Contar para viver

O director do semanário O SOL, José António Saraiva, escreve na revista Tabu desta semana, uma espécie de texto desconstrutivo, sobre a polémica (alimentada aliás pelo próprio jornal que dirige) do percurso académico de José Sócrates.
Começa por explicar às crianças e lembrar ao povo adulto, como é que tudo isto começou, numa abordagem algo marxizante, porque tributária de uma certa concepção de luta de classes que conduziu à separação do ensino técnico das escolas comerciais e industriais, do ensino nos liceus de antigamente. Em resumo, nos liceus estavam os ricos; nas escolas técnicas, os pobrezinhos.
A seguir, conta a sua anedota habitual, com vários episódios e de riso garantido. Leiam:

(...)Foi mais ou menos esta a história de José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, que tanta tinta tem feito correr e afinal se resume a muito pouco.Fez o liceu na Covilhã, como os meninos ‘ricos’. Mas o encerramento, a seguir ao 25 de Abril, da Faculdade de Engenharia do Porto, onde o pai o tinha matriculado, levou-o a inscrever-se num curso médio que lhe dava apenas direito ao título de ‘engenheiro técnico’. Assim, mais tarde, como milhares de outros engenheiros técnicos, Sócrates sentiu necessidade de ter um curso superior, de usar o título de engenheiro sem complexos por não o ser verdadeiramente – e matriculou-se numa universidade que, por não ter grande exigência, não o obrigava a muito trabalho: a Universidade Independente.Deram-lhe as equivalências que entenderam dar (justas ou injustas), fizeram-lhe os exames que entenderam fazer (concedendo-lhe mais ou menos facilidades) – e Sócrates lá ficou engenheiro sem a palavra ‘técnico’ à frente.
À semelhança de muitos outros agentes técnicos, regentes agrícolas e contabilistas por esse país fora, José Sócrates quis limpar essa ‘nódoa’ do seu passado, esse ferrete que significava para quase todos uma marca de classe.Isso constituirá um crime?E que necessidade há de remexer na ferida, de lhe atirar à cara que antes não era bem engenheiro e hoje o é por favor?No fundo, aqueles que atacam Sócrates fazem-no ou por uma mal disfarçada ‘superioridade de classe’ – como quem diz: tu não és um dos nossos – ou por um certo sentimento de inveja – por não se terem formado e não quererem que Sócrates passe por ser mais do que eles.
A mim, a licenciatura do primeiro-ministro não faz nenhuma confusão. Admito que tenha havido aqui ou ali uma certa facilidade. Mas isso terá importância para encher páginas e páginas de jornais ditos ‘sérios’? E quantos alunos se formaram em universidades privadas e públicas sem terem o mínimo de capacidades para serem doutores ou engenheiros?Compreende-se, por todo o envolvimento social, que Sócrates tenha querido ter um canudo. Mas isso não o faz melhor nem pior primeiro-ministro. E quantos têm um canudo que ninguém contesta e não serviriam sequer para dactilógrafos da presidência do Conselho de Ministros?

Publicado por josé 19:04:00  

2 Comments:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Apaguei o meu comentário porque estava redigido em tom de protesto - e ao reler o texto em causa com mais atenção fui forçado a reconhecer (ou, pelo menos, a suspeitar) que, afinal, se trata de um exercício de humor.

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