Alguns dos nossos leitores mais impacientes estranham o facto de ainda não se ter aqui comentado a entrevista de Pedro Santana Lopes ao Expresso deste fim de semana.



Em bom rigor o essencial das declarações do Lopes já foi de facto aqui comentado, há vários meses até, (começando em finais de Setembro) o que só por si demonstra a absoluta previsibilidade e rigorosa falta de imaginação desse politico menor que é Pedro Santana Lopes.

Mas o mais interessante, e que parece escapar aos analistas do costume, não é sequer o timing ou o conteúdo das declarações de Santana Lopes per se, mas sim a forma como Santana se enquadra e enquadra terceiros. Sem nunca precisar de citar  Monteiro de facto Santana Lopes advoga um sistema presidencialista puro e duro. Ao afirmar que só ele, e só ele, poderá ser o garante da estabilidade da actual coligação no poder  Santana passa um atestado de menoridade política a Durão e afirma implicitamente que apesar de ser o número dois do PSD sem ele a coligação não funcionaria logo coloca-se desde já num patamar superior a Durão.

Mas Santana diz mais, diz que "não há um só candidato possível, nem para Belém, nem para Lisboa, nem para primeiro-ministro". Ora como não há memória de alguém depois de ter sido Presidente aceitar de ser Primeiro-Ministro na prática o que o Lopes está a fazer é chantagem pura e dura com o actual inquilino de São Bento explicando urbi et orbi que caso o actual líder do PSD não o apoie para Belém então Santana pode ele próprio decidir-se por São Bento. Os calendários eleitorais (no caso os nacionais  e  internos do PSD) jogam a favor deste último cenário, o qual recorde-se foi equacionado aqui nesta humilde loja em devido tempo publicamente e em primeira mão.

Parece também que muita gente ficou chocada com estas declarações que não são mais do que excelente notícias para Cavaco.

Em definitivo  Santana  cometeu a proeza de transformar Cavaco ainda mais num asset  nacional que do próprio PSD (resolvendo-lhe o único handicap e permitindo-lhe entrar pelo eleitorado de centro esquerda dentro) já que ao se afirmar como o santo padroeiro da coligação no poder, e quiçá de uma posterior fusão entre PS e PSD, Santana comete o erro capital de confessar que nunca poderia ser o Presidente de todos os Portugueses.

O mais longe que Santana vê como "sentido de Estado" é, pasme-se, manter os compadres no poleiro o que para um candidato a PR é sintomático...

Mais, e onde alguns analistas de paróquia vêem como um erro de palmatória de Cavaco o cada vez maior divórcio entre este e o aparelho, que não as bases,  do PSD, nós vemos aí  o grande trunfo  de Cavaco.

Tem seguros o eleitorado tradicional de direita, fica imune a eventuais escândalos, à francesa, envolvendo peixe graúdo do PSD, continua imune aos dislates governamentais, e ainda fica com espaço para piscar o olho ao eleitorado que sendo de esquerda tem a sensatez e o sentido patriótico suficientes para reconhecer em Cavaco o Estadista que outros nunca foram. Para o tabuleiro de Cavaco ficar mesmo perfeitofalta mesmo Dias Loureiro aparecer a apoiar Santana (Proença de Carvalho consta que já apoia ...)

Se Santana tivesse algo mais do que garganta, e se estivesse assim tão convicto das convicções que nunca teve, avançava para PR com ou sem Cavaco na corrida, mas Santana sabe que nesse tabuleiro não tem hipóteses e por isso joga tudo contra Durão. Durão que, desde já, se vê confrontado com o seu número dois (!?) a dar por consumada e garantida uma nova coligação para as próximas legislativas, facto derivado da forma trapalhona e apressada como deixou negociar a coligação já para as próximas europeias. Durão que vê hoje no Público José Luís Arnaut, pela pena de Helena Pereira, ter a lata de afirmar que a entrevista no Expresso foi sincronizada com ele, Durão que, mais uma vez, perde espaço para fazer uma tão necessária remodelação já que o liliputeano Portas está de novo numa posição de bloqueio.

Mas há um outro motivo, inconfessável, para Santana aparecer agora a cantar de galo contra CavacoSantana Lopes tem telhados de  vidro e, se o impossível acontecer, desde logo está  encontrado o autor da cabala contra Santana, Cavaco claro está. O facto do Lopes não fazer perder um nano segundo que seja de sono ao Professor é um detalhe para quem sempre se habituou a viver de aparências ...



P.S. 1.
se Durão aparece como vítima é porque fez a cama onde hoje está deitado. O mesmo Durão que , no El Pais, ética na demissão de Martins da Cruz, é o mesmo que é incapaz de demitir essa nódoa absoluta que é José Cesário, que acabou de despachar para conselheiro para assuntos sociais em Londres, um compadre cansado da vida no coração da União Europeia, etc, etc, etc ... 
P.S. 2. O patriotismo é muito bonito, mas se Belmiro decidir pôr o Público à venda, entre a Cofina e o grupo Prisa, do El Pais, preferimos claramente estes últimos ... e em nome do interesse nacional!
P.S. 3. Anda muita gente a gastar tinta com o encontro do Beato. A coisa começou, e acabou, com o discurso de António Borges, o único que sabe o que quer e para onde vai. Borges  foi o único a perceber que as reformas tem que ser feitas por dentro do sistema, e apesar  deste, não contra ele, os outros mais pareceram membros do COPCON travestidos de neoliberais de aviário. Carrapatoso e Mexia bem que se podem desfazer em lágrimas ...
P.S. 4 Teresa Caeiro é o Pedro Santana Lopes de saias do PP, e não estamos a falar de política. Tendo em conta que aquele é o Partido de Mariana Cascais, a coisa até tem a sua piada. Viva a Hipocrisia...
P.S. 5 O autor do Irreflexões não gosta de Souto Moura. Prefere porventura o regresso do Príncipe ou da Santa Inquisição, que agia por inspiração pretensamente divina.
Nós não dissemos que estávamos sempre de acordo com as decisões de Souto Moura, e nem sempre estamos, apenas que estamos convictos de que este as toma sempre de acordo só e apenas com a sua consciência, e princípios, e não tendo em conta interesses superiores inconfessáveis ... Para estas bandas é quanto basta.



Publicado por Manuel 00:49:00  

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