Tiro no escuro

Os militantes do PSD preferiram Menezes. Estão no seu direito mas, na minha modesta opinião, escolheram mal.

A ausência dos «notáveis» teve efeitos ainda mais arrasadores do que pensei. A culpa deste tiro no escuro é, essencialmente, do discurso populista e demagógico do novo líder dos laranjas, que aproveitou o esfrangalhamento completo do PSD para lançar um canto de sereia aos militantes, prometendo-lhes «mudança», «combate» e «vitórias», quando sabe, perfeitamente, que não tem quaisquer condições de se bater de igual para igual com Sócrates em 2009. Aliás, nem terá condições de dominar um partido que, em grande parte, não se revê nele e o olha com desconfiança.

Mas, justiça lhe seja feita, Menezes teve, pelo menos, o mérito de ir a jogo. Ganhou quase por falta de comparência de quem lhe bateria facilmente e soube ser o beneficiário da ideia (surpreendentemente maioritária) dos militantes de que com Marques Mendes não regressariam ao poder tão cedo.

Ainda mais responsáveis por este desastre são, obviamente, os putativos candidatos que não quiseram dar a cara na hora difícil, a tal «elite» que não gosta de sujar as mãos.

O PSD não soube esperar. Entre o facilitismo de Menezes e a consistência de Mendes, preferiu o facilitismo. Marques Mendes pagou demasiado caro a sua falta de carisma (indiscutível), mas também alguns erros que cometeu e não soube corrigir. Perdeu espaço de manobra na longa caminhada a que se propôs fazer e que poderia permitir a reconstrução da credibilidade do partido.

É incrível como o mesmo PSD que permitiu que se chegasse ao cúmulo de ter Santana Lopes como seu líder e, por consequência, chefe do Governo, não aprendeu a lição e, dois anos depois, eleja um político quase tão inconsistente como PSL.

Pode até ser que caia até lá, mas se Menezes chegar a 2009 como líder, José Sócrates poderá já festejar, com quase dois anos de antecipação, a sua segunda maioria absoluta.

Vai uma aposta?

Publicado por André 15:37:00  

4 Comments:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    De facto há, em tudo isto, uma sensação claríssima de "déjà vu".

    Mas o certo é que, se «Na primeira qualquer cai, na segunda cai quem quer»...
    MARIA said...
    Caro André:
    Pese embora esse resultado, acabo de ler na Lusa Digital que o acto eleitoral foi anulado e vai ser repetido .
    Afinal parece que alguns têm que ser tidos em melhor conta nos cadernos eleitorais do PSD. Terão decidido aceitar os Monges ?...
    Vamos aguardar pelas cenas dos próximos capítulos...
    Um beijinho
    Maria
    Joao Quaresma said...
    Já não resta margem para qualquer dúvida de que a Direita (e consequentemente a Democracia) precisam urgentemente de um novo partido, sem relação com os actuais PSD e CDS. Portugal vive hoje no que se pode designar sem exagero num regime de partido único, até porque por mais descontentamento que haja, há em igual medida uma aceitação tácita da situação, por falta de alternativas.

    Se ao menos o Compromisso Portugal deixasse de ser apenas um grupo de reflexão...
    Rui Corrêa said...
    Como militante do PSD, acredito que o maior vitorioso destas eleições foi José Sócrates.
    Com Menezes, quase que não tem de se preocupar a fazer campanha daqui a dois anos.
    Mas a democracia tem disto. Pena é as bases não estarem mais informadas.

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