Fiat Lux!

Portugal apanha as modas ocidentais, sempre com atraso. Foi assim, no uso das gangas; no corte de cabelo adiado e nos costumes mais estrangeiros, como sejam a arte suprema de comer carne picada, embrulhada em alface e tomate e metida à força em pãezinhos redondos e amaricados ou em beber uma espécie de água suja com receita de Atlanta.

Nos anos sessenta, o nosso país feminino chorava ao ritmo lento e valsa atenta, do folhear das páginas de fotonovelas. Corin Tellado era nome de Espanha, mas do Brasil vinha o recheio do Capricho e outros romances em fotos quadriculadas, de princesas escondidas como costureirinhas, à espera dos príncipes de poupa e popó a condizer .
Por cá, a Crónica Feminina , publicada em frenético ritmo semanal a partir de 1956, moldava subtilmente a mente feminina, aggiornando-a com sentires estranhos a um povo ainda rural e sem acesso a outros meios de informação mais sofisticados e massificados, apesar da rádio e de um Simplesmente Maria que futuramente se ficou pela simplicidade do nome Maria, numa versão sucedânea da Crónica e que eventualmente a suplantou no coração das leitoras. A sofistificadíssima revista Maria, com apenas 22 anos em 2000, vendia-se a uma multidão de cerca de 300 mil leitor(a)s!! Nenhum outro órgão de comunicação social, com excepção da televisão e mesmo assim, dadas as características do media, com algumas dúvidas o escrevo, se aproximou sequer desse nível de...penetração.
A Maria actual, cobre os mais variados assuntos: "Notícias nacionais e internacionais;Entrevistas com os protagonistas do momento;Artigos de saúde, apresentados de forma esclarecedora e baseados em opiniões de especialistas;Páginas dedicadas ao esclarecimento sexual do casal;Conselhos de moda e beleza, que ajudam a mulher actual a cuidar da sua imagem;Informação televisiva, com os resumos das telenovelas;O bebé do ano;Culinária, decoração e astrologia. "

A imprensa para público feminino só a pouco e pouco abriu algumas brechas no muro da comunicação social masculinizada.
A vulgarização poderá ter começado nos suplementos de jornal. Nas décadas de sessenta e setenta, quase todos os diários dedicavam páginas a secções prosaica e exemplificativamente intituladas “para si, minha senhora” ( Diário Popular) .
Uma revista chamada Eva, em tempos dirigida por José Cardoso Pires , acabou em número único, natalício;das Donas de Casa que passou a Clube das donas de casa, na rádio, ficam as recordações e nostalgias de um tempo passado e já perdido. Ao mesmo tempo e do mesmo passo, à Gente do Expresso, supostamente animada no seu início por um certo MRS, apareceu em concorrência, a revista Gente, actualmente a vender dezenas e dezenas de milhares de exemplares.
No início dos anos noventa, um suplemento do semanário Semanário, retomava um Olá provavelmente inspirado na espanhola !Hola!
Em 1995 aparece a Caras, do mesmo grupo do Expresso.

O que sustenta esta imprensa que supostamente absorve anualmente uma receita publicitária de vários milhões de contos?
Alguma coisa essencial, pois o romantismo assolapado que será de sempre e mais propício ao feitio feminino de amores e desamores e sonhos com príncipes encantados e sapatos de cinderela, não passa com o tempo.
Os tempos mudam; as modas passam, mas a essência do gosto pelo segredo das paixões amorosas bem sucedidas e a curiosidade pelas vidas alheias, em modo voyeur, não passa e vai mudando de revista para televisão; de enredo de fotonovela para a telenovela e de livro para filme e vice-versa.
Porém, ainda assim, muito se andou nesta senda eterna da busca da paz amorosa e do voyeurismo social. Não tenho a certeza se os caminhos foram os melhores, mas uma vista de olhos a certos locais, dá para entender as subtilezas das curvas e contracurvas dos corações a palpitar e das curiosidades da coscuvilhice .
O primeiro lugar, está solidificado neste grupo editorial: o Impala! Vip, Nova Gente, TV7 Dias, Mulher Moderna, Maria, Ana, Ego!
Depois, aparece um grupo discreto e concreto – a Edimpresa, de Balsemão e do grupo Impresa que edita a Caras, a meias com brasileiros da Abril.

Depois também aparece o grupo Soci, do Independente Paes do Amaral, com esse expoente das publicações que tem nome de Lux!

