil é justificável, é útil, no combate ao terrorismo, mais, o fim supremo de combate ao terrorismo não implica secretismos nem aldrabices pegadas como as que a Scotland Yard tentou impingir, aí sim destruindo toda e qualquer dignidade ao infeliz cidadão brasileiro. J. C. Menezes podia ter sido só e apenas uma infeliz casualidade na luta contra o terrorismo, mas ao encobrir o erro, ao tentar pintá-lo, a Scotland Yard, muito mais que no erro inicial, errou infinitamente (e é aqui que falha o editorial do Público que não distingue entre um momento e outro, entre uma precipitação e uma acção deliberada e racional de encobrimento) transformando Menezes em algo mais do que uma vítima. A morte de J. C. Menezes deve servir para nos recordar que numa democracia madura mentir e encobrir é sempre o pior remédio pois não vale tudo para se viver em segurança, é que, como já escrevi em tempos, entre a liberdade e a segurança escolho a liberdade . Pacheco Pereira ao que parece pensa de outra forma, é pena.
Publicado por Manuel 19:25:00
Um erro trágico, lamentável, que todos queremos que não se repita, está a desviar-nos a atenção relativamente ao inimigo principal. O problema é que, se quisermos abdicar da nossa defesa, poderá dar-se o caso de irmos de cedência em cedência até já não termos possibilidade de escolher a liberdade.
Por isso é que é político, e não biólogo.
Muitas vezes não concordo consigi, mas neste caso, subscrevo inteiramente o que afirma.O problema é que começamos a por em causa a nossa liberdade e desta forma os terroristas ganham.
François Marie Arouet