"- Loureiro, Valentim Loureiro"

A notícia poderia passar desapercebida ou ser encarada como mais um mero fait-divers deste verão abrasador, mas não é, já que será porventura uma das emanações mais explícitas de tudo o que está errado no sistema político português.

Segundo o Público o presidente da Câmara de Gondomar, Valentim Loureiro, fez ontem um inesperado e rasgado elogio ao candidato a secretário-geral do PS José Sócrates, afirmando que "o país num quadro de uma possível alternância ao PSD, continuará a ter um líder sério, competente e responsável". "Não tendo nada a ver com a oposição, mas muito gostaria que ele [José Sócrates] ganhasse as próximas eleições no partido porque acho que é um homem sério, capaz e com uma visão de futuro". O major teve ainda tempo para colocar Sócrates na fileira dos homens "justos, gratos e competentes".

A simpatia de Valentim Loureiro para com Sócrates não tem nada de inocente, muito menos a ver com a hipotética seriedade, gratidão e competência deste, tem as mesmissímas causas que levam batatas - estou a ser simpático - como Narciso Miranda e Manuel Seabra (os inenarráveis arruaceiros de Matosinhos) a apoiarem ambos Sócrates, a mesmíssima lógica que leva a que um juiz cinzento em tempos chefe de gabinete (cargo - note-se - de estrita confiança política) de um secretário de estado de um governo PS a ser nomeado por um governo PSD para director da PJ, o mesmissímo raciocínio que leva à proposta de indescritiveis e perversos "pactos" de (lavagem do) regime.

Nos entretantos a contenda eleitoral no Partido Socialista faz lembrar alguns dos mais radicais filmes pasolinianos ao mesmo tempo que o PSD e o Governo são o que são. De uma forma quiçá perversa talvez venha a ser esta sucessão de episódios surrealizantes que acabe por salvar da Democracia portuguesa.

Voltando a Valentim Loureiro, e ao processo "Apito Dourado", não deixa de ser curioso que este diga não estar ainda em condições de se pronunciar pelo facto de o processo se encontrar em segredo de justiça, mas faça questão de declarar que quando terminar o desfecho deste caso "as pessoas ficarão as saber os verdadeiros motivos que estiveram por detrás de tudo isto". "Ferro Rodrigues falou de cabala, eu não falo de cabala, mas na altura própria direi o que tenho para dizer", prometeu, na convicção (!) de que o processo "Apito Dourado" estará encerrado até ao final do ano. Eu se fosse ao Ministro da Justiça preocupava-me, e muito, com estas últimas declarações. Quem avisa...

P.S. Quem achar que Valentim Loureiro falou de Sócrates e do Apito ao mesmo tempo e por mera coincidência não percebeu ainda nada... O sistema tem destas amizades coloridas.

Publicado por Manuel 16:33:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Olhe Manuel, depois de ler este pedaço de lixo, apenas me apetecia mandar o Nelito para a Puta que o Pariu, mas seria dar-lhe demasiada importância.
    Anónimo said...
    Só para dizer, e porque me apetece fazê-lo, que este Manuel é um homem perigoso... muito perigoso! O que ele nestas linhas diz, e a tradução é literal, logo não assumo qualquer responsabilidade pelo conteúdo, é que o país está tremendamente necessitado de uma Revolução. Porque, claro está, só com uma Revolução é possível garantir que os governos se alternam fora da lógica das protecções mafiosas, fora da lógica intestinal, longe da lógica da diarreia controlada! Alguma coisa não está bem, isso é Seguro, nesta... lógica.
    primo Sousa

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