um poço

escreve o João Morgado Fernandes...

Ideias com retorno

Na Grande Loja, insiste-se na questão do TGV. E eu sou obrigado a repetir-me para que não ponham no meu blogue coisas que nunca escrevi.

  • 1. Nunca escrevi que o TGV seria prioritário, ou que nos tiraria do poço. Verdadeiramente, nem sei se será útil. Repito: não percebo disso o suficiente.
  • 2. Escrevi e repito que, numa economia como a nossa, o estado, infelizmente, ainda é o motor de muita coisa. E é-o não por opção política, mas apenas por escandalosa omissão de quem deveria assumir esse papel - os privados.
  • 3. O que eu escrevi, e repito, é que o plano de investimento que o Governo anunciou, e volto a repetir, o plano, constitui um sinal de esperança.
  • 4. Aqui, no blogue, e noutros sítios, tenho insistido em que o défice não é o nosso principal problema. Que o nosso principal problema é a economia, se quiserem, o crescimento. Enquanto este não fôr apresentável, o défice nunca será resolvido, ou sê-lo-á pontualmente.
  • 5. O António Duarte recorda os casos da Expo e do Euro. Quanto ao futebol, está coberto de razão. Retorno, aquilo? Já no que se refere à Expo, estou convencido de que nunca ninguém se dedicou a fazer um estudo sério sobre o real impacto, ao longo dos anos, ainda hoje, daquele investimento na economia. Reconheço que há uma dificuldade - muito desse impacto não foi directo, nem talvez seja possível medi-lo.
  • 6. O caso do Manuel é, sejamos benévolos, mais complicado. Ele quer que eu tenha uma ideia, eu, simples mortal, que a última coisa de que me lembraria na vida era ir para a política. Não Manuel, não tenho de ter uma ideia. Se tivesse, já tinha feito um partido. O mesmo, diga-se, passa-se com o Manuel. Ideia? Népia. A única coisa que consegue encontrar para tirar o país do buraco, em alternativa ao TGV que ele pensa ser a minha proposta, é esse banalidade do mérito. Até eu, rapaz sem ideias, já tinha conseguido chegar . Não, Manuel, o país precisa de qualificação, mérito se quiser, mas isso não chega. Nem uma ideia, precisa de várias. Se cada um for tendo uma, viável, interessante, com retorno, por pequena que seja, tudo junto é capaz de nos levar a algum lado.
  • a) O João diz que nunca lhe passou pela cabeça escrever que o TGV fosse prioritário, e não sabe se o TGV é útil, até porque não percebe muito do assunto. Sobre as restantes obras públicas em grandes infraestruturas (a maior parte do maná anunciado pelo Eng. Sócrates) permanece o mistério.
  • b) Reafirma que o Estado é motor de muita coisa, com a nuance de que tem que ser porque os privados são uns marotos. Tem razão.
  • c) Continua a considerar o plano de investmentos um "sinal de esperança" por via de b) mas ignorando estoicamente a) i.e. que o tal plano pode estar cheio de obras não prioritárias e nem sequer necessariamente úteis.
  • d) Acha ainda que o principal problema não é o déficit mas sim a economia, o crescimento, ou a falta dele. Está errado, o déficit e as maleitas da economia são ambas sintomas não causas.
  • e) Admite a bondade da Expo'98. É justo, um terço dos americanos também acredita em fantasmas e 45% dos brasileiros acha que Lula não sabia de nada do mensalão.
  • f) Sobre as ideias, revela-se, e muito mais do que julga. Em primeiro lugar, e ao que parece, está à procura de uma graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande ideia, que não tem, porque se tivesse já teria fundado um partido ou entrado na política, e como não vê nenhuma graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande ideia, refugia-se num somatório poético de pequenas ideias, que todas juntas darão um grande retorno. E o mais curioso é que muitas pequenas ideias podem dar um grande retorno, podem mesmo, mas não pelas razões que o João aponta. Julgando que me acerta, do alto da burra, acusa-me sarcástico, de também não ter ideias, uma única para tirar o país do buraco, acusa-me até - ó, ó - de ser banal ao acenar com essa trivialidade do mérito, e é aí que o João se enterra inapelavelmente, enterra porque ainda não percebeu nada. O que mais há - por esta Venerável Loja, por esse mundo fora, pela sociedade civil - são ideias, pequenas, grandes, boas e menos felizes, coerentes e nem tanto, mas sempre, ou quase, com boa vontade, vontade de mudar. Nunca vi o João comentá-las, relevá-las, a favor, ou contra, e o João não as comenta, como não comentam muitos outros, porque não as leva a sério, porque as vê como um mero fait divers.

    Para o João vale mais uma afirmação ambígua do Prof. Freitas do Amaral do que 1.000 textos
    , como este, pertinentes, sustentados e muito provavelmente inatacáveis, do António Duarte, porque o João não sabe quem ele é, logo não conta, porque não faz parte do sistema, mas já ligava se as propostas apresentadas fossem apresentadas por um qualquer notável pago a peso de ouro.

    Para o João as coisas só passam a contar quando houver uma grande ideia luminosa por detrás (é no fundo a tese messiânica) ou então - o vulgar - quando são ditas por quem se conhece, por quem tem lobby, ou lá está, o resto, serão, boutades de perigosos ingénuos.

