O manguito

Torna-se impressionante, pelo facciosismo que revela, o artigo de Vital Moreira no Público de hoje, sobre os resultados das eleições açorianas.
A refulgência de encómios à maioria absoluta do PS, com futuros reflexos nacionais, no desejo explícito do cronista, só encontra paralelo, na completa ausência de referências, ao aspecto mais saliente dessas eleições: a abstenção brutal dos açorianos, neste processo eleitoral.
Para quê falar nisso, se a maioria absoluta, está garantida com 20 % dos votos dos que querem manifestar a sua escolha política?
Por isso mesmo, aqui fica a crónica de Manuel Pina, no Jornal de Notícias, para lembrar o "óbvio ululante" ao obnubilado escriba da causa:

Apesar de, mal foram conhecidos os resultados das eleições de domingo nos Açores, todos os partidos sem excepção, cada qual com o seu argumento, terem clamado vitória, mais de metade dos açorianos (exactamente 53,24%) não foram às urnas. Ora quando a grande maioria dos eleitores acha que não vale a pena votar seja em que partido for, e faz um grande e bordaliano manguito a todos eles, só por total falta de pudor algum pode mostrar satisfação.
Pode ser-se cínico, como fez o socialista Carlos César, e dizer que só conta quem vota, nem que, acrescento eu, vote apenas uma clientela de meia dúzia de pessoas. Mas a César o que é de César: o PS irá governar o arquipélago em maioria absoluta com a confiança de apenas pouco mais de 20% dos governados (40 mil, em mais de 192 mil eleitores inscritos). E isso devia ser motivo de preocupação e não de jactância. O futuro parlamento açoriano, para ser materialmente, e não só formalmente, representativo, deveria funcionar com mais de metade das cadeiras vazias. Os que irão sentar-se nelas usurparão uma representatividade que, na verdade, não lhes pertence.

Publicado por josé 12:44:00  

1 Comment:

  1. TAF said...

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