"Figura Pública"

Uma revista cor de rosa, imerecidamente em foco e que li uma só vez , pois trazia uma entrevista a Ferro Rodrigues, aliás anódina, promoveu-me a "figura pública".

Assim me informaram noite dentro, quando com um olho apreciava Poirot e com outro um filósofo que muito aprecio, Edgar Morin.

Com a vaidade, arrogância e pretensiosismo que me caracterizam, no dia seguinte, fui adquirir a dita. Lá estava o meu nome. Era "figura pública".

Bem no meu íntimo, o ego cresceu: juntava-me aos importantes do país, ministros, artistas, jornalistas e outros de quem todos os dias vislumbramos a sapiência nos debates, telejornais e outras coisas que passam nas TVs. Conseguira. Finalmente!

Fui roendo aquilo e quedei-me a perguntar as razões desta tão repentina promoção. Afinal, nunca fora à TV, escrevi, em tempos esquecidos, dois ou três artigos nos jornais e escrevo aqui umas coisitas de vez em quando. O resto é uma rotina completa: venho a pé ou de autocarro, de carro quando chove, regresso nos mesmos feitios. Depois é processos e vida familiar, sem "sociedade" de monta.

Tal verdade pode ser estranha, mas, nem por isso, deixa de o ser. Sei que, cá no "beco", a especulação se torna, rapidamente, um facto e não quero ser figura pública.

Por outro lado, não há coisa mais estúpida ou patética do que um inocente apregoar a sua inocência antes que o indiciem, ou acusem. Questão é que já fora acusado de ser figura com tais predicados. No dicionário, nada.

Mas lá descobri quem dissesse, e eu creio que assim seja, que não sou um "homem da história do tempo". Apenas um singelo cidadão, que exerce certa função, mas nem por isso metido no saco das "figuras públicas".

É evidente que tal revista não vai perceber nada do que aqui escrevi. Aqui cometo um erro crasso e que é o de não respeitar aquele princípio segundo o qual, quando se discute, se deve partir da ideia de que se discute com iguais, com gente que tem as mesmas competências e são responsáveis pelo que dizem.

Mas estou grato " à cor de rosa" pela promoção. Como nada vai perceber quem, efectivamente, lhe pediu para me promover e não só.

Alberto Pinto Nogueira

P.S. Não divulgo a revista para evitar que ela seja "pública".

Publicado por josé 16:06:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    O ALVino podia sugerir um nick ao PN.Assim, já não era "figura pública".
    Anónimo said...
    Claro.É elementar: promovem-te a "figura pùblica" para te abaterem. Na "sarjeta" deles talvez; neste círculo de homens bons,nunca. Não confundir estes homens bons com os "homens bons" do António Arnaut. Estamos e estaremos sempre a teu lado, PN, enquanto continuares nesta senda do Bem - quão prosaico é dizer isto, mas eles (os que não estão com o Bem, dizem com toda a desnvoltura).
    Estamos e estaremos sempre a teu lado. Como é capacioso e hipócrita o "mundo" do jogo das palavras, em que os homens dados a leis são hábeis.
    Não sou capaciosa, nem hipócrita, acredita.
    Cristina Pascoal.

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