Incêndios em escalada, como nunca se viu!

Quem passou este último fim de semana em Viana do Castelo, por ocasião das festas da Senhora da Agonia, deve ter passado por experiências únicas na vida.

Na Sexta-Feira, dia 19 de Agosto, o fogo que tem sido presença constante nos montes e valados da região, assentou arraiais nas encostas a nascente do monte de Santa Luzia na vertente norte da cidade e invadiu hectares e hectares de pinheiro, mato, eucalipto e giestas, numa extensão inverosímel para quem está habituado a incêndios de Verão que duram um dia e se extinguem com a presença rápida dos bombeiros locais.

Este ano, porém, os romeiros que ficaram para a noite do “fogo do meio” foram brindados com o fogo aceso e em alta labareda nos cucurutos dos pinheiros e eucaliptos a pouco mais de um quilómetro da cidade e às portas da área urbana.

As chamas na noite quente, proporcionaram um espectáculo suplementar aos autóctones e passeantes que puderam optar em espectacularidade entre o artifício do fogo lançado em canas e que estreleja no ar e o fogo que larga faúlhas incandescentes e incendeia matos e árvores secas, em labaredas assustadoras. O perigo espreitava, mas parecia controlado, como antes acontecera noutros sítios e épocas.

Na Sexta Feira, pelas 10 horas da noite, a extensão de mata a arder, às portas da cidade, pelo lado nascente, no entanto, era já precupante para a população que via atónita a progressão, impensável noutros anos e épocas.

Devido à intervenção de bombeiros e alguns, poucos, habitantes, esconjurou-se nessa noite o pior cenário e ficou o fumo intenso a abafar o ar que se respira, a atestar o perigo entretanto passado.
Logo no dia seguinte, Sábado pela manhã, o que tinha sido ameaça séria no dia anterior, tornou-se novamente realidade vivida com o avanço do fogo entretanto reacendido e espalhado por força do vento em várias direcções. O incêndio que tinha vindo do leste, na noite anterior, passou credenciais em faúlhas incandescentes, para norte e que viraram de repente para sul, com a força rodopiante do vento forte.

Foi então que a população que temera o pior na noite passada, passou a ver o lume em alta labareda às portas das casas geminadas e recém construídas. Os incêndios, em focos pequenos mas espalhados por cada vez maior área de mato e pinheiros, com a intervenção dos bombeiros pouparam a invasão doméstica das línguas a arder que queimaram apenas a vegetação seca à volta das árvores que escalaram em segundos, crestando-lhes a copa.

No Sábado de tarde, esses focos de incêndio que eram apagados por força da água de bombeiros e por ausência de mais combustível em árvores e matos, ficaram a remoer, aparentemente em pequenos sinais, quase imperceptíveis, de fumo.

O que então poderia apagar-se facilmente com alguns baldes esparsos de água passados de mão em mão ou com mangueiradas certeiras da água de auto-tanques, nos sítios certos, ficou á espera de melhor oportunidade para de novo se lançar na conquista de terreno, tomado no galope terrível das chamas alimentadas.

E foi então, no Sábado de tarde, durante a noite e durante todo o dia de Domingo e já nesta Segunda –feira que aquilo que parecia um cenário improvável, veio a acontecer:

O monte de Santa Luzia, na vertente norte, nascente e poente foi tomado literalmente pela força dos incêndios e dos fogos espalhados em progressão imparável. A extensão de área ardida, abrange certamente centenas e centenas de hectares. O fumo abafou a atmosfera da cidade durante todo o dia de Domingo e de Segunda Feira. Vêem-se a olho nu e em pleno dia, os focos de incêndio a lavrar livremente aqui e ali, na encosta. O Sol, tapado a vermelho, é um disco dourado e enfumarado.
Circulam notícias que uma das pousadas mais belas de Portugal, a de Santa Luzia, fora evacuada e os hóspedes retirados à pressa.

