Gorada que foi a tentativa, de Rui Rio, de o (a)placar na Casa da Música, e depois da entrevista de Paulo Morais, o ex número dois de Rui Rio, hoje, a 'O Primeiro de Janeiro', da qual se transcreve abaixo um extrato, aguardam-se notícias das diligências em curso na PGR. Se já não se aguarda uma palavra de Rio sobre o assunto, é porque, e citando Paulo Morais, 'o silêncio é também uma forma de expressão'...

Os portugueses já encaram a corrupção como sendo uma situação normal?

E sem que se apercebam que se não houvesse corrupção Portugal estaria a um nível de desenvolvimento como estão a Noruega, Suécia ou Finlândia. Se não houvesse este desperdício de recursos na corrupção, é evidente que tudo seria canalizado em prol da população. Até porque a corrupção para poder funcionar tem que se instalar em cima da ineficácia. A corrupção é isto mesmo: criar dificuldades artificiais para depois vender as facilidades. Se não houver corrupção também não haverá todos estes constrangimentos. O país evolui e avança. Mas confesso que não fazia ideia que o tráfico de influências atingisse um nível tão gigantesco como de facto conheci, e como digo, e isto que fique bem claro, comigo e com o meu antecessor, estou certo, não houve qualquer cedência a nenhum desse tipo de influências.

As influências vêm de todo o lado, mesmo da Administração Central?

Vêm de onde não podiam vir, que são das estruturas do poder. Nós hoje vivemos em Portugal uma situação perversa. Nesse aspecto somos dos piores países da Europa. E isto porque quem financia a actividade partidária, a actividade dos dirigentes partidários são, normalmente, os empreiteiros. Financiam as campanhas e financiam a vida privada de muitos dirigentes partidários, que fazem desta vida política a sua profissão. Não sabem fazer mais nada. Profissionalizaram-se na política e da política depende a sua sobrevivência.

São os alegados «tabuleiros de Xadrês» espalhados pelas casas de muitos políticos?

Exactamente. E se fossem só tabuleiros de Xadrez não estaríamos mal. O problema é que estamos a falar de milhões de contos. Penso que durante a minha passagem pelo pelouro do urbanismo terei chumbado, impedido negociatas e vigarices na ordem dos quinhentos e cinquenta milhões de euros. Estamos a falar de muito dinheiro. Seriam vigarices que se teriam concretizado, e quando estão em jogo negócios desta ordem, então as forças organizam-se de forma a tomarem por dentro os partidos para terem um poder que lhes permita dominar a administração em benefício próprio. Sejamos mais claros: muitos promotores imobiliários financiam a vida politica e partidária para que depois os políticos, financiados por eles, e que estão no aparelho de Estado, na Administração Central ou local, façam a gestão pública não em função do interesse da população mas em função do interesse de quem os sustenta, como bom dever de gratidão.

Paulo Morais, ao Primeiro de Janeiro

Publicado por Manuel 20:21:00  

0 Comments:

Post a Comment