À paulada é mais prático

O escritor britânico Ian McEwan, foi alvo de uma notícia no jornal inglês Mail on Sunday, do passado Domingo, a qual eclodiu rapidamente em acusações públicas de plágio, em jornais “sérios”, como o Times e em múltiplos blogs e comentários dispersos.
O jornal nem mencionou a palavra plágio. Apenas referiu semelhanças entre a obra de McEwan, Atonement, e a de Lucille Andrews, No Time for Romance.
A notícia tem fonte anónima.
Contudo, plágio é a palavra em curso, nos debates profusos que se encetaram logo, nos media.
Algumas das frases que sustentam a acusação são estas:

Excerpts from Atonement (Ian McEwan)
. . . she had already dabbed gentian violet on ringworm, aquaflavine emulsion on a cut, and painted lead lotion on a bruise . . .”
“. . . practising blanket baths on life-size models — Mrs Mackintosh, Lady Chase, and baby George whose blandly impaired physique allowed him to double as a baby girl.”
“These bandages are so tight. Will you loosen them for me a little . . .There’s a good girl . . . go and wash the blood from your face. We don’t want the other patients upset.

Excerpts from No Time For Romance (Lucilla Andrews)
Our ‘nursing’ seldom involved more than dabbing gentian violet on ringworm, aquaflavine emulsion on cuts and scratches, lead lotion on bruises and sprains.”
“. . . the life-size dolls on which decades of young Nightingale nurses had learnt to blanket bath. Mrs Mackintosh, Lady Chase and George, a baby boy of convenient physique to allow him to double as a baby girl.”
“Go and wash that blood off your face and neck . . . It’ll upset the patients.

Na busca ao Google, com as palavras "McEwan plagiarism", foi em vão que busquei palavras como “cobardia”, “difamação”, “anónimo abjecto”, “libertinagem”, na miríade de referências. Estranhamente, não se vêem. O máximo que se pode encontrar é este texto, interessante e revelador. McEwan também já se defendeu no Guardian e estranhamente, também não fala de pauladas, calúnia ou de tribunal...

Por cá, tente-se a busca com as palavras “Miguel Sousa Tavares plágio”e veja-se o que resulta...
Escusado será dizer que por cá, o que aconteceu a Miguel Sousa Tavares, com a discussão que nem chegou a haver, com o alto patrocínio dos bonzos do jornalismo pátrio, é outra loiça.

A diferença, parece-me, será assim como a que pode existir entre a porcelana inglesa, de servir chá e a louça das Caldas, para o caldo entornado, os manguitos, os frades de burel manhoso e as surpresas no fundo das canecas.
Talvez seja essa uma das diferenças que nos separa da civilização. Estamos ainda um pouco atrasados.

Publicado por josé 21:16:00  

5 Comments:

  1. Maria said...
    O José esqueceu-se de usar a palavra "inveja" e "invejosos"!..

    Achei brilhante esta parte "com a discussão que nem chegou a haver, com o alto patrocínio dos bonzos do jornalismo pátrio, é outra loiça." Porque realmente foi o que aconteceu. A discussão mais séria que houve foi com o Provedor do Público mas infelizmente passou completamente ao lado da questão já que se discutiu apenas a credibilidade do blogue.

    Muito bem observada a diferença no comportamento da imprensa entre o caso português e o inglês. O José daria um excelente comentador ou cronista.
    Maria said...
    O título do post também está genial. hahahahaha!..
    Ljubljana said...
    Nem mais. E o MST a encher o peito. quantos são? quantos são?
    Cristina said...
    muito bom, como sempre.
    josé said...
    Fica aqui o comentário de Fátima Rolo Duarte, enviado por e mail:

    "Boa Noite,

    E lá voltamos nós, quase, ao mesmo. Não se lê o livro mas lá se vão buscando nas opiniões dos outros matéria para, de certa forma mansinha, opinar. Lanzmann leu «Les Bienveillantes» da forma que lhe foi possível, ou seja, à volta dele mesmo e isso topa-se à légua.

    Para o José do queijo, segue glosa tipo «Abrupto feito pelos leitores»: O Goncourt não é um prémio literário importante. O Goncourt é O Prémio, O Acontecimento e, já agora, o Grand Prix du roman de l'Académie française é O Prémio, que isto de Nobel chez les Gaulois é, como sabemos e até usamos dizer, à grande e à francesa.

    Ao que interessa. O bendito livro? Pois não o leu o José daqui, não o leu o João de lá mas, pronto, li-o eu, para variar. Usando este espaço de comentário, com o maior respeito e sem querer fazer do José o representante dos correios de Portugal ou de La Poste, convinha-me deixar claro o que segue: onde em Littell se lê (soa bem quando lido em voz alta: Littel-se-lê), portanto, onde isso mesmo: «Frères humains, laissez-moi vous raconter comment ça s’est passé. (...)» leia-se o epitáfio de Villon que começa exactamente assim: «Frères humains, qui après nous vivez,/ N'ayez les coeurs contre nous endurcis,/ Car, si pitié de nous pauvres avez,/ Dieu en aura plus tôt de vous mercis.»
    Não, não é de plágio que aqui falo, nem tão pouco mais ou menos já que Littell tem mais trabalho e talento num fio de cabelo que todo o Tavares do mundo. Era só para situar, brevemente, o autor de «Les Bienveillantes» nas suas referências literárias, o tradutor e discípulo de Blanchot com tudo o que isto representa.

    Sendo eu quem sou, quase nada, quase ninguém, recomendo vivamente. ao José do queijo e ao João da literatura, a leitura do livro que ainda não leram. Podem encomendar via Amazon, mas estou a ensinar o padre nosso aos vigários, não estou?

    Desculpas antecipadas pelo tamanho(ão) disto que deveria ter entrado na vossa caixa de comentários mas eu sei lá usar aquilo que me pedia identificação a mais e eu sem perceber para quê e sem atinar com os efeitos especiais da tenebrosa máquina blogspot ou coisa que o valha!

    Agradecida pela paciência e tudo o mais.

    Fátima Rolo Duarte".

    Comentário ao comentário:

    Não li Les Bienveillantes e nem sei se lerei. Antes, gostava de ler a biografia de Hitler, por Joachim Fest e que não está à venda, por cá.
    Aliás, é interessante verificar que um livro muito importante como referência biográfica, nunca foi traduzido para porruguês, enquanto dos quatro cavaleiros do Apocalipse não há falta.

    A que se ficará a dever a falta de interesse dos editores em geral, pelo livro que é de 1973?

    Mesmo aquando da morte recente de Joachim Fest, só o Expresso traçou o obituário, aliás muito bem feito da autoria de José Cutileiro.

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