É nestas revistas que se dá a parada semanal de vaidades do país que somos e dos arredores que frequentamos.
Para escrever este postal, comprei a Caras; a Lux; a Tv7dias e a TV Guia. 5,80 euros se somarmos o custo de um jornal diário, para comparar: o 24 H!
Alguns nomes na Caras: Deco,Stéphanie,Lili Caneças, João Lagos,Merche Romero,Fátima Lopes,o casal da presidência da República portuguesa,Dita, Kiki e Botton,Huguete e Umberto, Artur Santos Silva, casal Balsemão( olha! A propósito de um jantar-leilão a favor do museu do Chiado), Bárbara Elias, Nuno Graciano, e…ainda não chegou a meio. Depois, em duas páginas notáveis, Maria Barroso revela como mantém a sua…saúde!
A Lux: Uma Thurman,escritores na feira do livro, Bárbara Norton de Matos,o barão Horta e Costa na companhia dos condes ingleses, António Maria Pereira, Stefano e Maria João Saviotti, Ruy de Carvalho, reportagem do A1 Grand Prix, Carlos Queirós, Vítor Baía e os filhos e ainda nem chegou a meio…que traz um reportagem do casal presidencial num jantar de beneficiência, no Beato e para o CADin. Presentes, o casal Artur Santos Silva e mulher, Mira Amaral e mulher e…Paulo Teixeira Pinto e mulher , esta, numa foto imperdoável.
Na TV Guia, revista que já foi única no panorama das revistas para publicitar programas de tv e que já leva uns bons 25 anos de publicação de material trash, as fotos e reportagens confundem-se com as da…Caras. O elo de ligação, no caso, chama-se jornalista da TVI e o tema é a sua relação com o ex-marido, Iva Domingues,Pedro Mourinho, jornalista da SIC-Notícias.
A fls.6, a revista publica uma foto de costas de Pinto Balsemão, no aeroporto e uma breve nota dá conta de que o tycoon português foi a …Paris! Na semana passada e por causa de interesses políticos! Pois…

Nestas revistas, artistas de telenovela, de filme,personagens vários e ocasionais que a fama lançou para a ribalta ombreiam em quadricomia com políticos e futebolistas.
Algumas dessas figuras são cromos repetidos e que acrescentam valor às capas.
Uma delas é, precisamente, Bárbara Guimarães. A artista de apresentações cançoneteiras e de cultura diletante, ao pé de um filósofo maduro, já reclamou em tempos de uma revista da Impala- a Nova Gente- algumas valentes dezenas de milhar de contos por…por…esta revista ter publicado uma fotomontagem da artista em vestido de noiva!
Actualmente, o par, aparece ocasionalmente em poses de doce enleio e seria curioso saber quantas vezes e a que título fizeram capas ou fotos centrais, neste tipo de revista trash.
Percebe-se o meio. Percebe-se o estilo. Percebe-se a importância de ser marido de alguém mediático.
Tão mediático que o 24 horas de hoje, a pág.7, dando conta da apresentação no CCB do programa do candidato autárquico, escreve no final: “O marido de Bárbara Guimarães está confiante na vitória, nas autárquicas de Outubro” (SIC).

Ah! A primeira página do jornal de hoje, refere um tal João Chaves que também faz a capa da TV7 Dias e é notícia na Tv Guia a propósito da Quinta das Celebridades, para dizer que humilhou um tal Tino. Sim! O Tino que é de Rans. A causa seriam as meias sujas do Tino…
Escusado será dizer que está já tudo no lixo. Imprensa trash quer-se junta com trash.
Pobre país em que as meias sujas do Tino é notícia de primeira página.

ADENDA- Limelight! ( 11h e 30 de 9.6.05)

O 24horas de hoje, não hesita em pôr como notícia de roda pé de primeira página: "Carrilho usa filho bebé para caçar votos".
Na pág. 11 desenvolve e cita o publicista brasileiro Edson Athayde como tendo dito a propósito do vídeo promocional da dandidatura do marido de Bárbara GUimarães que " os melhores momentos dão-se quando o menino está presente."
Fantástico! Para quem até há pouco tempo dizia preservar a intimidade em reserva , a filosofia agora é outra: vale tudo, mesmo usar a imagem de um filho bebé, a soletrar as primeiras palavras e a dizer "papá"!
Filosofias novas, estas e que permitem alargar para momentos pós modernistas, as ideias antigas de recato do privado; daqueles que sendo inocentes, são usados em proveito de adultos maduros e filsoficamente esclarecidos.
Há quem diga que são outros tempos e até o Atahyde, descontraidamente e senhor da sua autoridade mediática, afirma como sendo tudo muitissimo natural, pois, "é uma ideia base da campanha que mostra o candidato com amigos, familiares, incluindo a mulher e o filho". Ecco!
Ontem ou anteontem, quando vi o filmezito na tv, nem reparei que era promocional. Até pensei que tinha sido bem apanhado e ficasse por aí,por esse pormenor de publicidade inocente e ingénua que funciona bem porque em boa fé.
Ficamos agora a saber que não: foi tudo programado; foi tudo realizado; foi tudo pensado até ao enquadramento no sofá para dar a imagem de naturalidade.
Por cá, é novidade. A isto e á falta de melhor termo, chamaria pornografia, no sentido lato de obscenidade.
Devia ser de fazer corar de vergonha um qualquer filósofo que lesse e se lembrasse da sabedoria antiga.




