Vasco Ppulido Valente
"A Dúvida de Cavaco"


Cavaco pergunta se em 2015 ou 2020 vamos ficar ao lado da França e da Alemanha ou ao lado Roménia, Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia. Por outras palavras, Cavaco pergunta se vamos ficar na "verdadeira" Europa, a do Ocidente, ou, como sempre, vamos continuar à margem. Boa pergunta, velha pergunta. O actual desespero do país não deriva no fundo da estagnação económica (tivemos pior), nem da crise política (tivemos muito pior). O que nos preocupa, o que nos rói é o "atraso", a "distância" que aumenta e nos separa da "civilização". Queríamos ser como "eles" são "lá fora" e até, um breve momento, pensámos que seríamos, mas parece agora que não somos, nem nunca seremos. Esta humilhação, esta catástrofe, desabou invariavelmente sobre Portugal, quando, a seguir a um período de amargo isolamento, a comunicação com a Europa (repito com a do Ocidente, o nosso modelo) foi intensa e fácil, e permitiu a esperança de um país "regenerado" ou "modernizado" ou "renovado", que se recusou a nascer. Em 1851, depois do absolutismo e das guerras civis, durante o "fontismo", Portugal sonhou ardentemente com a Europa. Quinze anos mais tarde, o sonho estava desfeito e, em seu lugar, já se instalara um abatimento, um desprezo e um azedume, que Eça exprimiu melhor do que ninguém e fez dele o escritor perene da língua. A Pátria "decadente" não passava, afinal, de uma coisa risível. E à volta dessa "coisa" mesquinha e sem destino, a República e a Ditadura tornaram a levantar a muralha da China. A ideia da Europa era interdita; era uma veleidade sem sentido. Com o "25 de Abril", Soares, primeiro, e Cavaco, depois, ressuscitaram a grande fantasia nacional. Desta vez, sim. Portugal pertencia oficialmente à Europa, Portugal ia mesmo "sair da cauda da Europa". O "fontismo" trouxera a "ordem" e o comboio. O "cavaquismo" trouxe virtuosamente o Estado Previdência e a auto-estrada. O país, no essencial, não mudou. Em pouco tempo, afogado em dívidas, caía na sua habitual tristeza e esbracejava à procura de uma salvação qualquer. Infelizmente, hoje não há sequer um Eça para contar a história.

in Público

Publicado por Manuel 16:30:00  

1 Comment:

  1. Luís Bonifácio said...
    Cavaco (bastante activo ultimamente) conta com a memória curta dos Portugueses e com o nosso desconhecimento das grandes questões económicas actuais.

    Se hoje, no vale do Ave. o desemprego é o dobro da média nacional (Será o triplo a muito breve prazo) aqueles que são menos responsáveis chamam-se Barroso e Lopes. O grande responsável chama-se Cavaco, que orientou milhões em fundos europeus para a produção têxtil, quando já se sabia (1985) que era sector sem futuro, a breve prazo.

    Os resultados económicos de hoje em dia resultam de dados que foram atirados em 1986-1990 e que só agora estão a parar de girar. Cavaco lançou os dados em 1986 a pensar que ia sair "6-6", mas usou dados que tinham "1" em todas as faces.

    O Gresham postulou que a má moeda expulsa a boa moeda (Em Inglaterra). Em Portugal a muito má moeda expulsou a que era apenas má (Cavaco).

    Quando tiver tempo abordo isto no Nova Floresta

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