daquí se transcreve com a devida reverência a nota que se segue ...

Saramago e o escândalo

Leio no JN de hoje que José Saramago revelou que o seu novo livro Ensaio sobre a lucidez vai ser "um escândalo dos diabos". Além disso, fiquei também a saber que o livro irá ter uma edição de 100 mil exemplares.
Para além do facto do título conter, para mim, alguma ironia, pois, como é que alguém que demorou 40 anos para fazer uma crítica ao regime cubano pode querer fazer um ensaio sobre a lucidez, parece-me que Saramago ao forçar sobre a nota do "escândalo" é porque nada mais tem de relevante a dizer-nos e por isso resta-lhe apenas o escândalo.

Ou então, tendo em conta o número de exemplares da edição, tudo não passa de uma estratégia de marketing. Saramago devia lembrar-se do que diz Boileau (inspirado em Horácio) em L'Art Poétique, III, vv. 269-274:

Que le début soit simple et n'ait rien d'affecté.
N'allez pas dès l'abord, sur Pégase monté,
crier à vos lecteurs, d'une voix de tonerre:
«Je chante le vainqueur des vainqueurs de la terre.»
Que produira l'auteur après tous ces grands cris?
Le montagne en travail enfante une souris.

Será que Saramago grita por escândalo e, depois, tudo não passa de uma tempestade num copo de água? O futuro dirá...

Publicado por Manuel 00:13:00  

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