O Caso da Semana
A Chave que empenou a Porta...

A história começou na passada semana, aquando da remodelação de última hora que Santana Lopes encetou no executivo, resguardando o polémico Rui Gomes da Silva para ministro-adjunto e lançando Henrique Chaves, amigo pessoal e apoiante incondicional de Santana Lopes desde o congresso de 1995 - o mesmo que elegeu Fernando Nogueira como líder do PSD – para ministro da juventude e do desporto, uma pasta que mesmo podendo ser presenteada com uns dvd´s de um jogo de futebol, não têm o peso político nem o poder institucional que tinha o cargo que Chaves anteriormente exercia.

Na hora todos perceberam que Chaves, tinha sido despromovido na hierarquia do Governo. Mas a Henrique Chaves tinham-lhe contado que tal tinha sido feito de véspera. Acreditando piamente, veio a descobrir que afinal tal cenário estava a ser equacionado quase há 2 semanas.

Henrique Chaves, qual "animal ferido", no seu orgulho, e nas suas relações de lealdade para com Santana Lopes, disparou violentamente e ferozmente num comunicado que explica não só que se demite, mas porque se demite.


Não concebo a vida política e o exercício de cargos públicos sem uma relação de lealdade entre as pessoas nem o exercício de qualquer missão privada ou pública, sem o mínimo de estabilidade e coordenação.

O comunicado já era por si só grave, não fosse Henrique Chaves, rosto visível dos denominados Santanistas no Governo. Desde os tempos de Manuela Arcanjo, aquando da sua saída promovida directamente por Guterres, que não era visível na política portuguesa, um discurso tão forte, e tão acusatório ao governo, emanado por quem a ele pertenceu.

E Henrique Chaves, o mesmo que chamou "cobardes", aos que faltaram ao congresso do PSD, descortina aquilo que muitos vinham afirmando há semanas, hoje estamos perante uma total descoordenação e desmantelamento de um governo que se pretendia e que se pretende fosse de clara continuidade. Não há governo, apenas e só um conjunto de pessoas que age isoladamente e sem a noção de colectivo, e que conseguindo cumprir a sua agenda, não conseguem muito mais do que isso.

Os casos e as histórias sucederam-se, e em 4 meses de governação tantos foram os casos que marcaram este executivo. Depois dos incêndios, da crise na justiça portuguesa com o caso das cassetes do processo casa pia a pôr nú as fragilidades do sistema judicial e da rábula que é este orçamento de Estado, Santana Lopes, precisou de um congresso para ir buscar a legitimidade que lhe faltava, pelo menos internamente no seu partido.

Hoje, é difícil responder à pergunta se existem condições para que o governo continue a coexistir.

Na verdadeira acepção da palavra, condições existem sempre, quanto mais não seja, em condições semelhantes à decrépita Ucrânia. Condições onde um primeiro-ministro tende a iniciar a fuga para a frente, até que alguém lhe puxe literalmente o tapete.

Ora esta demissão, quer pelo peso que Chaves detinha no executivo, quer sobretudo pela forma violenta como sai, coloca para Belém, um conjunto de questões importantíssimas e que não podem de forma alguma continuar sem resposta, sob pena de Jorge Sampaio, começar ele próprio a cair no ridículo de persistir em relativizar tudo o que se vai passando com este governo.

Mas, e ao contrário do que se possa julgar, o adiamento no sábado da tomada de posse na Ajuda dos secretários de estado, foi um sinal que algo poderia estar a correr mal.

E de que forma. Pedro Santana Lopes justificou o adiamento de uma tomada de posse oficial por conflitos de agenda. E foi esse mesmo conflito de agenda que duas horas depois lhe permitiu estar na Curia, no casamento da filha da sua chefe de gabinete, Ana Costa Almeida. A mesma que sendo chefe de gabinete do primeiro-ministro está há 15 dias com licença sem vencimento (?), a preparar o casamento de sua filha.

Ora convenhamos que mesmo com condições de governação semelhantes as vividas na Ucrânia, não é crível que em lugar nenhum do mundo, tal episódio rocambolesco possa acontecer.

Pior, do que a demissão de Chaves, do que o caso de Ana Costa Almeida, foram as reacções de Pedro Santana Lopes, em Vila Real, comentando a demissão de Henrique Chaves.



Este é um Governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes dele nascer, e que, depois de nascer através de um parto difícil teve que ir para uma incubadora e vinham alguns irmãos mais velhos e davam-lhe uns estalos e uns pontapés. Tem sido difícil para quem está na incubadora, ver passar a família e, em vez de acarinhar, haver membros da família que dão uns estalos no bebé

Ora, e à parte da triste figura de estilo utilizada, Pedro Santana Lopes, ele próprio acabou por reconhecer, que o principal motivo que levou Sampaio a caucionar este governo – a continuidade com as políticas do executivo de Barroso –, bem como a maturidade e a preparação do mesmo para governar não existiram nunca.

Como o próprio reconheceu há 4 meses, quando foram empossados, não passavam de uns bebés à procura de espaço numa incubadora, que lhes garantisse o direito à governação. Ainda que possa aceitar a legitimação de Sampaio em "apostar" neste governo, empossando-o, jamais se poderá aceitar o direito á inexperiência e ao erro, que Santana Lopes parece querer invocar, com a figura de estilo da incubadora.

Pois bem passados 4 meses, Pedro Santana Lopes, num discurso dá a Jorge Sampaio a resposta que ele nunca queria ouvir.

Ele, Sampaio, empossou um conjunto de pessoas sem responsabilidade nem competências para governar um país. Como o próprio PM reconheceu, “bébés” que não estavam preparados para a luta, e que precisariam isso sim, de uma quarentena numa incubadora.

Pois bem, até quando durará a creche ?

Publicado por António Duarte 13:23:00  

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