Um Círculo de quadrados ceo ou a vodka que alaranjou


A leitura do Diário Económico de hoje, é deprimente. Pelos seguintes motivos que nos atestam como país de quarto mundo:

Para Jorge Coelho, como para muitos gestores e ex-políticos, a passagem do público para o privado é um acto natural. Do conjunto de administradores das empresas do PSI 20, 10% já passaram por um ou mais governos. Alguns, fizeram carreira na banca, passaram para o Governo e voltaram à banca, como fez Armando Vara na Caixa Geral de Depósitos e no BCP. Ao todo, metade das vinte maiores empresas nacionais têm administradores que ocuparam cargos no Executivo. Olhando para osvinte CEO, só cinco assumiram funções em governos liderados pelo PS e PSD.

É assim que o Diário Económico encara o assunto da transferência do participante no programa de tv, Quadratura do Círculo, para a actividade empresarial, tipo executivo de topo. CEO, como se usa agora dizer.

Há uns tempos atrás, João Cravinho, outro socialista que abandonou o Parlamento e a intervenção política directa, passando para uma instituição financeira internacional e pública, por designação governamental, disse que o core business, da corrupção, em Portugal , residia mesmo no coração do Estado.

Um ex-Secretário de Estado deste governo, Amaral Tomás, avançou um pouco mais. Afirmou que algumas das mil maiores empresas, praticavam activamente o desporto nacional de fuga aos impostos, com a maior das naturalidades.

Ainda segundo o Diário Económico:

Contactados pelo Diário Económico, Pina Moura (antigo ministro das Finanças e actual presidente da Média Capital e da Iberdrola) e Manuela Ferreira Leite (administradora do Santander e também ex-ministra das Finanças) recusam-se a falar sobre o tema."

Vejamos o caso singular da... Cimpor, segundo aquele jornal:

A Cimpor é um caso paradigmático. “A maioria do conselho de administração da Cimpor passou pelo Governo, mas não me recordo de todos”, conta fonte oficial da empresa, que sublinha o facto de esta ter pertencido ao Estado: “Os membros eram todos nomeados.” No fundo, é tudo uma questão de “elasticidade”, segundo um destacado empresário que ocupou cargos políticos. “

E outro ainda: Luís Filipe Pereira, o ex-governante de Cavaco Silva ( não temos salvação alguma):
Quando criei os hospitais SA, tive uma preocupação com a gestão dos recursos”, diz Luís Filipe Pereira, que garante ter sido melhor ministro da Saúde (nos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes) precisamente pelos vários anos de experiência que tinha como gestor. “Tive muitas propostas quando sai do ministério”, diz.

Os adubos da Quimigal e os choques eléctricos da EDP, deram-lhe o arcaboiço intelectualmente necessário para governar e agora para administrar a Efacec, depois de ter passado pela CUF e de ter administrado coisa na Saúde pública. Com muitos milhões de permeio, enterrados no sistema.

Dir-se-á: são os melhores! A nossa elite. A vida das empresas e dos negócios é assim mesmo.

É mesmo assim?! Então fiquemos por este pequeno apontamento do próprio Mira Amaral, sobre alguns destes génios das lâmpadas da fortuna:

Falou Mira Amaral: “O Paulo Teixeira Pinto quando chegou ao Governo nem sabia o que era um banco e o Pina Moura o que era energia”, lembra o ex-ministro do Trabalho, que quando foi convidado por Cavaco Silva para ganhar 600 contos no Governo, em 1985, recusou o dobro que uma empresa privada lhe oferecia. “

Numa entrevista de época, Mira Amaral, perguntado que carro gostaria de ter um dia, respondeu candidamente: Um Mercedes 200 kompressor. Era então governante. Hoje, deve ter ultrapassado o seu então proclamado standard do luxo automobilístico, com toda a certeza.

As minhas perguntas continuam a ser as mesmas, tendo em conta que este panorama é o retrato mais perfeito que podemos ter de quem nos governa e das elites que os escolhem, nos últimos trinta anos:

Antes do 25 de Abril de 1974 era pior do que isto? Não? Então para que serviu a Revolução?

Para fazermos um país de bananas? Ou de laranjas, no caso, com algumas rosas de permeio?

Porca miseria.

Não entendem que é precisamente por causa disto que aí fica descrito que estamos atrás de todos, na Europa? Que somos um país submergente em vias de nos cruzarmos com os emergentes, na descida aos infernos da desgraça colectiva?


Nota: a imagem é da Rede. Tirem os figurantes e ponham lá quem quiserem desse círculo de amigos quadrados. E tenham vergonha! Muita vergonha. Que o medo, esse, já não têm.

Publicado por josé 18:20:00  

3 Comments:

  1. miguel said...
    Depois do descalabro em que colocaram o país,podem ser contratados por serem os melhores?!
    Quem percebe isto?
    AM said...
    Aquilo que para alguns poucos é "no fundo" "uma questão de elasticidade", é, para muitos outros (no fundo...), a questão de continuar a votar com o cinto cada vez mais apertado...

    Sobre o assunto dos "especialistas" do ISCTE:

    http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324524&idCanal=59
    Laoconte said...
    Mas não é da tradição histórica que a nobreza(clássica ou arrivista) está isenta de quaisquer impostos?
    Com efeito, ao longo da nossa história, sempre foram os homens bons, como tu e eu, que suportavam, suportam e suportarão os encargos do reino!
    Sem (antes) ou com (ora) Constituição, a tradição mantém-se inalterável.

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