Olé!

A crónica, no JN de hoje, de Manuel A. Pina, excede mais uma vez, em lucidez acutilante, a análise externa de alguns dos problemas reais da nossa Justiça.
Não obstante as perplexidades que se tornam cartaz, em todas as "corridas" onde se agregam, no redondel dos processos, certo "gado" criado e mantido em ganadarias afamadas e diestros com nome feito, as faenas continuam ano após ano, corrida após corrida, sem alterações de vulto nas regras da lide, a não ser as que provocam ainda mais assobios aos aficionados.
As últimas, como se vai sabendo, pretendem criar um redondel especial, para certas touradas sazonais, com toureiros de libré, cavalos de pura raça e chocas adestradas, com touros transformados em mero adereço de circunstância, para lidar em garraiada e faz-de-conta.
Aqui fica a crónica:

Da justiça
Lenta e pesadona, presa de movimentos pelos excessos garantísticos do Processo, as possibilidades infindáveis de recurso, de arguição de nulidades, impedimentos, reclamações e incidentes de toda a ordem e a propósito de tudo e de nada logo desde a fase de instrução, e depois por aí adiante até ao julgamento (nos casos em que, por milagre, os processos chegam a julgamento), a Justiça, particularmente a Justiça penal, é facilmente "levada ao engano" por arguidos ágeis de imaginação e de escrúpulos e com meios para pagar a advogados que espiolhem o CPP à cata de empecilhos capazes de fazer tropeçar o bicho.

"Chapeau!" nesta matéria para Fátima Felgueiras, que se tem revelado a mais exímia das toureiras.
O processo em que é acusada de nada menos que 23 crimes dura há um tempo interminável e ainda não passou da instrução, e o seu advogado acaba de anunciar três-novos-recursos-três! Depois da admirável "chicuelina" com que se furtou à prisão preventiva, fugindo para o Brasil e regressando em ombros ao local do crime, Fátima Felgueiras informou agora o tribunal que lhe ordenara que entregasse o passaporte brasileiro que o deixou no Brasil.
Por algum motivo se diz que a Justiça é cega, pois que não vê o seu próprio descrédito.

Publicado por josé 11:21:00  

3 Comments:

  1. Luís Bonifácio said...
    Só pelo facto de usar o termo "chapeau", pina revela uma profunda ignorância nas artes tauromáquicas!
    Luís Bonifácio said...
    A fuga da Fátinha para o Brasil, foi mais um "farol" que uma "chicuelina"
    josé said...
    Luís:

    Aqui fica a crónica de hoje, de um "diestro" da palavra escrita, em prosa de jornal e até em verso de livro.
    Tanto quanto julgo perceber, é uma justificação que lhe pode muito bem ser dirigida...

    "Há uma dúzia de blogues que frequento diariamente (a dois deles, o "casmurro" e o "espectro", que agora descansam, PNAM, em paz, ainda continuo às vezes a ir como quem visita uma campa, na esperança inútil de que, por algum improvável milagre, tenham gloriosamente ressuscitado ao terceiro dia), mais uns 4 ou 5 onde vou ocasionalmente e um ou outro por onde passo quando preciso instantemente, como de uma droga, de abjecção. Assim me defendo de jornais e TV's. Uma hora diária de blogosfera é tão útil para a saúde intelectual como o exercício físico para a saúde do corpo, e deveria fazer parte das prescrições da medicina, senão da cidadania. Num dos blogues da minha lista de "favoritos", fui agora educadamente "acusado", a propósito de uma destas crónicas, de não saber nada de "artes tauromáquicas". Não sei. É mesmo uma das ignorâncias de que me orgulho, pois tão importante como aquilo que sabemos é aquilo que não sabemos. Não tenho, de facto, qualquer curiosidade acerca do indigno prazer, ainda por cima "artístico", obtido por conta do sofrimento alheio, no caso o de um animal como nós (talvez só um pouco mais corajoso e mais leal). "Que no quiero verla!", nem o sangue de Ignacio, "el bien nacido", nem o do touro".

    Fico com curiosidade é em saber quem são os alvos da abjecção...esperando que não seja por estes lados.
    Seria caso para dizer: porra!

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