essa grande vitória do proletariado, e das esquerdas em geral...

Pese o recato de Sócrates, que veio informar o País que só não pediu publicamente a dissolução da Assembleia a Sampaio para não pressionar (!) o inquilino de Belém, há desde já uma ou outra conclusão a tirar, e uma delas é que as instituições funcionaram mal e divorciadas do mundo real. Ninguém, do sistema, ousou pedir formalmente a dissolução ou sequer lançar uma moção de censura no Parlamento. Ninguém.

Foram tudo vozes de fora, ou que vieram para fora, certamente muito respeitáveis, porventura - quase de certeza - parte de uma maioria silenciosa, mas de legitimidade democrática formalmente duvidosa, o que faz desta dissolução uma esmagadora vitória da sociedade civil que se encontra aquém e além do sistema político-partidário, o qual manifestamente não a desejava, pelo menos agora, nestes moldes. A decisão de Sampaio em dissolver Santana é legítima e correcta, e surpreende por isso mesmo, mas não deixa de revelar as fragilidades e deficiências da nossa democracia, e do nosso sistema político, o grande derrotado. Fragilidades acentuadas quando o recém-eleito líder do PCP, Jerónimo de Sousa, de visual e gravata renovada, vem ulular com a decisão, ao mesmo tempo que fontes próximas de Sampaio garantem que em todo o lado se fica a saber que a decisão só foi tomada face às posições dos empresários (!) que descobriram agora que a "estabilidade não é um valor absoluto"...

Uma coisa, porém, parece certa e inequívoca - se o Professor Cavaco, esse mesmo, não tivesse escrito o que escreveu no último fim de semana, tudo seria diferente. Mesmo tudo.

É por estas e por outras que começa a ser imperioso colocar no primeiro plano da agenda política uma discussão franca e séria sobre uma reforma real de todo o nosso sistema político (e por transitividade também do administrativo)...

Publicado por Manuel 23:13:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Defendi em post anterior, a necessidade de se poder discutir, sem intermediários, da coisa pública portuguesa e do estado a que ela chegou.
    Quem são os tais intermediários? São os que usando da linguagem política, tergiversam sobre o que os move para obterem confiança dos seus, para mandatos que usam a seu bel-prazer.
    Discutir o quê? Não vou tão longe, mas uma nova lei eleitoral, requisitos para aceitar cargos públicos, incompatibilidades, declaração de interesses, regulação legal dos lóbis, financiamento partidário, em suma custo financeiro global da Democracia...Ah, esquecia-me, novo sistema remuneratório para os cargos públicos.
    Qualquer reavaliação do papel do Estado terá de passar por aqui, ou seja pelo topo da direcção política(executivo,legislativo e judicial), passar pela a Ad.Pública e ir por aí abaixo.
    De tantas análises, ainda não vi estudos comparativos dos custos na UE e na OCDE do funcionamento dos sistemas políticos, incluindo custos do exercício da cidadania (organização politica do estado,actos eleitorais regulares, petições, referendos, etc.)
    Também ainda não vi em Portugal estudos sobre o grau de in/satisfação dos portugueses acerca das suas instituições e do seu funcionamento.
    Sondagens é o que mais há...e pagamo-las todas diluidas na publicidade; servem para quê, se não podemos votar todas as semanas?(!!)
    Afinal deixàmos criar uma democracia virtual e quando é para ser a sério vemos o triste papel que fazemos.
    Vivemos num pântano multicolor.


    Ass.Maria da Fonte II
    António Balbino Caldeira said...
    O Cavaco, Manuel?!... Não o percebo... Então o aviso de "pronunciamento" do Soares não foi a coisa decisiva e Cavaco apenas o pretexto?... Cavaco manda?!...

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