notícias a la carte
(actualizado às 18h05)

As notícias levadas à capa do Independente, desde há uns anos para cá, dariam matéria bem suculenta para quem quisesse apreciar os nacos de prosa intencional de um jornalismo "engagé", não se sabe bem em quê.

Hoje, a notícia é sobre ...Sócrates! A gente que lê percebe imediatamente o interesse jornalístico - eleições à porta; Sócrates apontado primeiro-ministro "with a bullet", oposição em pantanas e tachos a arder em lume brando ou já arrumados nas prateleiras do fundo.

Assim, a "bomba" é...o financiamento partidário da campanha eleitoral do PS! Nem mais...

A notícia começa assim

A Polícia Judiciária (PJ) tem "fortes indícios" de que a alteração da Zona de Protecção do Estuário do Tejo por José Sócrates terá tido como contrapartida o financiamento de campanhas eleitorais do PS.

Zás! Deve ser a primeira vez que alguém escreve, com tanta desenvoltura esclarecida, que há "fortes indícios" de que determinado negócio público-privado, colheu dividendos para sacos azuis partidários. Nem em Felgueiras; nem na Guarda; nem em Oeiras ou em Cascais tal aconteceu. Suspeitas poderia haver; investigações idem; agora, "indícios fortes" de angariação de moedas e notas para pagamentos de companhas, isso é que é novidade d' O Independente! E logo agora...

Pois bem,

Como chegou tal novidade ao jornal dirigido pela intrépida Inês, no artigo assinado por Francisco Teixeira?

Ele o diz, através de um Inquérito Policial! Primeiro erro - não há Inquéritos policiais! O Inquérito que pode existir é apenas o previsto na lei de processo penal- artº 241 e seguintes e artº 262 e seguintes do Código de Processo Penal.

Logo, o processo que existe não é policial, mas do Ministério Público. Estará na PJ para investigação porque esta entidade é a competente para tal, nestes casos- artº 4º al. s 9 da Lei 21/2000 de 10 de Agosto.

Diz-se também na notícia que "A PJ requereu já ao Ministério Público diversas diligências". Outra asneira, esta mais relativa - a PJ não requere nada a quem dirige o Inquérito (artº 263º nº 1 do CPP) ! Quando muito sugere, num espírito de colaboração, já que lhe compete assistir o MP e segundo o nº 2 do artº 263, a PJ "actua sob a directa orientação do MP ". É assim que deve ser e se assim não foi, há um carro à frente dos bois, notoriamente.

Seja como for, há matéria para o jornalista indagar, antes de publicar.

Finalmente, o mais grave. Escreve-se na notícia que "De acordo com um mandado de busca e apreensão a que o Independente teve acesso, os investigadores têm autorização judicial para passar a pente fino o Freeport. Na quarta-feira de Cinzas, a PJ fez uma busca na Câmara de Alcochete".

Isto, já não é simplesmente fruto de um erro ou de uma ignorância. Isto é uma violação flagrante do segredo de justiça, contada quase em directo. Ou então, um grande embuste. Um logro que deve ser colocado como hipótese bem plausível, perante o bem visível rigor demonstrado na notícia.

O acesso que o jornal teve ao tal eventual "mandado de busca" associado ao facto de se escrever que o jornalista teve acesso a " um documento da PJ ", faz pensar em quê, no que se refere a essa violação flagrante do segredo de justiça ?! Obviamente que alguém da PJ, ou pelo menos alguém directamente ligado ao processo, o forneceu! E se isso for verdade, e o facto relatado corresponder à realidade, é objectivamente grave.

Mas pode não ser! Não seria a primeira vez que num jornal se escreve algo...inventado! Veja-se a título de exemplo o que se passou no Público ainda nesta semana.

E por isso nessa dúvida fico. Ou seja, a notícia do Independente não me merece crédito, pelas asneiras que invoca; pela intenção turva que imprime e pela incerteza das fontes.

Em resumo, mau jornalismo!

Enfim... valerá tudo, na luta política? E o jornalismo deve servir para essa luta política directa e sem pejo?

