Ensino da Matemática - verdades duras

Matemática compromete recursos humanos do País

Os maus professores de Matemática "estão a comprometer os recursos humanos das próximas gerações de profissionais portugueses". De acordo com os especialistas, depois de 70% dos alunos do 9.º ano terem chumbado à disciplina nos exames nacionais, muitos terão desistido de seguir a sua vocação, voltando-se para áreas que os formarão como técnicos frustrados. Um fenómeno que será visível, pelo menos, nos próximos dez anos.

O problema não é novo, resume anos de inércia e ultrapassa a própria escola. Baixas expectativas, má qualidade do ensino, ausência de uma cultura de valorização do esforço e problemas na orientação pedagógica dos novos professores são só algumas das falhas.

(...) Para Paulo Morais, professor catedrático e um dos responsáveis pela elaboração do programa, "os maus resultados nos exames vão fazer com que jovens que poderiam querer ser bons engenheiros fujam para a área de Humanidades e se transformem em profissionais frustrados ou desempregados". Assim, "faltam agentes nas áreas tecnológicas e científicas e sobram nas ciências sociais e humanas". A responsabilidade cabe, segundo o professor, a "maus docentes que quebram a cadeia da aprendizagem". E porque o ensino da Matemática é sequencial, "um mau professor pode destruir a vocação de centenas de alunos". (...)


No entanto, para José Manuel Matos, se as crianças vivem em meios desfavorecidos, a atitude da escola não deveria ser a de "cruzar os braços". Por isso, defende, "é preciso melhorar a qualidade do ensino, investindo em metodologias mais rentáveis". Portugal é um dos países do mundo que mais tempo gastam a ensinar álgebra e, contudo, os professores queixam- -se que os alunos que lhes "chegam à mãos" não a dominam.

A falta de bases é a razão apontada pelos professores do 2.º e 3.º ciclos ou do secundário para o insucesso. Para Isabel Rocha, presidente da Associação de Professores de Matemática, alunos que passam até ao 9.º ano, depois de sucessivas reprovações, são um dos problemas "É uma bola de neve que leva os alunos a desinvestir. No entanto, se o aluno desistiu, a escola não pode desistir dele e deve apoiá-lo."

Uma ajuda que nem sempre é aproveitada pelo estudante. Por isso, "há que responsabilizar mais os alunos e os seus pais no campo do apoio pedagógico", defende José António Fernandes, para quem o insucesso é "um problema complexo e não é só de agora". Há um motivo mais geral "A sociedade tem uma cultura de menor esforço e trabalho e apresentar a aprendizagem apenas como resultado do prazer e satisfação não é suficiente."

Por outro lado, afirma, "não se tem acautelado a qualidade dos estágios pedagógicos", sobretudo "na forma como se recruta orientadores que, por vezes, se oferecem para esta função apenas para conseguirem um lugar mais perto de casa". A formação contínua, explica José Fernandes, "está muito desligada das didácticas específicas" e a prática pedagógica dos professores pouco assente em trabalho de equipa. A solução não passa por reformas curriculares "Os professores precisam de um certo amadurecimento."

Diário de Notícias

Publicado por Manuel 12:45:00  

2 Comments:

  1. Zu said...
    Gostava bastante de saber onde andam os génios (sem gosto pela Matemática) que se refugiaram nas ciências humanas. Devem estar tão escondidos que ninguém os vê: as médias de entrada no ensino superior nesta área do saber estão a cair vertiginosamente nos últimos anos. Se calhar, os futuros não-engenheiros-vítimas-da-Matemática são mesmo mauzinhos.
    Em lugar de dizerem as coisas desse modo, porque não falar da má qualidade GERAL dos alunos que terminam o secundário, e que raramente sabem expressar-se em português escorreito? Sem saberem exprimir-se, como querem que eles compreendam o que quer que seja?
    Anónimo said...
    alunos que passam até ao 9.º ano, depois de sucessivas reprovações, são um dos problemas
    então agora que está identificado o problema, o que é que se faz?

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