Ainda o jornalismo judiciário do Público

Embora este assunto já tenha dado pano para mangas de alguns casacos, sobretudos e até capotes, volto à vaca fria, comentando pela última vez (é o meu desejo mas...) o tema do jornalismo do Público, nos assuntos judiciários. Reproduzo por isso, aqui um comentário que deixei abaixo, com algumas alterações.

A questão é suficientemente grave para deixar passar em claro.

Na pág.11 do Público de hoje, publica-se o "Esclarecimento do procurador-geral da República". Assim, a modos de uma carta ao director mais sofisticada. A carta, assinada, é publicada na íntegra e nada mais se diz.

Nem uma palavra sobre a asneira grossa que o título na primeira página constitui. Nem uma palavra sobre quem fez esse título e que confessadamente ( pela própria jornalista que elaborou a notícia) não foi quem assinou a notícia e com o qual a mesma, placidamente, não concorda, mas achará que está tudo bem assim.

Até o carteiro que colabora no Incursões e já foi jornalista, acha que isto foi um "erro formal"! A notícia no seu âmago mais importante, vem no título e o objectivo de quem o fez é inequívoco: imputar à PGR um atraso de 16 anos num assunto particular que envolve um inspector ( sê-lo-ia já nessa altura?!).

Não há um pedido de desculpas na primeira página e assinado por quem fez o título que aliás nem se sabe quem foi... Não há uma referência única, um pequeno editorial, um acrescento a seguir ao "esclarecimento"! Nada de nada! Os jornalistas do Público fazem o que querem?! Parece bem que sim.

Podem gratuitamente ofender uma instituição importante da democracia, impunemente e sem grandes preocupações. Quem se sentir mal que se mexa, parece ser o mote de estilo. Podem de um dia para o outro insistir em desinformar que no pasa nada! No pasa nada é a expressão! Irresponsabilidade completa, se atendermos a este caso concreto.

Eppure... no Livro de Estilo do Público, diz-se:

O PÚBLICO publicará Notas de Redacção, replicando às versões ou comentários abrangidos pelo direito de resposta, só quando estiver em causa a verdade dos factos ou acusações à boa-fé do jornalista.

Nenhuma notícia deve sair a público sem a devida confirmação e absoluta confiança na fonte de origem. Mas, em caso de erro, o jornal retractar-se-á imediatamente. Qualquer imprecisão deverá ser prontamente corrigida. Nunca esquecer uma velha máxima do jornalismo: "O melhor que pode acontecer a um jornalista é dar uma notícia em primeira mão; o pior é ser desmentido pelos factos."

E quanto a boas intenções, elas não faltam no Livro de Estilo... Por exemplo...

Incorrer em falsidades ou no sensacionalismo, manipular, deturpar ou silenciar informações, cair no tendenciosismo e na distorção dos acontecimentos, noticiar meras especulações como se fossem factos, desacreditam um jornal e desqualificam quem o pratica.

Depois de escreverem as suas peças, os jornalistas devem sempre colocar a si próprios esta pergunta clássica da maior parte dos manuais da profissão: "Fui tão rigoroso quanto me era possível?"

A honra, a dignidade e a reputação de pessoas individuais e colectivas devem ser escrupulosamente respeitadas nas páginas do PÚBLICO. Todos os temas que envolvam aspectos desta natureza reclamam previamente uma investigação própria muito cuidada, prudente e imparcial. Está em causa, no mínimo, o direito à imagem de pessoas individuais ou colectivas.

Normas práticas:

a. Qualquer informação desfavorável a uma pessoa ou entidade obriga a que se oiça sempre "o outro lado" em pé de igualdade. Só em casos excepcionais, e após autorização da Direcção, se pode contrariar o princípio da equidade.

"O PÚBLICO não pretende ter o dom da infalibilidade, mas reclama dos seus jornalistas o menor número de erros e imprecisões. E a credibilidade do jornal jogar-se-á tanto na qualidade da sua informação como no saber corrigir as suas próprias falhas — pronta e adequadamente. O direito de resposta e uma relação transparente com os demais órgãos de comunicação social são igualmente normas de um jornal sério e credível.

Sobre a ética e deontologia de alguns jornalistas do Público, neste caso concreto, estamos conversados. Acham que chega a cartinha do procurador-geral, numa página interior e sem mais? Acabou a secção "O Público errou"? Repristinem-na!

