Não há coincidências...

Numa altura em que vem à praça perturbadoras notícias, envolvendo PS e PSD, e que lançam (ainda mais) sérias suspeitas sobre o (ir)regular funcionamento do nosso sistema político António Pires de Lima, ex-bastonário e advogado de Paulo Portas, assina hoje no DN uma elíptica mas lancinante defesa da honra de Adelino Salvado, Director Nacional da Policia Judiciária, sendo que pelo meio ainda tem tempo para subtilmente tirar o tapete a João Correia, um dos actuais candidatos a futuro bastonário da OA, e mandar umas bicadas no MP. Depois de nos presentear com uma visão edílica do modelo de funcionamento da PJ, o singular personagem remata a sua prosa assim ...

Talvez, então, a sociedade portuguesa ficasse liberta da juvenil ingenuidade, algumas vezes a aparentar mero capricho, que tem sido o espectáculo público que vai conduzindo a justiça para a completa descrença de que se aproxima.

É uma pena Pires de Lima não ter elaborado sobre o que entende pela tal "singular ingenuidade". Talvez Pires de Lima considere "ingenuidade" querer consertar este "país", talvez Pires de Lima considere "ingenuidade" e ousadia acusar e ir atrás dos ricos e poderosos, talvez Pires de Lima considere "ingenuidade", sem meios nem recursos, querer combater a corrupção, o tráfico de influências e afins... Mas nunca saberemos porque Pires de Lima, o lúcido, o calejado e nada ingénuo, se nos esqueceu de explicar.

Pela parte que me toca, apesar de já ter cabelos brancos, eu gosto, e quero mais, muito mais, da tal "juvenil ingenuidade", porque é essa ingenuidade que evita a completa descrença na justiça.

Porque obviamente um realista, como quiçá Cunha Rodrigues, jamais teria investigado Paulo Portas, Valentim Loureiro ou o Processo Casa Pia...

... e Pires de Lima nem sequer faz a apologia do realismo a não ser que em Portugal este seja apenas e só um sinónimo de um certo cinismo conformista e resignado.

Publicado por Manuel 10:05:00  

1 Comment:

  1. josé said...
    A ingenuidade reside nas ideias expressas do próprio cronista!

    A PJ é uma polícia com poder de investigação criminal. Segundo a lei, depende nessas investigações, das orientações do MP que dirige o processo. É essa a lei e o cronista Pires de LIma deveria conhecê-la, antes de dar opinião, mesmo discordante.

    Compreendo mal, por outro lado, quando diz que os magistrados do MP, na generalidade, não sabem investigar. Investigar o quê? Homicídios? Terrorismo? Tráfico de droga? Aceito que não saibam. COntudo a lei não faz distinções...

    Por outro lado, o tipo de investigação da corrupção, com as negociatas escondidas, os papéis falsificados, o dinheiro a circular or fora e para offshores e ainda o enriquecimento súbito de politicos pindéricos, aparentemente, não é muito difícil nem exige outra coisa que não seja coragem, determinação e perspicácia.
    É neste campo que as coisas se tornam difíceis para os políticos e é aqui que surge a contestação ao MP e não só.

    Espero que o advogado Pires de Lima deixe de ser ingénuo e reconheça o que é óbvio. Já tem idade para isso.

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