Sombras de apóstatas

O novo livro de Francis Fukuyama,-AFTER THE NEOCONS: Where the Right Went Wrong - foi recenseado este Domingo, no Sunday Times.
Alguns excertos:
"A celebrated New Yorker cartoon of the 1950s showed a plane crashing on a runway. As everyone rushed to rescue the crew, a solitary scientist walked in the opposite direction. He sighed, “Oh well, back to the drawing board.”
As George Bush’s Iraq adventure smoulders on the Tarmac, a small group of neo-cons are starting to escape the scene with varying degrees of dignity. Some, such as Paul Wolfowitz and Paul Bremer, have vanished. A handful, including Dick Cheney, Donald Rumsfeld and Tony Blair, remain in denial, parroting the Vietnam line: “We are winning, really.” Others, such as Francis Fukuyama, have a more valid licence to recant, having doubted whether neo-conservatism was relevant to Iraq all along.
In a devastating resumé of the saga so far, Fukuyama concludes that the so-called creation of democracy in Iraq cannot “justify the blood and treasure that the United States has spent on the project”. The war has not worked. In any counter-terrorism operation, “successful pre-emption depends on the ability to predict the future accurately and on good intelligence, which was not forthcoming”. The Bush doctrine “is now in a shambles”. America is asisolated as never before. The chaos in Iraq is spoiling the case for any further global projection of American values. More Americans than at any time since the end of Vietnam are now saying that America “should mind its own business
”.
(...)
"Fukuyama is intrigued by how this disaster came about. He rehearses the often-told story of the early neocons, born of a mixture of Zionism, oil imperialism and honest evangelism for democracy. Among the many ironies was their neo-conservatives’libertarian aversion to state power at home yet anenthusiastic belief in its legitimacy and efficacy abroad when deployed against foreigners"
(...)
"Fukuyama writes clear prose and is a pleasure to read. Nor is he chary of offering advice. His old creed is now discredited, “indelibly associated with coercive regime change, unilateralism and American hegemony”. A new international order, he says, can only be promoted by peaceful persuasion through international institutions so derided by the neo-cons. While no friend of the United Nations, he preaches “multi-multilateralism”. America must move forward through “its ability to shape international institutions”, not sideline them"

A propósito do livro de Francis Fukuyama e ainda sobre estes assuntos que lidam com erros e enganos, valerá a pena citar aqui, outro enganado pelo tempo que entretanto passou: Robert McNamara, um dos grandes arquitectos da guerra do Vietname e que não hesitou em publicar em 1995, uma crónica desses enganos, num livro que intitulou -In Retrospect: the tragedy and lessons of Vietnam. Um excerto:
"Two developments after I became secretary of defense reinforced my way of thinking about Vietnam: the intensification of relations between Cuba and the Soviets, and a new wave of Soviet provocations in Berlin. Both seemed to underscore the aggressive intent of Communist policy. In that context, the danger of Vietnam's loss and, through falling dominoes, the loss of all Southeast Asia made it seem reasonable to consider expanding the U.S. effort in Vietnam.

None of this made me anything close to an East Asian expert, however. I had never visited Indochina, nor did I undertsand or appreciate its history, language, culture, or values. The same must be said, to varying degrees, about President Kennedy, Secretary of State Dean Rusk, National Security Advisor McGeorge Bundy, military adviser Maxwell Taylor, and many others. When it came to Vietnam, we found ourselves setting policy for a region that was terra incognita.

Worse, our government lacked experts for us to consult to compensate for our ignorance. When the Berlin crisis occurred in 1961 and during the Cuban Missile Crisis of 1962, President Kennedy was able to turn to senior people like Llewellyn Thompson, Charles Bohlen, and George Kennan, who knew the Soviets intimately. There were no senior officials in the Pentagon or State Department with comparable knowledge about Southeast Asia. I knew of only one Pentagon officer with counterinsurgency experience in the region--Col. Edward Lansdale, who had served as an advisor to Ramon Magsaysay in the Philippines and Diem in South Vietnam. But Lansdale was relatively junior and lacked broad geopolitical expertise.

