O salazarismo também nunca existiu

Os textos de João Medina, na segunda metado dos anos setenta do O Jornal, foram lufada de erudição, em direcção à esquerda que então predominava em todos os media, com avassaladora preponderância na formação das ideias comuns que nesse tempo se formaram.
Quem lia os semanários, Expresso, O Jornal, O Sete, Vida Mundial, e outros pequenos avatares da esquerda comunista como o Sempre Fixe, tinha a certeza de encontrar nas suas páginas artigos de opinião e pequenos ensaios que espelhavam sempre a realidade nova, surgida após o 25 de Abril: a unicidade do pensamento esquerdista e de pendor socializante. O semanário Tempo que sobrevivia com O Diabo, num nicho para indefectíveis do antigo regime, e outros que não se esqueceram, não chegava para formar opinião. Além disso, não tinha sequer quem a produzisse em termos aceitáveis pelo público comprador.
Não será demasiado arriscado adiantar que a liberdade de expressão e opinião, como direito de elites e massas jornalísticas indiferenciadas, a produzir ideias próprias e reprodução copiada das alheias, garantiu um quase unanimismo no panorama dos media, dos anos setenta, com alargamento por todos os oitenta. Vislumbrou-se a primeira nesga de diferenciação, apenas no final dos anos oitenta, com o aparecimento do semanário Independente, dirigido pela dupla Portas-MEC.
Como é que isto foi possível? Quer dizer, como foi possível, a redução do espaço de opinião pública, a uma simples corrente ideológica, bem marcada à esquerda e que absorveu todo o leque da esquerda radical até á mais moderada e social democrata?

Um dos sinais marcantes, nos media, dessa redução opinativa a um clube de bem pensantes, todos do mesmo lado ideológico, é um texto de João Medina, de Maio de 1976, publicado no O Jornal. João Medina, numa entrevista à Sábado de 18.1.2007, dizia que “Salazar era mau português”. E denota-lhe um fascismo que particulariza, citando Afonso Lopes Vieira, ao chamar ao ditador Estaline de sacristia. O retrato de Salazar, por João Medina, é um retrato tipo Bacon: distorcido e com acentuação de certas cores. Os retratos naturalistas, são outra coisa, evidentemente. À falta de foto, são os que se aproximam da realidade natural. Salazar, por João Medina que cita outros que lhe interessam citar ( como Álvaro Lains e até F. Pessoa é visto por um prisma que realça apenas as cores sombrias da rusticidade, do labregório que chegou a Coimbra, vindo do seminário e com leituras parcas; um bisonho avesso a relacionamentos pessoais e pequeno e que na definição de Pessoa era um materialista católico e um ateu-nato que respeitava a virgem.
O retrato parece demasiado foto-maton para o desejável realismo e para escurecer ainda mais o papel do ditador, desde 25 de Abril de 1974, para a opinião genérica, expressa em inquéritos de rua e para os continuadores do pensamento correcto, não passa de um émulo dos fascistas.
No entanto, no texto publicado no O Jornal de 28.5.1976, apanhava o que lhe parecia o tique fundamental do regime, para lhe negar a característica fascista típica: um regime tradicionalista, conservador. E cita o ditador, tirando da leitura do livro de António Ferro- Salazar, o Homem e a obra, de 1933, o texto: “Concordo com Mussolini…em Itália, mas não em Portugal. A violência pode ter vantagens, mas não é na nossa raça nem com os nossos hábitos.” Se nem no início da década de 30 Salazar assumiu o fascismo, que dizer das décadas que seguiram e dos factos que se conhecem?
Aqui fica o texto de João Medina:

Publicado por josé 19:46:00  

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