Estradas de acesso ao local foram cortadas durante o dia de Domingo. Os bombeiros procuram proteger antes de tudo, as habitações e felizmente não há danos pessoais graves a lamentar. O que se lamenta séria e tristemente é uma experiência que não tem paralelo em dezenas de anos. Os montes que levam ao de Santa Luzia e que se estendem de Vila Praia de Âncora, a pouco mais de uma dezena e meia de quilómetros, até à cidade de Viana do Castelo, estão todos a arder, continuamente, desde Sábado, como se podia observar durante todo o dia de Domingo e cuja rotina destruidora se repetiu durante o dia de Segunda feira.

Não adianta fechar janelas ou portas para evitar a inalação de fumo a cheirar a fogo recente, porque está por todo o lado na cidade. No Domingo à noite, o habitual fogo de artifício que previa a chamada “cascata” incandescente na velha ponte férrea construída por Eiffel, foi cancelado, por motivos óbvios.

É este o triste espectáculo da cidade de Viana do Castelo desde há três dias a esta parte.

As pessoas olham-se, sempre que o fumo intenso lhes acode aos olhos e narinas e miram a parte mais alta do monte, já por detrás da basílica da Santa Luzia, entrevendo o clarão constante que testemunha a permanência das chamas a arder, para lá do monte.

Os bombeiros andam em roda viva e não chegam para acudir a todo o lado. As autoridades civis concentram-se na sede dos bombeiros locais procurando atender às solicitações e sentem-se impotentes com a falta da meios disponíveis e com a ameaça que ainda não se afastou pior cenário do que o descrito.

Na televisão, hoje à noite, vê-se que a cidade de Coimbra terá passado por experiência idêntica.
O que aconteceu a Portugal?! É da seca?!

Não há mais palavras, perante a impotência de quem manda ao não conseguir mandar bem. Triste a valer.

Publicado por josé 00:05:00  

16 Comments:

  1. Fernando Martins said...
    Cito o meu comentário ao texto anterior a este, concordando com o autor deste post (obrigado josé...):

    É de facto, "admirável" e impressionante o que o PS disse em 2003 perante a vaga de incêndios de esse ano (tal como é, de facto e sem ironias, admirável o que os partidos não têm dito este ano, não acirrando a crise e aproveitando esta oportunidade para fazerem demagogia...).

    Até a proposta do BE de não visionamento em Telejornais de imagens de fogo (que, repita-se, incita os incendiários pirómanos a continuarem a sua labuta...) foi pedagógica e interessante (pela 1ª vez concordo com o Berloque...).

    Também o facto de este ano haver muitos incêndios e pouca (sic...) área ardida, como diz o Costa dos Bombeiros (os das ignições, como repete ufanamente às televisões, termo estúpido que deve ter ouvido a um Bombeiro pouco esclarecido e que agora papagueia) têm uma explicação simples: houve pouca precipitação, formou-se pouca biomassa e assim acaba por arder menos área e menos biomassa vegetal (não, os Bombeiros com o PS não ficaram melhores, pois 3 anos sem material novo de combate a incêndios paga-se caro).

    Propostas:
    1. Venha o material de outros países ajudar...
    2. Comprem material novo aos bombeiros...
    3. Comprem, de uma vez por todas, meios áreos (não aluguem)...
    4. Lei das Sesmarias Florestais já (volta, D. Fernando!)...
    5. Explorem a possibilidade de recolher a biomassa vegetal e queimem-na, produzindo energia...
    6. As prisões portuguesas estão cheias de gente sem tendências piromaníacas que não se importavam de dar uma ajuda nesta área...
    7. A GNR e FA devem trabalhar mais na prevenção e, por vezes, na luta contra as chamas...
    8. Pensem em apoiar um pouco mais o voluntariado em Portugal...

