Crises e crises

A propósito de crise económica, e da compreensão da sua extensão, origem e reflexos, interessa ler e ouvir quem sabe da poda, por experiência e saber teórico combinados. Não quem arremeda conhecimentos obtidos em leituras apressadas ou opiniões de feição e muitas vezes facção, como estamos fartos de ver, ouvir e ler nos media.

A Pública de hoje, tem uma "conversa" com o antigo governador e vice-governador do Banco de Portugal, ( logo em Abril-Maio de 1974), depois ministro das Finanças ( em 1978-79) Jacinto Nunes.

O que o mesmo refere a propósito da crise cambial, com graves reflexos financeiros que atravessámos, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, com a fuga de capitais e a carência de divisas, para pagar mercadorias importadas.
Lendo a conversa, percebe-se melhor ( clicando na imagem). E torna-se ainda mais compreensível perceber como é que um país passa de uma situação invejável de crescimento económico,- segundo o blog Portugal Contemporâneo, de 11,2 % ao ano- embora também em época de crise anunciada, para uma situação de ruptura completa de divisas e dificuldades gravíssimas de cumprimento de compromissos, pelo Estado.
Jacinto Nunes, refere a existência de ouro, no Banco de Portugal, que nos salvou da bancarrota, auxiliando os outros bancos. Como agora...

Interessante, porém, é verificar que logo no mês de Maio de 1974, o governo provisório de então, criou uma Comissão de Controlo do Comércio Externo, com a finalidade de evitar a fuga de capitais e regular o abastecimento de produtos fundamentais.

A leitura do texto copiado da revista O Século Ilustrado de 18.5.1974, ao lado ( clicar na imagem) permite entender melhor, porque é que nessa altura se fez uma lista de "artigos de luxo", ( os primeiros são as lagostas e lavagantes...) de importação condicionada, através de burocracias de bri´s e que favoreceram nos anos seguintes, o aparecimento do contrabando como fenómeno generalizado...


























Mais interessante ainda: em 25 de Outubro de 1973, o Diário de Notícias, trazia uma entrevista em formato broadsheet, ao então presidente do Conselho, Marcello Caetano, por João Coito ( saneado logo a seguir, claro) , onde se falava abertamente dos tempos de crise que se aproximavam e do futuro que afinal ficou redefinido seis meses depois, nos termos que acima ficaram apontados.
Nessa entrevista, Marcelo Caetano, define as suas ideias sobre vários assuntos, incluindo a sua noção do papel da iniciativa privada e do Estado, na economia, cujo excerto se apresenta ( clicar na imagem). Curiosamente, este país que então estava em crise, crescia mais de 11% ao ano ( como a China, agora) e segundo a revista Time da época ( Novembro de 1973, em artido tendencioso sem assinatura, mas da presumível autoria de Martha de la Cal) , gastava em esforço de guerra " fighting insurgents", cerca de 35 a 40% do seu Orçamento e tinha cerca de 1 milhão e meio de emigrantes nos países europeus. De tal modo estava em crise que um certo Balsemão, patrioticamente, declarava à revista que "o nosso único competidor é a Albania. Até os países do leste europeu, já nos ultrapassaram"...
Sem dúvida. Anos depois, nem muitos, o mesmo Balsemão era primeiro-ministro. Com os resultados que se conhecem...




Publicado por josé 21:12:00  

2 Comments:

  1. Waco said...
    Curiosa informação. Se calhar é por isso que os tipos são tão vilependiados pelos 'balsemões'... esses, lá do 'grupo de amigos'...
    zazie said...
    Cá está mais um postal do José para guardar.

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