retórica para políticos

«Não me resigno nem me conformo na batalha pela qualidade da democracia portuguesa», afirmou Cavaco Silva na sessão solene do 25 de Abril, no Parlamento, em que defendeu a necessidade de uma «classe política qualificada» e «critérios de rigor ético, exigência e competência».
Lisboa, 25 Abr (Lusa) - O primeiro-ministro, José Sócrates, elogiou hoje o discurso do Presidente da República, considerando "muito apropriado" o apelo aos políticos para que "unam esforços" a favor da "qualidade da democracia".

Estes indivíduos, eleitos para representar o povo português, notoriamente não têm qualquer emenda. Evidentemente, julgam-se acima dos critérios éticos que apresentam aos outros como modelo e perante as evidências gerais de incongruência e contradição, apresentam as superiores razões de Estado como critério supletivo e justificam a inconsistência, com os interesses do povo que eles mesmos interpretam, obliterando os princípios que proclamam e sufocando a obrigação de lealdade à Constituição que juraram cumprir.
A lógico e coerência deste tipo de discursos, perante aquilo a que vamos assistindo e que comentadores insuspeitos como Santana Castilho, no Público de ontem, Marcelo Rebelo de Sousa na RTP e hoje Rui Ramos, no mesmo Público, entre muitos outros, já disseram, vale um zero à esquerda, porque é daí que o desvalor aparece.
Na segunda-feira, no programa Prós & Contras, na RTP1, a propósito das intervenções da entidade de inspecção económica nos restaurantes, mercados e feiras, falou-se em contrafacção de merdadorias. Um vendedor ambulante, cigano, desanimado pela intervenção da fiscalização que lhe apreendeu a mercadoria contrafeita, desabafou para a câmara: “se isto que me levaram é contrafação, então o diploma do primeiro ministro também não é contrafacção?”

Hoje, em Portugal e numa sintonia inédita em mais de 30 anos de democracia, entre intelectuais e povo em geral, a questão das habilitações do primeiro ministro de Portugal aparece pacífica: a honorabilidade política do primeiro ministro é insustentável e inseparável da questão de carácter.
O presidente da Republica, enquanto cidadão que vive em família normal, uma vida normal de português médio, sabe muitíssimo bem que assim é. Então, porque não é? Porque não lhe convém? Porque não convém a quem o apoiou? Quem o apoiou foi o povo em geral. E mais ninguém. Então porque é que não ouve o povo? Ouça os filhos, ao menos...

O discurso hoje, na A.R. pelo primeiro de todos os portugueses, representou apenas os portugueses sentados à sua frente. A maioria deles. E mais ninguém.

Publicado por josé 14:17:00  

1 Comment:

  1. Ljubljana said...
    Este post vem na sequência daqueloutro "golpes...no estado". Eu, que desde que adquiri direito de voto (há 24 anos,) sempre fui votar porque a minha consciência de cidadão assim mo impunha. Desde há algum tempo para cá (2 anos aprox.), ela me impele exactamente em sentido contrário, precisamente pelas razões que muito bem descreve nestes posts. Esta não é a democracia em que eu acredito, é sim a democracia deles, da classe política.

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