os gafanhotos e a 'italianização' da vida política portuguesa



Face ao pântano são muitos os que suspiram... pela Itália. Julgam que basta uma operação 'mãos limpas', uma limpeza da classe política reinante, do actual mapa partidário, e tudo melhorará. Falso, redondamente falso. A Itália está hoje, nas mãos do Sr. Berlusconni, um homem da bola, e dos media, pior do que estava antes da operação 'mãos limpas'. Não é, cá, a decomposição do sistema partidário e a substituição deste por uma multitude de pequenos partidos que vai resolver automaticamente qualquer problema, aliás, por cá já se notam muitos dos tiques da actual vida política italiana. , no day after, a moda era não ser político, bastavam as boas intenções, e o pedigree, mais ou menos respeitável, mas, como as coisas são o que são, e há coisas que nunca mudam, aquilo que antes era - politicamente - feito mais ou menos às claras, passou a ser feito nos bastidores, i.e. os políticos puros deixaram de ser eleitos, passaram a assessores, a consultores, quando não criadores, de bibelots, actores e front-ends, para consumo público. Foi-se de fraude atrás de fraude, de bluff atrás de bluff, até se chegar à eleição de Berlusconni, que contou como adversários com um bando desorganizado de amadores bem intencionados. A negação da política dará sempre muito maus resultados, pois precisaremos sempre de muitos e bons políticos. O que precisamos é que sejam criadas condições para que sejam os melhores a enveredar por essa tarefa, e não o refugo, o que precisamos é que essas tarefas sejam vistam com respeito e não com desconfiança e desdém, e - sobretudo - precisamos de nos envolver, a todos, na escolha, triagem e selecção, de baixo para cima, quer dos tais políticos, quer das causas que estes representam. Quantos de nós alguma vez se preocuparam com a vida política da nossa freguesia ? As autárquicas que se avizinham não nos dizem nada ? A culpa também é nossa, até ao dia em que se deixar de confiar na sorte, e se passarem a exercer activamente os deveres cívicos de todos, e cada um... e isso tanto se faz com estes partidos, como com quaisquer outros, serão sempre constituídos por pessoas, como nós, cumpre-nos a nós - tão somente - fazer com que estejam lá os melhores, e pelos melhores motivos. Difícil, chato, uma maçada ? O almoço grátis já saíu muito caro, não acham ?

Publicado por Manuel 20:16:00  

4 Comments:

  1. josé said...
    A Itália teve durante mais de 40 anos um partido sempiterno enquanto durou: a Democrazia Cristiana. E teve outro que durou pouco: il partito socialista, il PSI.
    Desde 1992 foi um ar que se lhes deu: sumiram-se do espectro político. Razão?!
    Só uma: profunda corrupção!
    Em Portugal estamos muito perto disso.

    Agora, a Italia tem muitos e até um a quem puseram o nome de Ulivo, com Prodi na liderança.
    E outro chama-se Margherita, com Rutelliu à cabeça!
    Tem a Forza Italia?! Pois tem.
    Mas também há a Democratici sinistri. E a Alleanza Nazionale.
    A casa Nazionale convive com a lista DiPietro.

    Para ver um quadro sinóptico,AQUI

    E viva a Italia pluralista.
    Anónimo said...
    O fascismo elitista não diria melhor, sr. Manuel!

    O país não tem que ser governado pelos melhores, porque não vivemos numa aristocracia. Espero que saiba qual o termo que deve usar para classificar um regime em que são os melhores que governam ou devem governar. Para os que não sabem, esse regime tem um nome - ARISTOCRACIA.

    Ora, vivemos numa democracia, por isso devemos ser governados pelos eleitos do povo, que governarão pelo povo e para o povo.

    Se o poder fosse ocupado pelos melhores, escolhidos estes não se sabe por quem nem como, mas provavelmente pelos melhores dos melhores (e quem sabe quais são?), então, como são os melhores, exerceriam um poder tirano sobre os inferiores e piores devido à sua maior capacidade. E eternamente em seu proveito.
    Anónimo said...
    sr. pedro, se acha que vivemos numa cleptocracia vá ao Conselho da Europa dizer onde roubou esse disparate. Mas guarde-o bem para não ser roubado pelo caminho, porque sem ele V. Exa. não sobreviverá. É-lhe congénito.
    josé said...
    Vejo que continua por cá o bravo teórico do "fassismo".

    Apareça sempre! Talvez um dia destes se faça entender.

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