Golpes...no Estado

O doutor António José Morais, concede hoje ao DN uma entrevista estruturada que apresenta já uma equivalência: a entrevista do primeiro ministro, José Sócrates, à RTP1, acerca do seu percurso académico.
Sobre as equivalências de Sócrates que o fizeram passar em ascensão fulgurante, do ISEL para a UNI, e aí, surpreender num exame, o ex-futuro reitor que antes de o ser já o era, ninguém melhor do que o estruturado Morais, doutor com distinção e louvor, para a explicar: tinha sido professor do distinto aluno, no ISEL, avaliou as suas competências e equivalências e voltou a ser seu professor de quatro das cinco cadeiras, na UnI quando já estava a dirigir um importante Departamento de Obras do Governo ( GEPI), nomeado por confiança política e a quinta cadeira que faltava, ficou a cargo precisamente do reitor que não era, parece que não é, mas passa agora por sê-lo.
Tal fenómeno surge ainda com toda a naturalidade e legitimidade com que leccionou, examinou, classificou e graduou o futuro licenciado, a um glorioso Domingo. O actual primeiro ministro não se lembrava da efméride, como não se lembrava sequer dos seus dois únicos professores. Não conseguiu dizer o nome deles ao Público, quando foi perguntado. Passavam já muitos anos, cerca de onze e o primeiro ministro é pessoa ocupada com outras obras para ligar a tais minudências, como sejam exames finais de conclusão de curso, domingueiros ou o pormenor banal de ter tido como professor das quatro cadeiras que faltavam, alguém que nos anos a seguir esteve estreitamente ligado ao governo do PS, sendo repetente, por convite de um ministro que Sócrates mal conhece, Alberto Costa e amigo de outro que Sócrates ainda conhece menos, Armando Vara.
O reitor que não era, também não era o professor legítimo da cadeira, cuja prova escrita foi enviada pelo aluno acompanhada de um pequeno cartão do “seu Sócrates”.
O professor legítimo da cadeira feita por correspondência, já afirmou nem conhecer Sócrates como aluno e o reitor que então era mas deixou de ser, nem sequer fala dessa vergonha. O reitor que era mas não era, foi preso por crimes contra o património e anda agora de TIR e a Uni já foi considerada por outros insuspeitos como uma espécie de universidade, o que foi confirmado pelo ministro das mesmas.
Com tudo isto e muito mais que aqui agora não cabe, o doutor estruturado, afirmou agora convictamente que a “licenciatura do cidadão José Sócrates foi obtida regularmente, cumprindo todos os requisitos da instituição”. Os requisitos da instituição vamos sabendo como eram; sobre o cumprimento dos mesmos, também. Sobre a veracidade da afirmação, vale o que vale, vinda de quem vem.
A entrevista precisa assim de análise, equivalente à do PM, na RTP1.
Logo a abrir, o doutor Morais atira-se à estrutura dos jornais que atacam Sócrates. São dois: o Público e o Expresso e descobre-lhes nas notícias que publicam, intenções socapadas de subversão do estado democrático.
A principal prova da acusação intencional, reside num facto singelo apresentado como de evidência estruturante: “O director do Público, José Manuel Fernandes, disse, na SIC, que já corria o boato de que o jornal estaria de algum modo a cumprir determinações dos seus accionistas, por causa da OPA da PT. Foi ele que disse, não fui eu...”
Observação de grande inteligência lógica. Repare-se bem no pormenor fatal de se repescar a defesa do director do Público, na SIC, para afirmar que fora ele mesmo quem dissera que havia alguém que já dizia que corria o boato de que o jornal estaria a soldo do Belmiro por causa da Ota, perdão, OPA.
E o discurso estruturado do doutor Morais realça: “foi ele que disse, não fui eu…”
Sócrates disse mais ou menos o mesmo na RTP1: mostrou papeis de pagamento de propinas, para acusar a ignomínia de quem dissera que não tinha pago, suscitando ele mesmo a questão de um putativo favorecimento por essa via. Veio a saber-se depois que terá ficado isento de pagamento…