The irony of this gap was that it existed largely because the top East Asian and China experts in the State Department--John Paton Davies, Jr., John Stewart Service, and John Carter Vincent [and Edmund Clubb]--had been purged during the McCarthy hysteria of the 1950s. Without men like these to provide sophisticated, nuanced insights, we--certainly I--badly misread China's objectives and mistook its bellicose rhetoric to imply a drive for regional hegemony. We also totally underestimated the nationalist aspect of Ho Chi Minh's movement. We saw him first as a Communist and only second as a Vietnamese nationalist....

Such ill-founded judgments were accepted without debate by the Kennedy Administration, as they had been by its Democratic and Republic predecessors. We failed to analyze our assumptions critically, then or later. The foundations of our decision making were gravely flawed."

Em tempo:

Pelos vistos, e lendo aqui no blog do Dragão, até o padrinho Bill Kristol apostatou"

Publicado por josé 20:32:00  

15 Comments:

  1. formiga bargante said...
    Meu caro José

    Ainda sobre McNamara, personagem extremamente complexa, atrevo-me a sugerir-lhe o DVD "Testemunhos de Guerra", um documentário muito premiado de Errol Morris, que tem como "actor principal" justamente McNamara.

    É uma peça fundamental para compreender como se "fabrica/constroi" a história nos nossos dias.

    Acredite que é um DVD obrigatório para quem se interessa por estas coisas.
    josé said...
    E onde é que se arranja um disco desses, para voar sobre esse ninho de cucos?
    zazie said...
    José. A velha janela ainda serve para alguma coisa. Lembrei-me que a Cristina tinha escrito sobre o assunto.

    aqui: http://janela-indiscreta.blogspot.com/2004/07/uma-pergunta.html

    se não encontrar na Amazon pode-se perguntar à Cris se por acaso tem. Basta ir ao Last Tapes
    zazie said...
    é verdade, alguém se esqueceu de fechar o itálico...
    formiga bargante said...
    recentemente existia na fnac.
    se não tiverem, encomende que eles são bons nisso.

    o título original é:
    The fog of war
    Eleven lessons from the life of Robert S. McNamara.

    Não perca.
    formiga bargante said...
    E já agora, leia esta entrevista de McNamara publicada em janeiro de 2004.
    http://www.commondreams.org/headlines04/0125-01.htm
    josé said...
    Impressionante, de facto.

    Logo em 2003, antes do ataque, no blog avanta la lettre Pastilhas, houve algumas discussões, sobre o assunto.

    Numa delas,citei precisamente MacNamara e o seu livro de 1995, para futurar se eventualmente não teríamos que reviver o pesadelo do Vietnam, do mesmo modo e por causa dos mesmos erros...

    Agora leio isto e fico banzado, ao perceber como tudo veio a confirmar-se.
    Não é que entenda muito destas coisas, mas o que me espanta é que haja por aí muito finório que não tenha sido capaz de entender algo que é básico e que o MacNamara ensina agora, como ensinou no passado: é preciso aprender com os erros da História, sob pena de os repetirmos.
    O que na altura me espantava mais, era o voluntarismo guerreiro de certos opinionistas, todos virados para a ofensiva contra os infiéis, com a bandeira da democracia liberal e a esperança que a vitória seria definitiva e arrumaria de vez o conflito do Médio Oriente. Santa ingenuidade!
    zazie said...
    José. Eu vou-lhe confessar uma coisa. Que os "revolucionários" ideológicos e opinantes quejandos não tenham visto, não me admira nada. Há coisas que não mudam e uma delas é o efeito das ideologias. Elas é que mudam de nome.
    Mas sempre lhe digo que quase ultrapassa o meu entendimento o facto deles, da administração Bush, do país mais poderoso ao cimo da terra, do mais pragmático, do mais utilitário, não se ter apercebido.

    Foi tudo voluntarismo? não havia peso nos dissidentes? como embarcaram assim? e como tiveram apoio a esse ponto? efeito do 11 de Setembro, suponho.

    Fazendo balanço a gastos, perdas e incluindo até o tal efeito do aumento do preço do petróleo na cotação da economia virtual, onde está a possível vantagem para eles?
    zazie said...
    e também fico banzada como o José disse precisamente isto. Como mais ninguém queria sequer ouvir. Só se lembravam do exemplo do Japão. E só iam buscar textos sobre o modelo colonial e o japão para explicarem que a coisa ia resultar às mil maravilhas para além de ser uma benesse para todo o mundo.