    P.S. Ontem a minha querida Coimbra também estava a arder... Estive ainda quase a ficar retido ontem na A23 da Beira Baixa-Ribatejo pelo incêndio (eu, ex-bombeiro voluntário, a quem isto tudo dá asco e dor...).
    Olindo Iglesias said...
    Tão triste quanto a devastação causada pelos incêndios é ver Portugal ser notícia na BBC World constantemente pelas piores razões (ora é arrastão, ora é pedofilia, ora é crise económica).

    Na BBC world vê-se o melhor e o pior do combate aos fogos, desde o Canadair até ao bombeiro sem qualquer tipo de protecção a carregar um balde de plástico carregado de água na esperança que o seu pequeno esforço faça a diferença.

    É triste ver que trinta anos de democracia apenas trouxeram corrupção, roubos, fraudes e governantes que de tão fraca moral e inqualificáveis práticas que nem vale a pena comentar.

    Ainda me pergunto se alguma vez valerá a pena regressar a Portugal. Qq dia já nem para passar férias vale a pena.
    Anónimo said...
    Eu não queria acreditar que atingimos os limites da nossa competência, enquanto povo.
    Mas os sinais aí estão a confirmar as minhas suspeitas:
    Um país de corruptos;
    Apontados corruptos e até foragidos a candidatarem-se a eleições e as sondagens a colocá-los no poder;
    O regime democrático transformado numa partidocracia;
    Os partidos políticos colonizados pelos grupos de interesses sanguessugas;
    Os políticos, verdadeiros vendedores de banha-da-cobra, já não são os homens bons da terra, mas apenas aqueles que carreados ao colo pelos padrinhos, ascendem nas estruturas partidárias exactamente para esse efeito: São políticos de aviário.
    Os governos que em lugar de governar o país, governam-se e desgovernam o país, fazendo da vida de milhões de portugueses gato-sapato;
    O interesse público metido na gaveta e os interesses partidários e clientelares a emergir como farol da gentalha governante;
    O princípio da legalidade, feito de plasticina e moldado aos interesses clientelares;
    As estruturas do Estado sugadas até ao tutano (veja-se o que aconteceu aos biliões dos fundos europeus, o que acontece nos Institutos públicos, nas enpresas públicas por onde se passeiam regularmente os cães de fila, os homens de mão dos partidos, sugando milhões aos cofres do Estado, directa e indirectamente, enquanto a populaça sua as estopinhas e arrota com a factura);
    O compadrio, a cunha, a informação privilegiada, como forma banal e banalizada de actuação;
    O negócio admitido (quando não fomentado)dos incêndios;
    Os projectos megalómanos decididos sem estudos prévios mas que certamente servem interesses clientelares ávidos destes Eldorados, destes paraísos da corrupção, capazes de transformar orçamentos de milhões em despesa de biliões. Para a sua barriguinha, para a barriguinha dos senhores políticos e quejandos e dos respectivos partidos políticos;
    Mário Soares candidato a PR para que Cavaco não se pavoneie pela Avenida...
    A prolixidade legiferante e a má feitura das leis como forma de empastelar a acção da justiça e deixar "gaps" como portas de cavalo para os negócios mais escusos e os pareceres externos milionários para grandes escritórios e empresas de consultoria;
    O ataque às magistraturas que estavam a chegar perto dos poderosos, desde os seus privados vícios aos seus criminosos negócios;
    Os municípios transformados em máquinas de corrupção, que deixam atrás de si uma esteira de desordenamento urbanístico, de agressões ao meio ambiente, de depauperação das suas populações, de endividamento das gerações futuras;
    (...)

    Portugal está a saque! ou somos simplesmente incompetentes?

