pontos nos ís ...

Num exercício inédito o Bloguítica decidiu colocar no seu próprio site um "direito de resposta" relativamente a uma prosa nossa ...

A Grande Loja, no seu texto “O Cavalo de Tróia” (19.2.2004), manifestou a sua discordância relativamente a alguns dos meus pontos de vista e acusou-me de falta de lucidez, mimo que passo a retribuir-lhe de imediato…

Tal como a Grande Loja, já se percebeu que por aqui não se grama Pedro Santana Lopes (PSL) nem com molho de tomate.

Tal como a Grande Loja, a razão principal para esta animosidade é o facto de PSL – como muitos outros – representar tudo, ou quase tudo, o que de errado existe na política e nos políticos.

Porém, ao contrário do que afirma a Grande Loja, não se declarou a sua morte política ou a irrelevância das suas posições.

O que não se comete é o erro oposto e no qual cai a Grande Loja: valorizar em excesso a personagem. De resto, excepto numa situação, não existem grandes divergências de análise entre a Grande Loja e o Bloguítica.

A grande divergência, que me permite retribuir o mimo de “pouca lucidez” à Grande Loja surge quando se traça o seguinte quadro:

…o cenário de um golpe de estado interno no PSD, na premissa de que com Santana a líder poderiam existir boas hipóteses de renovar a actual maioria pela coligação no poder não é totalmente invendável ao aparelho.

Isto é puro delírioSe alguém pensa que Santana Lopes poderá chegar ao poder através de um golpe de estado interno no PSD, então, de imediato, perca as ilusões. A queda de Durão Barroso, de acordo com esse cenário, inevitavelmente, seria seguida pela clássica alternância política entre o PSD e o PS. Por muito esfrangalhado que o PS esteja…


Apesar de haver quem humildemente ache que Vasco Pulido Valente é um "nabo" e que apenas "regressou ao seu melhor nível: banalidades, banalidades e mais banalidades." recomenda-se ao Paulo Gorjão a leitura atenta da prosa do Vasco do passado sábado. Está lá tudo, pelo que no delírio estamos muito bem acompanhados...

Mas, para contextualizar, e porque os excessos de realismo, e o culto da realpolitik, a que se costumam chamar cinismo ou calculismo, ou simples comodismo, costumam acabar mal (a história está repleta de exemplos a começar  na tolerância e complacência para com Hitler nos tempos iniciais do seu consulado), e que se manifestam quer na forma complacente e respeitosa como se defende o tratamento da China apesar  dos direitos humanos, no caso a falta deles, quer seja na análise dos fenómenos políticos internos e corriqueiros segue abaixo um pequeno compêndio de "delírios" ocorridos num passado recente ...
  1. Cavaco, o tal que Soares não sabia quem era, ganha o Congresso da Figueira da Foz, basicamente devido a um excesso de confiança da troupe de João Salgueiro. Quando força a queda do Governo de que fazia parte o PSD (o célebre bloco central), recusa uma coligação com o CDS de Lucas Pires (que queria um terço dos lugares) e vai a votos... GanhaOs analistas à época  não davam um tostão furado pelo homem, o PS até só queria mais oito por cento para ter uma maioria. Em dez anos mudou Portugal.
  2. Congresso do Coliseu, epitáfio do cavaquismo. Barroso, o desejado das élites, da Imprensa e do povão, é esmagado por um Nogueira que tinha o aparelho a seus pés.
  3. Barroso, contra o calculismo e cinismo de muitos (incluindo deste modesto escriba) que achavam que era sempre cedo para o reformar, chegou a primeiro-ministro. O desastre está à vista...
Em suma, e no caso concreto do Lopes, nós não descrevemos os factos como gostavamos que eles acontecessem, nós descrevemos os factos como não gostavamos que acontecessem. Os eventos deste fim de semana apenas nos vem dar razão.

Santana, a demonstrar que o seu verdadeiro alvo, não é Cavaco, veio louvar as reações sensatas deste à sua entrevista, e subrepticiamente puxar as orelhas, e ameaçar com um ajuste de contas, aqueles que não compreenderam a sua jogada i.e. hesitaram, leia-se a dupla Barroso/Morais Sarmento, ou que a atacaram explicitamente como Pacheco. As peças começaram a mover-se e não é por acaso que Guilherme Silva diz hoje o que diz ...

Mas o facto político da semana foi sem dúvida protagonizado por José Pacheco PereiraPacheco, embora ressalvando as dificuldades de Durão, veio dizer alto e bom som que são precisas mudanças na estrutura do actual Governo a começar por mexidas na Defesa e Justiça.

Traduzindo para português, isto significa pôr o Dr. Portas como Ministro de Estado ou vice-Primeiro Ministro (sem Pasta), ou então tranferi-lo para outro Ministério dado que a sua remoção do governo é impossível dada a sua qualidade de líder do PP e seu pouco desapego ao poder. Qualquer destes dois cenários é inviável, noutras pastas  o Paulinho iria incorrer invariavelmente nos mesmos comportamentos desviantes que provocam o pedido da sua remoção da pasta da Defesa, como Ministro sem pasta, a sua posição seria fragilíssima já que não se antevê como tal situação se poderia compatibilizar com os tempos de crise que vivemos...

Assim, o que Pacheco vai dizendo é que Barroso não tem condições para remodelar, porque sendo chefe mão manda. Mais umas semanas e ainda vamos ver Pacheco a pedir a remodelação de Durão - é o corolário lógico e natural.

Há apenas uma salvação possível para Durão mas de remota probabilidade: Sabe-se que Portas, e a sua troupe, devida à lendária queda do Paulinho para os números, irritaram solenemente uns certos amigos do Sr. Rumsfeld. Se Durão não andasse a dormir na forma talvez essa irritação lhe pudesse ser muito útil mas falta saber se para os Americanosdiferenças entre Portas e Durão...

Ainda sobre Durão, é suposto o homem saber uma coisa ou duas de política externa. Tem-se visto! A cimeira da Figueira da Foz foi da mais completa palhaçada, amadorismo e rendição aos interesses de Espanha, ao se optar pelo TGV, quando o investimento estratégico da década devia ser o aeroporto da Ota, e antes de Espanha se decidir, já decidiu ?, a construir um grande aeroporto do outro lado da fronteira e que reduziria eternamente o da Portela a mero aeroporto regional... Depois é a inenarrável Teresa Patrício Gouveia, criatura estimável, que percebe tanto de diplomacia como eu de escrita linear cretense. É a apologia do investimento estrangeiro em Portugal por causa... da mão de obra barata, é o ler num discurso solene o introito de um decreto-lei, é o facto de o MNE não ser tido nem achado quando o PM vai a Espanha, e a saca rolhas subscreve uma declaração que serve os interesses de Espanha, é  o  José Cesário que se não existisse teria que ser inventado, é enfim...

Publicado por Manuel 20:01:00  

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