A profissão de fé.


Vital Moreira assina hoje no Público, um artigo de meia página, com duas colunas e meia, em que declara a sua fé inabalável no virtuosismo da esquerda. Para tal, menciona a palavra “esquerda”, vinte uma vezes, incluindo as dos títulos do artigo.
Vinte e uma vezes, para afirmar a ideia de esquerda, em parágrafos como este:

“a esquerda não pode sacrificar a sua perspectiva própria a uma visão tecnocrática, alheia aos seus valores políticos, culturais, ambientais, etc” .

E dá exemplos seguidos, da ideia de esquerda:

A modernização de infra-estruturas, deve levar em conta a ideia de esquerda de defesa do ambiente e coesão territorial; a modernização da economia, para além do aumento da produtividade, tem de levar em conta a ideia de esquerda de “luta pelo emprego e pela sua qualidade e justiça nas relações laborais”; outrossim pela ideia de esquerda de “ obrigações de serviços públicos” nos “serviços de interesse económico geral”.
A modernização da administração pública, tem de assegurar a ideia de esquerda, de melhoria dos serviços públicos para toda a gente. A modernização do sistema político não pode “perder de vista” a ideia de esquerda, “de renovação da democracia, o incentivo a uma maior participação, o aumento da transparência e da responsabilidade política e a descentralização territorial”.
Mas, quanto a esta ideia de esquerda, a pedra de toque continua a ser a “modernização do Estado Social”. Aí sim! A Esquerda esplendorosa, manifesta-se em toda a sua magnificência, para se distinguir da direita vil e apagada que de tão triste, só mostra a cara no “neoliberalismo”. Por isso, a luta da esquerda contra a direita, continua a ser o caminho certo do politicamente correcto.
Com uso da linguagem adequada. Neste caso, vinte vezes, em poucas palavras.
É esta a concepção que Vital Moreira tem da ideologia política, da Esquerda e da Direita.
Tal como os antifascistas só vivem da luta contra o fascismo, também a esquerda vitalícia não prescinde de mitos e lutas contra moinhos de vento.
Com uma pequena correcção, agora introduzida por Vital: entre a esquerda, há também a chamada “ tradicional”. Não a define, só lhe chama tradicional, apontando-lhe o vício do conservadorismo (!) por se opor às reformas profundas, encetadas por esta esquerda moderna que defende os serviços sociais do Estado como uma obrigação pública de “satisfação de direitos sociais de todos, aliás constitucionalmente garantidos” e que garantem o “bem.-estar, a coesão social e a igualdade de oportunidades.”

Eis, aqui, brevemente explanadas, as ideias da esquerda moderna em pouco mais de vinte palavras resumidas.
Ficamos todos mais inteirados, sobre a ideia de esquerda e do que significa tal conceito.
É por isso que devemos considerar a Alemanha, a França, a Espanha, a Itália e mesmo os países nórdicos, como sendo países de esquerda.
Ou, numa designação antiga que agora parece nada convir a esta esquerda moderna, simplesmente social-democratas.
Mas essa subtileza ideológica, agora, interessa nada. O que agora interessa, mesmo, são designações úteis para captar incautos, em alturas de perigo eleitoral. Ideia de esquerda, contraposta a ideia de direita. Toda a gente percebe; simplifica os termos de qualquer discussão e arranja votos para quem é amigo do estado social, num país pobre e desamparado de ideias politicamente válidas, com sucesso sustentado. Há anos que por cá se vive destes mitos e lêndias, como praga que tarda em desaparecer.
O conceito de social-democracia, porém, já existe há muito e abrange diversas correntes políticas. Aparentemete, está fora de moda; ou simplesmente, não entra nas categorias ideológicas de Vital Moreira.
O corolário lógico deste sectarismo de Estado, é simples de enunciar:
Em Portugal, só há um partido de esquerda moderna, e já se sabe qual é. Os outros, ou são da esquerda conservadora, tradicional, incluindo por isso, os dissensos internos no partido da esquerda moderna, coisa ultrapassada portanto, ou são simplesmente de...direita. Tramontana. De fugir a sete pés.

Que figura!

Publicado por josé 10:58:00  

3 Comments:

  1. Laoconte said...
    Da ideologia política percebo pouco, mas parece que tanto a nossa esquerda como a nossa direita esqueceram-se de combater a sério a corrupção.
    osátiro said...
    E o mesmo VM proclamou que a esquerda devia comemorar os cem anos da República com a legalização dos casamentos "gay"...
    É mesmo falta de grandes projectos!!!
    zazie said...
    É isto mesmo, José e até parece bruxedo porque o estava a dizer sem ter lido o post.

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