O Vasco do Restelo

Não vale a pena! Isto foi sempre assim, desde Fontes Pereira de Melo, pelo menos.

E ainda poderia dizer-se mais: no Estado Novo, era mesmo assim e no novo Estado a que chegamos, continuamos no passado.

Portanto, se continuamos assim-assado, não há meio de cozinharmos uma democracia com os condimentos certos. Aliás, parece que lá fora, também o cozido é à portuguesa.

E como uma “parte considerável do sector privado vive, de facto, de apoio e dos favores do Estado(...) não se acaba com esta situação arranjando um bode expiatório. Sacrificar Jorge Coelho às frustrações da Pátria não resolve nada.”

É este o teor do artigo de Vasco Pulido Valente, no Público de hoje. Um discurso de conformismo de Estado que derrota qualquer ideia regeneradora.

Um discurso de velho do Restelo, portanto.

Tomemos, para contraste, a notícia de primeira página do Público:

Estado comprou pro 485 milhões sistema que podia ter custado 250” .

Refere-se ao famigerado SIRESP, sistema de comunicações de segurança e emergência, adquirido pelo governo de Santana Lopes, sob orientação de Daniel Sanches, antigo magistrado do MP, no DCIAP, antes director do SIS e do SEF, depois, empregado de três empresas da Sociedade Lusa de Negócios, e do BPN, como administrador por conta da Plêiade, ministro entre 2004 e 2005 e depois disso, membro de pleno direito da sociedade civil.

A notícia da adjudicação do sistema SIRESP, três dias depois das eleições que deram a vitória à actual maioria em Fevereiro de 2005, por um valor noticiado de cerca de 600 milhões de euros ( ou 538, segundo outros), daria origem a polémicas e a um parecer da PGR que considerou nulo o acto de adjudicação, ao mesmo tempo que assegurava a legalidade do mesmo, nos seus trâmites processuais.

Por causa disso, António Costa, então ministro do MAI, sucessor de Daniel Sanches, manteve o negócio, conseguindo no entanto, um valor mais consentâneo com um desconto substancial: ficou em 485,5 milhões de euros. Menos 100 milhões de euros, quase.

As investigações da PJ e do MP, entretanto deram em nada. Não se descobriu fumo de corrupção e por isso, o incêndio anunciado ficou apagado. Incêndio arquivado.

Agora, vem um especialista, o presidente de um consórcio que perdeu o concurso, a Siemens, dizer que afinal, por metado do preço, teria feito a mesma festa.

E explicação que dá para ter perdido a oportunidade de deitar foguetes, é curiosa e merece leitura atenta, no Público de hoje: em resumo, declarou que o concurso foi organizado para evitar riscos. Um deles, exigia o pagamento de uma caução de 5 milhões de euros. À cabeça...

Publicado por josé 23:23:00  

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