A crítica dos críticos, parte 2.


A imprensa de hoje, refere a efeméride da morte de Elvis Presley, faz agora precisamente trinta anos.

A diferença entre estas três décadas, relativamente aos media, reside num aspecto curioso e que se banalizou, mas ainda impressiona: a quantidade de informação disponível sobre o assunto, seja a factual, seja a meramente opinativa, aumentou exponencialmente, à medida em que se vulgarizou o acesso à informação em Rede que permite além do mais, facilitar a informação em papel e suporte vídeo.

Sobre Elvis Presley, existe hoje em dia, uma quantidade de informação avassaladora, acrescida pela publicação dos seus discos, colectâneas e reedições sucessivas que acrescentam algo muito importante e que em 1977 não existia deste modo: o conhecimento da música do artista, em praticamente todas as gravações disponíveis e a preços acessíveis, quando não de graça, através dos canais certos da Rede.

Mesmo assim, que podemos ler acerca da música do intérprete que dominou a era do rock n´roll, naquela meia dúzia de anos em que durou? Considerações sobre o “rei”, afirmações de princípio, em segunda ou terceira mãos e opiniões de quem, não tendo vivido o tempo original, inventa as memórias que nunca teve, copiando as de outros.

O Público de hoje, cita John Lennon, através de outros citadores não nominados para dizer que “antes dele, não existia nada”, como se o disco do próprio Lennon, Rock n´Roll, publicado em 1975, não fosse uma compilação de músicas contemporâneas do aparecimento de Presley na cena americana, algumas delas ( Hound Dog, de Jerry Leiber/Mike Stoller ou Be bop a lula de Gene Vincent ou Ain´t that a shame de Fats Domino), anteriores ao próprio sucesso de Elvis…tal como Chuck Berry ou Fats Domino e principalmente a primeira gravação tida como o primeiro êxito do rock n´roll: Rock around the clock, de Bill Haley and the Comets, de Julho de 1954.

Para citar todos estes nomes, basta dar uma olhada rápida à Rede e relacionar factos e acontecimentos históricos, narrados em profusão em diversos sítios, a abarrotar de informação.

Nenhum jornal ou revista portugueses, hoje em dia, suplanta esta fonte de informação, que se espraia da Rede. Qual a diferença, então, que se poderia e deveria ler, nessa imprensa? A opinião abalizada e bem escrita, sustentada com os factos histórios conhecidos ou potencialmente conhecidos de todos os que se interessam. E com citação expressa das fontes e dos locais mais aprazíveis para se saber mais. O que nem é difícil, porque o Google e a Wikipedia, permitem essa facilidade até aos mais inexperientes.

Infelizmente, não temos por cá, seja quem for que mereça a atenção devida, para realçar essa diferença de modo escrito. Temos, em quantidade mais do que suficiente, quem faça recopilações de opiniões allheias, e recolha textos de outras fontes de informação. Alguns, a maioria, fazem-no sem sequer citarem as fontes originais, onde foram buscar directamente a informação. Outros, erigindo-se em decanos da escrítica, citam a formação livresca e revisteira, porque a jornaleira só adviria de um Melody Maker desaparecido de vez ou de um New Musical Express já transformado. Os escribas originais desses jornais, reciclaram o papel antigo e escrevem agora em revistas mensais, como a Uncut, a Record Collector, Goldmine ou a Mojo, ainda as melhores fontes de informação original, porque aí escrevem aqueles que viveram a época, ouviram os discos e viram os concertos.
Desta vez, o artigo do Público sobre Elvis Presley, cita a revista inglesa Mojo como fonte da inspiração citadora, o que parece ser novidade, ainda tímida e desgarrada ( a citação vem no fim e no miolo nada se lê com referência directa). Veremos amanhã, no artigo de fundo da Ípsilon, quem aparece citado…

Nota em 17.8.2007:

Afinal o Público, na Ípsilon de hoje, apenas publica a crítica ao disco de Elvis Presley, Elvis the King, da autoria de Mário Lopes.

O escrito, assinado por quem já me surpreendeu positivamente, uma vez ou outra, vem logo referenciado na abertura: a All Music Guide, enciclopédia online que também se consulta em papel, em livros especializados por géneros. A edição de 1997, que foi a segunda, sobre o Rock, tem mais de 1200 páginas, com entradas em letra minúscula.

O escrítico, porém, padece das mesmas enfermidades apontadas acima: reposita referências estereotipadas, sem a alma de uma crítica pessoal à música, ou o estilo que a suplantaria como acontecia no caso do MEC.

Ficamos assim à espera de algo diferente do que se pode obter na Rede, confirmando a noção de que a informação, sendo interessante, precisa de apreciação crítica diversa do lugar comum de há muitos anos a esta parte.

Publicado por josé 18:54:00  

1 Comment:

  1. MARIA said...
    O Elvis também é uma daquelas pessoas de quem não é fácil falar e dizer realmente alguma coisa...
    Por isso reservei para este espaço particular, o que hoje, em homenagem a ele e à minha mãe que certamente, só ideologicamente com ele, terá sido infiel ao meu pai, achei que ainda devia ler a respeito de Elvis.
    É sempre com profunda admiração que se podem ler os seus escritos, seja neste tipo de temas, seja nos demais que fazem desta Loja um lugar tão especial, reconhecido , mesmo quando se não queira citar como fonte ...
    Saudações
    Maria

Post a Comment