    Olhamos para o PM e para os ministros e ouvimos o seu discurso, como todos os outros discursos de todos os outros PM: de circunstância, sabidolas, de esperteza-saloia.
    O que não admira: isto não passa de um país de chico-espertos (com honrosas exceções, como por exemplo o meu amigo Senhor Manuel da Lagariça, analfabeto, trabalhador à jorna e poeta popular nas horas vagas).
    Se os sucessivos governos tivessem como meta da sua governação o interesse público, verdadeiramente o interesse do país, certamente que haveria áreas de actuação comuns a todos eles, medidas tomadas que fossem do agrado de todos eles.
    Não há: Vem um governo e diz. Vem outro e desdiz. Vem outro e revoga tudo e dá novas cartas. Vem outro e já não e assim, agora é ao contrário.
    É o desnorte.
    Ou talvez não seja.
    Talvez seja apenas os senhores políticos e os seus partidos a governarem-se e a governarem as suas clientelas.
    O que fazem e podem fazer impunemente.
    Têm tudo pra o fazer, desde o domínio das estruturas económicas e financeiras pelos seus clientes, passando pelo domínio dos media - os jornalistas são cada vez menos jornalistas e cada vez mais jornaleiros (de jorna) - até uma classe votante anónima e amorfa, manipuláveis como um rebanho, que os reconduz sistemáticamente no poder, dando o carácter formal e a aparência de uma democracia.
    Atingimos os limites da nossa competência?
    Quero acreditar que não, mas a merda da realidade (ou melhor, a realidade de merda) está aí...
    Anónimo said...
    Pobre Portugal!
    josé said...
    Caro xavier:

    O seu comentário vai para o portal, posto a postal! Sintetiza o que há para dizer e que só os blogs o dizem: os media tradicionais não podem falar esta linguagem e as letras do alfabeto do jornalista tradicional não comportam este alfabeto.
    Muitos poderão dizer: é catastrofismo! É negativismo;é bota-abaixismo!
    Não é. É um retrato muito fiel do Portugal que nos fizeram durante estes últimos decénios e se há pessoas que chegaram a estas conclusões - que subscrevo, aliás -os motivos e razões podem ser apresentados, para quem ainda seja como os cegos, podendo e devendo ver sem obstáculos o que está á vista desarmada.

    Parabéns e permita-me o abuso do copy paste.
    Anónimo said...
    Prossegue a bom ritmo o campeonato do mata e esfola...

    É mesmo fácil e apelativo o discurso do bota-abaixo, do "eles são uma merda" (nunca sou "eu", são sempre "os outros", não é...?), do "fim da República", etc etc.

    Mas...

    Por muito que doa aos depressivos do regime, o mundo pula e avança, e há quem trabalhe todos os dias e produza coisas e viva bem. Sem compadrios, sem vergonhas, sem políticas, sem lágrimas e ranger de dentes.

    Ainda não deram por isso?

    É sair à rua e ver...

    E por muito giras que sejam estas "tribunas", as opiniões não têm que ser "definitivas", "arrasadoras", não me consta que tenham aparecido sarças ardentes aí pela 2ª circular a derramar o Espírito sobre tanto putativo salvador da Pátria...


    Bebam qualquer coisa que a azia passa...
    Anónimo said...
    O que está a acontecer em Portugal, acontece actualmente também em Espanha/Galiza.
    Obviamente que com o mal dos outros vivemos nós bem, a não ser que a causa seja também o facto de espanha ser governada por socialista.
    Demagogia cada um toma a que quer!
    josé said...
    Absolutamente, caro Pedro M!

    Em eleições temos visto o que temos visto.
    A democracia ainda é o melhor que temos.
    O regime que temos esgotou!

    Não somos nós que o dizemos.
    Ainda hoje, Marques Bessa, politólogo, o afirma no O Diabo.

    É de "direita"?! E daí? Será menos verdade?
    E o José Adelino Maltez, também?! E daí?!

    Mostrem os que lá tem estado que conseguem fazer um melhor Estado! Mostrem e as pessoas verão!

    Até agora, é isto e quem se mostra contentinho não contesta. Apenas provoca.
    Anónimo said...
    Caro Jos

    Essa do contentinho deve ser para mim (detectei o tom carinhoso e a superioridade paternalista que agradeço com enlevo e bater de pestanas).
    Levou a resposta no post acima, que me abstenho de reproduzir.