ADENDA ( às 18h e 5)

O Correio da Manhã escreveu sobre o assunto. A notícia parece-me de sobriedade qb e no seu maior relevo- que é sem dúvida a imputação de responsabilidades, - antes das investigações estarem concluídas, escreveu...
O presidente da Câmara de Alcochete, José Dias Inocêncio, afirma desconhecer sobre quem poderão recair as suspeitas dos crimes de corrupção e de participação económica em negócio que estão a ser investigados pela Polícia Judiciária, mas garante que “todo o processo de licenciamento da Freeport foi exemplar”.

O Público, sobre o assunto, numa página interior e sem destaque de maior, escreveu, no que é mais sensível, o seguinte:
(...)um inquérito que incide sobre suspeitas dos crimes de corrupção e participação económica em negócio, que está a ser investigado há vários meses.

Em causa estão, essencialmente, as circunstâncias em que o Ministério do Ambiente, à época dirigido por José Sócrates, aprovou uma alteração aos limites da Zona Especial de Protecção (ZPE) do Estuário do Tejo na zona do Freeport e avaliou favoravelmente os impactes ambientais da sua construção.

A notícia do Independente é um pouco mais sofisticada...
Para além da chamada da primeira página, com o apelo do costume à cacha e à "bomba" escondida e prestes a rebentar, o teor da notícia é mais explícito e não deixa lugar a qualquer dúvida, mesmo ao mais ingénuo...
A Polícia Judiciária (PJ) tem "fortes indícios" de que a alteração da Zona de Protecção do Estuário do Tejo por José Sócrates terá tido como contrapartida o financiamento de campanhas eleitorais do PS.

Não se confundam as coisas
. Porque outros o fazem com esse mesmo propósito.

Publicado por josé 11:51:00  

15 Comments:

  1. zazie said...
    obrigada pelo esclarecimento, José

    É que eu não percebo destas coisas mas li a notícia. E também sei que o Independente é um pasquim liderado por gente que já devia ter ido de cana por muito do que tem feito.
    Mas, ainda assim, também disse ali em baixo no poste do rui macabe que não me parecia a mesma coisa que o nariz de palhaço
    Pelo que acaba de explicar isto é mesmo muito mais grave.
    E se for tudo fabricado devia dar direito a demissão. tal como o JMF também devia ter saído depois do sucedeu no Público.
    zazie said...
    direito a demissão da dita profissão. A processo judicial. Que fique claro.
    Luís Filipe Rodrigues said...
    Jornalismo? Se aquilo é jornalismo temos tido políticos nos governos...
    Anónimo said...
    É necessário não esquecer que quem dirige a propaganda são brasileiros vindos da escola que "derreteu" o Color de Mello ... recordam-se ?

    Não esperem um mínimo "honestidade" vinda de tal escola.