    O João critica os marotos do empresários, mas não deve ver os Morangos com Açucar na TVI. Se visse percebia que em Portugal quem se aplica, quem estuda, quem quer ser melhor, é pintado como o maluquinho, como o anormal, o desintegrado, se visse percebia que em Portugal o sucesso não se conquista, cai do cêu, se visse percebia o problema o problema geral da economia, de uma economia onde não é preciso ser particularmente bom, particularmente produtivo, ou sequer particularmente competente ou dotado, desde que se tenha um bom apelido, ou os contactos certos. Contactos para singrar, para arranjar emprego ou subsídios, sim, que o Estado só é mau quando dá de mamar aos outros. O João ainda não percebeu que sem se mudar a mentalidade, sem se apostar inapelavelmente na exigência não se vai a lado nenhum.

    Os portugueses não são nem melhores nem piores que os outros, lá fora até singram, e se cá não se faz melhor é porque ao contrário do que se passa lá fora cá está-se sempre à espera de um milagre, de uma cunha, de um adiamento, de um subsídio, lá sabem que ganham por aquilo que fizerem, cá, basta picar o ponto. O João nunca ouviu falar nas Leis da Inércia, do atrito, e da inexistência de incentivos a fazer mais e muito melhor.

    Em Portugal um pai prefere que um filho passe de ano mesmo sem saber do que repita o ano porque no fundo, no fundo, tem a secreta convição que saber/não saber não tem nada a ver com o sucesso futuro, mas para o João isto serão peanuts banalidades triviais. No fundo espera uma pílula miraculosa que resolva os problemas todos do dia para a noite, de preferência sem dor.

    Mas não percebe que nós próprios, individual e colectivamente, somos também parte integrante do problema, da raiz do problema. , é claro, uns ingénuos, que não se resignam, acham até que isto pode ser mudado, o João, lúcido e conhecedor dos meandros do sistema, deve achá-los uns loucos, uns revolucionários por ousarem pensar (pensar, sequer) em (tentar) mudar as coisas. Contenta-se que (lhe) giram a crise, sem ondas. Depois espanta-se quando alguém do calibre do Dr. Lopes chega a S. Bento ou Dr. Pinho é apresentado como um génio. Chegaram lá também por culpa dele, porque se calhar o mundo dele, o mundo que dá a ler - como um dos responsáveis de uma das bíblias do regime - e o que não é publicado e como se não tivesse acontecido, se esgota no micro-cosmos deles.

    Felizmente, o mundo está a mudar, apesar de que.

Publicado por Manuel 16:33:00  

9 Comments:

  1. Anónimo said...
    Ó Manuel, e se parasse com essa mania de dar caça aos que discordam de si? Não é nada bonito e até nos pode levar a pensar que outros motovos o movem, para além da sua falta de tolerância.

    Mario Antunes
    Porto
    Manuel said...
    Qual caça (?), falta de tolerância, qual carapuça!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Já ouviu falar em debate? em confronto de ideias ? Pesquise, vai ver que essas coisas existem.

    A mania de que quem quer que seja que discorde está automaticamente a atacar/insultar terceiros é também um dos sintomas crónicos do mal que se abate sobre este país.

    Capisci ?!
    Anónimo said...
    Não, Manuel, da sua parte não estamos perante um debate ou confronto de ideias. O problema é que você tem-se em tão boa conta que grita (aqui pode sublinhar) certezas sobre tudo.Fala do alto da burra (o termo é seu).
    Mário Antunes
    Manuel said...
    Eu não tenho certezas, meu caro.


    Tenho opiniões e pontos de vista, boas ou más, que exponho como posso e sei, ponto final. Cada um é livre de concordar ou não. Espero é que terceiros a pronunciarem-se se pronunciem sobre a substância e não - única e exclusivamente - sobre putativos excessos da forma.


    Ao menos eu tento defender algo, V.exa é que de tão humilde vai directo ao tiro rasca sem uma palavra, uma silaba, uma letra sequer sobre o substantivo.

    Elucidativo, Não ?
    Anónimo said...
    ó meus caros tudo isso é retórica!!
    este individuo que diz que os privados omitem-se da sua função e por isso tem que assumir o seu papel é de certeza um daqueles iluminados que nunca arriscou um tostão no quer que seja!!!!!!!!!!!!
    Anónimo said...
    ...e por isso o estado.......
    Anónimo said...
    Manuel

    Voçê desta vez impressionou-me verdadeiramente, porque acho que muito do que diz não só é verdadeiro, como também toca nas raizes dos nossos problemas, pois Portugal antes do problema do defice e de economia tem um problema de atitude.
    E, sabe que mais eu com muita frequência não concordo com o que é dito neste blog, mas continuo a aceder e a criticar ou a falar bem quando acho oportuno, pois vejo aqui matéria com interesse e porque também sou daqueles ingenuos que acho que as coisas podem e têm de mudar e além disso tenho opinião e não me demito de a ter! Mas as coisas não mudam por estarmos todos de acordo com as
    ideias que por ai se vão impondo, devemos criticar e mostrar o nossos desacordo quando estámos desacordo. Por isso você fez bem na critica que fez e com isso não retira mérito ao texto criticado, apenas mostra que tem concepçoes e percepções diferentes. É esta essencia do progresso, pois ele não é feito de continunidade, mas sim de rupturas! Por isso vos digo força! Continuem!
    Anónimo said...
    O debate, se for debate, é bom. Mas aqui o Manuel não debate. É como o Coelho, bate!
    Anónimo said...
    O último marrão dos Morangos com Açúcar era um personagem obrigado pelos pais a estudar Medicina quando a sua vocação era o Teatro !

    Não era o marrão normal, portanto.

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