    Sobre este pequeno detalhe:
    " Mostrem os que lá tem estado que conseguem fazer um melhor Estado! Mostrem e as pessoas verão! ",

    só uma nota: depois de tanto ponto de exclamação, não acha melhor dizer simplesmente assim: "eu sou muita bom! eu é que devia mandar nisto tudo! que chatice esta coisa de ir a votos! porque é que não me põem apenas a mandar e pronto?!"

    Do meu lado, não sou político nem sou masoquista a ponto de ter ambições de o ser. E não creio que o facto de usar menos pontos de exclamação me dê menos direito a buscar a "Verdade".

    Ah, claro, se lhe fizer confusão a presença dos comentários do contentinho diga que eu deixo de aparecer... não quero que uma opinião discordante possa travar o seu caminho para a Revelação suprema.
    josé said...
    O "contentinho" não é forçosamente para sí, caro anónimo.

    O "contentinho" é aquele ou aquela que está muito bem com a vida de que tem e que vai arranjando.

    Tem um emprego ou empresa confortáveis. Está casado ou casada e tem filhinhos adoráveis.
    Os empreguinhos foi-os conseguindo com o mérito devido e ninguém contesta.

    Vive acima da média e vai vivendo feliz, dentro dessa média.

    Se quiser, até poderia dizer que faço parte dos contentinhos.
    Então por que razão os provoco no seu contentamento tão fofinho?!

    Por isto:
    Basta olhar, apreciando o que se passa nas instuições que citamos e ver como funcionam. Ver quem manda nelas e ver quem determina o modo de funcionamento das mesmas.

    Depois, comparar o ideal democrático que alguns países já alcançaram como por exemplo, aqueles que na Europa estão mais desenvolvidos e proporcionam melhor nível de vida aos seus cidadãos, para perceber as razões pelas quais não me sinto nada contentinho apesar de o poder estar.

    Por outro lado, aprecio, leio, vejo, penso e dou opinião sobre o modo como isto chegou onde chegou.
    É uma opinião, é certo.
    Mas não é certamente a de um contentinho que se fica pelo seu quintalzinho muito bem cuidado, esquecendo os arredores de subúrbio que se véem ao longe.

    Sobre esta mitologia dos contentinhos, os indivíduos de esquerda, dantes, fartavam-se de comentar. Há um autor espanhol que não lembro agora o nome que até tinha uma canção chamada "cajitas": caixinhas! Mencionando aqueles que tique-taque vivem nas caixinhas acondicionadinhas e direitinhas.

    Desgraçadamente, é contra a esquerda que agora se levanta o coro dos protestos! Agora, é a chamada esquerda que fez a borrada que vemos e é contra os contentinhos de "esquerda" que é preciso marchar! Cantando e rindo, se preciso for, pois cada vez nos afundam mais! Em nome de uma democracia que esqueceram e em nome de princípios que não praticam.
    Tornaram-se, eles mesmos, Contentinhos!
    Anónimo said...
    Para o Pedro M e o José

    Obrigado.
    Ao fim de uns 4 ou 5 posts que andavam a resvalar cada vez mais para a demagogia bacoca e estéril gostei da elevação dos vossos últimos comentários.

    Ao Pedro, a minha sincera admiração e um lamento. Admiração como a atitude que tenho sempre por quem faz o que eu não seria capaz de fazer. Neste caso, ir mesmo para a Política, ir a votos, etc.
    Admiro porque não era capaz de sujeitar a minha - sim, eu sei... - confortável vida familiar e profissional em benefício de um "bem público" cuja importância reconheço mas não me motiva.
    E, sim, admito, receio perder a minha adorada intimidade e não quero ter o meu nome a ser discutido por uns quaisquer badamecos que não me conhecendo de lado nenhum se julgariam no direito automático de me julgar (está a reconhecer algum padrão na blogosfera?).

    Lamento que tudo, pelos vistos, lhe tenha corrido mal, tenha assistido a tanta podridão e miséria (é o que se depreende das suas palavras, mas não sendo dito suponho também que não terá chegado ao estado de ganhar efectivamente nada, presumo).