    É O VALE TUDO.
    Anónimo said...
    A notícia não é só do "Independente". Saiu, com diferentes graus de pormenorização e diferentes tratamentos, pelo menos também no Público, JN e DN.
    Que o "Independente" não merece crédito não discuto. Que tem incorrecções grosseiras em matéria jurídica é evidente. A questão do "acesso" ao mandado comporta porém outra possibilidade mais benigna: conhecimento do seu teor por relato de interposta pessoa à qual o mesmo tenha sido exibido.
    Mas nada disto altera o essencial:
    a) as suspeitas que existam sobre Sócrates foram obviamente divulgadas à generalidade da comunicação social, de forma intencional, visando desacreditá-lo numa fase crítica da campanha eleitoral, na sequência de outras manobras do mesmo jaez;
    b) ainda que seja suspeito neste - ou até em vários outros inquéritos - Sócrates presume-se inocente para todos os efeitos;
    c) Não tendo sido constituído arguido - que se saiba - nem sequer razões de ética política impõem que seja tirada qualquer consequência da situação.
    Em todo o caso, é provável que o feitiço se vire contra os desastrados feiticeiros que o gizaram. Estando já criado um clima propício à vitimização de Sócrates, pela campanha torpe de que tem sido alvo, só idiotas que se julgam génios do marketing político se lembrariam de lhe proporcionar a "Marinha Grande" que lhe estava a fazer falta.
    Bom proveito!
    Anónimo said...
    A notícia não é só do "Independente". Saiu, com diferentes graus de pormenorização e diferentes tratamentos, pelo menos também no Público, JN e DN.
    Que o "Independente" não merece crédito não discuto. Que tem incorrecções grosseiras em matéria jurídica é evidente. A questão do "acesso" ao mandado comporta porém outra possibilidade mais benigna: conhecimento do seu teor por relato de interposta pessoa à qual o mesmo tenha sido exibido.
    Mas nada disto altera o essencial:
    a) as suspeitas que existam sobre Sócrates foram obviamente divulgadas à generalidade da comunicação social, de forma intencional, visando desacreditá-lo numa fase crítica da campanha eleitoral, na sequência de outras manobras do mesmo jaez;
    b) ainda que seja suspeito neste - ou até em vários outros inquéritos - Sócrates presume-se inocente para todos os efeitos;
    c) Não tendo sido constituído arguido - que se saiba - neste momento nem sequer razões de ética política impõem que seja tirada qualquer consequência das aludidas suspeitas.
    Em todo o caso, é provável que o feitiço se vire contra os desastrados feiticeiros que o gizaram. Estando já criado um clima propício à vitimização de Sócrates, pela campanha torpe de que tem sido alvo, só idiotas que se julgam génios do marketing político se lembrariam de lhe proporcionar a "Marinha Grande" que lhe estava a fazer falta.
    Bom proveito!
    Anónimo said...
    A gerra suja do tablóide e o Florilégio Eleitoral do autor do blogue "Portugal dos Pequeninos":

    Por certo, o inefável João Serpa Gonçalves, adepto da candidadatura do Prof. Cavaco às presidenciais, seguidor de Manuel Maria Carrilho e adepto entusiasta da candidatura de José Socrates a 1.º ministro - e fiquemos por aqui... - não previa que o seu protagonismo intelectual operático ficasse, desta vez, associado, indelevelmente, à já consabida notícia.
    Eu, na pele dele, ficaria deveras incomodado.
    Como é possível jogar em tantos tabuleiros incluindo o do Independente?
    O PS não vê isto?
    É preciso ter cautela com estes fulanos, porque afinal eles apenas pretendem protagonismo, tudo na senda de um "tacho" e para se manterem na "pool position" prestam-se a inenarráveis piruetas e contorcionismos.
    É preciso ter lata!
    josé said...
    Caro anónimo em duplicado:

    Também ponderei a hipótese de oo tal mandado ter sido mostrado ao/à jornalista. Porém, parecem ser vários os jornalistas.
    O mais contido e parcimonioso parece-me ser o António José Cerejo a quem se deve algum do pouco jornalismo de investigação que temos.
    Assim, resta a hipótese de a notícia ter sido arranjada com uns palpites daqui e dali ( como o Público fez no caso do tabu do Cavaco) e eventualmente com o acesso literal ao próprio mandado ou à notícia concreta da sua existência. Para além do mandado, aliás, a notícia refere o acesso a partes do processo...

    Neste último caso, estamos peran te violação de segredo de justiça.
    Da parte de quem tanto se indignou com a dita aquando do caso Sara Pina...
    zazie said...
    ehehehe até me estou a rir, José. Não é que estava a escrever algo de idêntico no comentário ao último post do jg

    ":O))))
    Anónimo said...
    Eis o que se pode chamar uma Adenda séria e isenta!
    josé said...
    Então, ria-se com esta que fui buscar ao Carvalhadas on line:

    "A verdadeira bravura e coragem, é chegar a casa de madrugada, podre de bêbado, ser recebido pela mulher com uma vassoura na mão e ainda ter peito para perguntar:

    VAIS VARRER OU VAIS VOAR ??? "