Depois , o doutor Morais, não lê jornais: ao dizer que “viu só dois jornais como motor de campanha”, nem se deu conta dos outros todos que seguiram atrás a empurrar, a meter gasolina, a limpar os faróis e medir a pressão dos pneus.
Ainda assim, o doutor Morais é peremptório na evidência cabalística: “ É evidente que o fulcro dessa tentativa são os grupos económicos”, embora reconheça que “Provavelmente nunca se vai saber quem são os autores desta campanha. Você nem sabe quais são os seus objectivos. É derrubar o Governo? É pressionar o Governo? É orientar o Governo? A mim parece-me que esta campanha, que está especialmente centrada em dois órgãos de comunicação social, não é só uma campanha pessoal. Nem é só retaliação sobre o primeiro-ministro. É muito mais do que isso.
Ora aqui, nesta parte, deve reconhecer-se toda a razão ao doutor Morais, malgré lui. O que está em jogo é mesmo muito mais do que isso. Arriscaria mesmo dizer que é um assunto da sua especialidade, a geotecnia. É um caso de tremelique de estruturas, precisamente as do sistema em que vive e prosperam os doutores morais que deixaram infelizmente a moral por mãos alheias e se refastelam no pântano anunciado por quem lhes abriu o caminho para as otas pantanosas e com obras de estaca.
O caso Sócrates é de facto, um caso de moralidade ético-política, o que o doutor Morais não entende de todo, convencido que está de mais uma cabala ignóbil que atinge a bondade intrínseca de um partido que lhes dá quase tudo na vida.
Vejamos algumas razões mais, para a sua admiração, rebuscadas no perfil pessoal que apresenta e nos antecedentes que evoca.
O Doutor Morais, antes de ser professor de Sócrates, não o conhecia sequer. Embora natural da mesma terra das cerejas onde Sócrates cresceu e se fez homem, militantes do mesmo partido, com amigos comuns, Morais só encontrou Sócrates, pela primeira vez, no primeiro dia de aulas no ISEL. Entrou na sala, deu a aula, viu o então modesto deputado e no final foi apresentar-se. Foi assim. Sobre isto, alguém duvida? Veremos.

Segundo o Público de hoje, António José Morais e um seu monitor, serão arguidos num processo crime, aberto em 1999, por factos ocorridos em 1996, no âmbito de concurso de adjudicação de um aterro sanitário na Cova da Beira, ocorrido em Junho de 1996, a uma empresa ( HLC) da qual António José Morais, fora consultor, enquanto exercia o cargo público de director do GEPI ( gabinete de estudos e planeamento de instalações do Ministério da Administração Interna, do qual era então ministro, Alberto Costa).
Segundo o Público de hoje, “em causa estava também o papel atribuído a José Sócrates e a alguns socialistas a ele ligados, como João Cristóvão”. Os factos respectivos a este inquérito demoraram oito anos a serem investigados ( pela PJ) e o mesmo terá sido remetido ao DIAP ( ou será o DCIAP?) com proposta de acusação, por crimes de “favorecimento e corrupção”.
Sobre isto, a entrevista do doutor Morais ao DN, é parca de esclarecimentos. “Parece que houve uma denúncia anónima contra mim, a que se seguiu a abertura de um inquérito judiciário. Foi há oito anos. Fui ouvido uma vez. Não sei exactamente do que se trata porque as perguntas foram vagas.”
E explica então como foi: “A minha empresa foi contratada pela Associação de Municípios da Cova da Beira para a elaboração do caderno de encargos, especificações e desenvolvimento de todo o modelo conceptual à volta do concurso público internacional para a central de combustagem da Cova da Beira, e do tratamento da selagem de lixeiras. Realizamos o trabalho, e seguiu-se o concurso.”
O concurso foi ganho por um consórcio de que fazia parte a empresa HLC , para a qual, segundo o Público, também trabalhou Couto dos Santos que agora, curiosamente, aparece a defender o primeiro ministro, contra o líder do seu partido…
A intervenção de António José Morais, na consultadoria é apresentada de modo muito curioso pelo próprio: “ A minha empresa nunca produziu para a HLC os trabalhos referidos pela comunicação social. A minha empresa foi contratada para realizar estudos semelhantes aos que havia realizado para a Associação de Municípios da Cova da Beira para outras centrais de combustão, mas contratada por uma empresa estrangeira. Acho que as notícias vindas a público pretendem apenas pressionar os magistrados para deduzirem uma acusação. Porém, eu acredito na independência da justiça.”