    Sinceramente, gostaria que não fosse assim, não tenho meios para afirmar que é sempre assim, mas sobretudo acredito que é melhor correr o risco de deixar um criminoso em liberdade do que difamar um inocente (pois, será fraqueza minha, mas acontece que este é também o princípio que enforma qualquer ordenamento jurídico de qualquer país que eu respeite).
    Por isso, e por muito má que tenha sido a sua experiência (que, reconheço agora, lhe dá uma legitimidade superior para falar desse tema), continuo a não embarcar nas generalizações e a aconselhar como forma de dormir tranquilamente em consciência que não se desperdicem calúnias e difamações.

    Ao José, só um repto, agradecendo agora que me faz a fineza de não incluir automaticamente no rol dos contentinhos(e agradecendo sinceramente o calibre e elevação do último comentário): experimente uma derivada desse discurso em ordem à responsabilidade individual de cada cidadão, em vez de fazer sempre o discurso em função "dos outros", do "sistema", etc.
    É que pelo menos desde o Eça (lamento mas não sou dado a leituras muito anteriores a estas) que a função dos bobos (em bom sentido) dos diferentes regimes foi sempre de "zurzir na canalha" que nos governa. Que são sempre "os outros", que é sempre "o sistema".
    Mais de 100 anos não serão suficientes para talvez, eventualmente, começar a mudar de discurso?
    É que tenho a sensação que vamos sempre queimando (quanto mais depressa melhor, ao ritmo dos telejornais e das novelas) todos os que se atrevem a pôr um pé na coisa pública, até não sobrar mesmo ninguém...
    josé said...
    Diz o anónimo:

    "experimente uma derivada desse discurso em ordem à responsabilidade individual de cada cidadão, em vez de fazer sempre o discurso em função "dos outros", do "sistema", etc."

    Mas é exactamente isso que aqui procuro fazer, descontando as vezes que me dou à desbunda da indignação a eito.

    A tal resposabilidade individual é o que pratico por aqui ou pelo menos tento.

    Se toda a gente tivesse o mesmo sentido de pensamento alguma vez um Isaltino sonharia sequer em ser candidato à Câmara?! Alguma vez a Felgueiras teria a desfaçatez que tem?!

    Alguma vez um louco poderia concorrer a Amarante?!

    Alguma vez Soares seria candidato?
    Alguma vez teríamos a deriva de um Durão para um Santana e de pois para um Sócrates?!
    Alguma vez teríamos este estado deletério em que um semanário ataca impunemente uma instituição como a PGR sem o mínimo de fundamento a não ser os que inventa?!
    Alguma vez teríamos escândalos como os do Portucale, do Freeport, da Galp, da CGD, da PMLJ e alguma vez teríamos os escritórios de advocacia de "negócios" que temos?!

    Não é que me sinta superior ou inferior, mas a minha responsabilidade individual obriga-me a denunciar publicamente essas coisas que julgo lamentáveis e extremamente nocivas na sociedade portuguesa.
    Para tal exercço o meu direito à indignação aqui, exprimindo o que penso.
    Para já em liberdade. Vamos a ver a seguir...

    Isso, quanto a mim, caro anónimo, é o mínimo que poderemos fazer cokmo cidadãos: não é acusar por acusar e por revanchismo bacoco contra quem pensamos ser inimigos. Não!
    É para tentar equlibrar a balança da justiça que todos temos dentro de nós.
    Até V. caro anónimo, como se nota pelos comentários. V. faz o mesmo que nós aqui: só não chega tão longe! Avance um pouco mais então!

    E se em vez de um anónimo forem milhares e milhares deles, as coisa mudam! Ai mudam , mudam!
    Aí está então a responsabilidade individual que podemos ter!
    ( as exclamações são apenas figuras de estilo; retórica, em suma...)
    Anónimo said...
    Caro José

    Como de costume, de acordo até ao momento em que entra tudo no mesmo saco.

