Afinal, havia outros

O que é um Historiador? Por mim, remeto a noção para quem saberá mais. Mas adianto pelo menos, um aspecto que me parece relevante: será alguém que conhece do passado, o mais possível. Se esse conhecimento não se revela suficiente e apenas sofrível ou menos que isso, historiador será- mas bem menor e sem importância, porque falece aí, logo, a credibilidade.
No Público, há um cronista que de vez em quando assume o papel de Historiador. Ontem, assinou uma crónica sobre “O que estava na gaveta”, que republicou e em que afirma singela e afoitamente que antes de 25.4.1974, nada havia nas gavetas que fosse recuperado depois, para além de “meia dúzia de poesias, só os textos clandestinos de autores comunistas, os contos "vermelhos" de Soeiro Pereira Gomes e a obra ficcional de Cunhal escrita na cadeia, o Até Amanhã Camaradas e o Cinco Dias, Cinco Noites
Hoje, no Aspirina B, com rara elegância, ( que não consigo imitar, confesso), mas não menos contundência objectiva, o crítico Fernando Venâncio vem lembrar ao historiador que o fim da história é outro. Havia também, O Milagre Segundo Salomé, de José Rodrigues Miguéis, pronto para publicação desde 1970, mas arrastando-se na editora por alguma (de resto justificadíssima) inoportunidade política. Apareceu no Verão de 1975, no auge da confusão, passando quase despercebido. Um segundo foi Directa, de Nuno Bragança, romance que chegou a adiantados planos de impressão em Paris, para ser depois contrabandeado para Portugal, por mala diplomática. A revolução veio para esse livro cedo de mais. Quando finalmente surgiu, em 1977, poucos já conseguiam interessar-se por mais uma história da clandestinidade, e menos eram ainda a dar-se conta de que esta era a melhor de todas. O terceiro livro saído da gaveta foi Espingardas e Música Clássica, de Alexandre Pinheiro Torres, esplêndido romance, só aparecido em 1987 mas escrito em 1962, quase contemporâneo dos factos a que se reporta. Seria vítima, ele também, da saturação que atingiu as histórias da resistência. Só o romance póstumo Sinais de Fogo, de Jorge de Sena, de 1980, mas redigido nos anos 60, persistiu na memória dos leitores, possivelmente sensíveis aos excessos sexuais aí descritos, que sempre ajudam a salvar uma obra-prima exigente.

O caso é irrelevante? É. Se, de facto, o historiador tiver o pudor de nunca mais assinar um artigo como Historiador.
Como os assuntos historiados muitas vezes são historietas, como é o caso evidente sempre que a história recai em questões judiciárias, sugiro que assine, antes, como... Diletante.

Outro sítio, onde normalmente se reescrevem histórias, cascando nos representantes máximos e em instituições de certa religião de culto , é este think tank (MMLM dixit).
Tanto que o seu animador principal, prefere seguir os legionários do que a religião...afrontando a língua portuguesa com o neologismo "correlegionários" e dando uma roda geral de "ignorantes" a incertos! Notável.

Publicado por josé 14:05:00  

10 Comments:

  1. josé said...
    Bater nos ceguinhos, caro atento?

    Esses ceguinhos, orientam muita gente...que também não saberá ver muito bem. Daí o célebre dito " cegos a guiar outros cegos", salvo seja.

    Por outro lado, isto é apenas o aperitivo para a música dos Eagles.
    opatrao said...
    este blog já foi muito bom.
    agora é uma seca.
    Ljubljana said...
    Por aqui (com o José) nada de novo. Porque pensa/acha que pode fazer o trabalho de abrir os olhos aos supostos ceguinhos? Não lhe passa pela cabeça que os ceguinhos até poderão nem sê-lo? Até poderão possuir capacidade própria de análise dos texto do "historiador". Até poderá alegar que escreve os seus posts só para o seu umbigo e ninguém é obrigado a lê-los. Só que na sua resposta ao comentário do atento assumiu também a postura de orientador de ceguinhos.
    zazie said...
    a Grande Loja já tem janelas de comentários para amblíopes?
    josé said...
    Augusto:

    Isto por cá é de graça e por vezes pode ser com graça.
    É só por graça que me tento à escrita e por desgraça que me vicio nela.

