"Cabeças Decepadas"


Li num blog, que não cito mas toda a gente sabe qual seja, que o Ministério Público estava sem cabeça e que as melhores preparadas "ascendiam" ao STJ.

Já ouvi na posse de um juiz conselheiro que fora magistrado do Ministério Público que, efectivamente, se "ascendia ao STJ".

Li num semanário, não há muito, um cronista, que não percebia nada do assunto, afirmar, com ares de entendido e ameaçador, que era preciso, ou quem, metia o Ministério Público na ordem.

Li no mesmo semanário que o Ministério Público não sabia o que fazer aos seus membros que deambulam pelo futebol e que, com certeza, até nem seria ilegal, lá estarem, desde que...as remunerações fossem simbólicas.

Li noutro jornal, de modo aprofundado, um professor universitário, a dizer que a presença dos magistrados no futebol, em termos remunerados (as tais senhas de presença) era coisa inaceitável.

Li ainda noutro jornal um cronista injuriar publicamente, e da forma, mais iníqua, o PGR.

Li noutro texto que o Ministério Público se afirmou sobretudo nos anos oitenta pela qualidade dos seus magistrados, "pela magnífica preparação de muitos dos seus agentes"

Li noutro texto que o Ministério Público estava aí para defender as liberdades fundamentais, as garantias dos cidadãos, inclusive a liberdade de expressão, de crítica, de opinião, opondo-se aos ditos delitos de opinião.

Li noutro jornal um procurador-geral da República afirmar que "...a palavra é um instrumento que deve ser utilizada pelos magistrados e que ninguém nos pode recusar a palavra..."

Li no Livro da Vida que, no fim do ano, estamos cansados. De tudo.

Li nos jornais que o primeiro ministro arranjou um tacho no exterior e abandonou o país que jurou salvar da tanga e que iria até ao fim do seu mandato.

Li nos jornais que o futebol nos vai salvar de tudo. Se se ganhar, ficamos sem desempregados, a bendita retoma retoma-se, os pensionistas passam a receber pensões dignas e os funcionários públicos vão ser aumentados uns cêntimos nos vencimentos congelados.

Li no tal Livro da Vida que tanto se me dá como se me dê. Quer haja cabeças ou não haja, quer se perca ou se ganhe no futebol, que haja primeiro ministro ou não haja. O que é que isso tem a ver com o nosso quotidiano de cidadãos chamados a cumprir o "dever cívico" de votar em quem nos desgoverna em todos os sectores?

Alberto Pinto Nogueira


Publicado por josé 10:38:00  

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