Estamos mais ricos ?

O INE – Instituto Nacional de Estatística - divulgou ontem os dados relativos às contas públicas nacionais para o 2º trimestre, e aparentemente com uma surpresa, apresentando um crescimento da economia portuguesa, nesse período de 0,5 %.

Na realidade, a contribuição da procura externa foi decisiva para a melhoria face ao trimestre anterior onde a economia portuguesa, apenas tinha crescido 0,1 %. O contributo da procura externa passou de -1,5 % para uns - 0,5 %, enquanto a procura interna passou de 1,9 % para 1,0 %. Tivesse a procura interna mantido a sua performance do trimestre anterior e estaríamos a falar de um crescimento de 1,4 %. Demasiado bom para ser real.

Observar bons sinais neste relatório é sintoma de cegueira.


Em primeiro lugar, o motor do crescimento, foi o consumo privado que cresceu perto de 3,0 %. Entenda-se que foi a antecipação de bens de consumo face à subida do IVA de 19 % para 21 % que levou as famílias a anteciparem a compra de determinados bens e serviços.

Em segundo lugar, a diminuição da contribuição negativa da procura externa só foi possível porque inexplicavelmente, as importações desceram mais do que as exportações. Aparentemente o VAB da Indústria apesar de crescer, é sustentado pelo forte crescimento do VAB do sector energético e água, o que não nos leva a admitir que a oferta interna tenha crescido exponencialmente, capaz de motivar nos consumidores uma procura por produtos nacionais. Um exemplo, o sector têxtil.

Em terceiro lugar, quer o investimento (desceu 4,5 %) quer as exportações tiveram comportamentos negativos, o que ao contrário do que afirma José Sócrates em nada representam a confiança dos empresários em Portugal. Aliás, é o próprio Banco de Portugal que alerta para a contínua diminuição da produção industrial, para a queda da actividade económica, e é o próprio INE, que informa que o investimento em construção desceu 4,6 %.

Tal como num passado bem recente, alerto aqui, como Miguel Frasquilho e bem o faz aqui , o crescimento de uma economia com base no consumo privado, apenas fomenta o consumo de poupanças e aumenta o endividamento das famílias, tendo em conta que a grande maioria dos bens e serviços que consumimos tem por base produtos importados. O impacto de uma subida nas taxas de juro a nível do Banco Central Europeu, traduzir-se-á num aumento do serviço da dívida.

Isto é a análise económica ao relatório do INE.

Prometo, hoje de tarde, explicitar as contradições que este relatório do INE apresenta, e que devem merecer uma explicação coerente de quem de direito.

Publicado por António Duarte 11:16:00  

6 Comments:

  1. Anónimo said...
    Há una capitulozitos de Introdução à Economia Básica para Grunhos que não se conseguem ler a tempo útil do post da tarde, mas aguardamos com ansiedade o que conseguir aprender até lá.
    Rui MCB said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    Rui MCB said...
    Aguardo com alguma expectativa a tua análise António. Mas acho que até já abordaste a única questão relevante que identificámos e que merece particular atenção a nível interno por se ter apresentado aquém das expectativas: o que é feito das importações! Não tendo sido possível obter melhor informação sobre as ditas do que a produzida internamente (e não há outra no país!) além do uso de alguma parcimónia (justificada pelas indicações contraditórias no consumo e na produção) sempre possível e indispensável em análise conjuntura com indicadores, uma boa parte das "importações desaparecidas" foi levada à variação de existências que contribuiu negativamente para o PIB acima do que tem sido usual em situações normais.

    Espero que resistas aos processos de intenções e conspirações (hilariantes, convenhamos) a que o Manuel delirantemente aderiu.
    Um abraço
    Manuel said...
    Rui,

    vamos com calma, está ?

    Quanto a processos de intenções,a única pessoa que se vê precupada, e bem, com a imagem (abalada) do INE és tu. O relevante não é saber se o 'espalhafato' prévio partiu ou não - de 'dentro' do INE mas sim que o INE - até ao presente, não parece muito preocupado com a 'quebrazita' do tal 'acordo de cavalheiros', torndo-se, objectivamente, cúmplice. Se isto é conspirativo...

    Quanto ao miolo da questão, e se bem percebi do que escreveste, o valor obtido foi-o afinal a... olhómetro (tecnicamente designado por "uso de alguma parcimónia") face às inconsistências (também designadas por "indicações contraditórias") patentes, e se o foi, porquê 0,5 ?

    Já agora, no que foi ontem publicado pelo INE há algum 'disclaimer' a mencionar e relevar "a única questão relevante que identificámos e que merece particular atenção a nível interno por se ter apresentado aquém das expectativas: o que é feito das importações! Não tendo sido possível obter melhor informação sobre as ditas do que a produzida internamente (e não há outra no país!) além do uso de alguma parcimónia (justificada pelas indicações contraditórias no consumo e na produção) sempre possível e indispensável em análise conjuntura com indicadores"(sic) ? Há ? Ou foi preciso 'conspirar' e 'delirar' para que se reconheça afinal que os números de ontem, como indicador de retomas pouco ou nada valem...
    Anónimo said...
    Também eu aguardo com enorme expectativa as verdadeiras lições de economia que aqui se preparam...

    Os números são o que são e cada um faz a interpretação que quer dos mesmos. Uns acham que o copo está meio cheio, outros que o mesmo está meio vazio. Nada a fazer quanto a isso.

    Mas os amigos que tanto de alto e de cor falam, bem que se podiam ter dado ao trabalho de verificar um conjunto de coisas.
    Em primeiro lugar, que as vendas da indústria para o mercado nacional, recuperaram e muito. Significa isto que os recursos disponíveis são na verdade maiores e não tiveram o exterior como origem.

    Outro aspecto importante nesta questão toda é: por que é que estes números constituem uma tão grande surpresa? Os dados disponíveis há mais de um mês atrás, já mostravam a recuperação das exportações de bens, a forte desaceleração das importações de bens, assim como o forte acréscimo do consumo no mês de Julho (devido ao efeito de antecipação de despesa com o aumento do IVA - já conhecido desde fins de MAIO!). Porquê a tão grande surpresa? Terão todos andado distraídos? Estiveram todos de férias e não houve tempo de recuperar o que se foi passando?

    É este um crescimento sustentado? Não! O efeito do consumo privado, tendo-se tratado de uma antecipação de despesa, é pontual e reversível nos momentos seguintes. Aliás a informação disponível já para Julho e Agosto mostra isso mesmo. Só não vê quem não quer ver.
    O investimento, tão em queda mostra precisamente a não sustentação do crescimento. E a desconfiança das empresas no futuro.
    E relativamente à componente externa, a incerteza é grande.

    E o "embandeirar em arco" por parte dos políticos é típido em Portugal. Da esquerda à direita.
    Rui MCB said...
    Manuel,

    Acho que para o "miolo" da questão, o anónimo anterior já deu cabal resposta.

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