    "Venho da terra assombrada
    Do ventre da minha mãe.
    Não pretendo roubar nada
    Nem fazer mal a ninguém.
    Só quero o que me é devido
    Por me trazerem aqui
    Que eu nem sequer fui ouvido
    No acto de qque nasci."
    Tenho boca para comer
    E olhos para desejar
    COm licença, quero passar
    Tenho pressa de viver.
    Com licença! COm licença!
    Que a vida é água a correr
    Venho do fundo do tempo
    Não tenho tempo a perder."

    É parte de um poema intitulado Fala do Homem nascido, de António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho que faleceu em 19.2.1997.
    Foi também o autor da Pedra Filosofal.

    Assim, quem quiser participar nesta viagem, faça favor de entrar e logo que quiser sair, é livre.

    Quem recebe por escrever, não é tão livre assim.
    Politikos said...
    Ó José, essa resposta com o texto do Gedeão é de «mestre»... Tiro-lhe o chapéu... Deixe-se, deixe-se tentar pela escrita, que há quem o leia...
    Quanto ao JPP, o «homem» até é filósofo e não «historiador», pelo menos «encartado»...
    A afirmação é temerária, de facto, até porque pode ser desmentida, já que dificilmente alguém conhece todas as gavetas mas está modalizada por um advérbio: «praticamente»...
    Não acho que merecesse o poste, mas pela resposta do Gedeão já valeu a pena lê-lo...
    Ljubljana said...
    José,

    O estilo condescendente e o discurso desnivelado só o identifica melhor. Sigo pois o meu comentário anterior, dizendo que por aqui nada de novo.

    Se passasse pelo meu feitio idolatrar, faria como o “politikos” e seguiria a matilha, abanando a cauda e dizendo com a língua a arfar “o chefe é que ferra bem, a quem vamos morder a seguir? Tentemos a quem me cravou os dentes de forma indelével, mas que agora, por mais latidos que eu dê, nem a atenção lhe pareço merecer”
    josé said...
    Discurso desnivelado?

    Então, paremos, escutemos e olhemos, antes de passar. Os combóios, como sabe, são máquinas pesadas cuja inércia na marcha, custa a deter.
    O que vejo, quando paro?
    Vejo comentadores encartados que escrevem em jornais e são convidados de televisão, por critérios que me escapam de todo. COmo escreveu o Pedro Mexia, no seu blog e também o Pedro Magalhães, no mesmo sentido, qualquer bicho careta arranja sítio para debitar palpites avulsos.
    O meu papel, desenvolvido por aqui de graça e com a graça que sei usar, por vezes em desgraça, tem sido parar, perante esses bonzos dos media, de que os JPP, os MST e outros Vitais, são expoentes e líderes de matilhas.
    E então, escutar; neste caso, ler o que escrevem.
    Sempre que essa escrita me soa aos ouvidos como apito estridente de combóio de mercadorias, fico à espera que passe, para ver os contentores das ideias que transporta.

    E que vejo então?

    Vejo que a escrita é tendenciosa e pretende enganar, por vezes. Outras vezes, engana mesmo sem querer, porque o apitador se julga mestre em trinados de apito sinfónico.
    Para além disso, o combóio que parece, à distância, transportar mercadoria valiosa, aparece sob a forma de simples zorra, puxada a força braçal, com o ocupante a dar a dar ao manípulo e o apito a revelar-se afinal, uma simples gaita de simples amolador de facas e tesouras.
    Um logro, portanto. O que não evita quem se embasbaque sempre perante estas zorras que pretendem conduzir a opinião pública.

    Se leu bem, caro Augusto, detectará na minha escria a de um simples observador de passagens de nível e que se precata, antes de as atravessar.
    Ljubljana said...
    José,

    "bonzos dos media, de que os JPP, os MST e outros Vitais"

    Agora comunicou comigo, e sabe que mais, nisto, estou plenamente de acordo consigo.
    Politikos said...
    Ó Augusto Martins, não sei se chegou sequer a ler o meu comentário até ao fim? Se o leu, não parece?! É que ele não segue «matilha» nenhuma e até discordo do José, por achar que a «coisa» não tem matéria para «poste». Penso ter deixado isso bem claro. Só achei a resposta dele, citando o Gedeão, muito bem «caçada». Apenas e só. Convirá - parece-me - e sempre em sentido figurado, é claro, quando der latidos, não os dar à lua...
    P.S. - Identificar as citações que usa tb não seria mau... Isto para os leigos, como eu...

Post a Comment