estád(i)os de (des)graça

A propósito da última crónica do José, sobre 'o Expresso judiciário', parece-me que esta peca por - muito - defeito. Com efeito, objectividade, em Portugal, salvo as excepções do costume, é coisa que não existe, nem convém ter, seja na política, muito menos no jornalismo. Ninguém é promovido ou louvado, por ter ou não ter tido razão, por ser competente ou incompetente, mas simplesmenter por ser 'próximo', 'amigo', deste ou daquele. Com efeito, ter opiniões, posições, demasiado vincadas, e sem estarem próximas, e devidamente abalizadas por esta ou aquela seita, é meio caminho andado para o ostracismo. Olhando para a justiça, as regras são muito simples - A ou B tem boa imprensa, na exacta medida em que tem uma relação 'próxima' com esta, e vice-versa. Se A ou B fazem, ou deixam de fazer, se são ou não competentes, se estão há demasiado tempo na berra sem mostrar resultados palpáveis, isso, para a 'nossa' imprensa é irrelevante, desde que, no dia a dia tenham 'dicas' sobre que escrever, nem que as de hoje sejam o oposto exacto das de há um mês atrás. É assim na justiça jornalística, como é assim no jornalismo económico, e no político. A objectividade da análise dos factos que se desejaria, e imporia, é substituída, pela mera citação do sound-byte, da (in)confidência, dos protagonistas. Em suma, a troco de uma mão cheia de nada a nossa imprensa demite-se da sua função, ficando cada vez mais refém dos timings e agendas de protagonistas, de facções a agências de comunicação, quando não do próprio rídiculo. Até o 'mercado' da opinião, está também devidamente balizado, num estranho sistema de quotas, onde o que menos conta é o que de facto se opina. Nesta óptica, a 'nossa' imprensa não é de facto melhor nem pior que aqueles que a rodeiam, pelo que se calhar está aí, nessa cobardia confortável, uma das causas profundas da crise que atravessa a imprensa portuguesa. No fundo, no fundo, estão todos acomodados, à espera que seja o 'outro' a dar o próximo passo. Palpita-me que quem, no seio da nossa imprensa, começar por aplicar - realmente - a si próprio a 'exigência' e o 'rigor' que diz esperar daqueles sobre os quais notícia, será o primeiro a sair do estado pantanoso em que actualmente se encontra. Até lá, é o circo, o Big Brother até volta em Março...

Publicado por Manuel 11:35:00  

1 Comment:

  1. António Balbino Caldeira said...
    Tempos de cobardia, Manuel.

Post a Comment