Publicado por josé 22:05:00  

11 Comments:

  1. Anónimo said...
    Que azar ter passado por este blog a esta hora da noite.

    Compreenda-me, notícia que anuncia que posso ver uma foto da mulher de PTP deixa-me, como dizer, pois isso mesmo...

    Amanhã será a primeira coisa a fazer, comprar o pasquim.
    Anónimo said...
    Triste sina: ser eleito sobretudo como marido da Bárbara e Pai do Filho da Bárbara...

    É a Vida... Real...

    PS Ponha lá foto da PTC online... evita que vá tudo a correr comprar lixo.
    josé said...
    Não compre! Se quiser ver, vá directo à pág...que porra! A revista nem sequer está paginada com numeração que se veja. mas a foto está a cinco folhas do meio.
    É uma fota em que predomina um estranho negrume.
    Parece-me. Lamentável, de facto. A moça merecia melhor...
    Anónimo said...
    hummm... e nessas revista de elevada indole cultural e pedagógica vamos poder observar o belo do corpinho do nosso pm, tudo a bem da consciência social claro.
    Anónimo said...
    O circo reluz e combina com o jejum de verão. O pão é dispensável, por enquanto. Na próxima estação a barriga fará soar a hora.
    josé said...
    Este circo dá pão a muita gente.
    A toda a gente do grupo Impala, por exemplo. Centenas de pessoas, capitaneadas por um reclusivo personagem de nome afrancesado e que explorou o nicho de mercado que se vislumbrava no início dos anos 80 e se veio a revelar um filão e para alguns até um filet mignon.

    Sempre existiu da parte da populaça, o instinto voyeurístico em espreitar a casa alheia e em saber da vida dos outros.
    É um fenómeno tão velho que tem sempre aceitação maciça entre os ávidos do circo e o espectáculo das grandezas e misérias alheias sempre foi motivo para um circunspecto páre, escute e olhe.

    De resto, os milhões de contos ( para não ter que multiplicar por cinco) que se gastam em publicidade, nessas revistas, falam por si.
    As agências publicitárias também.
    E assim se cria um sistema que se vai alimentando a si mesmo, de lixo mental que uma sociedade mais
    sadia reservaria para as franjas do lumpen do espírito. Contudo, não é isso que acontece. É nessas revistas que a publicidade investe com toda a força, no domínio de shampôs e produtos de beleza. a mostrar os carros, os móveis, os seguros,os bancos que emprestam o dinheiro para comprar a crédito etc etc.
    Na América também é assim?!
    É. Porém, entre uma Vanity Fair e um National Enquirer há um fosso de credibilidade.
    Por cá, existe uma pequena fronteira que se passa a todo o instante. Basta ler a primeira página do 24 horas....
    Anónimo said...
    dá a impressão de que o sr. jose não vive neste país. gastou um bom par de horas a analisar e a comentar este panorama, esquecendo talvez que na diversidade é que está a riqueza. ninguém o obrigou a ler as revistas, nem à mulher a comprar. é tudo uma questão de escolha. é bom poder escolher. e retirar o que de bom as coisas possam ter. o juízo a cada um pertence. mau é só poder aturar todos os dias a chatice e o cinzentismo que nos dão o dn ou o publico... Mas se o sr. jose analisasse isso talvez não ficasse muito bem visto...
    josé said...
    "Na diversidade é que está a riqueza"! Aí tem razão...mas onde pára a diversidade se o que temos nas montras de quiosques, supermercados ( mesmo em cima das caixas e à vista do passante-cliente) é este trash todo, sem qualquer pudor e a contar-nos as últimas desventuras do parzinho na moda das telenovelas ou do cromo da Quinta, sem falar no marido da Bárbara que aparece com o filhinho ao colo, na feira do livro?!!

    O problema reside aí mesmo- nessa falta de diversidade e que resulta directamente da promoção do lixo, como se fosse iguaria de luxo, em papel couché.
    Como procurei demonstrar, a evolução desde os anos sessenta, é amis uma involução, um abastardamento do gosto, sempre no sentido do trash.
    Pioneiro nesta matéria é a imparável Impala do senhor Rodrigues, Jacques.
    O móbil?! Dinheiro! Só isso, parece-me.

