do contra, porque sim

Ao contrário do José, abaixo, eu não acho que o Público tenha mudado, muito menos para melhor. Continuou na mesma. Mais, à sua maneira as alegadas mudanças no Público dão-nos um excelente retrato do que está mal em Portugal, circa 2007. Ninguém, em seu perfeito juízo compra um jornal apenas porque este é bonito, ou feio, compra-o, nesta era do online, porque quer valor acrescentado, qualidade, e nessa frente rigorosamente nada mudou, o quer era bom continua lá, o quer era mau, também. Não mudou a liderança imperbe, não mudou o espírito, não mudou a filosofia, mudou a casca (skin como dizem os ingleses) simplesmente. As 'mudanças' no Público não são diferentes das 'reformas' do eng. Sócrates, ou da fixação deste na Finlândia (antes a moda era a Irlanda), são antes mais um triste retrato da indigência nacional. Como não há, quer da parte dos responsáveis editoriais, quer do proprietário, a mínima ideia do que é que deve ser um jornal, de referência, no sec. XXI, copia-se, t#ao somente, sem dó nem piedade. Desta feita copiou-se o Guardian, só que Portugal não é a terra de sua majestade, nem a cópia honra particularmente o original, antes é o retrato da nossa habitual miséria. A mim, como leitor, interessava-me é que mudasse a filosofia e o espírito. Mais que um chorrilho de conceitos (e tal como no Sol, alguns - bons - até estão lá) um jornal tem que ser consistente, coerente e não fazer 'bluff' no seu relacionamento com os leitores, e com a sociedade. É no fundo, uma questão de visão, de disciplina, e de 'quality enforcement', de um somatório de coisas, que não se 'vendo', se sentem, no dia a dia. Ora, neste novo Público, como no velho, 'vendo-se' muita coisa, sente-se o quê ? Modernidade ? Originalidade ? Aumento de qualidade/profundidade ? Qual é o valor acrescentado ? A cor ? A Catarina Portas, como colunista ? A sério ? A titulo de rodapé compare-se o paleio do director do Público, antes/após/durante a remodelação com estas, bem recentes, do publisher do New York Times, em Davos. Por cá mudou-se, porque sim, para fazer frente a uma série de problemas, e paradigmas, que (já) não fazem sentido, e vão fazer cada vem menos. A culpa, claro, não é toda de José Manuel Fernandes, que nestas coisas mais parece - às vezes - uma espécie de Lili Caneças do jornalismo, sempre à cusca da última moda, daquilo que vê como última 'tendência', esquecendo-se que a essência de estar na moda é ser... minimamente original. A culpa, é - maioritariamente - de Belmiro de Azevedo, que uma dia acordou, e quis ter um jornal de referência, sem nunca ter sabido, muito bem por quê e para quê. A Belmiro faltou e falta um estratégia - multimédia e multimedium - que dê sentido a um projecto como o que podia ser o do Público, como lhe falta humildade para perceber que às vezes falha, e para assumir o erro, preferiu fugir para a frente e assinar mais um cheque... em branco. É por estas, e por outras, que chegando lá perto, nunca há-de chegar, qual Ícaro, lá ao alto, às estrelas, falta-lhe a humildade, e a coragem, de corrigir a trajectória a meio, de mudar o que é preciso. Ser teimoso, às vezes não é mesmo uma virtude, mas agora já não estou só a falar do Público...

Dito isto, o Público mudou, viva o Público. Afinal ter razão antes do tempo, é tão mau como estar errado, eu, é que sou do contra, porque sim.

Publicado por Manuel 11:01:00  

1 Comment:

  1. Zé Luís said...
    Eu iria mais longe, além de Belmiro: hoje, com vários patrões de Imprensa em Portugal, nem se importam de perder dinheiro nem se incomodam com o vazio de conteúdo dos seus jornais. De Paulo Fernandes (Cofina) a Joaquim Oliveira (Lusomundo), tal e qual como Belmiro. E em qualquer deles se operou o facelift que não alavancou as vendas.

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