    Felgueiras, Isaltinos e Ferreiras Torres são, suponho, casos de Polícia e, sim, de ética e decência elementares.

    Durão, Santana, Cavaco, Soares, Sócrates, Costa, etc. são, suponho (à falta de indícios judiciais que não invoca em lado nenhum), meras questões de opinião política.

    Há que destinguir as coisas, para os bebés não seguirem sempre com a água do banho.

    Não se pode (é a minha ética que o dita) no mesmo texto zurzir na "corrupção" (que é crime) e incluir no mesmo parágrafo nomes de pessoas que, até evidência em contrário, cometeram o único "crime" de ter opções políticas diversas das suas.

    Acho que o debate político das opções tem elevação suficiente (se quisermos que tenha...) para não ter que ser tratado na água de outros banhos.
    josé said...
    Tem razão em distinguir.
    Mas o problema é que uma coisa leva necessariamente á outra:

    aqueles políticos que mencionei são os que tem sido escolhidos recentemente como líderes. Não importa o partido porque sõa farinha do mesmo saco e que é aquele que acabamos por criticar nesta altura.
    As pessoas estão fartas deste tipo de políticos porque são exactamente eles que nos têm conduzido para onde estamos.

    No Evangelho diz-se que as árvores conhecem-se pelos frutos que dão.
    Estes políticos que enumerei são os responsáveis directos pelas políticas que temos e pelos resaultados admiráveis a que chegamos.
    Não são outros: são exactamente eles! E é por isso que estamos neste atoleiro!
    É a minha opinião, claro.
    josé said...
    Se um equipa de futebol com aspirações ao título, começa a perder jogos sem razão aparente que não sejam as opções erradas dos treinadores, mudam-se os treinadores.
    É verdade que o assunto é mais complexo do que isto, mas dá para entender onde quero chegar.
    Portugal, como equipa a jogar o campeonato europeu, perde há dezenas de anos.
    NO entanto, o naipe de trinadores é sempre o mesmo e as receitas para os jogos exactamente as mesmas.
    Com a agravante que neste campeonato nem podemos fazer aquilo que aparentemente melhor sabemos: desenrascar, aldrabando.
    Anónimo said...
    Comentário aos posts - "A apagada e vil tristeza..." e " Incêndios em escalada,..."

    A democracia portuguesa aos trinta anos ficou balzaquiana...
    Vejamos:Temos um estado de direito democrático, que pressupõe liberdades cívicas - direitos de liberdade de pensamento, expressão, reunião, associação, imprensa livre;
    liberdade política - "uma pessoa/um voto", alternância e alternativas políticas - partidos; liberdade económica - livre iniciativa e economia aberta.
    Poderes repartidos em instâncias diferentes, autónomos, mas interdependentes - Parlamento, Governo e Triunais.
    Formalmente isto é uma Democracia.
    Mas faltam dois requisitos fundamentais:Estado neutro e sociedade civil - que ainda não soubemos construir.
    Quanto ao primeiro não falo, pois sou suspeito dado pertencer ao Partido do Estado, na feliz definição de M.Carreira.
    Quanto à segunda devo dizer que, anónimo ou de cara descoberta, muito se pode fazer na blogosfera, nem que seja ao nível da mera discussão das ideias.
    Todavia vejo que abunda muito conformismo, mas o caso da divulgação dos estudos da OTA mostra que cidadãos muito diferentes podem, num dado momento e em torno de uma causa concreta, provar quanta força latente e sujeita a desperdício...consegue de facto devolver ao espaço público uma discussão que é nesse plano que deve ser feita.
    Quanto aos incêndios - o conformismo e mesmo indiferença são criminosos:O modelo de ordenamento florestal tem 150 anos e as condições da sua gestão alteraram-se radicalmente nos últimos 20 - o que está a arder é o país físico, pois o país social e cultural já ardeu há muito!!

    Ass.Maria da Fonte II

Post a Comment