Quanto à sua entrada no GEPI, em 1996, do ministério titulado por Alberto Costa, no tempo em que este dizia que a polícia que havia e em que mandava, não era a dele, o mistério é nenhum: “Fui para o GEPI por alguma capacidade do PS de base que fez sentir a Armando Vara que um membro do secretariado da comissão política de Lisboa tinha capacidade para desempenhar tarefas a nível governativo. Por isso apostou em mim. Só saí do GEPI quando o PSD ganha as eleições. O lugar é de extrema confiança política.”
Foi certamente por isso que em 2005, Alberto Costa o chamou outra vez para um lugar de confiança política, para o IGFPJ do ministério da Justiça. E António José Morais, explica: “Acha que se tivesse realizado um mau trabalho no GEPI ele me convidaria para o IGFPJ? Os senhores jornalistas é que com uma frase matam o trabalho de dezenas de pessoas. Os jornalistas andam a publicar peças que não representam a qualidade do trabalho ali realizado. Estou de consciência tranquila”.
Ora sobre esta tranquilidade de consciência, os jornalistas do Público, têm-se esforçado por chamar a atenção dos leitores para as obras do GEPI: “A empresa Cosntrope que em 2000 e 2001 construiu a moradia de Armando Vara em Montemor o Novo ( e que teve, segundo o Público, a colaboração do GEPI), conseguiu nesses dois anos 27 adjudicações de obras do GEPI, então dirigido por António Morais, o professor de José Sócrates que Vara nomeou para esse lugar em 1996.”
Uma das obras, fora a remodelação de um palacete na Pontinha, para albergar a futura e funesta Fundação para a Prevenção e Segurança, de Armando Vara.
Nessa obra, segundo o Público, interveio ainda uma arquitecto, colaborador e sócio de António Morais, numa empresa deste.
Em 2002, António Morais abandonou o GEPI, após uma auditoria e nos anos seguintes, as contratações da Constrope, segundo o Público, caíram a pique. Em 2005, em vez das 27 dos dois anos de ouro, teve… duas. Ainda assim, a empresa , em 2005, estava no ranking das 500 maiores empresas de construção civil e obras públicas, num honroso 101º lugar.
Talvez por causa disto tudo, António José Morais, tenha dito logo no início da entrevista que “Acho que estamos a assistir a uma tentativa de golpe de Estado, através da comunicação social.”
“Golpe de estado”?!
Por mim, acho que aquilo a que andamos a assistir, de há uns anos a esta parte, são, golpes, sim, mas …no Estado que nos pertence a todos.

E os golpistas tardam em ser identificados devidamente. E responsabilizados.

Publicado por josé 18:29:00  

7 Comments:

  1. lusitânea said...
    Linda teia de interesses em que o erário público paga e os beneficios vão para particulares, mas com raros processos e mesmo estes lentos e destinados a uma oportuna escla algures.Portanto só os jornalistas e os blogs estão a mais neste processo...
    Bem da fama já não se livram pois que como dizia o maior mestre de sempre em política o que parece é.
    O problema é que isto está tão tentacular que vai ser muito difícil acabar com este cancro, que alguém diz consumir cerca de 30% do PIB.Coisa pouca não é?
    Com uma clientela tão grande e generalizada quem de facro se insurja arrisca-se a "levar".Como parece já ter acontecido.
    zazie said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    zazie said...
    Excelente trabalho, José. Se não cairem, pelo menos, muito direitos já não ficam...

    Máfia desgraçada
    josé said...
    zazie:

    Só para esclarecimento de um ou outro fuxiqueiro que apareça por aqui, gostaria de deixar bem explícito que não faço parte dos cabalistas.

    Este caso parece-me exemplar desde que foi exposto pela primeira vez em 2005, pelo António Caldeira.

    Exemplar daquilo que não deveria ser um primeiro ministro e do exemplo que nunca deveria ser dado por quem se apresentou como um modelo para o rigor, a competência e a vontade de trabalhar para o bem do país.

    Estes casos avulsos que se vão conhecendo, são uma vergonha e nem são exclusivo deste governo.

    O país continua, no entanto a tolerar este grupelho de poucas pessoas que governam e se cooptam entre si. Os nomes são já explicitamente evidentes.
    Daqui, a meu ver, só virá a desgraça, porque são cegos a guiar outros cegos.
    E o pior é que acho mesmo que eles sabem que o são.
    Cronista Oficioso da 3R said...
    Quem se mete com o ps leva... e quem se mete com o js ainda leva mais.
    Já não bastam os funcionários / profissionais das corporações que no exercício dos cargos de nomeação governamental tratam dos serviços de informações e insegurança, como os funcionários de um jornaleco oficial se atiram, ao domingo interrompendo os seus tremoços, a quem denuncia a podridão do seu estado ... provavelmente enquanto mastins obedientes à espera de, graças ao dono, e com uma cunha da dona atingirem uma glória fácil...
    zazie said...
    José, cabalistas é que o mais há e costumam identificar-se facilmente.

    Quando mostram a camisola mostram-se muito justiceiros com os outros. Quando escondem a camisola, são todos muito indulgentes com a poltranice própria.
    zazie said...
    Este comentário foi removido pelo autor.

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