    Desde que vi numa dessas revistas, Lux, Caras, VIP ou Nova Gente, o advogado bloquista, João Nabais, a mostrar a sua casa decorada a preceito e de gosto mais do que duvidoso, com chamada de capa, fiquei esclarecido: é o fim de uma era!
    Os valores mudaram, de facto.~
    O anónimo fala em diversidade. Eu prefiro salientar a rasquice como critério de gosto dominante.
    Há gostos para tudo!
    josé said...
    Além disso, a diversidade desse tipo de imprensa é tão grande que em tempos, durante semanas a fio, prestaram-se a veículos de publicidade de imagem a certos indivíduos acusados de abuso sexual de crianças.

    Fizeram-no despudoradamente, seguindo critérios de duvidosa adequação noticiosa e deixando suspeitas sérias de manipulação a sugestão ou no mínimo carneirismo acéfalo.
    Essa autêntica máquina de publicidade prepara-se agora para atapetar o caminho em relação a candidatos a qualquer coisa e que por qualquer motivo sejam susceptíveis de servir de notícia.
    Porém, tanto atapetam como sujam, se preciso for e da ior forma possível, como é próprio da rasquice em que se movem. Essa predilecção especial pelo critério do que está a dar ou do que dá mais ( em receitas publicitárias, por exemplo), retira-lhes qualquer grau de credibilidade e permite que se possa dizer que poluem o ambiente onde se encontram.
    Mas há quem goste de viver com poluição, lá isso há.
    Anónimo said...
    sr. jose: afinal o que lê? certamente não será aquilo que tanto critica - já não discutindo se tem ou não toda a razão. portanto aí estará a diversidade e a resposta à sua interrogação. se é que lê outras coisas para além das que enumerou e acabou por classificar como trash, metendo tudo no mesmo saco...
    josé said...
    Eu vou dar-lhe o exemplo concreto daquilo que me interessa zero, nesse tipo de leituras:

    Na Lux desta semana ( a tal que comprei e vai para o lixo dos papéis, de onde a fui buscar para comentar isto) vem três páginas com fotos que ocupam a quase totalidade do espaço, a propósito de um "jantar anual de angariação de fundos do CADIn", ou seja, o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil.
    O jantar foi no Beato e o texto da revista dá conta da iniciativa para dizer que lá estiveram 500 pessoas, a presentando imagem do conjunto das mesas e de alguns presentes.
    Estão fotografados, o PR e mulher, acompanhados do presidente do CADIn, Filipe Botton; Alberto e Cristina Romano;Bey e Luís Pessanha, Filipa Garnel e Nuno Lobo Antunes, Luísa e Artur Santos Silva, Paula Teixeira da Cruz e Paulo Teixeira Pinto,Maria José e Luís Mira Amaral e finalmente, numa terceira foto, a mulher do presidente da Rep. e Nuno Lobo Antunes, aí director de uma especialidade do CADIn.

    Nada tenho contra este tipo de iniciativas e muito menos contra este tipo de instituições.

    Porém, a reportagem da LUX é a que é própria a uma reportagem tipo casamento, com as parelhas fotografadas agrupadas para o "passarinho" e com o óbvio objectivo de mostrar as "toilettes" e as figuras dos visados.
    Dir-me-á: e daí?!
    E eu dir-lhe-ei: daí, nada! Sempre houve curiosidade por este tipo de eventos e as fotos publicadas em revistas da especialidade aí estão para o provar.
    Porém, há um aspecto curioso que gostaria de salientar para de alguma modo marcar o meu ponto de vista:
    Em 1973, José Barata Moura, um perigoso esquerdista que actualmente é ou foi reitor da Universidade de Lisboa, a clássica, escreveu e cantou uma canção que em certa parte dizia: "vamos brincar à caridadezinha...festa canasta e boa comidinha..."
    Pois, esta citação fica mal, por tresandar a esquerdismo soixante-huitard, mas a verdade é que o que mudou em trinta e cinco anos, foram apenas, como dizia o outro...as moscas!
    E de merdas deste género acho que já basta!

    Agora, a liberdade de imprensa, a liberdade de comércio, a liberdade do mercado e a regulação deste, natural e imparável como querem os liberais de todo o espectro, aconselham a que se deixe rolar!
    Assim, somos obrigados a gramar, sempre que passamos por uma caixa de supermercado qualquer ou pelo quiosque, com as imagens do pequenito filho da Bárbara e do filósofo e a pensar: coitadito de ti, minha pobre criancinha que não tens culpa nenhuma desta sociedade assumir estes valores tão dignos e coitadita ainda mais por seres educado na observação dos mesmos-por não haver outra alternativa e a diversidade que nos dão afinal ser esta...

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