Carta semi-aberta, registada com aviso de recepção ao Paulo



Caro Paulo,

Vou tratar-te por «tu», porque isso falar com alguém na terceira pessoa sempre me pareceu coisa de «tias» e mesmo algo abichanado. Escrevo-te esta missiva, na media em que fiquei perplexo com uma reportagem que li numa revista da nossa praça. Eis que ao folhear tal publicação de referência, chapo com um texto sobre a tua tropa de choque. Até aqui nada de mal. Mas ao ler tão suculento naco de proza, reparo que esse esquadrão não tem uma mulher. Perdão!, tem uma, mas só responde a e-mails. O que me leva a perguntar: Paulo, onde estão as cotas?

Sim, as cotas. Essas mulheres cheias de pujança para trabalhar, com disponibilidade para qualquer serviço, com mais disponibilidade ainda para serviços de e para o Estado. Por isso, fiquei triste, desapontado, com azia, um desconforto a percorrer o meu corpo. Será que o teu partido não respeita as cotas? Quero acreditar, em bom rigor (agora já pareço o Pacheco Pereira) que respeita, mas falta uma aplicação prática dos conceitos.

Vi e revi as fotografias do batalhão e - com toda a naturalidade - atravo-me a dizer que são todos bem parecidos. Bem...Todos não! O teu conselheiro para a guerra fica mal no postal de família. Mas se pensarmos bem, o burro e a vaca não encaixam bem no presépio. São dois elementos pouco estéticos para um momento tão nobre.

Depois, lembra-te que atravessámos tempos conturbados. A sociedade portuguesa está emergida numa desconfiança cognitiva, ou lá o que isso é. É preciso parecer sério. E, como bem sabes, o ditado diz que não é o homem de César que além de ser, tem que parecer - é a mulher. Ou seja, a teoria das cotas já remonta à Roma Antiga e os romanos sempre foram muito dados - ainda que com algumas influências da Grécia - às questões da política.

Aceita este meu conselho: refresca esse batalhão. Dispensa alguns e contrata algumas, de preferência cotas. Olha!, acabou de se me ocorrer, que tal falares com a tua amiga da piscina? Parece-me uma boa ideia. Ela pode realizar castings com as amigas. Já tou a imaginar esse teu grande edifício decorado com a mão de arquitectos de interiores, umas festas no Verão,um corropio de militares a marcarem audiências, só para terem cinco minutos de conversa com as cotas. Já imaginaste a verdadeira alegria que se viveria nesse edifício cinzento? Isso sim, seria «Portugal em Acção». Repara no exemplo do Mendes, cujo gabinete é já conhecido por «Portugal Fashion».

Por outro lado, quando os tipos da cave andassem a fazer escutas, imagina uma dessas cotas a dirigir-se ao «escutódromo» e pegar num microfone e dizer: «Olá Tozé, sou eu! Estou a ouvi-lo a falar com o Fé. Ai que voz que você tem ao telefone». Seria uma (perdoa-me a palavra) uma diarreia de riso. Enfim...

Finalizo com votos de que escutarás e reflectirás nesta minha proposta. Temos que ser modernos, aderir ao «http», ao «outlook», ao «Kazaa» (experimenta fazer uns «downloads» de uns filmes, também com cotas), e deixar essas coisas arqueológicas como a «Nação», «os valores», a «agricultura» (lavoura, lembras-te?), as comunhões nas missas em que os santos são substituídos por fotografos. Enfim. Vamos a eles, perdão, a elas!

Um grande abraço deste teu amigo

Sousa (elemento do GOEDOPB)

Publicado por Carlos 21:39:00  

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