Publicado por josé 17:18:00  

7 Comments:

  1. Teófilo M. said...
    Mas... os jornalistas também erram!!!!
    Anónimo said...
    Ao que me parece os autores deste blog, ou pelo menos alguns, são oficiais da justiça (desculpem se este termo está errado). Ora acontece que o Público, que eu leio a par de outros títulos, é o melhor jornal português. Erra é verdade. Mas tem mais seriedade numa só página, seja ela qual for, que toda a corporativa e incompetente justiça portuguesa. E acho curioso que os oficiais de justiça, sempre tão prontos a criticar tudo e todos do alto dos seus imaginários cadeirões do poder não se preocupem a olhar mais para eles e para a resolução dos muitos problemas de um sector que afecta a vida de todos os portugueses. Podem dizer que, não, que também se preocupam com o seu oficio e com os seus problemas, mas na verdade não passam de bocas para se entreterem uns aos outros. OK, pode o público ter errado uma, duas ou 100 vezes, mas o que é isso comparado com os erros, os atrasos e as incompetências frequentes da justiça portuguesa e dos seus oficiais. O alarido que fazem com um eventual erro de um jornal (neste caso tenho dúvidas que o Público tenha errado) mostra o que é esta gente.
    Cumprimentos e passar bem
    josé said...
    Caro anónimo que nos apoda de "oficiais de justiça" e com quem simpatizei logo que li o seu comentário:

    V. diz que o Público é um jornal que "em mais seriedade numa só página, seja ela qual for, que toda a corporativa e incompetente justiça portuguesa."

    Vejamos então:
    Sabe quantos "oficiais de justiça" existem no país?!
    São uns bons milhares e que integram aquilo que se pode dizer que são os "tribunais".
    Os Tribunais são órgãos de poder, o poder judicial e que administra a justiça em nome do Povo.

    Sabe como funcionam os Tribunais em Portugal?
    COm leis que os organizam, em primeiro lugar. São leis que foram aprovadas pela AR ou pelos governos e os "oficiais de justiça" pouco ou nada tiveram a ver com essas leis que estão obrigados a cumprir.
    São leis que estabelecem quantos tribunais existem e de que tipo; quantos funcionários e magistrados existem e onde podem ser colocados segundo as vagas que existem. Leis que estabelecem que um tribunal construido nos anos quarenta para o funcionamento de um juiz, pode muito bem arcar actualmente com doze ou mais, metidos nos mesmíssimos gabinetes que há 40 anos atrás!
    Leis que permitem a organização das magistraturas segundo escalões que vão da 1ª instância ao SUpremo e regulam a progressão nessas carreiras.

    Depois há também as leis que os "oficiais de justiça" tem de aplicar, em vários domínios: civil, penal, administrativo, trabalho, menores e família etc etc.
    São leis que constam de códigos elaborados por comissões presididas por catedráticos das faculdades de Direito e não só e em que os oficiais de justiça não são geralmente ouvidos nem achados- nem sequer os juizes dos tribunais superiores, ou seja e na sua acepção, oficiais de justiça de topo!
    Essas leis que regulamentam a marcha dos processos e permitem que se possa fazer isto ou aquilo. Entre isto e aquilo, está tudo o que permite que se diga que a Justiça não tem seriedade.
    E eu quase que lhe dou razão, veja lá, caro anónimo!
    Sabe porquê?
    Experimente entrar numa secretaria dos oficiais de justiça de que fala e pergunte quantos processos estão a cargo de cada juiz ou magistrado!
    Pergunte, mas não será preciso. Se souber procurar no google, verá as estatísticas do Ministério da Justiça ( do GOverno- não dos oficiais de justiça).
    Verá por exemplo que um juiz pode muito bem ter a seu cargo, para despachar regularmente, cerca de 5000 processos e estou a citar números por baixo...muito por baixo!

    De quem é a culpa deste estado de coisas? Dos oficiais de Justiça?!! Acha mesmo?
    Depois, se se der ao trabalho de olhar para a justiça penal, verá que uma boa parte dos processos de que se fala na comunicação social, arrastam-se durante anos e anos nos tribunais e náo é por causa dos oficiais de justiça seram calasseiros ou mandriões.
    Arrastam-se porque a organização dos tribunais e as leis processuais elaborados pelso governos são o que são!

    Quanto à justiça aplicada pelos oficiais de justiça, é uma justiça do caso concreto que se aplica a casos concretos de pessoas ou empresas que demandam e são demandadas.
    COmo os casos são aos milhares só cada um dos injteressados poderá pronunciar-se com efectivo conhecimentoo de causa.

    Agora, para contrastar, repare no Público:

    Um jornal fundado em 1990 pela SOnae e que teve como director primeiro Vicente Jorge SIlva vindo do Expresso.
    Diz que é o melhor jornal português e se me disser diário, concordo consigo. É de facto o melhor jornal diário português e compro-o desde o primeiro dia.
    O Público vende actualmente cerca de 73 500 exemplares e tem segundo a sua ficha técnica um director- José Manuel Fernandes e dois subs- Nuno Pacheco e Manuel Carvalho.
    Do resto, não há rasto...mas devem ser para aí, umas dezenas. Poucas.

    Agora vamos aos erros:

    Os erros do Público como o apontado agora e repisado e por isso notado, são o pão nosso de cada dia, só na secção que se dedica aos assuntos dos "oficiais de justiça".
    São erros de palmatória, alguns deles e que já aqui foram apontados e indicados os responsáveis.
    Porquê?! or esta simples razão:

    As asneiras do Público atingem pelo menos 70 mil leitores diários e muitos mais que só olham para a primeira página.
    Assim, escreve que a PGR demorou 16 anos a decidir uma coisa qualquer, quando isso é redondamente falso, só releva de uma conclusão: ignorância ou má-fé!
    E qualquer uma delas, segundo o próprio livro de estilo retira credibilidade ao jornal. E tem havido várias e só me refio aos assuntos judiciários. Imagino o que será noutras áreas...