    E, no entanto, havia quem apontasse para estes efeitos mesmo sem saber do logro das famosas armas e da necessária guerra preventiva.
    jcd said...
    Comprei o 'Fog of War' na FNAC, o mês passado na colecção Óscares, por 9 euros e qualquer coisa.

    Aparentemente, está esgotado:

    http://www.fnac.pt/pesquisa.aspx?op=ps&catalogo=dvdVhs&str=Testemunhos%20de%20Guerra&pag=1
    formiga bargante said...
    Meu caro José

    Como complemento à "leitura" do DVD FOG of WAR, e se mo permite, aqui vai mais uma sugestão:

    An Unfinished Life: John F.Kennedy, 1917-1963.

    Esta biografia, publicada em 2003 pela Little, Brown and Company, e com autoria de Robert Dallek,é considerada como uma das melhores biografias políticas jamais publicadas.

    Creio que já existe edição portuguesa, mas não tenho a certeza.

    A que eu tenho é a edição em castelhano, publicada em 2004, pela editora Península/Atalaya.

    Só "para abrir o apetite" a transcrição de algumas linhas, relativas à tentativa de invasão de Cuba, conhecida pela Invasão da Baia dos Porcos:

    "Un plan mejor concebido nunca habria enfrentado a Kennedy com semejante decisión. Kirkpatrick veia la raíz del problema en la mala "planificación, organización, personal y dirección" de la CIA. En concreto, culpaba a la falsa presunción de que "la invasión produciría una conmoción, como um DEUX EX MACHINA (...) y provocaria un levantamiento"...

    E estamos a falar de Cuba e não do Iraque !

    Para finalizar, estou em crer que se alguns dos nossos comentaristas "credenciados" tivessem a humildade de vêr o DVD e lêr o livro, estariam muito mais bem documentados para entender a realidade política actual.

    Mas é pedir demasiado, não acha ?
    formiga bargante said...
    Em tempo:

    a transcrição acima está na página 384 da edição castelhana, claro !
    josé said...
    Já cá canta o Fog of war...depois direi algo mais. Obrigado pela sugestão.
    formiga bargante said...
    Meu caro sniper

    Um pouco de rigor não fica mal a ninguém. Robert McNamara quando foi convidado por Kennedy para secretário de estado era "SÓ" o presidente da Ford Motor Company, e o primeiro não membro da familia Ford a ocupar aquele cargo.

    Quanto à não necessidade das leituras e visionamentos aqui referidos, desculpe, mas as suas viagens complementam, na minha óptica, a informação que ali pode recolher, não a substituem.

    Aliás, como poderia o meu caro sniper ficar a saber, através das suas viagens, que estivemos todos à beirinha de uma guerra nuclear motivada pela invasão da Baia dos Porcos e que um homem, um só homem, foi decisivo para evitar esse confronto?

    Portanto, permita-me a insistência, as leituras e as viagens complementam-se, não se substituem.

    Cumprimentos
    josé said...
    "as leituras e as viagens complementam-se, não se substituem."

    E às vezes, nem isso chega. Veja-se o caso de M.S. que parece ter uma biblioteca do tamanho da de Alexandria e viajou bem mais do que Alexandre o Grande e não sabia sequer que árvores eram as que tinha em frente ao palácio onde exerceu as funções de PR durante anos a fio...

    Agora, mais a sério: o dvd Fog of War ( que ainda não vi com cuidado, pois estive a ver outro de John Denver) merece atenção, pelo que significa de testemunho pessoal de alguém com uma importância assinalável na história contemporânea.

    Quanto à Baía dos porcos e à crise dos mísseis, parece que De Gaulle e o embaixador francês também tiveram uma importância fundamental em assegurar pela palavra dada, um compromisso bilateralmente( EUA-URSS) aceite.
    A história foi contada algures e parece-me do mesmo nível daquela das barbas de D. João de Castro, in illo tempore em que éramos uma potência emergente por causa dos descobrimentos.

Post a Comment