Bem-vindo, dr. Soares

1. José Sócrates, famoso em Portugal e arredores pela sua presuntiva autoridade, sofreu, em apenas uma semana, dois reveses nessa sua "qualidade". O primeiro, constituiu-se na "fala" amplamente comentada de Freitas do Amaral, algo que ele suportou menos mal, ruminando a "inteligência" do exercício. Como quase sempre, Freitas marcha a reboque dos acontecimentos. Também aquela sua "fala", como escrevi, antecipou a verdadeira. E chegamos assim à segunda machadada na famosa autoridade. Ainda há poucos dias, Sócrates disse que as presidenciais não estavam nem na sua agenda, nem na agenda dos portugueses. Ninguém, acrescentou, lhe arrancaria o mais vago comentário sobre o assunto, de que cuidaria oportunamente. Engano dele. Mário Soares "obrigou-o" a dizer publicamente quem era o candidato do PS. Ou seja, Soares começa ao contrário. "Encolheu" da nação para o partido, quando normalmente um aspirante presidencial "cresce" de um partido para a nação. Não obstante, é o primeiro melhor último recurso depois de Guterres, Vitorino ou de Alegre que -imagino - deve estar nesta altura "invadido" pelos melhores sentimentos.
2. Os desenvolvimentos dos últimos dias, no seio do governo, trouxeram de volta a lembrança da verdadeira "génese" política de Sócrates. Primeiro, o "aparelho" local partidário, depois o "aparelho" geral partidário, com o mesmo apoio "logístico" de que Guterres já tinha beneficiado contra Sampaio, o omnipresente dr. Jorge Coelho. A grunhice de Mesquita Machado, o "patrão" dos autarcas socialistas, proferida acerca da demissão de Campos e Cunha, avivou-me definitivamente a memória. Mário Soares vem porventura tentar tapar o último buraco da sua carreira política, ao mesmo tempo que ajuda a tapar o do partido e o de Sócrates, manifestamente já "a reboque" do "fundador". O "modelo" presidencial, protagonizado durante algum tempo por Soares e durante todo o tempo por Sampaio, está claramente ultrapassado. Já não basta ser "moderador e árbitro". Vai ser, sobretudo, preciso um "orientador". Soares, de novo em Belém, não quererá deixar de o ser, especialmente em relação a um Sócrates que intimamente deve desprezar e que, mesmo sem ainda ter anunciado nada, já "comanda". Chamar-se-á a isto "estabilidade"?
3. Eu estive no MASP I e II, há mais de vinte e de quinze anos respectivamente, correndo riscos de expulsão partidária no primeiro caso. Quando o desvario Barroso/Santana Lopes estava no auge, defendi aqui uma recandidatura "soarista". Sobreveio inesperadamente Sócrates e, com ele, a maioria absoluta do PS, que apoiei. A entrada de Mário Soares na "corrida" de 2006 confere-lhe indiscutivelmente uma densidade política bastante mais interessante do que se esperava. E, seja qual for o resultado, dará uma legitimidade democrática robustecida ao novo presidente que eu continuo a defender que deve ser Cavaco Silva, por razões que a seu tempo detalharei. Desta vez não o acompanho, dr. Soares. Mas seja bem-vindo.

Publicado por João Gonçalves 18:32:00  

3 Comments:

  1. Anónimo said...
    a velha raposa dá uma ajuda ao PS aliviando a pressão da opinião pública desviando a atenção das últimas trapalhadas, centrando a comunicação social nas presidenciais.
    Só Ares na sua especilalidade de mestre de cerimónias, muita conversa poucos resultados, como se viu no passado.
    Não entendo como pessoas com 45 anos são hoje considerados por muitas empresas velhos, e este iluminado com 81 anos está no auge... Só neste país.
    O Reformista said...
    Cavaco "sacrificava-se" a ser Presidente para apoiar Campos e Cunha.
    De repente tudo mudou.
    Cavaco agora tem que se candidatar-se contra a linha do Governo que ganhou. Linha que Soares vai apoiar com toda a força.
    No meio, Socrates suicidou-se
    E o País cada vez mais enterrado
    No Reformista relembro hoje dois post que publiquei em 5 e 6 de Março quando se conheceu o Governo. Neles se previu tudo o que aconteceu e pelas exactas razões.Sugiro a visita
    António Alvim
    Fernando Martins said...
    Candidatos a Presidente da República...? Mas ainda há republicanos...?

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