    Ahahahahah!
    Bom fim de semana!
    zazie said...
    loooooooooooooooollll ":O))))

    ehehehe esta é de antologia
    zazie said...
    bfs para si também.
    Bisou. Vou ver se trabalho que isto assim não é vida ":O)))
    Anónimo said...
    Caro José:
    Claro que - como aliás referi - o tratamento dado pelo "Público" e outros à notícia é diferente do do "Independente", que está ao pior nível do que por ali se faz. Mesmo tendo em conta que outros jornais também fizeram chamadas (discretas) na primeira página("PJ investiga empreendimento viabilizado nos últimos dias do governo PS - p18" titula o "Público" de hoje na pág. 1). Só pretendi salientar que a notícia estava hoje em quase todos os jornais o que implica uma divulgação intencional em larga escala, aspecto que, a meu ver, não é despiciendo para a análise do caso.
    Posso estar a ser ingénuo mas, do conjunto das notícias, não ficou para mim claro que - desta vez - tenha havido violação do segredo de justiça. Para já dou o benefício da dúvida.
    Bom fim de semana!
    Anónimo em duplicado (por força do blogger).
    Anónimo said...
    Um cobardolas anónimo - como todos os cobardolas que se prezam - deixou aqui um "comentário" em que "alerta" o PS para as minhas alegadas" piruetas" na "ânsia" de "protagonismo", supostamente destinado a obter um "tacho", algo que na opinião do cobardolas terá ficado "indelevelmente" prejudicado pela minha colaboração no Independente. Vai daí, preocupado com o tal "tacho", apressei-me, segundo o cobardolas, a "demarcar-me" da "notícia" do jornal para não prejudicar o meu "protagonismo intelectual operático" (que bela expressão, confesso que nunca me tinha ocorrido). Isto, ainda de acordo com o cobardolas, é agravado por eu apoiar a candidatura presidencial de Cavaco, ser um "seguidor" de Carrilho e finalmente ser um " adepto entusiasta" de Sócrates como 1º ministro. "E fiquemos por aqui...", ameaça o cobardolas, o que faz supôr que serei partidário de mais profundas ignomínias. Feito o sumário, e à laia de passatempo:
    1. Escrevo no Independente com a mesma independência com que escrevo no meu blogue;
    2. Quando achar que assim não é, deixo de escrever;
    3. Pelo facto de para lá escrever de duas em duas semanas, numa página chamada "independências", não tenho nada a ver com a linha editorial do jornal;
    4. Aliás, basta ler o que normalmente escrevem os meus "colegas" dessa página para perceber isso mesmo;
    5. A "notícia" de Alcochete é tão condenável como a do Público sobre Cavaco, fazendo parte da mesma estratégia de "nevoeiro" que eu denunciei no meu blogue;
    6. Limitei-me a chamar a atenção para o escrito em outros jornais sobre a matéria, aliás, algo que continua a ser tratado por alguma imprensa escrita de sábado, 12;
    7. O cobardolas, como raciocina de acordo com o paradigma dos oportunistas, julga que os outros também são como ele;
    8. De facto, defender publicamente Cavaco contra a hipótese Guterres, elogiar publicamente Carrilho, cujo não alinhamento aparelhístico é conhecido, e achar que José Sócrates é o melhor candidato a 1º ministro, deve fazer parte de uma minha elaborada estratégia para "seduzir" o PS enquanto eventual partido de poder no futuro;
    9. Eu habituei-me a pensar pela minha cabeça que é uma coisa que desagrada profundamente aos ambiciosos sem escrúpulos, alguns dos quais eu conheci ou fiquei a conhecer melhor depois da minha passagem pela Cultura, e pelo Teatro de São Carlos, em especial, entre 2002 e 2003;
    10. Aliás, no momento em que tanta gente se punha em bicos dos pés para almejar uma prebenda da actual maioria, tendo alguns vindo a obtê-la pela via mais tortuosa, eu demiti-me numa altura em que nada fazia supôr que o seu funesto mandato ia ser interrompido, arcando com todas as consequências desse acto;
    11. Este anónimo cobardolas conhece-me como eu o conheço, e a diferença abissal entre nós está em que ele se esconde por detrás do mesmo "nevoeiro" e da mesma lama que anda por aí a ser arremessada para ver se pega, e eu dou a cara por aquilo que defendo e por aquilo que critico.É quanto basta.

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