"É a cultura, estúpido!"

Do blog (blog)ouve-se, fica aqui um postal transcrito de um artigo de jornal:

«(...) os jornais tentam ter o monopólio da intermediação entre o leitor e a fonte; por isso, apresentam todas as suas notícias de modo a que o leitor perceba sem margem para dúvidas quem é o seu autor: artigos assinados; as "cartas ao Director"; a publicidade, que em geral se distingue por si própria; a "publicidade redigida", imitando os artigos de jornais e por isso assinalada; (...) Aquela exibição assegura ao jornal o seu monopólio da intermediação da informação escrita entre o leitor e as fontes. Os jornais só cedem o seu monopólio às agências de comunicação escondida. É um mistério sem ser um milagre que a imprensa se preste a publicar estas notícias a rogo, deixando que outros vendam às ocultas o seu espaço e prestígio, pois, sendo séria, ela própria lança dúvidas sobre a sua seriedade. Fá-lo-á porque estas notícias são uma publicidade de segunda? Porque são a condição implícita na publicidade de primeira? Porque uma ínfima minoria de jornalistas tem uma agenda oculta? Mesmo que este esquema seja um serviço público desconhecido, há um problema: o esquema é escondido ao leitor. O leitor lê uma notícia a rogo, julga ler o jornal dos jornalistas e, sem o saber, lê a publicidade oculta de um instituto público ou de uma empresa privada»Luís Salgado de Matos no Público de 27/3/06

Para a crise da venda de jornais, talvez estas razões sejam residuais; talvez existam outras bem mais importantes, incluindo a facilidade de acesso a informações especializadas e até gerais sobre a política que se faz e sobre os que a vão fazendo. Mas parece-me certo que também as razões apontadas no artigo, são fenómenos que descredibilizam a imprensa. Ainda por cima, para além deste exercício impresso de uma "perspectiva corporativa ocultada", há ainda outro ,talvez ainda mais nefasto porque mais generalizado: a ignorância específica sobre matérias básicas que envolvem as instituições e as regras que balizam as suas actuações. É muitas vezes desse desconhecimento que partem certas notícias atamancadas, porque falhas de estrutura esquelética completa. Escreve-se sobre uma falange, sem conhecer a mão que a sustenta. Sobre uma tíbia sem mencionar o perónio que se lhe aparenta e sobre o sistema imunitário sem perceber o mecanismo viral.

É preciso mais cultura geral nos jornais!



Publicado por josé 13:48:00  

3 Comments:

  1. maloud said...
    As televisões não substituem os jornais. Os jornais lêem-se pouco, mas em Portugal sempre se leu pouco. Agora não sei, mas durante muitos anos o jornal mais lido era o JN [o meu pai que já morreu há 23 anos chamava-lhe o jornal das sopeiras {atrevo-me a dizer isto, porque ninguém deve vir cá atrás}], porque trazia páginas intermináveis de casos do dia e ainda os anúncios. Eu gosto do ritual de ler o Público {lembro-me do José me ter dito no "finado" que não servia, para assuntos de justiça}, mas reparo que à minha volta no café Velasquez, a maioria lê jornais desportivos. Ninguém me venha dizer que é pela qualidade. Quando o Porto ganhava aquelas coisas todas, eu comprava-os para o meu filho. Um dia tentei ler, e note-se que gosto de futebol, e não consegui. Aquilo é intragável. Na minha opinião os jornais não têm leitores, não pela falta de qualidade, senão o 24Horas não sobreviria, mas porque nós detestamos ler. "Quem lê, treslê".
    josé said...
    maloud:

    permita-me que lhe coloque esta questão, simples de responder:

    Desde que começou a ler blogs, sente maior ou menor vontade de ler?
    maloud said...
    José,
    Está a falar de ler jornais, não é? Sinto menor vontade de ler. Já não leio o Público todo {os anúncios nunca li}. Leio no Velasquez e ,quando chego a casa, arrumo o jornal e nunca mais lhe pego. Sabe que, se não tem perguntado, não me daria conta.

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