    Os erros da justiça, por seu lado, só nos casos concretos podem ser avaliados e ponderados.
    Podem ser erros de vária ordem, mas é preciso ver que num processo intervêm vaeriadíssimos factores que condicional as decisões: as leis; os operadores judiciários e respectivas leis, incluindo advogados e as condições de trabalho.

    Quanto a estas, poderíamos comparar a redacção do Público com qualquer tribunal...

    Mas o que é importante é reter que os erros dos "oficiais de justiça" raramente são erros que lhes possam ser imputados: por causa principalmente das leis que temos e da organização que temos que decorres também das leis que temos.

    Que espaço fica então para se poder dizer que o PÚblico é mais sério do que os oficiais de Justiça e esta propriamente dita?!

    Fica o espaço de um disparate enorme e sem fim à vista, caro anónimo...
    Anónimo said...
    Caro anónimo:
    Talvez tenha essa opinião sobre a justiça porque lê o Público e outros...
    Infelizmente estamos num tempo em que parece que apenas o que se vê na TV ou lê nos jornais é que é a realidade, passando a ser vulgar tomar a "nuvem por Juno".
    Está na moda dizer mal da Justiça, mas aqueles que o dizem são sempre redutores e explicam o seu ponto de vista com generalidades ou então com um, dois casos esquecendo os milhares que estão nos Tribunais e correram bem.
    Está tanto na moda como dizer mal da Educação, da Saúde e de outros sectores, pessoalizando sempre os problemas, sem curar de saber se o mal está nas pessoas ou nos meios que dispõe.
    Parece é que não pode estar na moda falar do mau jornalismo, que logo aparece a desculpar.
    Esses podem falhar "uma, duas, 100 vezes", porque só os outros é que não merecem perdão.
    Dois pesos e duas medidas ou apenas uma gritante falta de capacidade crítica do Povo Português que consome tudo o que lhe dão?
    josé said...
    Outra coisa, caro anónimo:

    Sabe quanto ganham por mês os directores do Público?!

    Bem mais do que os juizes dos tribunais superiores deste país, parece-me.

    Qual a responsabilidade concreta de um director do Público?
    Está no Livro de Estilo: zelar e fazer por que se faça bom jornalismo e se dê boa informação!
    Se isso não acontece, frequentes vezes, por causas que só poderemos atribuir a ignorância ou má-fé, o que poderemos dizer? Que são competentes e sérios?!!
    Que merecem o que ganham?!

    Se os oficiais de justiça erram, prejudicam essencialmente os particulares que se envolvem nos pocessos. Geralmente, nos processos há duas partes ( no cível) ou então um acusador e um ou mais arguidos, no penal.
    Os erros judiciários são a meu ver raros e nada que se compare aos erros do Público, frequentes e sem que algo aconteça a quem os produz. Nem desculpa pedem...

    Os erros judiciários podem trazer responsabilidade civil para quem os produz.

    O que o anónimo refere quanto á seriedade nada tem a ver com estes erros. Tém mais a ver com o estado da Justiça em geral- e nesse aspecto até lhe dou alguma razão. Só lha não dou quando atira as culpas para os oficiais de justiça.
    Acredite: os oficiais de justiça pouco ou nada podem fazer para alterar o estado de coisas a que chegamos.
    Podem trabalhar mais? COmo? aumentando o horário? Encurtando as férias dpor quinze dias, como aconteceu agora?
    Acha que essa é a via milagrosa?!

    A meu ver, caro anónimo, o problema só se resolve quando aparecer uma equipa no Governo que perceba do assunto e que se liberte de algumas comissões de redacção das leis que temos tido. Mas essa discussão, para quem nos chama de oficiais de justiça e pede desculpa por não perceber muito bem o que isso é, se calhar não valerá a pena fazer aqui.
    Cumprimentos também.
    Anónimo said...
    Vocês são patéticos, doutores, excelências. E um grande incentivo a não implicar com a Justiça e a não lhe pedir nada também. Não se vá cair nas mãos de gente tão cheia de si, tão auto-centrada, a mandar biatites lá do alto da sua beca sovada. Como a poucos serve-vos o termo "cagar sentenças". Safa!
    Luís
    josé said...
    Luis:

    Todos nós poderemos um dia ter de implicar com a Justiça. Basta que tenhamos de o fazer, por necessidade.

    Acredito que também eu digo: safa!

    Mas os argumentos que aduziu, no sentido de a Justiça se confundir com os becados lá do alto da cátedra da tribuna, é que são mesmo fraquinhos e adiantam nada ao debate.

    O debate era: a seriedade do Público e a seriedade dos "oficiais de justiça".
    O que é que o incomoda nesta classe de oficiais: a prosápia putativa; a arrogãncia que lhes arroga; a displicência no trato dos outros que lhes aparecem?!
    Diga! Desabafe!
    Mas olhe que desse tipo de mamíferos há outros exemplos bem mais visíveis noutros locais de poder...

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